Uma carta para Sckarlett



– Helena Ravenclaw –

N/A: O castelo já está pronto; os quatro fundadores decidem quem admitirão em suas casas; há intrigas, medos, boatos, mortes, romances e muito mais. Qualquer erro é de minha responsabilidade, então me corrijam se puderem. Eis o primeiro capítulo e, por favor, comentem!

Capítulo 1 – Uma carta para Sckarlett

O castelo recém construído; os livros nunca lidos dispostos um ao lado do outro na biblioteca suntuosa; o cheiro do fenomenal banquete era levado pela brisa; e a Floresta Proibida não parecia tão assustadora como de costume. Na verdade, parecia até tentadora.

Godric Gryffindor permanecera a noite inteira acordado, movido emocionalmente pela insônia. Postava-se na frente da longa mesa de salgueiro, absorto em um pergaminho, segurando a pena de falcão na mão direita. Molhara a pena no tinteiro repetitivas vezes, sem sequer ter noção do que escreveria. Livros estavam empilhados no canto da mesa e a sua coruja, Vox, já estava cansada de observar seu dono tentando buscar as palavras certas para começar a escrever.

As únicas palavras floreadas no pergaminho foram escritas com um capricho incrível, já que Godric não queria que aquela carta parecesse ter sido escrita por um trasgo. Queria deixar a carta perfeita. Perfeita como sua amada Sckarlett.

Sckarlett Jove era excepcionalmente bela, com os cabelos louros da cor do ouro e os olhos da cor do mel de laranjeira. Godric não sabia se era o nariz empinado que a fazia parecer sempre confiante ou o perfume de flores silvestres, mas algo nela o entorpecia. Estar com ela era como fumar ópio: repentinamente ele se sentia muito anestesiado.

A luz da manhã entrou pelo vitral da janela do quarto de Godric e iluminou o pergaminho branco, fazendo luzes vermelhas, azuis, verdes e alaranjadas brincarem sobre ele. Godric sorriu perante tal beleza absoluta das cores que vinham o vitral, geradas a partir da palavra que ele mais apreciava: luz. Isso o inspirou a escrever o primeiro parágrafo da carta para sua amada. Sckarlett era dona de uma beleza incomum, de cabelos vastos, olhos brilhantes, rosto fino de pele clara e lábios rosados e chamativos.

Minha amada Sckarlett,
Há tempos não nos encontramos, mas a luz da manhã ainda ilumina o amor puro e juvenil que cresce mais a cada dia, e que pertence somente a você. Pois não há oceano que nos distancie, nem morte que nos separe. És a estrela que brilha ao longe, a única estrela que vejo, mesmo em um céu claro e azul. Não estás aqui, mas eu a sinto comigo. Sinto o calor que emana do seu corpo, e às vezes posso ver seus olhos luminosos na noite. Minha doce Sckarlett; és única luz existente neste mundo negro...


Enquanto uma forte onda de inspiração inundava o coração de Godric; Rowena Ravenclaw caminhava com passos firmes e decididos em direção ao quarto de Godric. Os cabelos negros como a noite balançavam devido a brisa que entrava pelas janelas do corredor e os olhos de um azul intenso, como o oceano sob a aurora, brilhavam decididos, cheios de malícia e desejo.

A capa longa, do mesmo azul dos seus olhos, esvoaçava atrás dela, batendo delicadamente em seus calcanhares. O sapato alto, estilo boneca, era azul-marinho, e toda aquela abundância azul deixava os olhos da feiticeira mais atraentes.

Meu querido Godric, pensou Rowena. Era tão loucamente apaixonada pelo bruxo, mas jamais juntara devida coragem para expressar esse amor. Dedicava as longas noites vazias escrevendo em seu diário, embora sempre achasse isso um tanto infantil, sabia que necessitava expor seus pensamentos.

O vestido de veludo negro era justo no busto, cintura, e no antebraço das mangas compridas. Mas do antebraço em diante, as mangas ficavam mais largas; e no quadril o vestido era mais solto, deixando-a extremamente sensual. Rowena apertou a capa contra o corpo, escondendo completamente o vestido negro. Sentia-se nervosa. Não sabia se conseguiria dizer a Godric que o amava.

Tentara várias vezes olhar dentro dos olhos castanho-escuros de Godric, que eram um enigma; um mistério complicado que Rowena adoraria resolver; mas sua paixão por ele não permitia que ela o encarasse. Tinha medo. Tinha tanto medo de ser rejeitada que preferia amá-lo de longe, embora esse amor jamais fosse correspondido. Odiava a si mesma e àquele sentimento profundo e insolente que cismava dominar o coração, a mente, a alma, os pensamentos e os sonhos dela. Godric estava sempre presente no coração de Rowena, mas ele não fazia idéia dos sentimentos da feiticeira.

O que mais atormentava Rowena era saber que Godric tinha sentimentos por outra mulher. Sckarlett. Rowena chegara a conhecê-la quando ela decidiu escrever uma matéria sobre o Castelo de Hogwarts e fazer uma entrevista com cada um dos fundadores. Não era bonita, na opinião de Rowena, mas talvez fosse. Talvez o ciúme falasse mais alto. Sckarlett falava de uma maneira espevitada, empolgada e um tanto exagerada. Era como uma criança provando um docinho de abóbora pela primeira vez na vida. Rowena a desprezara tanto, que Sckarlett jamais retornou ao castelo.

Godric e Sckarlett se comunicavam a distância; trocavam juras de amor e prometiam ficar juntos pela eternidade. Promessas levianas, pensava Rowena. Amor a distância era como nadar numa noite de tempestade. Era perigoso. Extremamente perigoso. Tentara dizer à Godric para usar a razão. Deus criou a cabeça em cima do coração, para que o sentimento não ultrapasse a razão.

Não importava o quanto Rowena dissesse isso a si mesma, ela amava Godric e não pensava no quanto isso era estúpido. Sonhava com um amor imaginário e esperava algo que não aconteceria. Esperava demais, perdoava demais, dava chances demais, sonhava demais e, principalmente, amava demais.

Ninguém tinha conhecimento que havia uma caixa de mogno sob a cama dela, onde ela guardava o diário, fotos de Godric, cartas que ela escrevera para ele que jamais seriam enviadas, e os desenhos que ela fizera dele, tão perfeitos que mais pareciam fotografias.

Pode-se dizer que era obsessão, mas não era. Rowena era tão profundamente apaixonada por Godric que seria capaz de lhe dar a vida, caso ele pedisse. Até arrancaria seu coração para dar a ele. Mas ele não parecia nem um pouco interessado em ter o amor dela, pois estava apaixonado por outra. E Rowena não sabia o que Sckarlett tinha de mais.

– O que ela tem de tão especial? – indagou Rowena para si mesma. – Ela é loura. Só pode ser isso. Os homens sempre preferem as louras!

Entretida neste breve devaneio, Rowena enfatizou que os homens sempre achavam as louras mais atraentes. Sem exceção. Até Salazar, que era extremamente seletor, considerava Helga uma tremenda gata. Rowena pensara várias vezes em mudar a cor dos cabelos, somente para ver se Godric daria mais atenção a ela. Mas a vontade passou e ela percebeu que era melhor ser ela mesma do que uma vadia loura histérica.

Sem exagero, Sckarlett Jove era mesmo histérica. Tinha uma voz meio esganiçada que ficava mais aguda ainda quando se dirigia a Godric. Embora Rowena notasse que a voz dela subia um tom quando conversava com Salazar. Embora Salazar fosse reservado, intimidador e de voz firme, tinha um charme considerável que até mesmo Rowena seria capaz de cair aos seus pés. Isto é, se ela não estivesse completamente apaixonada por Godric.

Às vezes era complicado ser apaixonada por um bruxo fantástico, famoso, lindo e inteligente. Porque às vezes ele era um pouquinho convencido (todo mundo é), e porque todas as mulheres o queriam. Rowena sabia que não era a única que tinha Godric estampado no coração, e era difícil não se apaixonar por ele. Os cabelos de um ruivo escuro, compridos e sedosos; os olhos que mesclavam todas as cores, que pareciam conter uma dose de sabedoria e mistério; a boca de um desenho perfeito, com traços leves e que sempre atraía a atenção de Rowena quando se abria num sorriso; o nariz reto, discreto, sem nenhuma prepotência; e o corpo. Rowena jamais admira a ninguém, nem mesmo para sua amiga Helga, mas sempre sonhava com Godric.

Rowena sonhava com aquele corpo musculoso, quente. Sonhava poder abraçá-lo, beijá-lo, amá-lo e contar-lhe o quanto o amava. Desejava-o. Queria que ele a tomasse em seus braços e a beijasse furiosamente, para depois deitá-la numa cama e possuí-la. Rowena pensava nisso o dia inteiro, quando não estava ocupada pensando nos alunos que admitiria em sua casa, no problema que era amar Godric e não ser correspondida, e no quanto queria estrangular Sckarlett.

Não pensava ser possível odiar alguém como odiava Sckarlett. A moça não tinha culpa por ser bonita e espirituosa. Mas Rowena sentia-se intimidada por Sckarlett, afinal, fora Sckarlett quem conquistara o coração de Godric.

Entrelaçando os dedos e desejando que não gaguejasse feito uma pateta, fazendo papel de ridículo na frente de Godric Gryffindor, Rowena bateu na porta do quarto dele, sentindo o coração bater dolorosamente contra as costelas. Havia o eterno frio no estômago e o medo. Rowena estava sempre com medo. Medo da morte; medo do futuro; medo da rejeição. Não queria ouvir da boca dele que ele não ficaria com ela.

Rowena tinha o discurso pronto. Sabia exatamente o que dizer, mas temia ficar sem voz ao estar sozinha com ele no quarto. Cada palavra, cada sentença, estava tudo em ordem na cabeça dela, exceto o receio de esquecer tudo e agir feito uma idiota.

Quando Godric levantou da mesa, Rowena estava à beira de um desfalecimento. Era emoção demais, tensão demais, preocupação demais. A mente dela estava um turbilhão e ela não fazia idéia de como seria ficar com sozinha com ele. Godric abriu a porta apenas alguns centímetros, o suficiente para identificar quem era.

– Rowena? – indagou ele, surpreso. Não estava habituado a receber visitas às nove e meia da manhã.

– Bom dia, Godric – sorriu Rowena, suspeitando que estava prestes a morrer.

– Bom dia – sorriu Godric de volta. O que ele mais queria era voltar para a sua mesa e continuar a escrever para Sckarlett. – Entre.

Abriu a porta um pouco mais para deixá-la passar, fechou a porta vagarosamente e voltou a sua mesa, sentando-se na cadeira medieval e molhando a pena no tinteiro. Quem sabe Rowena lhe desse alguma idéia do que escrever.

– O que é isto? – Rowena perguntou propositalmente, desejando saber sobre o que ele escrevia.

– Uma carta – respondeu Godric, sereno.

– Para Sckarlett? – sugeriu Rowena, sabendo a resposta.

– Talvez – murmurou ele, escrevendo as próximas linhas.

Rowena riu sarcasticamente, deliciada por ver a trama se desenrolar como ela havia planejado.

– Eu sei que escreve para ela – disse Rowena, com a voz enigmática e sensual de sempre.

– Sabe? – perguntou Godric, sem afastar o olhar do pergaminho.

– O que não sei é porque despreza quem está ao seu lado – Rowena deixou os lábios vermelhos entreabertos, de uma maneira extremamente provocante. Mas não para Godric. Ele parecia mais interessado na carta para Sckarlett do que ouvir o discurso premeditado de Rowena. – Sonha com o amor dela, tão distante e talvez irreal. Sonha tanto que não vê o amor de verdade que está tão perto de ti.

– O que quer dizer com isso? – perguntou ele, encarando Rowena pela primeira vez.

– Quero dizer que não faz sentido corresponder-se com ela – explicou Rowena. – Não faz sentido sonhar e esquecer de viver.

Fez uma pausa. Mas não que isso o que ela estava fazendo? Sonhando? Mas embora sonhasse inúmeras vezes com Godric, Rowena jamais esquecia do significado que a vida tinha para ela. A vida era o seu bem mais precioso e ela não a desperdiçaria. Era aurora, Ordem de Merlin Primeira Classe, linda, inteligente e famosa. Era como Godric, só que tinha os pés um pouco mais no chão.

Ela meio que sabia como Godric se sentia. Amava, mas não tinha o amor perto de si. E embora ela e Godric vivessem no mesmo castelo junto a Helga e Salazar, mas os dois não mantiam uma comunicação estável desde que Sckarlett aparecera no castelo.

– Está dizendo que me esqueço de viver? – indagou Godric, levantando da cadeira.

– É – acentuou Rowena, um ímpeto momento de sinceridade.

– Acho que não temos o que discutir, Rowena – disse ele, ríspido. – Não precisa se preocupar comigo. Estou muito bem assim.

– Nos vemos no Salão Principal, então – Rowena sorriu falsamente, sentindo o coração apertado e dolorido. Não fazia idéia de como Godric podia ser grosso e agressivo. Desejava não ter conhecido esse lado do homem que atormentava seus sonhos.

– H.R –

A atmosfera no Salão Principal estava extremamente pesada, e Rowena sentia-se incomodada, como se todos a estivessem observando. Havia o costumeiro silêncio, onde só ouvia-se o arranhar das penas nos pergaminhos.

Helga escrevia uma carta para sua amiga Jaz, que morava num castelo subterrâneo na Groenlândia. Jaz dirigia uma escola de magia chamada Academia de Magia Jinx, uma homenagem à mãe trouxa. Salazar lia o Profeta Diário, com o olhar sério, concentrado, e as sobrancelhas franzidas. Godric relia pela décima nona vez a carta que escrevera para Sckarlett. Vox tentava controlar a vontade de bicar o dono, pois já estava impaciente por esperar a noite inteira acordada e ainda ter de esperar Godric revisar cada palavra, cada sentença e cada verso poético da carta.

Enquanto seus colegas realizavam as costumeiras atividades matinais, Rowena tomava um suco de abóbora com dois torrões de açúcar e mel de laranjeira e meditava sobre as horas anteriores, quando havia criado coragem para enfrentar Godric, mas não havia dado certo. Ela se magoara e agora se recusava a encará-lo. Preferia arrancar os olhos a olhar para ele novamente.

Encarava o suco disposto na sua frente, onde boiavam os dois torrões de açúcar em forma de estrela. Não tinha mais nada a fazer a não ser retirar-se para o seu quarto e continuar a desenhar o rosto de Godric. Isso parecia um pouco obsessivo, mas Rowena não podia evitar ser completamente louca por ele. Ele era perfeito. Só tinha um pequeno defeito: gostar de Sckarlett Jove.

Retornando ao seu quarto, Godric releu novamente a carta que enviaria para Sckarlett e pensou que talvez devesse esperar um pouco mais antes de enviar a carta, afinal, Sckarlett havia enviado uma carta na manhã anterior. Ele não devia parecer tão empolgado assim. Pensou também que seria maldade mandar Vox para o clima gélido da Groenlândia que ficava a centenas quilômetros de distância.

Refletiu. Talvez devesse esperar um pouco mais, deixar Sckarlett indignada e ainda mais louca por ele. Bebericou um pouco do vinho branco que estava numa taça de ouro sobre sua mesa e apoiou a cabeça na mão. O que Rowena tinha lhe dito mais cedo? Ele não lembrava mais. Estava ofuscado demais pela imagem de Sckarlett que não saía de sua cabeça. Sckarlett era mesmo hipnótica.

Enquanto Godric sonhava acordado em seus aposentos, Rowena escrevia em seu diário o que havia acontecido. Talvez escrevesse algum poema ou praticasse algum feitiço depois, mas naquele instante ela queria se compreender. O que tinha dado errado? Tinha revisto aquele discurso tantas vezes! Mas achava mesmo que com apenas algumas palavras Godric desistiria de Sckarlett e ficaria com ela ao ver que ela o amava muito e estava mais perto dele que Sckarlett? Godric era muito sonhador; e Rowena também. Talvez nesse aspecto fossem perfeitos um para o outro. Talvez.

– H.R –

Seu comentário:

Claudiomir José Canan: Obrigada por comentar e eis o capítulo de estréia da minha fan fiction! Leia e comente sempre que puder. Beijões!!!

– Helena Ravenclaw –

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