Promessas Quebradas



Título: Contra a Parede


Autor:
Mari Gallagher


Contato: marigallagher(arroba)Hotmail(ponto)com ou mmaaryy(arroba)Hotmail(ponto)com -> (MSN)


Shipper: Harry e Hermione


Spoilers: Livros 1 a 5


Gênero: Romance/Aventura


Status: Em andamento


Sinopse: Eles estão frente a frente após quatro anos, mas desta vez há algo diferente, há uma forte paixão mal resolvida. O que poderá acontecer quando esses dois tiverem que se encontrar em todos os lugares todo o tempo e ainda resolver um misterioso roubo? Harry Potter e Hermione Granger são postos Contra a Parede por seus sentimentos...


N/A – Bem, aqui está, um capítulo que eu particularmente gosto muito... As tradicionais desculpas pela demora, eheheh... Espero q gostem... Bjos...





Capítulo IX – Promessas Quebradas





“I’m standing on the outside

I don’t know where I’m goin’ to

But I do know just one thing

That is it’s over with you”

Mick Fleetwood – You weren’t in love




Harry desceu a escada cambaleante. As pessoas por quem passava lembravam borrões heterogêneos diante de sua vista. Ele atravessou a rua sem sequer olhar para os lados e muito menos dando atenção para o jaguar que freou bruscamente a apenas alguns centímetros de distância. Caminhava rápido, em passos firmes, na direção de algum lugar que não sabia qual era, ele queria apenas se distanciar daquilo, o máximo possível.

Das cenas que Harry jamais imaginava presenciar Hermione protagonizando a que tinha acabado de assistir era a mais improvável e inesperada. Sentiu a onda amargurada e desconfortável subir por suas entranhas e se materializar em um gigantesco e desesperado entalo que ele poderia definir como sendo de decepção. Caçoara internamente, poucas horas antes, do suposto interesse que Malfoy alimentava por Hermione por simplesmente achar a idéia um disparate! Hermione jamais se envolveria com Malfoy, isso seria absurdo! Não ela não poderia fazer algo assim, não era lógico, não era justo.

Harry tinha, ou pelo menos achava que tinha, certeza que ele e Hermione ainda permaneciam fortemente ligados por um sentimento bom e singular. Essa certeza o havia feito despertar do mar de angústia onde estava afogado para lutar por uma história com final diferente, feliz. E era exatamente isso que ele vinha fazendo nos últimos dias. Lutando. Lutando contra as defesas e teimosias de Hermione, procurando com muito esforço retomar o lugar que ele julgava convictamente ainda pertencer a ele. E após tudo isso, lá estava ele, sozinho, derrotado, furioso, inconformado, desiludido com a própria ingenuidade e enfadonho por nesse script lhe caber o papel de palhaço. Mais uma vez ele experimentava o acre sabor de ser trocado e enganado.

Há quanto tempo estariam Hermione e Malfoy tendo um romance e ele não percebera? Quantas vezes haviam os dois zombado das intenções evidentes que ele tinha? E por quanto tempo, ele, simplório Harry, como preferia se intitular, havia alimentado expectativas e feito planos mentalmente ao passo que sob seu nariz Hermione se deixava seduzir por Malfoy, ou quem sabe não seria o contrário? Subitamente suas interrogações mudaram de rumo. Tinha sido realmente presunçoso o suficiente para achar que Hermione não conseguira esquecê-lo? Aparentemente sim.

Ele parou ao chegar a uma esquina desconhecida de um beco a meia-luz, só então percebeu que bufava. Respirou fundo passando as mãos pelos cabelos, fracos pingos de água começaram a cair, ele se recostou à parede e fechou lentamente os olhos. Seu peito doía. Passou alguns minutos apenas ouvindo de longe o roncar dos motores dos automóveis e o barulho da água batendo sobre as latas de lixo. Tentava sem sucesso esvaziar sua mente de toda a escória que a rondava quando o som de passos apressados se tornava cada vez mais próximo e audível.

- “Harry”!

Ele abriu imediatamente os olhos e avistou Hermione parada a alguns metros de distância, com a respiração ofegante. Harry não conseguiu elaborar sequer uma palavra digna da ocasião para proferir a ela que, parecendo apreensiva aproximou-se devagar.

- “Harry.” – Repetiu com cautela. – “O que aconteceu?”

Ele realmente não achava que Hermione fosse tola. A única coisa que poderia dizer é que a resposta para aquela pergunta parecia óbvia e ela, sem dúvida, sabia disso. Só então lhe ocorreu que Hermione possivelmente não estivesse muito segura dos motivos que a levaram até ali, até porque ela não lhe devia explicações. Talvez por isso fizera tão boba indagação. Ele sorriu desanimado e saiu da penumbra dando um passo a frente.

- “Sabe...” – começou em tom baixo e frio. – “Por muito tempo eu quis te perguntar exatamente isso.”

Ela levantou a sobrancelha intrigada.

- “O que aconteceu Hermione? O que aconteceu com nós dois?”

Hermione parecia surpresa ao ouvir sua indagação partir de Harry.

- “Harry, eu...” – ela tomou fôlego. – “Eu não entendo...”

- “Ah, por favor, não me diga que não fui claro o suficiente!” – disse Harry soando sarcástico. – “Tudo bem, se você não entendeu eu repito... O que aconteceu com nós dois? Por que você me largou daquela forma tão... Insensível?!”

Ela o olhava incrédula, dividida entre o inesperado daquele bombardeio de perguntas e a indignação por ele ter a audácia de chamá-la de insensível.

- “Você só pode estar maluco!” – disse muito séria. – “Eu não sei o que te deu, o que se passa na sua cabeça e muito menos o que esse assunto tem a ver com a situação atual, mas acho que a sua percepção dos fatos está um pouco equivocada, pois não foi nada disso que aconteceu quando terminamos! Caso não se lembre...” – Hermione fez uma pausa súbita. – “Aliás, eu não tenho porque estar te dizendo isso.”

Ela fez menção de sair, mas Harry a deteve.

- “Ah, você tem sim!”

- “Não, não tenho! O único motivo da minha vinda até aqui é assegurar que você não tenha uma idéia errada a respeito de algumas coisas que tenha visto e não...”

- “Idéia errada”? – Harry repetiu irônico. – “Acho que a cena que acabei de assistir não é suscetível a erros de interpretações, tudo ficou bem evidente!”

Hermione respirou fundo. Ele estava pensando exatamente o que não deveria.

- “Olha só, você não sabe o que aconteceu e apesar das aparências que você tenha, não há nada entre mim e Draco.” – explicou pacientemente.

- “Claro...” – disse friamente de imediato. – “Seria otimismo demais da minha parte se achasse que havia algo. Você não parece ser capaz de ter tanta consideração assim por alguém. Não é esta a lógica da sua coleção? Usar e depois jogar fora?”

Hermione sentiu uma pontada no peito, já havia até desconsiderado o quanto era sensível à versão estúpida e ofensiva de Harry.

- “Harry, você está me ofendendo.” – ela falou com sinceridade já virando de costas. – “E também está sendo injusto.”

Ele já assistia ela dar os primeiros passos para ir embora quando lhe ocorreu que talvez houvesse uma explicação bem plausível para as circunstâncias em que havia encontrado Hermione e Malfoy. Apenas a garantia que ela havia dado em sua negativa inconscientemente já o tinha deixado mais tranqüilo, além do mais, lembrou que esse não era o fim que ele previra para aquela conversa... Antigos pingos nos “i’s” tinham agora o momento exato para serem colocados.

- “Injusto? Mesmo? Engraçado...” – disse em tom esganiçado indo na direção dela, Hermione voltou a encará-lo. – “Também não me pareceu nada justo ser trocado pelo Jet!”

Hermione gargalhou com expressão irritada.

- “O quê??” – ela disse pasma. – “Você se considera trocado? Que grande idiota! Não houve nenhuma ‘troca’ mas se você quer saber, pra mim pareceu justíssimo!”

- “Ah, é lógico, pra você não há trocas, é tudo parte de um joguinho nojento em que é a única beneficiada!” – rosnou Harry.

- “Não se faça de vítima, você sabe perfeitamente que as coisas não foram bem assim!” – Hermione falou resignada.

- “Não? E não é verdade que você mais do que rápido já estava com outro? Sem sequer me dar uma explicação... “- disse quase gritando na cara dela.

- “Quer saber, já chega, eu não quero falar sobre isso com você!” – disse exasperada.

- “Não quer falar! Você nem tem argumentos! Você tem que admitir que isso tudo foi bem sujo pra mim, sabe? Mas pra você foi ótimo, afinal por um longo tempo você esteve desfrutando do outro! Foram muito felizes?”

- “Na verdade fomos sim!”

- “Mentira.” - falou rindo.

- “Você não sabe o que está dizendo e eu não vou mais discutir.”

- “Ele te fazia rir? - indagou quase num murmúrio puxando-a pelo braço. - Como eu?”

-“ Ele não me fazia chorar... Como você.” - respondeu e não precisou puxar o braço, pois Harry a soltou desconcertado após ter uma rápida mudança de expressão.

Ele passou alguns segundos parado com o olhar compenetrado no dela, os pingos de água formavam pequenos pontos brilhantes em sua face e isto tornava a lembrança das lágrimas que viu Hermione derramar mais vivas e conseqüentemente a sua culpa maior. De repente Harry notou poderiam surgir alguns motivos protuberantes para que ela o tivesse abandonado.

- “Você o amava?” – foi tudo que ele conseguiu raciocinar para trazer a seu favor: Lembrá-la do amor que viveram.

- “Isto realmente não é da sua conta!” – retrucou indiferente.

- “Está enganada!” – disse Harry de imediato. – “É da minha conta e eu quero falar sobre isso.”

- “Mas eu não!”

- “Qual o problema Hermione? Por que está fugindo desta conversa desde que nos encontramos?”

- “Do que você está falando? Eu não estou...”

- “Está sim!” – ele apontou o dedo na cara dela – “Você foge constantemente. Por quê? Por que insiste eu não falar sobre nós dois?”

- “Eu já mencionei que não existe mais ‘nós dois’! Quantas vezes terei que repetir?”

Ele suspirou afobado.

- “Mas já existiu um dia” – tentou.

- “Isto é passado.” – alegou Hermione.

- “Um passado confuso e muito mal-resolvido...”

- “Eu não concordo! Não acho que esteja mal-resolvido e muito menos confuso!”

- “Mas eu acho.” – divergiu ele.

- “Sinto muito por você” – falou Hermione com um falso tom cortês na voz.

- “Ah Hermione, não seja hipócrita!” – disse Harry impaciente. – “Até quando você pretende fingir que está tudo bem e evitar falar de nós dois, da nossa história, do nosso passado, como você quiser chamar, tanto faz... Eu preciso falar disso e não minta, você também precisa!” – acusou.

Hermione mordeu o lábio inferior, hesitante. Por muito ela esperara a oportunidade de discorrer sobre o que levara a situação àquele ponto. Mas ali, depois de tantos anos desenterrar as velhas intrigas não era o que ela estava disposta a fazer...

- “Por Merlin, o que mais você precisa saber? O que mais você quer que eu diga sobre o que aconteceu a nós dois?” – ela enfatizou, Harry tomou fôlego para responder. – “Porque o que eu tenho a dizer é muito simples, Harry... Acabou.”

- “Não...” – ele disse instantaneamente. – “Não funciona assim. O que tínhamos não podia acabar.”

- “Mas, acabou.”

- “Não, não assim de repente, de uma hora pra outra!” – argumentou Harry.

- “Você só pode estar brincando!” – Hermione disse, perplexa. – “Será que você é tão insensível que não percebeu NADA? Não foi de repente e muito menos de uma hora pra outra!”

- “Mas você...”

- “Não.” – ela fez um gesto com a mão. – “Agora eu falo. Você não quer saber o que aconteceu, Harry? Então eu te digo, ou melhor, eu te repito o que falei no dia que terminamos: Eu cansei. Cansei de ser a idiota que te seguia e aturava vinte e quatro horas por dia o seu egoísmo, sua frieza e suas obsessões. Cansei de ser tratada como alguma empregada ou animal que nada significada para você. Eu dediquei anos da minha vida pra estar a seu lado, e sabe por quê? Por amor! Um amor que você nunca procurou dar a devida atenção, não é mesmo? Não venha me dizer que ‘tentou” ou algo parecido, porque eu sei que não foi assim! As noites e semanas em que você simplesmente desaparecia sem deixar rastro e todas as vezes que me deixou esperando sem nenhuma explicação plausível são a prova viva de que você nunca se importou!”

Harry parecia estar sem palavras. Ele era ciente de que tudo que ele falava era a mais pura verdade, mas sentir cada palavra ser despejada em cima de si como um balde de água fria, doía. Ela sorriu desanimada.

- “E como se isso tudo não fosse suficiente você NUNCA parou sequer cinco minutos para pensar em como eu me sentia em relação ao que estava havendo. Acho que você tem que concordar que o que acabei de falar não aconteceu de uma hora pra outra, Harry. Foram anos, longos anos se é que você não percebeu. Anos em que eu estive ao seu lado, apesar dos pesares, me contentando com... Migalhas, que você estivesse disposto a me oferecer.”

O silêncio se fez presentes por alguns longos segundos.

- “Eu...” - começou Harry quase num murmúrio – “Eu sei de tudo que você teve que passar enquanto esteve comigo...”

- “Não você não sabe, Harry!” – Hermione interrompeu exasperada. – “Eu garanto que você não sabe o que é amar uma pessoa ao ponto de se dedicar integralmente a ela, esquecendo até mesmo de si próprio, achando que sempre vai valer a pena. Você não sabe como doía sentir que você não estava perto de mim e que não se importava com...

- “Mas eu me importava Hermione! Eu sempre me importei mais com você, com a sua segurança, do que com todos os outros!” – ele protestou.

- “Com a minha segurança... Claro!” – Hermione retrucou irônica. – “A única segurança de que minha vida precisava Harry, era a de ter você. Era apenas isto que me daria forças para prosseguir e enfrentar o que fosse necessário! Não era com a proteção física que eu gostaria que se importasse, meu querido... mas sim com nós dois, como você tanto gosta de ressaltar, gostaria que se preocupasse com o futuro da nossa relação. Aparentemente isso não foi muito possível!”

- “Hermione, acredite, eu me preocupava mais do que você imagina.” – disse ele em tom austero.

- “E bem menos do que deveria.” – retorquiu com convicção.

Harry engoliu seco. Todas as cenas que inutilmente havia tentado apagar de sua consciência nos anos que estivera distante da Inglaterra agora eram bombardeadas a partir do cerne de sua mente. A cobrança que Hermione fazia era absolutamente plausível, e ele bem sabia disso.

- “Eu sei que estive muito errado. Eu sei.” – admitiu ligeiramente aflito. – “Não vou discordar de você em relação a isso! Mas será que não pode imaginar as coisas pelo meu ângulo?”

- “Não é necessário. Todos sabíamos da sua situação, Harry.” – disse Hermione parecendo enfadonha.

Ele refletiu por um segundo antes de prosseguir. Havia chegado a um dos pontos culminantes de sua emoção, suas lembranças mais tenebrosas e fúnebres, uma área que em circunstâncias normais ele se esforçaria para que permanecessem intocáveis como se na verdade fossem parte de um universo alternativo, mas naquele momento não iria cambalear, estava disposto a ir até onde fosse necessário, a despeito disto ser incrivelmente doloroso. Não sabia por onde começar.

- “Eu também sofri muito, Hermione.” – passou a língua sobre os lábios umedecendo-os. – “Eu fui obrigado a carregar um fardo extraordinariamente pesado e fui incumbido de uma tarefa para a qual, você há de convir, eu não tinha maturidade o suficiente para concluir sem sair abalado. E eu me abalei. Demais. Eu perdi pessoas muito amadas em um intervalo curto de tempo e vi a minha própria morte de perto inúmeras vezes. Garanto que ninguém, nem mesmo você, tem idéia do que é estar no meu lugar durante aqueles longos anos. Sim, eles foram longos pra mim também, acredito, um minuto pode durar uma eternidade quando se está sob uma iminência constante de morte!” – ele tomou fôlego. – “E antes que você diga, não estou tentando transformar minha história de vida em justificativa para os meus erros com você! Eu errei e já admiti. Só acho que tudo que aconteceu pode ter contribuído muito para que eu me tornasse essa pessoa tão insuportável e difícil de conviver, como você já destacou várias vezes, ou você acha que era minha intenção perder a esperança ao ver Sirius e Dumbledore morrerem?”

- “É claro que não!” – Hermione negou e o enorme esforço que vinha fazendo para não perder a calma acabara de se tornar inútil. – “Eu nunca disse nada parecido com isso e nem que não compreendia a sua situação, Harry! Muito pelo contrário! Eu sempre estive ao seu lado, ouviu bem? Sempre! Até na batalha final, quando você-sabe-quem foi destruído. E sabe por quê? Porque eu te amava e tinha certeza que iríamos superar isto juntos! Eu tinha certeza ainda, que com você-sabe-quem morto nós iríamos finalmente ser felizes! Mas não foi bem isso que aconteceu, não é mesmo? E este detalhe, me desculpe, mas eu nunca fui inteiramente capaz de compreender! O seu comportamento, sem dúvida, não representava nada do que eu havia realizado pro momento, e principalmente para nós dois. Mesmo assim eu tentei entender que você se sentia injustiçado por Sirius e atribuí a isso toda aquela sua agressividade para tudo e todos. Mais uma vez, relevei e o apoiei quando você perdia dias e noites obcecado por Bellatrix Lestrange, sempre do seu lado, aguardando o dia em que tudo estivesse acabado, afinal você só queria justiça por seu padrinho! Era natural que agisse daquela forma estúpida, quando ela fosse pega, você voltaria ao normal, era o que eu presumia. Novamente me enganei!” – ela o olhou entristecida. – “Nem quando Bellatrix foi presa junto com os outros comensais você voltou, Harry. Nem assim. O Harry que eu conhecia e amava morreu junto com Voldemort e no lugar deixou alguém... Irreconhecível.”

Harry suspirou incomodado.

- “Você esperava que da noite pro dia eu simplesmente esquecesse de tudo e agisse como se nada tivesse acontecido? Não é assim que as coisas funcionam, Hemione!” – tentou um pouco impaciente.

- “Eu sei que superar uma sucessão trágica de fatos como essa exigiria tempo, mas, me desculpe Harry, você não parecia estar fazendo esforço algum!”

- “Você não tem idéia de como eu estava me sentindo e do que passava na minha cabeça!”.

- “Naturalmente. Você nunca se deu ao trabalho de me dizer!” – disse Hermione enérgica.

- “Sim.” – respondeu tendo uma súbita mudança de expressão.

Ele nunca havia conversado nem com Hermione nem com ninguém, pois fazia parte do seu mecanismo de defesa favorito: a repressão. Reprimia as mortes, as batalhas e até mesmo as vitórias, o que na verdade o deixava ainda mais angustiado. “Outro erro.”, pensou.

- “Como você acha que eu poderia ajudá-lo então?” – perguntou Hermione.

Harry respirou trêmulo.

- “Como você acha que poderia ajudar um homem que para salvar a própria vida e a dos seus amigos teve que se tornar um assassino? Como??” – disse ele exaltado. Hermione mordeu o lábio inferior. – “E como você acha que me senti ao ter obrigatoriamente que conviver com essa nova informação? Será que você tem idéia do que é ter que encarar os colegas, beijar sua namorada, tomar café da manhã, ir ao trabalho e andar na rua quando se tirou a vida de alguém?” – Concluiu emocionado.

Uma lágrima pesada escorreu pela maça do rosto de Hermione.

- “Harry...” – ela começou com voz baixa.

- “Eu...” – Harry a interrompeu, mas antes que prosseguisse o entalo em sua garganta também culminou em lágrimas. – “Eu me tornei um monstro, Hermione. Eu me igualei a Voldemort! Eu não era mais apenas Harry Potter, ‘o garoto que sobreviveu’ ou ‘o escolhido’, mas sim ‘o homem que matou’. Não consegue entender que eu simplesmente não consegui mais me aceitar e continuar me comportando como antes, porque não era mais o mesmo! Me senti o pior homem do universo, o mais terrível... O mais... Abominável.”

- “Harry, não é verdade, você... Você fez o que devia ser feito!” – confortou.

- “Eu sei que sim.” – disse Harry com a vista baixa. – “Mas fazer o que tinha de ser feito trouxe conseqüências horrendas a minha vida, ou pelo menos ao que eu costumava chamar de vida. Por muito tempo eu não pude ser o mesmo, você, por sinal sempre me lembra disso. Só que nem você nem ninguém sabe o peso que tem ser responsável pela morte de alguém... Ninguém!”

- “Harry, as pessoas nunca questionaram ou condenaram seus atos! Nós só não compreendíamos porque você se tornou tão amargo com quem o amava! Nós nos machucamos com isso...”

Ele remexeu nos cabelos de maneira desajeitada.

- “Eu sei que não tinha o direito de descarregar meus traumas e frustrações em quem quer que fosse, principalmente em você. Mas será que era pedir demais a essa vida tão tirana que as pessoas tivessem um pouco mais de paciência?!” – disse Harry aparentemente indignado.

- “Todos tivemos, Harry.” – retorquiu Hermione com tranqüilidade.

- “Você não.” – retrucou Harry de imediato. – “Você não teve!”

- “Harry...”

- “Eu nunca nutri qualquer expectativa de ter uma vida feliz da forma convencional Hermione. Até me apaixonar por você. Você era a maior motivação que eu possuía pra conseguir vencer. Mas um dia...” – ele sorriu desanimado. – “Um dia, você cansou. A única pessoa que era meu alicerce, meu apoio, cansou. Você me deixou num dos momentos que eu mais precisava de você e com isso despedaçou as últimas chances que eu tinha de... Fazer dar certo.”

Harry calou-se e por um instante eles apenas se olharam.

- “Você me magoou muito, Harry.” - Disse Hermione ressentida.

- “Hermione, eu sei! Acredite não houve um dia sequer em todos esses anos que não tenha me lembrado da forma grosseira que agi com você! Sei que a decepcionei. Eu...” – ele respirou fundo. – “Eu sinto muito, muito mesmo... Por tudo.”

Hermione levantou as duas sobrancelhas, explicitamente desconcertada.

- “Imagino o quanto deve estar sendo difícil pra você me dizer isso...” – foi o que ela disse.

- “Mais difícil foi passar tanto tempo sem dizer.” – retrucou instantaneamente com franqueza. Hermione permaneceu em silêncio o vento gélido e dúbio lhe deu calafrios. – “Eu sei que isto não ameniza em nada tudo o que eu fiz, mas eu preciso falar... Me desculpe.” – pediu por fim quase sem voz.

- “Há pelo menos uma dúzia de pessoas a quem você deve falar esta frase, sabia? O Ron, por exemplo!” – disse Hermione impassível.

Harry franziu o cenho.

- “Não envolva o Ron no que estamos falando agora, por favor!”

- “Por que não? Vai me dizer agora que não deve desculpas a ele também?”

- “Talvez.” - Admitiu um pouco a contragosto.

- “Talvez?” – Hermione repetiu incrédula. – “Por Merlin, você sabe que não agiu certo com ele!”

Harry olhou para os lados ajustando as mangas da camisa de forma inquieta.

- “Olha só... Pode ser que eu tenha de fato me excedido com o Ron, mas honestamente, ele me tirava do sério Hermione, e você sabe porquê! – ela cruzou os braços, desentendida. – “Ah faça-me o favor, Ron sempre foi totalmente apaixonado por você!” – acusou Harry. – “Tudo bem ,que eu e ele éramos amigos mas você não esperava que eu fechasse os olhos para essa verdade, esperava?”

- “Harry, isto denovo não!” – protestou Hermione.

- “Não seja simplória! Vai dizer que é mentira que ele sempre a amou?” – perguntou de forma denunciadora.

- “E daí se realmente fosse assim? Era com você que eu estava Harry, e não com ele! Sempre foi com você que eu queria estar, será que é tão difícil assim de entender?”

Harry abriu a boca para dizer algo.

- “E só a título de informação... Ron ficou muito ressentido com toda a sua desconfiança. E eu também.” – disse Hermione em tom amargo.

Harry sentiu o ar em suas narinas pesar. De repente respirar se tornava inexplicavelmente difícil. Será que tudo, tudo que fizera havia sido prejudicial a Hermione?

- “Eu sei.” – admitiu já estafado – “Raios Hermione, eu sei o quanto a machuquei! Mas será que são apenas essas as recordações que tem de nós dois?” – indagou quase implorando.

- “Desculpe, mas sim, essas são as mais marcantes!”

Ele fechou os olhos, contrariado.

- “Você não guarda nenhuma lembrança boa de mim?” – perguntou aflito – “Nenhuma imagem feliz? Não se lembra dos nossos planos? Dos nossos momentos juntos? Ou das coisas que dizia a mim e só a mim?”

Hermione refletiu, o seu olhar oscilando de forma irresoluta de Harry para o alpendre ao lado dele.

- “Eu lembro. Eu lembro perfeitamente de tudo! Só que se trata de um passado que não volta mais. E sabe por quê? Porque aquele Harry que esteve comigo também não volta mais, nunca mais!” – exclamou energicamente. – “Ele já não existe!”.

- “Você está enganada, Hermione, ele existe!” – disse Harry tocando-lhe os ombros. – “E ele está aqui! Bem aqui, diante de você!”

Ela hesitou perante os olhos de Harry que estavam fixos nos seus.

- “Francamente, acha que sou alguma idiota? Eu sei perfeitamente bem no que você se tornou!”

- “Será que não entende? Eu mudei, Hermione!” – ele pressionou a carne dela entre os dedos.

- “Besteira!” – teimou.

- “Não, eu mudei muito!” – insistiu. Hermione o olhava cética. – “O suficiente para entender o que aconteceu!”

- “Já não era sem tempo, não?” – ironizou Hermione. – “Só que eu também mudei, Harry, não sou mais a garota ingênua que você conheceu que sempre se submetia a sua vontade e que te ama...” – ela calou.

- “Que me amava?” – Harry completou – “Era o que você ia dizer?”

- “Sim”. – reconheceu.

- “Por que não concluiu a frase, Hermione?”

- “Porque não vale a pena.” – disse ela secamente. – “Como eu te disse, eu também mudei, e isto também mudou.”

- “Estas coisas nunca mudam.”

- “Tem razão... Elas morrem.”

Harry piscou várias vezes os olhos.

- “É verdade, sou obrigado a concordar.” – aceitou desanimado soltando os braços da mulher. – “Isto me entristece muito.”

Ele recuou dando um passo atrás. Hermione pareceu desapontada.

- “Não me diga que ainda não tinha notado eu acabou!”

Harry sorriu sem alegria e voltou a encará-la fixamente, a brisa fria eriçava os pelos de seu corpo e a ansiedade já começava a importuná-lo e fazer surgir em sua carne os impulsos mais peculiares que se tornavam cada vez mais intensos devido a presença de Hermione ali.

- “De tudo que nasceu e morreu, veio e se foi na minha vida, você foi a única entre tudo e todos que sempre esteve lá... Intacta” – disse em tom muito sério até severo. – “Mesmo nos anos que estive afastado, onde quer que eu acordasse ou adormecesse... Quando eu fechava os olhos, eu achava você. E então de repente as coisas não pareciam tão ruins como de costume, pois eu ainda tinha você dentro de mim.” – ele fez uma pausa ficando mais próximo dela. – “E nem agora, quando ‘percebi’ que acabou, eu deixei de sentir você.”

Hermione lhe dirigiu um olhar sarcástico.

- “Nossa... Você achou uma maneira bem estranha para demonstrar isso enquanto estivemos juntos, não?” – disse Hermione, soando enérgica. – “Eu sinceramente não consigo entender o que você pretende vindo me dizer essas coisas a essa altura do campeonato! O que você está pensando, afinal? Que é o único a ter declarações ‘profundas’ a fazer? Acha que eu não fiquei exausta de pensar dia após dia no porquê de você ter desaparecido mais uma vez? De ter simplesmente mudado de continente sem sequer me mandar uma coruja, Harry! Mas é claro, isso era bem típico de você! Aparentemente o satisfaz deixar as pessoas próximas totalmente no vácuo sem justificativa! E agora você se acha em condições de fazer esse tipo de discurso ‘sensível’ e ‘comovente’? Se é alguma piada, sinto na obrigação de dizer que não tem graça e que você só está conseguindo me machucar mais à medida que me faz lembrar esse passado. Eu não estou em condições de ouvir mais nada que você diga com o objetivo de me atormentar!” – concluiu sem fôlego.

Harry a segurou pelos antebraços com firmeza. As gotas d’água agora tocavam sua pele com mais freqüência e peso.

- “Eu... Nunca... Esqueci... Você.” – disse ele em tom baixo e rouco.

Por um momento a respiração de Hermione hesitou. Podia sentir a rigidez das mãos de Harry em sua pele enquanto procurava reagir às palavras que ele acabara de pronunciar. Toda a sua sensatez e prudência oscilavam diante do impacto que ouvir aquilo havia lhe causado. Seus olhos marejaram. “Por quê? Por que ele tinha que lhe dizer isso?”.

- “Por favor... Não me fale...” – começou ela com muito esforço para entoar a voz. – “Você não tem o direito de aparecer depois de tanto tempo e revirar a minha cabeça...”

- “Você...” – ele interrompeu. – “Você me perguntou por que eu tinha voltado.” – fez uma pausa - “Na ocasião eu até cheguei a pensar que não soubesse a razão. Pois muito bem... Agora eu sei e faço questão de responder... Eu voltei porque eu quero minha vida de volta. Voltei para
recuperar o que é meu.” – disse determinado. – “E vou fazer isso agora.”

“Quê...? Como assim agora?”, foi tudo o que ela teve tempo de pensar antes que uma das mãos hábeis de Harry soltasse seu braço e agarrasse sua nuca num puxão, rompendo o pouco espaço que havia entre ambos. O calor estarrecedor que emanava do corpo de Harry associado à chuva densa que agora caía fez Hermione estremecer. Ele baixou a cabeça lentamente, a boca em tentativa de encontrar os lábios dela. Hermione sabia que podia afastá-lo se quisesse, mas o eco das últimas declarações dele a deixou desprovida de forças para rejeitá-lo. Ela foi incapaz de um movimento qualquer, até mesmo de um girar de cabeça para evitar que os lábios dele chegassem aos seus. Todos os seus sentidos deram sinal de vida ao notar-se embebida naquela carícia tão íntima e familiar. Os braços envolveram o pescoço enterrando os dedos nas madeixas negras e molhadas do homem. A posse sensual de seus lábios e o sabor peculiar das gotas d’água que escorriam por suas faces para se misturar ao beijo fê-la arrepiar-se toda.

A não resistência de Hermione ao beijo fez Harry se aprofundar em movimentos possessivos, urgentes, mas entorpecidos em ardência e paixão, uma combinação que a deixava tonta, entregue, desarmada. Fazia tanto tempo Hermione não sentia o toque de um homem que sabia acariciar uma mulher como Harry sabia que se a derrota era isso, ela ia saboreá-la em cada milésimo de segundo, mesmo se para sentir-se deliciada por ele novamente ela precisasse contrariar todas as súplicas de sua sensatez, que embora fracas ainda se faziam presentes. A brasa que ela vinha fazendo todo o esforço para que se apagasse agora queimava com mais força do que nunca e Hermione teve a assustadora sensação que mesmo se aquele momento fosse eterno não seria tempo suficiente para saciar toda a saudade e anseio que alimentava por Harry.

Harry arriscara todas as fichas naquela jogada. Não havia sido muito feliz na primeira vez que tentara beijá-la e ele era ciente que uma segunda tentativa seria bem perigosa e poderia pôr tudo a perder. Mas ali, sob a noite e o gotejar intenso da chuva, o beijo impetuoso que o punha em chamas, o toque em sua pele lisa e macia, o contato de seu corpo contra o dele que despertava em Harry as carências mais primitivas da carne e a destreza com que ela retribuía cada carinho deliberadamente da mesma forma que no passado, fizeram com que ele soubesse: Hermione o queria mais do que o desprezava. Não conseguia controlar seus sentimentos assim como ele próprio não conseguia. Também ela estava presa naquele avassalador redemoinho de paixão que os estava arrastando para o fundo, de volta ao relicário onde jazia sua história, seu amor, adormecido, mas ileso, pronto para renascer. A forma desesperada que Hermione o apertava e corria as unhas ora por entre seus cabelos ora em suas costas era a garantia que tinha de que ela não pretendia agredi-lo pelo beijo. Por um instante reparou a respiração ofegante de Hermione falhar e desfez instintivamente o contato, mas antes que ela abrisse os olhos voltou a beijá-la, desta vez bem devagar prendendo de quando em vez o lábio inferior dela entre os dentes e fazendo-a suspirar.

Hermione se redeu novamente a mais aqueles minutos de satisfação, até que com a mesma delicadeza com que seus lábios foram possuídos, foram libertados. Ela abriu os olhos para encontrar o olhar de Harry sob as lentes embaçadas fixo em si. Antes que qualquer coisas fosse dita ela se viu envolta a um forte abraço. “Era ele”, pensou. Era Harry... Harry havia voltado pra ela.

- “Oh Hermione...” – Harry sussurrou rente ao ouvido de Hermione. – “Eu amo você...

Ela sentiu as pernas vacilarem e o coração acelerar quando Harry voltou a encará-la fazendo surgir um espaço entre os dois.

- “Harry...” – Hermione se ouviu dizer dando um passo atrás. – “Harry você não disse o que eu pensei ter ouvido, não é?” – ela hesitou, muito nervosa – “Não, não... Você não teria coragem de chegar depois de tanto tempo e me dizer uma coisa dessas! N-não, não é assim que funciona! Eu não... Nós... Realmente não pode ser assim! Você não pode abusar das circunstâncias deste modo!”

Harry levantou a sobrancelha, incrédulo.

- “Nós nos beijamos!” – falou ele.

- “Eu sei, EU SEI!” – ela massageou as têmporas dando passos de um lado para outro. – “Mas eu não devia...”

- “E eu disse que a amo.” – completou quase num murmúrio.

Hermione estancou e o observou ofegante, com uma expressão de horror.

- “Não... Não faz isso.” – ela implorou. – “Eu não mereço, eu já sofri demais por você, Harry...”

- “Hermione, me escute!” – ele voltou a segurá-la pelos ombros firmemente. – “Eu quero que voltemos a ficar juntos, foi por isso eu voltei!”

- “M-mas...” – ela titubeou. – “Mas eu não quero! Eu não quero passar por tudo aquilo denovo! Eu não ia agüentar, está entendendo?” – disse Hermione com sinceridade.

- “Hey...” – ele tocou-lhe as faces. – “Você não vai passar por nada do que passou antes, Mione, não vai está ouvindo? Eu não irei cometer o mesmo erro novamente!”

- “Nem eu, Harry. Nem eu!” – ela se desvencilhou dos braços dele.

- “Quê...? O que está dizendo?” – indagou confuso.

Hermione tentou em vão limpar o rosto ensopado em água.

- “Que voltar pra você ia ser um grande erro porque seria muita burrice acreditar no que você está falando, principalmente depois de tudo que me fez!”

- “Oh Hermione, será que não vai me perdoar nunca?? Por favor, eu já reconheci meu erro. Eu juro que se pudesse fazer tudo desde o início, faria diferente!” – ele voltou a se aproximar. – “Jamais a faria sofrer denovo... Você tem que acreditar que eu mudei, eu amadureci...”

- “Isso... É...” – ela começou incerta. – “Será que não vê o que está me pedindo??”

- “Estou pedindo que acredite em mim e me perdoe! É tão difícil assim?”

- “Pode ter certeza, é.”

- “Hermione, não seja tão teimosa!” – ele protestou. – “Vamos fazer as coisas certo desta vez!” – fez uma pausa e olhou rigorosamente para ela. - “Eu sei que ainda me ama!”

Hermione cresceu os olhos.

- “Você não pode estar falando séri...”

- “Não minta!” – ele a repreendeu. – “Nada do que diga vai mudar o que acabei de constatar quando nos beijamos! Eu sei que ainda gosta de mim, Hermione!” – concluiu decidido.

Hermione soltou uma gargalhada desesperada.

- “E se ainda amasse?” – ela falou desafiadora. – “O quê que tem? Isso não mudaria nada!”

Harry a olhou, incrédulo.

- “Está maluca? É claro que muda! Isso muda tudo!”

- “Não muda o que passei.” – retrucou Hermione impassível.

Ele respirou fundo exausto.

- “Hermione... Esqueça o passado! Se ainda gosta de mim, como sei que gosta, me dê uma outra chance, dê uma outra chance a nós dois!”

- “Outra chance??” – disse ela cética. – “Mais uma?? Será que todas as chances que eu dei pra nós dois não foram suficientes pra provar que é impossível??”

- “Não é impossível... Desta vez vai ser diferente, eu garanto!” – apelou já esgotado. – “Hermione... Olhe pra mim.”

Ela passou os olhos do chão para Harry, agora parado de braços abertos.

- “O quê?” – disse também parecendo cansada.

- “Não lute contra o que sente.” – pediu Harry. – “Por favor...”

Hermione sentiu sua cabeça dar voltas, sim estava zonza, pois de um minuto a outro sua vida tinha desabado sobre seus ombros e todo o castelo que havia construído com perfeição juntamente com os esforços para esquecer o passado agora estavam despedaçados. Ela não conseguia suportar a idéia de estar perdendo o chão, de se ver em apuros, vulnerável, indecisa. Realmente não conseguia pensar em continuar assim, este não era o plano.

- “Lembre de tudo de bom que passamos...” – insistiu ele. – “Não é justo duas pessoas que se gostam ficarem separadas! Eu sei que... Talvez você tenha parado várias vezes e achado difícil estar comigo. Acredite, nem eu pensava que seria tão difícil. Mas também, ninguém disse que seria fácil, Mione... Da mesma forma que eu sei que não está sendo fácil pra você considerar que eu mudei e voltei pra ficar com você.”

Ela mordeu o lábio inferior.

- “Harry... As coisas não são tão simples assim!” – alegou ela. Harry fez uma expressão de contrariedade.

- “Ta bem, podem não ser simples, mas também não são insolúveis! Pense, Hermione... Pense na sua vida daqui pra frente... Na nossa vida.” – disse Harry em tom baixo.

Hermione tremeu o queixo com mais uma brisa gélida irrompendo entre eles.

- “Eu prometi a mim mesma que não ia...” – calou com um entalo de lágrimas em sua garganta. – “P-prometi que não ia me deixar levar por ilusões e que você me fizesse sofrer novamente.”

Ele ficou alguns instantes em silêncio.

- “Também prometeu que sempre ficaria comigo.” – disse tranqüilamente. – “Lembra?”

Hermione parecia estar estática. “Como seria possível que ele ainda lembrasse disso?”, pensou.

- “Sim. Lembro.” – respondeu franzindo o cenho. – “Mas naquela época...”

- “O que tem aquela época? Não venha dizer que naquela época prometeu isso porque me amava, porque sabemos que ainda é assim.” – Hermione fez menção de interromper, Harry a deteve com um gesto. – “Você sabe que pode quebrar a promessa que fez, assim como quebrou a que me fez antes. Basta querer...”

Os nervos de Hermione protestaram diante da frieza, o que fazia seus dentes baterem uns nos outros.

- “E-eu...” – ela suspirou. – “É tarde demais, Harry...” – concluiu virando-se de costas para ir embora.

- “Hermione.” – ele chamou. Hermione estancou sem se voltar para ele. – “Está enganada... Você quer que seja tarde demais?”

Silêncio.

- “Você realmente quer??” – perguntou outra vez.

Hermione fechou os olhos o mais forte que pôde, aterrorizada com os próprios anseios. Harry aguardava apreensivo.

- “Responda!” – persistiu.

Sem obter resposta deu um passo a frente mas antes que a alcançasse, Hermione sem olhar para trás, desaparatou.





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Há alguns quarteirões da ruela onde encontrara Harry, Hermione apareceu. Próxima À entrada lateral de um edifício Clássico e imponente a água não a atingia mais. Ela se agachou encostada à parede e observou por um instante a praça Vittorio, praticamente vazia, à exceção de uma meia dúzia de pessoas que se abrigava da chuva em um dos extremos. Juntou o máximo de ar que seus pulmões suportavam na esperança de buscar forças para organizar os pensamentos em sua mente. Mas naquele momento, apenas um turbilhão de antigas recordações vinha à tona. Recordações essas que denunciavam que talvez Hermione não fora absolutamente sincera com Harry. Ele a havia questionado se eram apenas as más lembranças que se faziam presentes quando se tratava da história deles, dele em especial. Não mentira ao dizer o quanto aquelas eram inesquecíveis, mais pode ter pecado ao não perceber imediatamente que elas não eram as mais vivas... Houve bons momentos, sim houve. E eram esses bons momentos que agora explodiam com energia em seu peito. Os dias maravilhosos, os dias iniciais em que a paixão entre ambos estourou. Ela sorriu pra si mesma.





(Flash Back)



"Yeah I'm seeing a whole nother world in my mind

Girl I'm Feeling that we've been in love all the time

Cos' you turn me on

Yer love's like a bomb

Yer blowing my mind"

Oasis - Love like a bomb



As coisas entre ela e Rony já não caminhavam tão bem após o término em Hogwarts e como era bem previsível para todos um dia acabou. Hermione sentiu muito, tinha que admitir, mas suas lamentações não duraram muito tempo, antes que pudesse se dar conta, aquilo aconteceu e ela se viu entre os braços de Harry envolta a mais avassaladora paixão que tinha conhecimento. Ele parecia incrédulo, ao início, e Hermione compreendia o porquê...

O alojamento do curso preparatório de aurores também era dividido, uma ala para homens e outra para mulheres, mas ao contrário de Hogwarts os dormitórios eram individuais. Porém Hermione, dificilmente ficava sozinha em seu quarto... Deitada de bruços folheando uma edição limitada de "Magia Avançada Para Aurores, Vol I", ela vestia um típico vestido de verão britânico de estampas em tom de vermelho e azul, costas nuas, finas alças sempre caindo do ombro e os cabelos castanhos presos no alto. Já havia se concentrado por inteiro na leitura quando os dedos cuidadosos correram lenta e delicadamente por sua panturrilha eriçando de imediato a pele do lugar. Hermione esbanjou um discreto sorriso e olhou por cima do ombro para ele. Com expressão apreensiva Harry se apoiou no cotovelo e percorreu com beijos toda a extensão de sua perna que ficava à mostra, em seguida, quase engatinhando pelo colchão tocou hesitante com a ponta dos dedos a parte nua de suas costas até a nuca. Repentinamente num ímpeto Hermione saltou de sua posição de encontro a Harry derrubando-o sobra as almofadas. Ele soltou uma exclamação de surpresa a notar-se imobilizado quando ela segurou seus pulsos passando uma perna em cada lado de seus quadris, literalmente em cima dele, prendeu a respiração. Em silêncio ela debruçou-se devagar até seu rosto ficar a centímetros do dele, então numa mudança de direção levou seus lábios de encontro ao pescoço de Harry se ocupando em mordiscar e tocar com a língua o lóbulo de seu ouvido. Um gemido suave de protesto acompanhado do estremecimento no corpo dele foram sentidos por Hermione que satisfeita recuou para observá-lo. Ela abriu um sorriso maroto quando Harry tentou puxar os braços.

- "Tsc, tsc, tsc..." - sonorizou Hermione, severa, balançando a cabeça.

- "Desculpe." - disse ele apreensivo. - "Não queria interromper, mas você e este livro já estavam me deixando ansioso!"

- "Minha leitura o incomoda?" - questionou com voz mansa.

- "Não!" - respondeu Harry de imediato, hesitando em seguida. - "Quer dizer... Um pouco... Na verdade, achei que..."

- "O que achou?" - ela interrompeu. Harry sorriu sem graça e fez uma careta.

- "Que você poderia ler em uma outra hora?" - mentiu.

Hermione se aproximou perigosamente dos lábios dele.

- “É uma leitura muito interessante e importante, que você também deveria estar fazendo”. – disse de forma metódica.

- “Eu sei, mas...”

Ele calou ao sentir o roçar dos lábios de Hermione nos seus, num movimento provocante e sedutor. Tentou mais uma vez tomar o controle de seus pulsos, mas ela os manteve firmemente presos. Juntou forças para levantar o tórax e capturar por inteiro o beijo de Hermione que percebendo a ofensiva se esquivou esbanjando um sorriso malicioso. Harry remexeu-se derrotado. Poderiam passar horas naquele tolo joguinho de amantes se assim ela quisesse. O que ele poderia fazer?

- “Ainda insiste em ir ao Purple Turtle.” – ela disse após alguns minutos.

‘Purple Turtle’? Harry quase havia esquecido disso.

- “Ah, Humrum. Gerard Dilcker está...”

- “Está na cidade, eu sei.” – ela completou

Dilcker era um admirável jogador de quadribol da atualidade e apesar de ter aderido à carreira de auror Harry ainda permanecia intimamente fascinado pelo esporte. Durante a semana inteira vinha insistido para que fossem encontrar o jogador, que era seu amigo, em um popular pub Londrino o ‘Purple Turtle’. A idéia de passar horas discutindo as jogadas do último campeonato, no entanto, não tinha animado muito Hermione.

- “Então quer que eu abandone minha leitura, para sair com você?” – Hermione perguntou voltando a beijar o pescoço do namorado. O corpo de Harry voltou a vibrar.

- “Yeah... Eu qu...”

Um beijo profundo e quente de Hermione o calou. Ao sentir seus pulsos livres ele tocou com minúcia toda pele que tinha ao alcance. Deslizou suas mãos pela coxa, cintura parando nos ombros nus deixando o afogueamento tomar conta de cada músculo e nervo que possuía. Já abriu delicadamente o zíper nas costas de Hermione quando ela parou.

- “Isso me lembra que tenho que me trocar!”

- “O quê?” – Harry perguntou com voz rouca, totalmente confuso

- “Tenho que me trocar se formos sair!” – ela explicou.

- “Mas...” – começou ele entristecido.

- “Purple Turtle, lembra?” – Hermione falou com voz macia ao pé de seu pescoço. – “Encontrar seu amigo... Dilcker...”

- “S-sim... Encontrar Dilcker... É... nós iremos...” – ela voltou a beijá-lo. – “Ficar aqui mesmo.” – concluiu ao fim do beijo.

- “Então não vamos?” – ela indagou com charme. – “Pensei que quisesse ir...”

- “E eu quero...” – retrucou de imediato. Hermione abriu em um puxão todos os botões de sua camisa.

- “Quer??” – indagou acariciando o tórax definido dele.

- “Quero...” – suspirou.

- “O que exatamente?”

- “Ah droga... O que...Você quiser.”

Hermione riu satisfeita. Harry, derrotado sentou-se recostado ao dossel da cama e acariciou a face da mulher.

- “Nunca imaginei encontrar uma mulher como você” – ele refletiu alto. Hermione cessou a risada para observá-lo. Harry prosseguiu: - “Embaralha a cabeça de um homem, e ele fica sem pensar direito...”

- “Sério?” – ela indagou com voz manhosa.

- “Muito sério.”

Ela o olhou, sedutora, passando os dedos por entre os fios de cabelo de Harry.

- “Eu amo você.” – murmurou Hermione, as pupilas de Harry brilharam.

- “Eu também amo você”. – disse Harry antes de sentir o calor fervoroso de mais um beijo da amante. – “Promete que vamos sempre ficar juntos?” – ele questionou voltando a captar o olhar de Hermione.

Ela sorriu intrigada.

- “Prometo.” – respondeu decidida.

Harry hesitou.

- “Sempre?” – pediu confirmação.

- “Sempre...” – ela disse de imediato. – “E para sempre.”

Harry a abraçou em seguida num impulso a impingiu de encontro à cama pondo todo o peso de seu corpo sobre o dela iniciando mais uma série de carícias por segundos eternos. E naquela noite eles apenas ficaram em casa.



(Fim do Flash Back)




Hermione podia ver a si mesma, e o quanto estava feliz ao relembrar aquela cena. Era uma imagem simples, não havia nada de extraordinário nela, ou melhor... Havia sim... Havia eles dois, em pleno contentamento, fazendo de uma noite qualquer um episódio homérico e de palavras triviais um célebre poema romanesco. Eles tinham um ao outro, e isto era o bastante para tornar tudo a sua volta incomensurável. Seus temores, incertezas, agonias não significariam nada enquanto... Hermione soluçou... Enquanto eles tivessem um ao outro.

Ela cobriu a face com as palmas das mãos. De repente não parecia tão tarde para viver.

“Oh Merlin, o que eu fiz?”





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No Próximo Capítulo...


“Desistindo de analisar o vai e vem da alameda, ele sentou-se diante do birô, aonde ainda pairavam as anotações de Hermione, e se ocupou de tentar desvendar a lógica do episódio. Draco sequer lembrava de ter encontrado aquela figura tão sem importância até então. Não o conhecia, isso era incontestável. ‘Mas ele me conhecia...’

Ele levantou-se...”




...Coming Soon



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I'll Be There For You

J. Bon Jovi, R. Sambora



I guess this time you're really leaving

Eu acho que desta vez você está mesmo partindo

I heard your suitcase say goodbye

Eu ouvi sua mochila dizer adeus

And as my broken heart lies bleeding...

E enquanto meu coração partido cai sangrando...

You say true love is suicide

Você fala que amor verdadeiro é suicídio



You say you've cried a thousand rivers

Você diz que tem chorado mil rios

And now you're swimming for the shore

E agora você está nadando para a praia

You left me drowning in my tears

Você me deixou afogando em minhas lágrimas

And you won't save me anymore

E nunca mais irá me salvar



Now I'm praying to God you'll give me one more chance, girl

Agora estou rezando a Deus que você me dê mais uma chance



I'll be there for you

Garota, eu estarei lá por você

These five words I swear to you

Estas cinco palavras eu juro para você

When you breathe I want to be the air for you

Quando você respirar eu quero ser o ar para você

I'll be there for you

Eu estarei lá por você

I'd live and I'd die for you

Eu viveria e morreria por você

Steal the sun from the sky for you

Roubaria o sol do céu para você

Words can't say what love can do

Palavras não podem dizer o que um amor pode fazer

I'll be there for you

Eu estarei lá por você



I know you know we've had some good times

Eu sei que você sabe que nós tivemos bons momentos

Now they have their own hiding place

Agora eles têm seus próprios caminhos a seguir

I can promise you tomorrow

Eu posso te prometer o amanhã,

But I can't buy back yesterday

Mas eu não posso comprar de volta o ontem



And Baby you know my hands are dirty

E baby, você sabe que minhas mãos estão sujas

But I wanted to be your valentine

Mas eu queria ser seu namorado

I'll be the water when you get thirsty, baby

Eu serei a água quando você ficar com sede

When you get drunk, I'll be the wine

Quando você ficar bêbada, eu serei o vinho



I'll be there for you

Garota, eu estarei lá por você

These five words I swear to you

Estas cinco palavras eu juro para você

When you breathe I want to be the air for you

Quando você respirar eu quero ser o ar para você

I'll be there for you

Eu estarei lá por você

I'd live and I'd die for you

Eu viveria e morreria por você

Steal the sun from the sky for you

Roubaria o sol do céu para você

Words can't say what love can do

Palavras não podem dizer o que um amor pode fazer

I'll be there for you

Eu estarei lá por você



And I wasn't there when you were happy

E eu não estava lá quando você estava feliz

I wasn't there when you were down

Eu não estava lá quando você estava triste

I didn't mean to miss your birthday, baby

Eu não queria ter perdido seu aniversário, baby

I wish I'd seen you blow those candles out...

Eu gostaria de ter visto você assoprar aquelas velas...



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N/A(2) – Ah, finalmente eu escrevi uma das partes que mais gosto da fic, e vcs o q acharam? Vou esperar os comentários com a resposta okay? Gente eu sei que Draco e Gina não aparecem nesse capítulo, mas mas, Harry e Hermione precisavam desse tempinho pra conversar não concordam? D&G voltam com tudo no cap X, I promise!

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