Almas Gêmeas
Angústia... Medo... Confusão...
Por que aqueles sentimentos se enroscavam dentro dela como raízes de uma erva daninha? Sua garganta estava tão apertada que lhe dificultava a respiração... Por quê?
Uma sombra... Uma capa comprida... Um rosto masculino...
Eu conheço esse rosto?
O capuz se abaixou lentamente...
- SIRIUS! – seu grito aterrorizado rasgou o silêncio do quarto.
- Gina?! – Harry se aproximou com uma expressão preocupada – O que foi?
Ela olhou em volta, confusa, arfando e sentindo as mãos e as têmporas suadas. Harry se sentou a sua frente na cama, segurando seu rosto muito perto do dele, do jeito que sempre fazia quando queria acalmá-la. Gina se forçou a olhar nos olhos do marido... Era o rosto de Harry ali, os olhos verdes e ternos de Harry. Não havia olhos cinzentos, nenhuma barba áspera... Nenhum Sirius. Estava em seu próprio quarto, em sua casa e tudo havia sido apenas um sonho.
- Você estava sonhando com Sirius? – a voz de Harry pareceu aflita.
- Eu... Eu não sei... – ela o abraçou, passando os braços por baixo dos dele e espalmando as mãos em suas costas, procurando conforto. Apertou o rosto contra o peito de Harry. Ainda sentia o medo e angústia amordaçando seus pulmões e impedindo-a de respirar. Mas do que é que estava com medo? Sirius não poderia ser mal algum... Sirius já havia partido há muito tempo...
- Está tudo bem... – disse Harry, envolvendo a esposa num abraço e apoiando o queixo no topo da sua cabeça.
- Você não estava dormindo, Harry...
- O quê?
- Você não estava deitado quando eu acordei... – ela se afastou e o encarou, trêmula – Por quê?
- Eu... Nada... Não estava com sono.
- Você não me engana... O que está acontecendo? – o tom dela era temeroso.
Harry engoliu em seco. O que havia em Gina que conseguia ler o mais profundo de sua alma? Por que nunca conseguia esconder nada daqueles olhos castanhos e espertos?
- Você me conta primeiro sobre o seu sonho – disse ele firme – Você acordou gritando o nome do Sirius...
Ela continuou olhando para ele, desconfiada, tentando ler o que se passava por trás daqueles olhos. E então compreendeu. Não era ela quem tinha uma ligação afetiva com Sirius, nem eram dela aquelas visões...
- Eu sonhei com um homem encapuzado – disse séria, sem desviar os olhos dos dele – E foi horrível. Senti medo, muito medo. Mas aquele não era meu sonho, Harry, e aquele medo não era meu... Por que você não me explica?
- O... O quê? Eu não estou entendendo...
- Era você, não era? Você estava acordado, preocupado... Pensando no Sirius, não estava? – perguntou Gina, afiando o olhar. Ele não respondeu, mas arregalou os olhos, assustado – O que está acontecendo, Harry?! Por que todo esse medo e essa angústia?!
- Gina... Isso que você está dizendo não faz sentido... – disse ele desviando o olhar e sacudindo a cabeça.
Harry se levantou da cama, afastando-se dela. Parou de frente para a janela aberta, recusando-se a encará-la, tenso. Gina continuou sentada, observando o marido. Por que não percebera antes que alguma coisa estava errada com ele? E o que estava acontecendo de tão grave que ele queria lhe esconder?
Levantou-se e aproximou-se devagar. Abraçou a cintura de Harry pelas costas e escorou o rosto nele com carinho – Você pode me contar... Qualquer coisa... – murmurou – Eu sou sua companheira, Harry! Você precisa confiar em mim. Eu sei que o medo que eu senti é o medo que você sente, e isso me assusta.
- Eu não queria assustar você – sussurrou ele, apertando a mão dela que segurava sua cintura – Me desculpe.
- Então pare de esconder coisas de mim – implorou ela.
Harry se virou vagarosamente para Gina, tirou os cabelos do rosto dela, colocando-os atrás das orelhas. Observou os traços delicados da esposa, em silêncio.
- Me desculpe. Eu fui um idiota tentando esconder isso de você – disse por fim – Como se eu realmente pudesse esconder alguma coisa de você – os dois sorriram fragilmente – Até em sonho você adivinha meus pensamentos, não é?
- A culpa não é minha! E eu ainda não sei por que isso acontece...
Harry também não tinha certeza sobre esse tipo de ligação que exista entre ele e Gina que era capaz de despertar esses flashes de sentimentos e lhes fazia captar visões um do outro mesmo sem querer. Sempre, sempre que um deles se concentrava fixamente em algo, ou era tomado por sentimentos extremos, o outro pensava e sentia a mesma coisa, instantaneamente.
Ele ouviu a voz calma de Dumbledore sussurrar em sua mente: Amor, Harry. Amor.. É, Harry agora tinha que concordar. O amor era realmente a mágica mais misteriosa e poderosa que existia. E ele era um idiota de tentar burlar o amor entre ele e Gina. Impossível.
- Agora me conte o que está te preocupando – disse ela com uma voz inquisitiva, despertando-o dos devaneios.
- Certo.
Durante alguns minutos, Harry relatou para Gina tudo sobre o vulto e sobre a conversa com Monstro e, com Rony e Hermione. Ela ouviu calada, concentrada em cada uma de suas palavras, parecendo magoada por ter sido deixada de fora, mas querendo absorver todas as informações. Quando ele terminou, ela simplesmente o abraçou forte, apertando-o contra si.
- O que mais me desespera é seu temor, Harry... Você realmente acha que esse homem é ruim?
- Eu não sei... Não tenho como saber – disse ele frustrado – Mas esse pressentimento não me deixa! O jeito como tudo aconteceu... Como se ele tivesse vindo até aqui para me desafiar! Me ameaçar!
Ele se afastou num movimento brusco, sentando-se na ponta da cama e afundando a cabeça nas próprias mãos.
- Eu odeio ficar no escuro! Odeio não saber quem ele é, nem o que quer com a minha família! – Harry estourou, libertando enfim os sentimentos que vinha sufocando – Depois de todo o inferno que eu vivi, será que não posso ter um pouco de paz?! O que mais eu tenho que fazer pra conseguir uma vida normal?!
Ele se levantou, esmurrando o tampo da cômoda e depois passou as mãos na cabeça, desesperado. Gina permaneceu imóvel.
- Cansei de tudo isso! Cansei desses mistérios! – ele andava de um lado ao outro do quarto, tentando liberar um pouco da indignação e da fúria que sentia.
Quando finalmente não encontrou mais o que dizer e percebeu que Gina continuava calada e estática, virou-se para ela devagar e encarou-a envergonhado. Odiava quando perdia o controle e descontava suas emoções na esposa. Logo nela...
- Me desculpe – disse num fiapo de voz.
Mas Gina não achava que ele tinha que se desculpar. Entendia os sentimentos e a personalidade de Harry mais que ele mesmo, e sabia que estaria sendo egoísta se não o deixasse desabafar. Estendeu os braços, num chamado mudo. Harry cortou a distância que os separava sem pensar duas vezes e apertou-a o máximo que pôde, sentindo o alívio tomar conta de cada parte de seu corpo. Encaixou o rosto entre os cabelos ruivos, sentindo o cheiro de flores que era seu calmante natural. Fechou os olhos.
- Me desculpe, por favor. Odeio gritar com você. Odeio esconder coisas de você.
- Tudo bem – a voz fraca dela murmurou em seu ouvido – Vai ficar tudo bem. Não fique se martirizando assim. Talvez não seja nada...
- É. Talvez...
Já passava da metade da tarde e a casa ainda estava agitada. Harry se escorou no portal da sala de estar da Toca, apenas observando, enquanto a Sra. Weasley, Fleur e Gina rodeavam e paparicavam Hermione, que estava sentada no sofá. Várias roupinhas de bebê, sapatinhos e afins se espalhavam pela mesinha de centro e pelas poltronas, enquanto elas tagarelavam sem parar, dando conselhos para a futura mãe, que parecia atônita e confusa com a enxurrada de informações.
- Este foi o primeiro macacãozinho que Rony usou – a Sra. Weasley forçava uma peça de tricô cor de tijolo para a nora.
- Non. De maneirra alguma uma criance pode usar isse! – disse Fleur com um olhar de horror, e Harry riu baixinho, não conseguindo deixar de concordar – Este aqui!
A loira pegou um conjunto azul claro, com fitinhas de cetim e colocou no colo de Hermione.
- Ahn... Na verdade... – Hermione olhou de uma para a outra – Essas são todas roupinhas do Rony, e são lindas, mas... E se for menina? – perguntou com um olhar inseguro.
Por um instante, todas ficaram imóveis como estátuas. Sra. Weasley e Fleur piscaram algumas vezes, parecendo não ter considerado essa possibilidade. Mas então, a matriarca logo abriu um sorriso.
- Você tem toda razão, querida! – disse, levantando-se entusiasmada e procurando por sua varinha nos bolsos do avental– Acho que já está na hora de descobrirmos o sexo do bebê – completou com um brilho de empolgação nos olhos.
Antes que Molly pudesse sequer empunhar a varinha, Hermione gritou:
- NÃO! – e abraçou a própria barriga, transtornada.
Gina lançou um olhar compreensivo para a amiga, que parecia apavorada, enquanto Fleur e a Sra. Weasley olhavam-na, espantadas com a reação.
- É... Só que... Eu quero que seja surpresa... – disse ela numa voz de quem pede desculpas – Eu prefiro não saber, tudo bem?
- Mas, Hermione... – Molly começou a argumentar.
- É um direito dela, mamãe – cortou Gina rapidamente, aproximando-se de Hermione – E chega de roupinhas. Vem comigo, Mione.
Gina estendeu a mão para a amiga, que aceitou agradecida, e as duas subiram juntas as escadas em direção ao antigo quarto da ruiva. Molly e Fleur observaram caladas, um pouco magoadas e confusas, depois se encararam e, num acordo mudo, começaram a recolher o enxoval espalhado. Harry continuou parado no portal por um instante, ainda tentando digerir o que havia presenciado, mas a voz de Rony, vinda do quintal às suas costas, despertou-o.
- Hey! Será que alguém pode me dar uma mãozinha aqui?!
Harry não precisou ouvir duas vezes o quase pedido de socorro. Saiu pela porta e apressou-se até a sombra da árvore em que Rony se encontrava com as crianças.
Ted empurrava Victoire com cada vez mais força em um balanço grande, que se amarrava no galho mais alto, e Rony, já sem fôlego, corria atrás do pequeno James que, por sua vez, gargalhava enquanto perseguia um gnomo. Harry percebeu que o que estava preocupando Rony eram os pés de Victoire, que iam e vinham no ar em alta velocidade, passando perigosamente perto da cabeça de James.
Percebendo o risco, Harry correu e içou o filho para o colo num solavanco, topando de frente com Rony, que vinha logo atrás.
- Ele não pára nunca? – perguntou Rony, arfando.
- Gina diz que ele puxou ao padrinho – disse Harry rindo e segurando melhor o filho, que esperneava na tentativa de voltar ao chão e alcançar o pobre gnomo que corria a procura de esconderijo pelos tufos de grama – Mais devagar com esse balanço Ted! - advertiu o afilhado, que não pareceu ouvir.
- Vocês não deveriam deixar um futuro pai, como eu, cuidando de três crianças travessas – disse Rony repentinamente sério – Traumatiza.
Os dois sorriram, mas a língua de Harry já começava a coçar para falar uma coisa com o amigo. Toda aquela confusão na sala agora começava a fazer sentido na cabeça de Harry, e, se ele estivesse certo, Rony precisava saber o quanto antes. Na verdade, talvez fosse realmente melhor falar de uma vez.
- Falando nisso – começou, assumindo uma postura mais séria – Será que eu posso conversar com você um minuto?
Rony olhou para ele, intrigado, e assentiu. Harry se afastou alguns metros do balanço, colocou James no chão, perto do carrinho de bombeiros movido a pilhas que Arthur dera para o neto, e ligou o brinquedo, agradecendo pela primeira vez o barulho de sirene e as luzes que piscavam distraindo James. Levantou-se novamente e encarou Rony, que parecia preocupado agora.
- Olha Rony... Eu sei que não é da minha conta nem nada – começou a dizer, um pouco embaraçado, achando que seria uma tarefa muito difícil falar e encarar o rosto do amigo ao mesmo tempo – Mas eu acho que... Bom, será que a Hermione não precisa de um pouco mais de atenção?
- Por quê? Ela andou reclamando alguma coisa? – o ruivo se alarmou.
- Não, não. Claro que não. Mas é que eu tenho achado ela um pouco... Estranha.
A expressão no rosto de Rony desanuviou repentinamente, e ele sorriu.
- É só essa coisa de gravidez, cara – disse sacudindo a cabeça – Ela se preocupa demais com tudo isso.
- Não, Rony... Eu acho que é mais do que isso – disse Harry com cautela – Eu acho que... Bom, eu acho que tem a ver com você.
- Comigo? Por quê?
- Sinceramente? – Harry suspirou – Eu acho que ela está com medo de você não querer o bebê.
- Eu?! Por que eu não iria querer o bebê?! Eu estou vivendo em função do bebê! – disse Rony exasperado – Estou louco pra ter meu filho nos braços, brincar com ele e fazer coisas...
- Não. Você não entendeu direito – cortou Harry – Esse é exatamente o problema. Acho que ela está com medo de você se frustrar se for uma menina... Ela está se sentindo pressionada, entende?
- O que?! – exclamou Rony incrédulo – Mas que idéia! É claro que eu iria gostar de qualquer jeito. Quero dizer, seria minha filha. Só que eu não acho que será menina, eu tenho quase certeza de que será menino! Eu sei que é um menino!
- Mas essa sua obsessão está deixando ela confusa! – disse Harry começando a se irritar com o amigo – Será que ela realmente sabe que você gostaria de ter uma filha? Você já deixou isso claro pra ela? Porque, em minha opinião, ela está morrendo de medo da sua reação se o bebê for menina.
A resposta de Rony morreu no caminho da boca e ele encarou Harry por alguns segundos, considerando as palavras do amigo. Desde quando Harry entendia tanto sobre os sentimentos das mulheres?! Será que Hermione estava sendo tão tola em pensar que ele iria rejeitar uma filha? Ele adoraria uma filha! Claro que adoraria! Seria maravilhoso! Só que, sempre pensara nesse bebê como menino... Era só isso.
Harry observou calado, a compreensão tomar as feições de Rony lentamente, então finalmente disse:
- Mulheres ficam inseguras durante a gravidez, Rony. Descobri isso por conta própria – disse lançando outro olhar para o próprio filho no chão.
O ruivo sacudiu a cabeça afirmativamente – Você tem razão. Talvez eu deva conversar com ela depois...
- É. Seria uma boa idéia.
- Mas será que antes você não poderia ir comigo ao Beco Diagonal? Ainda tenho que decorar o quarto...
- Só espero que tenha desistido daquela idéia...
- Claro que não! A idéia continua de pé! – disse o ruivo, convicto.
- Mas...
- Você vai ver! Eu sei exatamente o que fazer.
Hermione e Gina entraram no antigo quarto da última, onde agora estavam os brinquedos e as coisas da pequena Victoire, que passava as férias ali com a mãe, já que Gui havia viajado a trabalho para o Egito durante alguns meses. Várias fotos da menina, que tinha os cabelos loiros e os olhos azuis de Fleur, espalhavam-se por cima da cômoda. Hermione sorriu ao ver uma particularmente bonita, em que Gui sorria e carregava a filha nos ombros, enquanto Victoire gargalhava, um sorriso idêntico ao do pai.
Alguns dos antigos pôsteres do time de quadribol das Harpias de Holyhead ainda estavam colados nas paredes, mas só os mais recentes, aqueles em que a própria Gina era vista com a goles embaixo do braço, vestida no uniforme verde-escuro com uma garra dourada bordada no peito. Parecia que havia sido ontem, quando eles haviam assistido ao último jogo dela pelas Harpias...
- Sente-se Hermione – disse a ruiva fechando a porta do quarto – E pode ir falando, porque eu sei que tem alguma coisa errada.
Hermione sentou na cama, rolando os olhos e suspirando enquanto se escorava na montanha de travesseiros e almofadas coloridas. Gina não se intimidou pela atitude dela, sentou-se do lado oposto, encarando-a.
- Vamos, Mione...
- Olha Gina, me desculpe, mas eu não quero falar sobre isso...
- Então – disse a ruiva se fingindo de desinteressada – Talvez... Eu também não deva falar sobre a conversa que tive ontem com o Harry...
A boca de Hermione se abriu em indignação e os olhos se estreitaram – Desde quando você é uma chantagista, Ginevra?
- Desde que você se recusa a conversar com sua melhor amiga.
Hermione bufou, analisando se valia à pena entrar na chantagem, porque sabia que Gina estava mesmo falando sério. Sua mente curiosa e sedenta por informações já estava implorando para saber o que havia acontecido... Será que Gina acabara descobrindo?
- Ok. Eu falo – suspirou derrotada – E você tem que me prometer que não vai contar a ninguém.
- Você sabe que eu não vou – disse Gina encorajando-a e tomando uma postura mais séria – Por que esse medo todo em saber o sexo do bebê, Mione? É por causa do Rony?
Hermione se assustou com as perguntas diretas da cunhada. Será que estava sendo tão óbvia assim?
- Eu... Eu não sei – respondeu sincera – Eu só tenho medo... O Rony fica tão empolgado, entende? Idealizando tudo em torno de um menino, planejando brincadeiras e coisas que ele poderia fazer... Mas se recusa a aceitar que pode ser uma menina! Isso é machismo, Gina! Será que estamos na China onde as garotinhas são rejeitadas? Qual o problema em ser mulher? O que há de errado em uma filha?
Gina se assustou um pouco com a explosão repentina de alguém que, segundos antes, nem queria falar. Hermione parecia estar atormentada por aquelas possibilidades há bastante tempo, guardando aqueles temores para si mesma, e isso não era bom.
- Vamos com calma, Mione – disse estendendo uma mão para segurar a da amiga – Antes de tudo, eu nunca imaginaria o Rony rejeitando ou maltratando uma filha, e eu não acredito que você imaginou isso dele – Hermione corou envergonhada. Era realmente injusto pensar algo assim de Rony – Ele pode ser desatento e machista. Aliás, ele é desatento e machista. Mas você não o vê com a Victoire? Ele é um doce! Talvez seja o tio mais carinhoso e atencioso pra essas crianças. Eu não estou dizendo que os outros sejam ruins, veja bem, ele está concorrendo com Jorge nesse quesito, e mesmo assim, que nenhum dos outros me ouça, ele é o que mais se importa com os sobrinhos.
Hermione mordeu o lábio, considerando, antes de dizer – Mas e se ele se decepcionar? Ele quer tanto um menino...
- Talvez ele só não tenha considerado ainda a idéia de uma menina.
- Você não acha que ele iria ficar chateado? – perguntou Hermione, insegura.
- Por que você não conversa sobre isso com ele? Pergunte o que ele acharia de uma garotinha – disse Gina com uma voz otimista.
Hermione ainda parecia incerta, então Gina insistiu:
- O Rony é um pouco devagar, Hermione. Ele só precisa de uma sacudida! Acorde-o pra essa possibilidade, eu tenho certeza que ele não vai decepcionar.
Hermione finalmente acenou com a cabeça, concordando com a cunhada.
- Mas e você? Agora tem que me contar exatamente o que aconteceu ontem à noite!
- Não se finja de boba. O Harry me contou que você e Rony já sabem de tudo – Gina tentou disfarçar a mágoa na voz, mas Hermione notou e sentiu uma fincada de culpa.
- Ele te contou? – perguntou com um vestígio de esperança.
- Claro que não. Pelo menos não até eu pressioná-lo... Você conhece o Harry.
- Então como você descobriu?
- Eu... Sonhei – disse Gina, hesitando. Nunca havia contado a ninguém sobre esse tipo de conexão estranha entre ela e Harry. Hermione a encarou, confusa.
- Como assim sonhou?
- Eu sonhei com o homem encapuzado... – disse Gina, tateando – Sonhei que ele se revelava pra mim.
- Então você também está vendo essa coisa? Esse vulto? – Hermione perguntou, impressionada.
- Não... Bom, talvez se eu te explicar melhor você possa me ajudar a entender.
Hermione a encorajou com uma aceno de cabeça e se sentou mais empertigada para ouvir.
- O que acontece é que... Bem, eu não sei explicar porque – disse a ruiva, parecendo um pouco embaraçada – Mas desde que Harry e eu... Bom, você sabe - ela lançou um olhar cheio de significados para Hermione, que respondeu com um “Oh! Sim...” e corou – Isso. Desde então, é como se algum tipo de ligação emocional tivesse acontecido. Alguma coisa que me faz sentir o mesmo que ele quando os sentimentos são bastante intensos, ou receber pensamentos dele quando ele fixa a mente em algo. E isso também acontece com ele em relação a mim.
Hermione estacou por um instante, com os olhos vidrados, o cérebro trabalhando furiosamente em alguma coisa, então, depois de alguns segundos, ela focalizou seus olhos castanhos em Gina novamente.
- Sabe de uma coisa? – perguntou séria, e depois continuou antes de esperar a resposta – Talvez eu saiba mesmo do que se trata.
- Tem certeza?
- Bom, eu não posso ter certeza, mas é uma hipótese – disse Hermione – Pode ser algo ótimo! Bom, eu não sei exatamente como explicar... Quando eu li sobre isso confesso que não acreditei muito... Mas convivendo todos esses anos com Harry a gente realmente aprende que tudo é possível...
Gina sorriu torto, achando que Hermione acabara de fazer uma piada, mas a outra continuava séria e absorta. Hermione começou a encarar o teto, concentrada, e a balbuciar para si mesma:
- É, talvez... Por que não? Merlim! Por que nada mais me surpreende nessa vida?!
- Ok Hermione, dá pra parar de fazer suspense e dizer de uma vez? – perguntou Gina, irritada.
- Calma, eu vou te explicar – Hermione começou, voltando sua atenção para a cunhada novamente – Mas isso é teórico e nós não temos como ter certeza – Gina acenou indicando que estava entendendo e acompanhando – Na verdade, depois que a guerra acabou, eu resolvi pesquisar melhor essa estória de pedaço de alma que se aloja em outro corpo. É uma coisa bem difícil de encontrar em livros, um acontecimento realmente raro, entende? Mas isso foi uma das primeiras coisas que descobri sobre o assunto. Eu não dei muita atenção na época, mas agora que você está me dizendo, tudo parece se encaixar perfeitamente.
Gina continuou calada, esperando-a continuar, então Hermione retomou a fala.
- Você já ouviu estórias, a maioria trouxas, sobre almas gêmeas? – perguntou, mal contendo a excitação na voz. Aquilo era como voltar aos tempos da adolescência quando ela explicava essas coisas inacreditáveis para Harry e Rony.
- Claro, já ouvi falar – disse Gina, prestando máxima atenção.
- Exatamente! Se parece muito com isso. É um dos encantamentos mais antigos, fortes e raros que existem – os olhos de Hermione brilhavam enquanto ela falava – É espontâneo, exatamente como você falou. Algo que acontece naturalmente, sem que as duas pessoas tenham opção. No livro que eu li dizia que, quando se atinge um nível de amor e compreensão muito alto, quando a vida de um completa a do outro, e os dois realmente vivem um para o outro; a sintonia, a vontade de ter o outro e de ser do outro são tão intensas, que um pedaço da alma de cada um se solta voluntariamente e se aloja na alma do outro. Como uma troca, uma mistura das essências.
Gina sacudiu a cabeça negativamente, não acreditando, nem entendendo muito do que acabara de ouvir.
- Você está dizendo que eu e Harry somos almas gêmeas? – perguntou com um vestígio de riso na voz – Tudo bem que nós nos amamos muito e somos felizes juntos. É realmente maravilhoso e tudo mais, mas é uma idéia muito romântica...
- Qual seria a explicação para esses seus sonhos então? – perguntou Hermione com um olhar esperto.
- Eu não sei... Mas ter um pedaço da alma de Harry dentro de mim parece tão...
- Inacreditável? – sugeriu Hermione.
- Eu iria dizer: estranho – suspirou a ruiva, sincera.
- Você está pensando assim porque está associando isso ao que aconteceu entre Harry e Voldemort, Gina! – disse Hermione, convicta – Mas isso é um encantamento de fortalecimento! É realizado com um ato de amor, não com o assassinato, que mutila a alma. Eu acredito que possa ter acontecido entre vocês, de verdade. Vocês preenchem todos os quesitos necessários para o encantamento.
- Certo, bem, digamos que isso tenha acontecido... – disse Gina parecendo um pouco assustada – Não tem nenhum efeito ruim?
- Hum... Eu não tenho certeza. Mas acho que não... Provavelmente não. Vou ter que pesquisar mais... – disse Hermione com a excitação explicita em cada um dos seus atos, e os olhos já voltando a ficar vidrados e desfocados – Talvez na biblioteca do Ministério eu encontre alguma coisa... Ou então, se eu pedisse autorização para Minerva... Isso, claro que ela me autorizaria! E eu iria...
- Mione! – gritou Gina, chamando a atenção da outra.
- O que?!
- Você está aí falando sozinha de novo! Dá pra gente conversar primeiro? Depois você pode ter sua overdose de raciocínios e pesquisas.
Hermione pareceu ultrajada com as afirmações da ruiva, mas Gina não deu tempo para ela revidar.
- Primeiro me diga se você acha que o Harry tem razão – ela ordenou... A preocupação surgindo nos olhos – O que você pensa desse homem, Mione? Você também acha que pode ser o Sirius?
Hermione murchou de repente, como se Gina tivesse vindo com uma agulha e estourado seu pequeno instante de euforia. Sentiu pena da cunhada ao ver receio e a apreensão nos olhos dela.
- Não Gina. Eu não acho que seja o Sirius – disse sincera – Eu acho que essa obsessão que Harry tem pelo padrinho é que fez com que ele pensasse que fosse. Talvez, mesmo que inconscientemente, ele desejou que fosse realmente Sirius e isso fez com que ele visse tantas semelhanças.
- Mas eu também vi o rosto no meu sonho – disse Gina – E se parecia muito com Sirius.
- Não, você não viu. Você viu a imagem que Harry tem daquele rosto. Você viu o que a mente de Harry vê.
- Mas então, se não é o Sirius... Quem é? – o medo se intensificou nas feições da ruiva. As duas se encararam mudas por um instante, antes de Hermione soltar o ar e dizer:
- Eu não sei... E isso também me assusta – ela segurou as duas mãos de Gina, que pareciam soltas e frágeis em cima da colcha que forrava a cama – Mas você não pode se deixar intimidar.
- Eu não tenho medo do vulto – afirmou a ruiva – O que me deixa com medo é o que eu senti, Hermione. O Harry está assustado! Ele está angustiado e se sentindo ameaçado... Isso me apavora! Faz muito tempo que eu não o vejo assim.
- Lupin disse uma vez que Harry deveria confiar nos seus próprios instintos e que eles geralmente estão certos... – sussurrou Hermione, temerosa.
- Então você acha que essa pessoa pode ser ruim? Que tenha vindo para fazer mal a mim, ao Harry e ao James?
- Eu não tenho como saber, Gina... – disse Hermione desviando os olhos do olhar perfurante da outra.
- Mas você tem uma opinião – insistiu a ruiva.
- Ok, eu tenho. E só o que eu acho é que tudo isso é muito estranho... Claro que eu tenho medo – disse Hermione tentando parecer mais confiante – Mas não aconteceu nada ainda! Nós não podemos ficar acuados por causa disso! Eu sei que temos traumas e razões para nos preocupar, mas vamos ter mais controle e ser racionais. Chega de sofrer antes da hora.
- É... Você tem razão. Você tem toda razão.
Hermione achou que era melhor não discutirem mais esse assunto. O que tinham a fazer no momento era aproveitar o fim de tarde com o resto dos Weasley e deixar os pensamentos ruins de lado.
- Vamos descer agora? Estou morrendo de fome... – implorou.
- Vamos. Chega de conversas sérias por hoje – Gina disse enquanto se levantava e ajudava a cunhada a levantar também.
- Será que ainda tem pudim? – perguntou Hermione, molhando os lábios.
- Claro que tem! Minha mãe fez uma montanha pra você – disse a ruiva rindo, e depois completou em uma voz idêntica à da Sra. Weasley – Temos que satisfazer todos os desejos das mulheres grávidas.
N/A: Ei pessoal!
Bom, eu disse que vocês precisariam ter um pouquinho de paciência comigo esse ano [pra quem não sabe: vestibular]... E agradeço muito por estarem sendo tão compreensivos. Devagar eu vou escrevendo, não se preocupem. A fic não será abandonada de maneira nenhuma! Só o ritmo de atualizações que será mais lento. Este capítulo me veio mais facilmente do que o da DDT, então resolvi não quebrar minha cabeça com a outra enquanto esta aqui estava fluindo tão bem. Mas não se preocupem, já comecei a escrever o de lá também! *ouço gritos de aleluia*
E dêem as boas vindas à beta-reader Julianne Cavalcanti! Esse é o primeiro capítulo que ela revisa pra mim nessa fic, mas ela já é minha beta na DDT. Teve uns probleminhas, mas o capítulo já está aqui, conferido.
Vamos ao capítulo então:
Talvez tenha ficado um pouco confusa a parte da ligação entre Harry e Gina, mas eu vou explicar melhor no decorrer da estória, só espero que tenham gostado! Já consigo imaginar as mentes curiosas querendo saber detalhadamente como aconteceu, né? Haham...
Falando agora de Hermione, Rony e o tão esperado bebê. Sim, o bebê é uma menina, a Rose! E o filho do Draco é o Scorpius! Estou seguindo – na medida do possível – o traço da nossa querida J.K. e, portanto, como muitos de vocês exclamaram por aí, Gina também ficará grávida do Albus em breve! Tudo ao seu tempo... Tenho um ano inteiro pra distribuir esses nascimentos... *calculando*
Ainda teremos muuuita família Weasley, não se preocupem. Apresentarei a Victoire direitinho, e os outros Weasley surgirão durante a estória, claro. E vocês descobrirão as idéias mirabolantes do Rony pra decoração do quarto rapidinho.
Os Malfoy também serão mais bem apresentados. Saberemos sobre a Astoria e sobre o que aconteceu com os queridos pais do Draco, mas isso vai demorar um pouquinho mais.
Ah! Já ouvi um palpite correto quanto ao homem misterioso por aí...
Só não conto onde!
Por enquanto as coisas ainda estão bem leves, mas logo, logo eu dou um jeito nisso...
Vou parar por aqui meus queridos, estou atolada até o couro cabeludo, já é mais de meia noite e eu vim cumprir o prometido de postar assim que eu recebesse o capítulo de volta. Então não responderei a todos individualmente, só tentei esclarecer as dúvidas que mais apareceram, tudo bem?
Muuuuitíssimo obrigada!
Até o próximo capítulo!
COMENTEM!
Eu realmente adoro cada um dos comentários, são todos mais do que bem vindos!
VOTEM!!!
Beijos!
Ana Fuchs
Fica aqui meu agradecimento e minha pequena homenagem pra cada um de vocês:
JoanNe 8D
Andreia Granger
Liz Negrão (LiLi)
Rafael Wrencher
Bruna Perazolo
Day Pereira
Lê_Granger
Sany Evans
nenci
Bibiana
*LeLe*
Mimi Potter
Dany Kohn
Fabi
Julianna Malheiros
Almofadinhas
Juliana Dias Erthal
Matheus Hilleshein dos Santos
Ana Hansen
Danielle Pereira
larissa fernandez
Anny W. P.
Thity Deluc
Larii
Pandora Potter
Mylene
Penny Lane
lilica86
Patricia Ribeiro
Carol Lee
Deborah Black
Susan Potter
jessica nascimento
Samara locatelli
Karla Potter
May Weasley¹²
Kita Potter :D
Ann Ross
Sabrina Mainart
Siminie Weasley
Lalaah Granger Veráciz
**Jaque Granger Weasley**
valdelice de o. silva
Mih
Gabriel de Ulhoa Canto Gebara
** nana **
Doug Potter
Lola Potter
Lore Weasley Potter
Isadora Silva
Bibiska Radcliffe*
Nana Black
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