Capitulo 10



CAPÍTULO DEZ





Harry acordou sentindo um corpo morno junto às costas. Levou um momento ou dois para per­ceber que o corpo era pequeno... e estava ronronando. Ainda sonolento, olhou por sobre o ombro e viu a gata tricolor de Hermione. Mas não havia sinal dela. Então, viu o bilhete no travesseiro.




Harry, fui trabalhar. Não quis acordar você. Dur­ma o quanto quiser.


Até mais tarde.


Mione.


P.S.: Não deixe que ninguém o veja saindo, certo?”




Harry amassou o bilhete. Espantada, Magic deu um salto e saiu da cama, arranhando o ombro de Harry, pois o utilizou como plataforma de lançamento. Resmungando, Harry foi para o ba­nheiro.


Olhando-se no espelho, limpou o sangue do ombro, observando que agora tinha duas cicatrizes — uma no polegar, de Hermione, e outra no ombro, da gata dela. Mas era com o coração que estava preocupado. Porque Hermione podia machucá-lo ali. Nesse caso, a cicatriz não seria pequena, seria fatal. Fatal à sua capacidade de ter esperança, sua capacidade de acreditar que seria feliz no amor, que era digno de ser amado.


Jogou um pouco de água fria no rosto para se sentir melhor. Não ia deixar que as dúvidas o assolassem. E não ia deixar Hermione escapar. Ela era a melhor coisa que já lhe acontecera, e iria lutar até o fim por ela — mesmo que isso significasse lutar contra seus medos interiores. E venceria... ganharia Hermione e seu amor.





— Ouviu as novidades — perguntou a sra. Cantrell a Hermione, sem fôlego de tanta excitação.


Hermione esperava que as novidades não tivessem a ver com Harry saindo de sua casa naquela manhã. Sentira-se uma desastrada escrevendo aquele bilhete para Harry, mas o que acontecia entre eles era tão especial que não tinha vontade de dividir isso com toda a população de Greely.


Podia não ser lógico, podia não fazer sentido, mas Hermione queria manter o que tinham só para si, por ora. Lembrou-se da boneca que sua mãe lhe dera pouco antes de partir, guardada numa bolsa especial, debaixo da cama :— costumava tirá-la so­mente à noite, quando a abraçava e lhe contando promessas e segredos.


Não conseguira manter a boneca escondida por muito tempo depois que o pai se casou novamente. Sua madrasta a encontrou e deu-a para sua própria filha, dizendo-lhe que, tendo já nove anos, estava velha demais para brincar com bonecas. Lutara para ficar com a boneca, mas apanhara e fora chamada de egoísta, enquanto sua meia-irmã se vangloriava por possuir seu bem mais precioso. Mas a situação não perdurou muito, pois sua outra meia-irmã logo quebrou a boneca, que foi jogada no lixo antes que soubesse...


— Hermione, ouviu o que eu disse?


Hermione balançou a cabeça, respondendo à pergunta da sra. Cantrell, ao mesmo tempo quê espantava as lembranças.


— Perguntei se soube das novidades — repetiu a sra. Cantrell.


— Que novidades?


— Wayne e Rosie brigaram feio, estou vindo do salão de beleza, e Rosie mesma me contou. Ela fez um excelente trabalho no meu cabelo, não acha? — A sra. Cantrell apalpou o penteado. — Disse a ela para não fazer nada radical.


— Ficou bonito — assegurou Hermione, distraidamente, os pensamentos na novidade que ouvira. Então, Wayne e Rosie tinham brigado? Semanas antes, tal notícia teria sido música em seus ouvidos. Agora, não fazia a menor diferença. Sentia-se curiosa­mente distante de Wayne. De uma certa forma, essa reação a enervava. Afinal, um dia estivera certa de amá-lo. Então, onde estava seu discernimento ante questões de amor? Amaria Harry só para se tornar indiferente em poucos dias?


A primeira coisa que lhe veio à mente era de que Harry e Wayne não tinham nada em comum. Wayne era como um raio de luz, fácil de se gostar, mas sem profundidade. Harry era a es­curidão da noite, difícil de decifrar e cheio de mistério — ainda assim, familiar e amistoso para aqueles que sabiam se mover na escuridão, para aqueles que se sentiam seguros nas sombras da noite.


Não, Hermione não estava preocupada com o fato de Harry ser como Wayne. Estava preocupada consigo mesma, com a possi­bilidade de haver algo errada com ela. Luna dizia que ela merecia ser feliz, mas às vezes não achava que isso fosse verdade.




Harry recebeu Hermione no chalé para o jantar. Preparara chur­rasco de hambúrguer e colocara uma mesa com duas cadeiras de diretor na varanda. Sugerira fazerem a refeição do lado de fora a fim de sentir a brisa suave vindo do lago. Ela vestia um vestido púrpura, sem mangas, com botões ao longo das costas, bem de acordo com uma tarde quente de julho.


A um observador casual, pareceria que Hermione e Harry estavam apenas jantando juntos, nada mais. Mas Hermione estava ciente da energia que os envolvia. Só se perguntava quanto à causa.


— Alberta criou mais algum problema? — perguntou Hermione, após a refeição, durante a qual não haviam trocado mais que algumas palavras.


— Não vi o reflexo do binóculo, se é isso que a preocupa.


— Não estou preocupada.


— Não está?


Era imaginação sua ou ele estava sendo sarcástico?


— Está aborrecido com alguma coisa? — indagou Hermione. Ao invés de responder, Harry foi até a orla do lago. Tinha o olhar fixo. Hermione não conseguiu captar nada além daquilo. Es­taria arrependido quanto à mudança em seu relacionamento? Quanto à intimidade? Sentia-se pressionado? Ela temia fazer essas perguntas, e por isso apenas sussurrou:


— Harry?


Ele voltou o olhar e a atenção para ela.


— Vamos caminhar um pouco — sugeriu.


Hermione estremeceu quando ele pegou sua mão, Oh, Deus, ele não ia terminar tudo, ia? Não Harry...


Sentindo o nervosismo dela, Harry usou a mão livre para aca­riciar seus cabelos e prendê-los atrás da orelha. Então, fitou-a no rosto, sorrindo, o que lhe aqueceu o coração e injetou confiança na alma. A necessidade e o desejo em sua expressão pareciam tão fortes quanto antes.


Virando o rosto, Hermione beijou a ponta de seus dedos. O que quer que estivesse errado, enfrentariam juntos. Mas não o pres­sionaria. Era evidente que ele não queria falar sobre isso naquele momento.


De mãos dadas, contornaram o lago Momento pela trilha pouco marcada, que apenas alguns conheciam. A certa altura, tiveram que parar e remover algumas pedras do caminho, num daqueles momentos silenciosos a dois que ela tanto apreciava. Como aquela vez em que ficaram descalços na varanda, ou em que conversaram em sua sala de visitas. Nunca sentira tal contentamento com mais ninguém.


A explicação talvez estivesse no fato de ela não ter prevenções contra Harry, de modo a nunca se preocupar com a reação dele ante uma declaração ou atitude errada de sua parte. Aceitação era uma coisa poderosa, e rara. A capacidade de não julgar era tão importante quanto a de partilhar segredos. Apertou a mão dele com mais força.


Quando já quase haviam completado a volta no lago, o sol já estava para se pôr. De comum acordo, pararam para apreciar o espetáculo. Hermione sempre achara que uma das vantagens de se viver num lugar tão plano era a ampla porção de céu à disposição. O pôr-do-sol fez a cúpula celeste brilharem tons de amarelo, laranja forte e vermelho radiante. Nuvens altas refletiam os tons pastéis, mais coloridas quando refletiam o horizonte. Hermione se sentiu pe­quena diante do show de luzes e cores, e lavou a alma. Permaneceram ali até que as últimas luzes se extinguiram por completo.


Tendo observado o horizonte por tanto tempo, não perceberam o cair da noite, que dificultava a caminhada pela trilha rústica. Num certo ponto, Hermione tropeçou.


— A lua logo vai subir — lembrou Harry, envolvendo-a pelos ombros, guiando-a pela trilha irregular.


Enquanto caminhavam na escuridão, Hermione sentia a preocu­pação crescer entre eles a cada suspiro. Harry a envolvia pela cintura agora, as mãos sobre seus quadris. A cada passo, novas sensações surgiam. Sabia que ele também sentia o clima, e não foi surpresa quando ele parou para beijá-la.


A paixão logo tomou volume. A exemplo do pôr-do-sol, era como precisassem de um tempo para construir essa sensação que agora tomava conta deles com toda intensidade. Ele a segurava junto de si como se quisesse imprimi-la em seu corpo. Seu beijo era todo paixão intensa e desejo urgente, acendendo o desejo nela também.


— Quero você agora — murmurou ele contra sua boca. Ela foi tomada por uma excitação sem igual.


— O chalé...


— Fica longe demais — grunhiu ele, beijando-a de novo, pro­funda e ardentemente. — Conheço outro lugar — murmurou, enquanto lhe mordiscava gentilmente o pescoço, lambendo-o a seguir.


Hermione assentiu e, segundos depois, já estavam sob a copa de um salgueiro. Debaixo dos galhos frondosos, ele a encostou contra o tronco e lhe segurou o rosto com a mão.


— Pensei em fazer isso desde o dia da quadrilha — confessou ele, a voz rouca, antes de se inclinar para beijá-la novamente.


Hermione não se mantinha passiva. Devolvia a paixão com igual ardor, ao mesmo tempo que lhe desabotoava a camisa. O que ele fazia com a boca era imitado por ela de maneira ainda mais elaborada — mordida por mordida, empurrão de língua por em­purrão de língua.


— Eu observei você naquela noite — sussurrou ela, enquanto ele lhe desabotoava o vestido. — Vi você caminhando em minha direção e quis você naquele instante.


— E eu quis fazer isto — respondeu Harry, sustentando-lhe os seios com carícias ternas. Desta vez, desfez-se do sutiã com a certeza de ser aceito.


Harry continuou a sustentar os seios, a mão mais quente que o sol do meio-dia, queimando a pele com o toque erótico — uma centelha que atiçava chamas dentro de Hermione. Beijaram-se novamente. Ela enfiava a língua a cada empurrão que sentia mais abaixo. Movendo-se com rapidez, ele tratou de livrá-la da com­binação. Ela deixou cair a peça, chutando as sandálias ao mesmo tempo; então, concentrou-se em despi-lo da calça jeans — e depois da cueca. Ele fez uso da proteção que trouxera no bolso da calça.


Harry abriu o vestido já completamente desabotoado como se fosse um presente, envolvendo-a pela cintura despida. Puxando-a para mais perto, murmurou sério:


— Coloca suas pernas ao meu redor.


Ela obedeceu, agarrando-se aos ombros dele, e passaram a cavalgar juntos, ele com sua potência intensa. O prazer foi tão grande que ela enterrou as unhas nos músculos dele, percebendo vagamente que ele ainda vestia a camiseta rasgada. O fato de estarem parcialmente vestidos trouxe uma nova sensação de prazer proibido. Gemendo o nome dele, ela instintivamente agarrou-se a seu pescoço. Então, foi a vez dele de gemer e enterrar o rosto em seus cabelos sedosos.


Harry ergueu Hermione para apoiá-la junto ao tronco, livrando as mãos livres para explorar-lhe o corpo, deslizando pela lateral dos seios apertados contra seu peito. Os mamilos rígidos o excitavam. Cada movimento seu criava um atrito incrivelmente prazeroso.


Ela sentia o tronco áspero junto às costas através do vestido de linha de algodão. Sentia o ar morno da noite na pele nua. Mas, acima de tudo, sentia Harry, junto de seu corpo, avolumando-se para dentro de seu ser, tocando em seus pontos mais íntimos.


Harry estremeceu novamente e gemeu mais alto, deslizando a mão até o bumbum dela, erguendo-a e trazendo-a para mais junto de si. Mais um movimento... e sua alma abandonou seu corpo, indo para as nuvens, o turbilhão de prazer tomando conta de tudo. Em meio ao prazer intenso, ela gritou o nome dele.


Mais tarde, quando se acalmou, Hermione se espantou com o que fizera. Fora selvagem, sequer esperara que Harry tirasse com­pletamente a calça. E para gritar daquele jeito... Passou a mão pelo rosto quente.


— Espero que ninguém tenha me ouvido — murmurou ela, enquanto tentava colocar o vestido em ordem.


Harry parou de abotoar a calça. As palavras dela o atingiram da forma errada, levantando as velhas dúvidas. Após o momento incrível que tiveram, ela só se preocupava com a possibilidade de alguém ter ouvido? Nenhuma declaração de amor, nenhum carinho adicional. Não, ela só demonstrava vergonha e embaraço. Não podia mais ficar em silêncio.


— Que importa que tenham nos ouvido ou não? — questionou, bruscamente.


— Porque não quero que a cidade toda fique sabendo que fizemos amor debaixo de um salgueiro.


— Por que não? — disparou ele, zangado. — Tem vergonha de mim?


— Claro que não.


— Não quer que aquele panaca fique sabendo de nosso en­volvimento, agora que ele está novamente disponível, não é?


Ela olhou para ele, surpresa.


— Do que está falando?


— Wayne. Sei que ele rompeu com Rosie. É esse o problema, não é?


— Eles brigaram. Não sabia que tinham rompido.


— Certo. — Harry enfiou a camiseta na calça. — E não quer estragar suas chances com ele. Afinal de contas, assim que ele estivesse disponível novamente, você daria o fora em mim e vol­taria correndo para ele. Bem, deixe que eu lhe diga uma coisa, estou cansado de ser o reserva de um cara que largou você dias antes do casamento! Se achava que podia me usar para tê-lo de volta, está enganada.


— Nunca pensei em usá-lo para esquecer Wayne — argumen­tou Hermione, percebendo imediatamente pela raiva em seu olhar que não fora a coisa mais certa a dizer.


— Oh, certo, me desculpe por ser tão idiota — desdenhou ele. — esqueci que nada faria você esquecer seu verdadeiro amor.


— Não foi o que quis dizer — protestou ela. Harry mantinha ,a expressão petrificada, fria e dura.


— Acho que já falamos bastante para uma noite. É melhor voltarmos.


Hermione queria voltar ao assunto e esclarecer as coisas defini­tivamente. Mas não tinha certeza de como faria isso. Uma lua cheia surgia a leste no horizonte, trazendo luz suficiente para que voltassem rapidamente ao chalé. O trajeto foi feito em silêncio, pois Hermione tentava encontrar as palavras certas para dizer a Harry. Ele acreditaria se ela dissesse que o amava? Afinal de contas, ela afirmara amar Wayne havia poucas semanas, conforme Harry mesmo dissera. E Harry queria seu amor? Afinal de contas, ele não dissera que a amava.


Quando chegaram ao chalé, ele disse, sucinto:


— Vou levar você para casa.


— Não — protestou ela, instintivamente, não querendo ir em­bora com a situação tão mal resolvida entre eles.


— Certo. Você não quer que ninguém a veja comigo. Deixou isso bem claro. Como quiser... — Sem outra palavra, ele se voltou e saiu, desaparecendo na mata que rodeava o lago.


Hermione quase não dormiu naquela noite. Querendo esclarecer as coisas com Harry, passou no chalé antes de ir ao trabalho pela manhã. Teria ido no meio da noite, já que não conseguia dormir, mas decidiu que era melhor esperar que ele se acalmasse. Então, esperou o amanhecer.


O carro dele estava estacionado na rua, o que significava que ele estava em casa. Somente ao saltar de seu carro popular, viu uma mala na calçada. Um segundo depois, Harry surgiu trazendo uma bolsa de mão.


— O que está fazendo? — perguntou ela, apreensiva.


— O que parece que estou fazendo? Estou partindo. Tenho que voltar a Chicago — esclareceu ele, sucinto. — Me ligaram da firma ontem à noite. Apareceu serviço e eles precisam de mim.


Eu preciso de você também, Hermione quis dizer, mas as palavras ficaram entaladas em sua garganta, represadas pelo medo. E se Harry a estivesse abandonando, como Wayne? E se ele estivesse cansado daquele caso com ela e quisesse retornar às luzes da cidade grande? Como uma mulher como ela podia pretender man­ter a atenção de um homem como ele?


— Pensei que tivesse dito que não queria mais trabalhar em Chicago...


— Aprendi que o que eu quero e o que eu tenho são coisas diferentes — replicou ele, cansado.


— Vai voltar?


— Depende de você — declarou ele, a expressão indefinida.


— Enquanto estiver fora, sugiro que pense no que realmente quer. Estou cansado de ficar esperando.


— Harry...


Ela foi interrompida por um beijo breve, duro e zangado. Um beijo com sabor de adeus. Antes que ela pudesse pensar, ele já partira, deixando-a de pé na calçada, sozinha como sempre.




— Acabo de ver Harry sair da cidade como se estivesse fugindo do diabo — comentou Luna na biblioteca, poucos minutos depois.


Por entre lágrimas, Hermione disse:


— Acho que fui abandonada de novo.


— O que aconteceu?


— Harry foi embora. Foi para Chicago, e não tenho certeza se voltará.


— Perguntou a ele se voltaria?


Hermione assentiu.


— E o que ele disse?


—Que depende de mim.


— Não me parece que ele tenha abandonado você, Hermione. O que aconteceu? Você brigaram?


Novamente, Hermione assentiu.


— Por quê? — perguntou Luna.


— Não estou bem certa. Aconteceu tão de repente. Ele disse que estava cansado de esperar eu me decidir entre ele e Wayne. Não é o que eu estava fazendo — assegurou Hermione à amiga. — Não usei Harry para esquecer Wayne.


— Foi disso que ele a acusou?


— Disso e mais. Disse que eu estava com vergonha dele, a julgar por meu pavor de revelar a todo mundo que estávamos dormindo juntos. Mas eu só queria guardar essa coisa especial para mim por algum tempo. O que há de errado nisso?


— Nada, desde que Harry soubesse que você estava tentando ser discreta. Disse isso a ele?


Hermione balançou a cabeça.


— Ele partiu antes.


— Por que não telefona?


— Não tenho o número. Oh, Deus, e se nunca mais souber dele?


— Hermione, você é bibliotecária. Informação é o seu negócio. Acho que pode achar a pista dele em Chicago, se ele não voltar por vontade própria. Mas acho que ele voltará. Vi o jeito com que olhava para você quando estavam dançando. Como se a lua é as estrelas girassem a seu redor. E antes que diga que Wayne também já olhou para você desse jeito, me deixe lembrá-la que Wayne e Harry não são nada parecidos.


— Sei disso — murmurou Melissa.


— Então, sabe que ele vai voltar.


Hermione agarrou-se àquela idéia nas primeiras doze horas. Harry não telefonara. Disse a si mesma que não esperava que ele o fizesse. Disse a si mesma que não estava desapontada. Mentia.


Era quase impossível não entrar em pânico; o desespero amea­çava seu controle emocional. Logicamente, sabia que estava muito sensível porque se sentia abandonada, mais uma vez. As outras lembranças retornaram para assombrá-la; primeiro sua mãe, aos oito anos; depois, seu pai, quando se casou e foi para a Califórnia; então, Wayne; que desfizera o noivado; e agora, Harry. Sua reação foi chorar e procurar sorvete na geladeira. Passou parte do en­tardecer nisso.


Mas quando se sentou no sofá com Magic ronronando em seu colo, percebeu que Harry não a deixara como os outros. Seu último comentário se referira a ela. A volta dele dependia dela. O que queria dizer com isso? Que alguma coisa que ela tinha dito ou feito é que o fizera ir embora?


A idéia trouxe uma nova torrente de lágrimas! Porque lá no fundo, onde jamais mergulhara, culpava a si mesma por ter sido abandonada por todos. Palavras do passado voltaram para assom­brá-la, palavras que ouvira quando criança nas conversas entre a madrasta e seu pai: "Aquela menina é impossível! Leva qualquer um à loucura! Posso entender por que sua mulher foi embora!."


Harry estava absolutamente correto quanto a seu temperamento quando criança, o qual aflorara exatamente no verão em que sua mãe fora embora. Mas, depois de ouvir os comentários da madrasta, mudara, esforçara-se ao máximo para se ajustar, para ser uma boa menina, assim não causaria mais problemas. Porque, se fosse uma boa menina, em primeiro lugar, a mãe não a teria deixado.


Magic ronronou, consternada com as lágrimas que corriam sem parar no rosto de Hermione. Ela controlara a raiva, fora uma "boa menina", e Wayne a deixara de qualquer maneira. Isso pro­vava o quê? Que o amor não dependia disso? Que ela não era digna de ser amada?


Que droga, merecia, sim! Hermione enxugou as lágrimas do rosto e ergueu o queixo. Ela merecia. Harry lhe ensinara isso. E mais.


Magic pulou na almofada ao lado de Hermione, para ficar sentadinha. A atitude da gata fez Hermione se lembrar do Dia da In­dependência e do provérbio chinês sobre felicidade. Sem Harry, não teria felicidade alguma. Isso era certo.




Era começo de tarde de sábado quando Harry estacionou na frente da casa de Hermione. Tocou a campainha. Bateu na porta. Nenhuma resposta. Estava a ponto de entrar pela janela da sala quando as irmãs Beasley o viram nos degraus da entrada.


As duas irmãs pararam na calçada para falar com ele.


— Hermione não está em casa — informou Alberta.


— Ela está na Igreja Santo André — completou Beatrice, agi­tando o lenço.


— Com Wayne — acrescentou Alberta com prazer.


— Por que ela estaria na igreja com Wayne? — perguntou Harry.


— Por que você acha? — disparou Alberta. — Um casamento está acontecendo. Um que a cidade estava esperando.


Harry ficou pálido. Então, entrou em pânico. Hermione. Wayne. Se casando? Não! Isso não podia acontecer! Não permitiria! Para o inferno com seu orgulho, para o inferno com suas inseguranças, que causaram o desentendimento. Praguejando contra si mesmo por tê-la encostado na parede antes de partir para Chicago, dis­parou em direção à igreja a três quarteirões dali.


— Por que disse isso a ele? — perguntou Beatrice.


— Ele precisava ouvir a verdade — respondeu Alberta. — Precisava cair na realidade. Acho que vai fazer a coisa certa agora.


— Ora, mana, acho que lá no fundo você é mesmo uma ro­mântica — sugeriu Beatrice astuta.


— Morda a língua — disparou Alberta, mas seu olhar era esperançoso ao ver Harry desaparecer na esquina.


Enquanto corria, Harry desejava que Alberta estivesse mentindo sobre Hermione e Wayne. Mas, quando chegou à igreja, havia uma limusine branca estacionada, um limusine decorada para casamento. Sentiu o coração parar. Um casamento estava acontecendo!


Rezando para não ser tarde demais, Harry subiu os degraus de concreto que levavam à entrada da igreja e atravessou o vestíbulo, abrindo a porta de madeira que levava à cúpula, bem a tempo de ouvir o pastor dizer:


— Se alguém aqui sabe de alguma coisa que impeça esse matrimônio, que fale agora ou se cale para sempre.


Impondo-se, Harry gritou:


— Parem o casamento!





Obs: Oi pessoal!!!!Eu peço mil e uma desculpas pela demora mais que demorada para atualizar minhas fics....vou tentar voltar a postar com mais frequencia....bjux a todos!!!!!

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Comentários (1)

  • Isis Brito

    Parem o casamento!! Parem já a droga desse casamento!! O Harry vai se declarar pra Mione, bolas!! *-* \o/

    2011-08-28
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