Capitulo 1



CAPITULO UM

— Estou dizendo a você, o homem estava nu como um passarinho! — declarou Alberta Beasley em voz alta.
Atônita, Hermione Granger ergueu o olhar da pilha de livros que verificava no balcão de atendimento. A minúscula biblioteca pú­blica de Greely normalmente ficava deserta a essa hora numa manhã de verão. Certamente, nunca tiveram problemas com um homem nu antes!
Logo em seguida, a irmã três minutos mais nova de Alberta, Beatrice disse:
— Bobagem. Já lhe disse que é hora de ir ao oculista nova­mente.
Hermione relaxou, percebendo que as irmãs Beasley, já com setenta anos mas tão animadas quanto sempre, estavam apenas fazendo o que faziam de melhor — matraquear. Eram gêmeas mas não se pareciam em nada. Alberta tinha cabelos acinzentados curtos e armados que refletiam sua personalidade severa. Beatrice era mais suave, de cabelos brancos levemente cacheados e olhos azuis brilhantes cheios de compaixão e gentileza. Alberta jamais piscava. Seus olhos eram como raios laser, nunca deixando es­capar nada.
— O que acha, Hermione? — perguntou Alberta, em expectativa. — Ouviu falar do nosso homem misterioso? Aquele que estava nu como um passarinho no telhado?
— Está me dizendo que há um homem nu no telhado da bi­blioteca? — perguntou Hermione, confusa.
— Não que eu saiba — respondeu Alberta. — Estou falando do homem nu no chalé Poindexter. Lá no lago Momento.
— Eu já digo que ele não estava completamente nu, mas usava calça jeans — interpôs Beatrice, agitando um de seus sempre presentes lenços rendados.
— De qualquer maneira, ouviu alguma coisa sobre ele? — inquiriu Alberta a Hermione.
— Não, não ouvi.
Chamassem de egoísmo, mas Hermione sentia-se profundamente aliviada com o acontecimento que desviara a atenção de todos do desmanche de seu noivado com um dos cidadãos mais co­nhecidos da pacata cidadezinha. Durante a semana — desde que seu noivo, Wayne Turner, fugira faltando dez dias para o casa­mento — ela se tornara o centro das atenções de Greely, onde nessa época do ano o único divertimento era ver o milho crescer.
Hermione ouvira os comentários sussurrados e as discussões não tão discretas quanto a ela ter sido "passada para trás", quanto a Wayne ter "dado no pé", quanto ao bilhete que ele deixara. Wayne sequer cuidara de deixar o bilhete na porta de sua casa, lembrou, com amargura. Não, uma vez que a biblioteca ficava na estrada que levava a Chicago, foi lá que ele deixou sua explicação ao fugir com a cabeleireira Rosie.
A notícia se espalhou rapidamente, graças ao fato de o bilhete ter sido lido por duas pessoas antes de chegar às mãos de Hermione. Numa cidadezinha interiorana como Greely, onde as notícias corriam mais rápido que um ciclone, a história de um noivado des­manchado tão próximo à data do casamento era motivo de muita especulação. A situação era ainda mais constrangedora porque Wayne insistira em convidar quase a cidade inteira para a cerimônia.
Jamais, desde a separação do príncipe Charles e Diana, as clientes do salão de beleza tiveram uma fofoca tão boa para ru­minar. Os homens no barbeiro fingiam falar sobre o preço do milho e da soja, mas Hermione captara o suficiente para saber do que falavam de fato. Dadas as circunstâncias, ela estava feliz por ver os refletores sobre outra pessoa. O homem misterioso — quem quer que fosse — não sentiria a pressão.
— Quer dizer que somos as primeiras a lhe falar do homem misterioso? Ótimo! — Alberta praticamente gritou de prazer.— Isso significa que estamos à frente daquela intrometida senhora Cantrell.
Hermione sorriu ante esse exemplo irrefutável de armadilha.
— Telefonei para a imobiliária e me disseram que o chalé foi alugado por um mês — informou Alberta, confiante. — Não quiseram me dar o nome do locatário, mas comentaram que ele estava aqui em férias. Aí eu pergunto a você: quem quereria passar as férias em Greely? Ninguém alugou esse chalé em anos. A coisa toda me parece suspeita.
Hermione sabia por experiência que 'tudo' parecia suspeito para Alberta Beasley, que se achava a encarnação da srta. Marple de Agatha Christie. A anciã achava todos, especialmente a sra. Can­trell, uns intrometidos.
Por falar na sra. Cantrell, eis que ela entra correndo na biblio­teca, o rosto vermelho de excitação.
— Ouviram sobre o homem misterioso...
— Que alugou o chalé Poindexter — interrompeu Alberta. — Claro que sim. Já não é novidade. Nós o vimos. E você? Já deu uma olhada nele? — provocou Alberta.
— Bem, eu o vi no telhado do chalé há pouco — respondeu a sra. Cantrell.
— Estava vestido? — perguntou Alberta. — Ou estava nu?
— Não tenho certeza — declarou a sra. Cantrell, claramente frustrada.
— Sem poder de observação — resmungou Alberta. — Não está ajudando. Não pudemos ver muito bem com os binóculos...
— Na verdade, são óculos de ópera e não se prestam a essa atividade — ponderou Beatrice.
— Precisamos de um desses telescópios potentes — comentou Alberta. — De qualquer maneira, tudo o que vi foi que tinha cabelos escuros e parecia bonitão. Também parecia que estava bem nu. Talvez seja um desses nudistas de que falam por aí.
— Estava usando calça jeans, estou certa disso — insistiu Beatrice, dando tapinhas na testa com o lenço. — As vezes você não fala coisa com coisa, apesar de ser minha irmã.
— Estou dizendo, estava de calça trabalhando no telhado — reiterou Beatrice. — O topo do telhado estava atrapalhando a visão, mas vi que tinha um tórax másculo. Não peludo demais como um gorila. Bronzeado e musculoso.
— Como os homens desses romances que você lê — desdenhou Alberta.
— É isso mesmo. As capas dos meus livros são melhores do que as capas dos seus, cheios de sangue, armas e facas. Mas estamos nos desviando do assunto. Quero saber quem é esse ho­mem e por que vai passar um mês em Greely. Hermione, tem certeza de que não o conhece?
— O que a faz pensar que eu o conheço? — perguntou Hermione.
— Porque — respondeu Beatrice — você é a única pessoa na cidade com quem aconteceu alguma coisa diferente, além dos Olafson, cuja vaquinha teve gêmeos.
— Você sabe, a noite passada foi de lua cheia — considerou a sra. Cantrell. — As pessoas fazem coisas loucas nessa situação. Coisas loucas como o noivo de Hermione fugindo antes do casa­mento. — Inclinou-se para dar um tapinha na mão de Hermione, animando. — Quem imaginaria que um moço bonito desses, tão popular na comunidade, faria uma coisa tão tresloucada? Prati­camente deixou-a no altar. Não tivemos uma situação caótica assim em Greely desde... Bem, você sabe... — Lançou-lhe um olhar misericordioso. — ... desde aquele acidente infeliz com sua mãe.
Hermione pensou estar preparada para a dor. Pensou ter as defesas bem preparadas. Mas bastou um momento de descuido da sra. Cantrell para perceber que estava enganada.
— Não era lua cheia quando Wayne fugiu, assim, não pode usar essa desculpa — afirmou Alberta, ríspida. Então, para alivio de Hermione, decidiu: — Vamos voltar ao assunto do nudista misterioso.
— Você não mora longe do lago, Hermione — ponderou Beatrice. — São só duas quadras. Num gesto de boa vizinhança, podia ir lá e se apresentar. Talvez ele seja solteiro.
— Pode também ser um assassino de machadinha — sugeriu Alberta. — Por que está tentando empurrá-la para um assassino de machadinha nudista? Ela pode ter sido abandonada pelo noivo, mas ainda não está tão desesperada. Certo, Hermione?
Hermione massageou a testa entre as sobrancelhas, prevendo uma dor de cabeça.
— Não estou nem um pouquinho desesperada — declarou, enfática.
— Está vendo? Eu lhe disse — Alberta dirigiu-se à irmã. Hermione suspirou e tentou manter o resto de dignidade que restara.
— Se as senhoras me dão licença, preciso voltar aos livros que estava catalogando...
— Pobrezinha — comentou a sra. Cantrell com as outras. — Fazem idéia do quanto é humilhante voltar ao trabalho depois de ser abandonada pelo noivo, que fugiu com outra? Eu ficaria arrasada.
E Hermione estava arrasada. Nos primeiros dois dias, calara-se, como se a realidade fosse dolorosa demais para encarar. Então, bloqueara tudo. Mas não havia maneira de evitar os fatos. Havia compromissos a cancelar — a igreja, as flores, o bufe — tele­fonemas a fazer. E os fizera, morrendo um pouquinho a cada um, ao mesmo tempo que aparava as bordas de seu sofrimento a fim de guardá-lo onde ninguém pudesse ver.
— Você pode fazer isso — disse Hermione a si mesma, diante do chalé Poindexter, torta na mão.
Incapaz de se decidir entre uma torta de morango e uma de framboesa na confeitaria da cidade, comprara as duas após o trabalho. Em meia hora, acabara com a de morango, decidindo então livrar-se da de framboesa.
Desde que Wayne a deixara, já engordara três quilos. Se en­gordasse mais, a saia rosa e branca já não lhe serviria mais, e era uma de suas favoritas. Usando a mão livre, ajeitou nervosa­mente a gola da blusa e olhou para a escada que levava ao telhado. Ao se aproximar do chalé, tentara ver se alguém trabalhando no telhado, sem sucesso.
Ciente da fase de má sorte que atravessava, e querendo atenuar-lhe os efeitos, Hermione evitou passar debaixo da escada — embora esta bloqueasse a entrada da varanda. Desviou pela lateral esquerda, sentindo a madeira roçar em suas costas, ao que a torta quase lhe caiu sobre a blusa. Foi por um triz.
Ao bater na porta, já estava convencida de que aquela fora uma má idéia; eis por que respirou de alívio quando ninguém atendeu. Sem perder tempo, fez o caminho de volta pelo lado da escada para ir embora, quando, com o canto do olho, percebeu um movimento.
Ele estava de pé, perto da esquina da casa, segurando uma mangueira de jardim, refrescando-se com o jato d'água. Beatrice estava certa. O homem misterioso trajava calça jeans, que lhe caía muito bem. E tinha um tórax muito másculo. Uma mulher, qualquer mulher, não importava a idade, não deixaria de notar esses dois fatos.
Uma vez que a água lhe escorria pela cabeça, não poderia precisar a cor de seus cabelos, exceto que ficavam escuros quando úmidos. Com o olhar, acompanhou o caminho da água por seu rosto e peito, contornando os músculos bronzeados até o cós da calça, continuando rumo aos quadris. Ele parecia gozar de muito prazer sob a água que lhe resfriava o corpo. Uau, ela já sentia a própria temperatura subir só de olhá-lo! Não era do tipo que comia os homens com os olhos, mas nesse momento não podia evitar. Havia algo nele.
A calça jeans desbotada se lhe ajustava ao corpo como uma amante. Aí, um fio de água passou pelo umbigo e mergulhou lá para baixo... Nesse exato momento, ele afastou a mangueira e olhou direto para ela.
— O que está fazendo aqui? — branqueou ele.
— Na-nada — respondeu Hermione, aflita, agarrando-se à torta como se fosse à própria vida.
Os olhos dele eram verdes — um verdes vivo — e brilhavam de raiva. Naquele instante, podia até ser um assassino de machadinha.
— Me deixe adivinhar — murmurou ele, com desdém. — Mandaram você me espionar, certo?
— O quê?
— Aquele par de velhinhas que me vigia o dia inteiro.
— Elas não são velhinhas — protestou Hermione, tomando as dores das irmãs Beasley. — E não me mandaram aqui.
— Então, o que está fazendo aqui?
— Como vizinha, eu estava tentando ser sociável. Mas é claro que o gesto está além da sua compreensão — retrucou ela, zan­gada.
— Não sabia que boa vizinhança significava ficar espionando o vizinho. Estava aguardando o resto da exibição?
— Ouça aqui, cara, você não é tão bonitão, ouviu bem. Já vi muitos melhores.
— Aposto como viu — murmurou ele.
Hermione ficou desconcertada ante aquele olhar predador. Não queria que a conversa adquirisse tal sentido.
— Foi um erro vir aqui — concluiu. — Não sei qual é o seu problema...
— Vou contar qual é o meu problema — disparou ele. — Vim aqui para ter um pouco de paz e tranqüilidade, não para ser o centro das atenções de um bando de solteironas ávidas por sexo.
Era a gota d'água! Sem pensar, Hermione arremessou a torta bem no peito dele.
A expressão atônita dele lavou-lhe a alma.
— Bem vindo a Greely! — grunhiu, antes de dar a volta e ir embora.




Obs:Oiiii pessoal!!!!Capitulo postado!!!!Espero que tenham curtido!!!!!Próxima atualização na quinta, pois tenho que estudar para duas provas (terça e quarta) da faculdade!!!Bjux!!!!Adoro vocês!!!!

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