O Baile



 


Finalmente começara. Depois de meses ouvindo falar daquela festa sem parar, a noite finalmente chegou. Ela estava parada, próxima à entrada, observando os convidados, tanto alunos quanto professores e alguns externos, que aos poucos iam enchendo o salão. Tinha certeza que a maioria não a reconhecia – na verdade nem ela se reconhecera a se ver no espelho – mas sabia quem eram alguns deles. Uns, por serem difíceis de confundir, como Hagrid, Madame Maxime e o professor Flitwick. Outros, de maneira mais simples, por terem lhe contado quais seriam suas fantasias. E um, em especial, por ter feito questão de saber como ele estaria vestido, para manter-se o mais longe possível. Ronald... Quando poderia imaginar que algo como AQUILO poderia acontecer? Algo tão grave que, sem nenhuma dúvida, acabou para sempre com sua amizade... Algo que ela nem sequer poderia imaginar, ainda mais vindo dele.


Ela se sentia arrepiada só de lembrar...


 


FLASHBACK



- Por Merlin, faltam duas semanas para o baile e essas garotas não param de falar nisso!!! – assim, esbravejando, Hermione entrara no seu quarto de monitora-chefe para tomar banho, depois da primeira partida de quadribol da temporada. Já passava das onze da noite quando saíra do salão comunal da Grifinória, já que não agüentava mais ouvir falar do baile nem ver alguns dos alunos maiores de idade (Rony entre eles) bebendo whisky-de-fogo e jogando charme para algumas das patricinhas mais novas, que não tinham noção de perigo.


Ciúme? Não, respondeu uma voz na sua mente. Não ciúme, mas sim pena. Desde a discussão no banquete de abertura, a relação dela com Rony não era mais a mesma, vinha se deteriorando lenta e inexoravelmente. Por um ledo, ela nunca perdoara realmente o rapaz pelo que ele dissera sobre Severus; por outro, Rony ainda agia como se tivesse chance de reconquistá-la. Tentara, a todo custo, evitar suas reuniões com a professora Patricia, afirmando que sentia falta da companhia da amiga, quando na verdade tentava afasta-la das lembranças “dele”.


Desistindo de pensar nisso, a castanha vestiu um roupão felpudo e, deixando sua varinha sobre a cama, dirigiu-se para o banheiro, dando graças a Morgana pelas regalias de seu cargo. Deixou a porta do quarto entreaberta, afinal Bichento tinha saído, sem saber o quanto essa idéia quase lhe custaria.


Depois do banho, ao estender a mão para o roupão, teve a impressão de ouvir um barulho de passos no quarto. Enrolou-se e, lentamente, saiu do banheiro. No entanto, tão logo passou pela porta, sentiu uma mão agarra-la pelo cabelo enquanto outra segurava seu braço esquerdo para trás. Antes que conseguisse articular algo além de um gemido de dor, foi virada e jogada contra a parede, ficando frente a frente com o invasor: Rony.


Totalmente bêbado, a julgar pelos seus olhos, ele a encarava com volúpia e Hermione logo entendeu, perplexa, que ele a espionava durante o banho, especialmente devido à ereção evidente que pressionava sua coxa agora, que ele tinha se apertado contra ela para beijá-la. Desesperada, tudo que conseguiu foi pedir que ele a soltasse:


- Ron, acorda, me solta! Tira as mãos de mim!


- Não, você é minha, nenhum idiota nem nenhuma professorinha bastarda vão te tirar de mim! – balbuciava ele colérico, enquanto uma mão a segurava e a outra tentava desfazer o nó do roupão.


Num ato desesperado, Hermione tentou dar-lhe uma joelhada nas partes mas errou, acertando a coxa. Furioso com o ataque, Rony agarrou-a novamente pelos cabelos e, depois de esbofeteá-la, atirou-a na cama e subiu, ficando de joelhos com ela presa sob si e enfiando a mão esquerda entre suas coxas, enquanto a direita terminava o serviço com o robe. Totalmente ensandecido, ele voltou sua atenção para os seios agora expostos, enquanto a jovem lutava para libertar-se.


Ao dar um violento impulso para trás, Hermione sentiu a varinha presa em sua mão e gritou o primeiro feitiço que lhe veio à mente:


- Levicorpus! – e logo o ruivo estava pendurado no ar e, antes que tivesse chance de reagir, ela ajuntou – Petrificus Totalus!


Depois disso, tudo se precipitou. Enviara seu patrono para Patricia, pedindo sua ajuda, enquanto mantinha o ruivo preso pelo feitiço. Quando a professora e amiga chegou, ela não precisou explicar nada. Seu estado lastimável, o rosto vermelho da bofetada e o rapaz petrificado disseram tudo. Lívida, a professora levou-a para sua sala, onde lhe deu uma poção calmante e uma roupa para vestir. Depois, foi com ela para a sala da diretora, que ficou chocada e furiosa com o relato da “sua menina”.


-Não sei o que deu nele, professora, mas não tive escolha, se não o tivesse enfeitiçado ele teria... – ela não conseguiu terminar.


- Tudo bem, minha querida. Pelo visto o sr. Weasley perdeu toda a noção de perigo! – as narinas de Minerva estavam mais finas, como sempre acontecia quando ela ficava furiosa. – Atacar uma aluna, dentro da escola, bêbado! E ainda por cima você, Hermione? Molly que me desculpe, mas ele será expulso!


- Se me permite Minerva, eu discordo de você. – disse Patricia calmamente, quando a senhora terminou de falar.


- Discorda? Vai dizer que justamente você vai defendê-lo, Professora Snape? – agora McGonagall parecia REALMENTE furiosa.


- Defende-lo? Quem disse que vou defender esse moleque? Eu só gostaria de indicar um castigo mais... Profundo. – um sorriso mal aflorou nos lábios da professora mais jovem, fazendo tanto Hermione quanto Minerva se arrepiarem com o quanto aquela moça conseguia ser parecida com o pai.


- E o que entende por castigo mais... Profundo?


- Simples a própria Hermione pode nos dizer. – e voltando-se para a jovem, que observava a conversa em uma das poltronas, perguntou-lhe diretamente – O que seria a maior punição para o sr. Weasley em sua opinião, Hermione?


Por um segundo ela hesitou, mas ao sentir o rosto queimar onde levara a bofetada, respondeu:


- Ninguém da escola, exceto Harry, Neville, Luna e Gina, deve ficar sabendo o que ele fez, mas ele deve levar uma boa detenção e perder o cargo de monitor. Isso, e chamar a senhora Weasley aqui, já será mais do que suficiente.


E assim foi feito. Ronald ainda ficou mais dois dias petrificado – Madame Ponfrey ficou tão furiosa que resolveu castiga-lo – e acordou para descobrir que, como punição, iria ter que atuar como assistente nas aulas de Poções até o final do ano letivo, perdera seu distintivo de monitor, Harry, Luna, Neville e Gina não falavam mais com ele, fora retirado do time de quadribol (uma decisão de Harry), perdera 200 pontos da Grifinória (sem a divulgação, mas logo todos imaginaram que tinha sido ele e especulavam o que teria feito) e, para fechar com chave de ouro, dera de cara com sua mãe, furiosa, assim que chegou à sala da diretora para receber todos os castigos. Tão logo a diretora terminou de falar, ele tinha sido carregado para A Toca, onde se deparou com toda a família (com exceção, claro, de Fred e Gina, ele por estar morto e ela, na escola) e teve que se explicar.


Quando terminou, depois de muita embolação, recebeu a sentença, pois aquele era o “tribunal da família”: estava proibido de deixar Hogwarts, sob qualquer pretexto, sem autorização da professora Snape, que seria sua supervisora comportamental; deveria ficar longe de Hermione; se chegasse alguma carta dizendo que ele não cumprira a sentença, seus pais iriam enviá-lo para uma academia militar trouxa, onde teria de servir até ser dispensado.


Hermione ficou sabendo disso pela própria Molly, que foi procurá-la para desculpar-se pela atitude do filho, em lágrimas. Sabia o quanto a jovem já tinha sofrido com a morte dos pais e a doença de Snape e não achava justo que seu filho tivesse contribuído para trazer mais um fantasma para a pobre moça.


 


FIM DO FLASHBACK


 


Agora lá estava ela, aguardando o início do baile. Estava sozinha, como tinha resolvido que iria, mas sabia que isso não iria durar a noite toda, por causa do feitiço da meia noite. Só Patricia mesmo para inventar isso! Quando faltarem dez minutos para a meia noite, todos que estiverem sozinhos no salão serão organizados em pares aleatórios por um feitiço, sendo que esse feitiço irá procurar sempre o par mais adequado para cada um. Será então, ao soar da meia noite, que as máscaras enfeitiçadas cairão, revelando as identidades.


Tanto as máscaras quanto o resto das fantasias foram fornecidas pela escola, segundo um critério simples: sorteio. Assim, além de evitar que duas pessoas aparecessem com a mesma fantasia, ficou garantido que nenhum “intruso” entraria de penetra. Ela recebeu sua fantasia no dia anterior, e ficou encantada. Um anjo. Sim, sua fantasia era a de um anjo, com um vestido branco com bordados marfim na saia e pequenas pedrinhas brilhantes no busto. Asas branquíssimas, que pareciam reais, estavam penduradas sem peso algum nas suas costas. No rosto, uma máscara branca que ia da testa ao topo do nariz, coberta de fina renda marfim que descia até o queixo. E nos cabelos, arrumados em cachos bem comportados enrolados de forma frouxa num coque, uma pequena tiara de prata e cristal, a única peça que não foi dada pela escola, mas que recebeu pelo correio coruja pela manhã, com um papel onde só se lia uma coisa: S.S.


Mal pode acreditar no que seus olhos viam, quando se deparou com aquilo. Lembrou do dia em que ficara, com a capa de invisibilidade que Harry lhe emprestou, assistindo uma conversa entre pai e filha via internet. Patricia deixou, pois sabia que a jovem precisava ver com seus próprios olhos que ele estava melhorando, além de querer fazer um agrado para sua futura “madrasta”. E de manhã, ao procurar a professora e lhe mostrar o presente, notou que ela ficou com cara de quem já sabia. Só o que Hermione estranhou foi que, se ele estava nos Estados Unidos, aquela pobre ave deveria estar exausta de tão longo vôo, mas ela pareceu bem.


Foi tirada de seus devaneios pela figura que estava entrando. Sim, era Rony. A própria professora McGonagall tinha lhe mostrado a fantasia que ele receberia, para que ela não fosse enganada. O Fantasma da Ópera... Interessante e fácil de lembrar, mas possivelmente o ruivo não sabia nada sobre o personagem que encarnava.


Passou boa parte da noite circulando pelo salão, hora conversando com Patricia (fantasiada de Iara, fazia a maioria dos homens pararem para olhá-la uma segunda vez), hora com Harry e Gina, caracterizados de Godric Griffindor e Morgana LeFay. Estava adorando a música, que vinha de um palco montado no local onde, tradicionalmente, ficaria a mesa dos professores. Lá estava uma banda brasileira, amigos de Patricia, que tinha aceitado vir tocar na festa. Não eram bruxos, mas três eram abortos e, dos outros três, um tinha uma filha bruxa e os outros dois sabiam disso. Roupa Nova... gostou do nome quando a amiga lhe contou, e estava gostando do som deles, apesar de não estar num bom dia para músicas românticas. Era naquela noite, mais do que nunca, que ela sentia falta de Severus. Como queria que ele estivesse ali, junto dela! Foi nesse momento que viu algo que achou interessante: do outro lado da pista de dança, Patricia abraçava um homem que parecia ter acabado de chegar e sussurrava algo em seu ouvido. “De namoricos, né, Dona Patricia???” pensou com um sorriso, sabendo que não era nada disso. Patricia tinha um namorado, mas não era ele aquele homem, com certeza, pois David estava fantasiado de templário, não de... Anjo negro. Aquele homem estava vestido totalmente de negro, com exceção da máscara, que era prateada e certamente enfeitiçada, pois era lisa. E nas costas, tal como ela, trazia asas, porém negras como uma noite sem luar.


Por algum motivo, Hermione não conseguia desviar sua atenção dele. Só conseguiu quando a música parou, atraindo a atenção de todos para o palco onde, vestida de sacerdotisa celta, a diretora acabara de subir.


- Já faltam dez minutos para a meia noite, meus caros, hora do feitiço dos pares. – e nem bem terminou de falar, começou a recitar um encantamento. Logo, uma suave brisa tomou conta do salão, enquanto algumas pessoas eram levitadas delicadamente e trocadas de lugar.


Hermione, ao sentir a brisa envolve-la, fechou os olhos e resolveu esperar para ver. Afinal, seu par mais perfeito não estava naquele salão, mais sim em uma cama de hospital do outro lado do oceano. Sentiu o vento leva-la e, de repente, pousa-la no chão, diante de alguém que delicadamente segurou sua mão. Por um instante, hesitou, para logo, vencida pela curiosidade, abrir os olhos. Estava no meio da pista de dança, bem na frente do palco, e diante de si estava o Anjo Negro que ela vira com Patricia.


Antes que ela pudesse falar qualquer coisa, no entanto, o baterista da banda, Serginho Herval, começou a falar:


- Quando a Paty – muitos riram do apelido e ouviu-se um “Eu vou te matar, Serginho!” vindo do fundo do salão – nos chamou para tocar nessa festa, ela mesma escolheu o repertório, mas disse que a música da meia noite teria que ser algo muito, muito especial, por isso deixou por nossa conta. E conversando com o pessoal, nós decidimos que não haveria música melhor que essa. – e a música começou, só com os instrumentos no início.


O Anjo Negro inclinou-se sobre sua mão, num cumprimento mudo, e logo envolveu-a, quando Serginho começou a cantar...


 


A Viagem


Há tanto tempo que eu deixei você
Fui chorando de saudade
Mesmo longe não me conformei
Pode crer
Eu viajei contra a vontade
 Espero que você nunca duvide disso”.
 Ao ouvir aquela voz, Hermione achou que seu coração fosse parar.


O teu amor chamou e eu regressei
Todo amor é infinito
Noite e dia no meu coração
Trouxe a luz
Do nosso instante mais bonito
 “Um único beijo, mas que me deu forças para lutar até o fim”.
Paralisada, ela sentia seus olhos se enchendo de lágrimas.


Na escuridão o teu olhar me iluminava
E minha estrela-guia era o teu riso
Coisas do passado são alegres
Quando lembram novamente
As pessoas que se amam...
 “Tudo o que eu mais queria era ver o teu sorriso mais uma vez”.
Ela não conseguia responder, só ouvir e ser levada por aqueles braços em torno de si.


Em cada solidão vencida eu desejava
O reencontro com teu corpo abrigo
Ah! Minha adorada
Viajei tantos espaços
Pra você caber assim no meu abraço
 “Eu faria tudo o que fosse necessário para te ter comigo de novo”.
Nesse momento, as máscaras começaram a desaparecer, deixando diante dela aquele rosto que ela tanto amava. E no momento do acorde final da música, ele pronunciou as palavras que ela sonhava ouvir dele...


Te amo!


Diante de si, totalmente restabelecido, estava o amor de sua vida: Severus Snape tinha voltado para ela.
Não pode falar nada, então fez a única coisa que seu coração mandou. Beijou-o.


********************************************************


Um mês já tinha passado desde o baile, e Hermione nunca se sentira tão feliz. Severus voltara para ficar, retomando o cargo de Poções, pois disse que, mesmo recuperado, não era seguro realizar feitiços fortes durante algum tempo (e por ter ficado furioso quando soube, por Minerva, o que Ronald tinha feito, e queria o rapaz em suas mãos). Além disso, ele tinha feito questão de assumir o relacionamento de ambos diante de toda a escola, no próprio baile. E como ela era maior de idade tanto no mundo trouxa quanto no bruxo, isso não era problema.
Severus tinha mudado um bocado sua aparência. Seu cabelo estava mais curto, menos oleoso, e sua pele adquiriu uma cor saudável devido ao tempo passado na clínica, na Califórnia. Mas não mudara seu jeito de dar aulas, só se tornou mais imparcial, deixando de favorecer tanto a Sonserina. Mesmo assim, dificilmente distribuía pontos, mesmo para Hermione, embora os olhares que trocavam durante as aulas não fossem difíceis de notar.


Harry, Neville, Luna e Gina davam todo o apoio à amiga, e estavam tendo uma relação melhor com o professor, que se tornara menos hostil. E quando o inverno chegou, trazendo suas mantas de gelo para os jardins da escola, e a manhã de Natal surgiu, Hermione acordou com ele sentado ao seu lado, em seu quarto de monitora-chefe, com uma pequena caixa de veludo nas mãos.


Depois de beijá-la ternamente, Severus segurou sua mão de forma delicada e perguntou, baixinho em seu ouvido:


- Casa comigo?

******************************************


N/A: Sim, eu sou muito má... Não, não vou colocar a resposta dela, e nem precisa né minha gente? Aqui termina essa fic, depois de muito choro, enrolação e problemas, ela finalmente terminou.


A história da Patricia? Essa fica para outra fic, mas não tenho idéia de quando vou começá-la. Mas agradeço a todos vocês por terem acompanhado essa fic, e a uma pessoa em especial.


É, Daniel, tô falando de você. Quando comecei essa fic, eu nem pensava em te conhecer ainda, estava enterrada lá em Saquarema vivendo uma vida meia-bomba e me metendo em roubadas. Isso faz quase dois anos. Agora, vivo no Rio (mais na sua casa que na minha, diga-se de passagem), e não tenho mais que me preocupar se vou me meter ou não numa roubada, pq meu coração já foi mais do que roubado por você. E digo, sem sombra de dúvida, que foi graças a você que terminei a fic, tanto que coloquei justamente "essa" música para encerrar, lembrando de um momento especial que passamos juntos. Sabe pq? Pq você me estimulou,  me perguntando às vezes como ia a fic e me dando um ombro quando precisei de ajuda. Você foi, sem exagero, a melhor coisa que já aconteceu na minha vida, por isso, faço minhas as palavras de Severus Snape:


EU TE AMO!


NOX!


Compartilhe!

anúncio

Comentários (0)

Não há comentários. Seja o primeiro!
Você precisa estar logado para comentar. Faça Login.