drabble



Vertigem.

Remus curvou-se, dobrando o corpo maltratado em dois, apoiando-se na grama seca. O contato da terra úmida, quente, doce, tão bem-vinda, acalmou por brevíssimos segundos a tortuosa paixão que queimava o seu interior.

O seu reflexo distorcido surgiu nas águas cristalinas do lago: olhar não-humano, respiração rascante, os sentidos alterando-se bruscamente.

A luz prateada serpenteou no ar rarefeito daquela noite de outono, atingindo-o em cheio. O prata que tinha cheiro de sangue, de morte, de ruína. O prata que por vezes ele via refletido nas íris cinzentas de Sirius, quando este dizia o quanto ele, Remus, era idiota por se preocupar demais.

O prata que era seu anátema, seu doce estigma, seu ansioso suspiro de prazer e dor.

Porque era doce e bruto, não belo, aquém de humano. Era contraditório, porque amor e ódio resumiam-se ao prata, sua decadência e seu alívio – mesmo que tão fugaz, e à sua própria ausência de cores.

Trêmulo, tentou inspirar fundo, reter o resto de sanidade que ainda possuía, mas acabou por se entregar.

Arqueou o corpo, e seu grito, um lamento de desespero e luxúria, perdeu-se por completo naquele frágil reflexo argentino.

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