O Basislisco e o Covarde
- Eu olhei horrorizada quando vi o diário nas mãos de Harry. Por quê? O que tinha naquele diário?
Neville e Draco se entreolharam. Os dois pensaram a mesma coisa; ela teria que saber algum dia. Neville sabia mais da história do que Draco, já que ele era amigo de Ginny, então foi o moreno que começou.
- No seu primeiro ano em Hogwarts, Lord Voldemort a possuiu através daquele diário. Ele queria reabrir a Câmara Secreta e soltar um basilisco, uma enorme cobra.
- Por quê?
- Como eu já disse antes, Lord Voldemort odiava trouxas. Ele queria usar o basilisco para eliminar todos os nascidos trouxas de Hogwarts. Possuindo você, ele controlaria o basilisco.
- Mas por quê eu?
- A pessoa que te deu o diário escolheu você por ser próxima de Harry Potter. Lord Voldemort queria, mais que tudo, matar Harry. Aquele diário pertencia a Voldemort quando jovem, e através das lembranças dele ele te possuiu. Eu não sei como aquele diário foi parar nas mãos do Harry, isso só você e ele devem saber.
- E Voldemort obteve sucesso?
- Você abriu a Câmara e controlou o basilisco, mas não matou ninguém. Ninguém olhou diretamente para a cobra, é assim que ela mata. Algumas pessoas olharam indiretamente, então ficaram petrificadas. Você não fazia idéia do que estava fazendo. Não foi culpa sua.
Dominique olhou para os pés por um minuto, e Lizbeth perguntou:
- Como foi que tudo isso terminou?
- Potter a salvou, claro. - foi Draco quem respondeu. - Ele matou o basilisco e a Câmara foi fechada. Todas as pessoas petrificadas voltaram ao normal.
- Como eu consegui o diário?
- Não sei. - disse Neville.
Draco pensou por um momento. Ele sabia. Decidiu contar; ela acabaria se lembrando de tudo, e não era segredo que a família Malfoy não era exatamente flor que se cheirasse.
- Meu pai colocou entre seus livros quando nos encontramos na livraria, pouco antes do ano letivo começar.
- Seu pai? - indagou Lizbeth.
Até mesmo Neville estava surpreso; Draco nunca tinha dito nada para ele sobre esse assunto.
- Sim, meu pai. Ele era partidário de Voldemort. Um Comensal da Morte. Fiquei sabendo apenas depois que as coisas estavam resolvidas.
- E onde está o seu pai agora?
- Em Azkaban, a prisão dos bruxos. Ele e minha mãe.
Lizbeth se levantou depois de alguns minutos de silêncio, e disse:
- Vou descer, prometi ao senhor Hotz que faria o almoço. Chamarei quando estiver tudo pronto.
- Eu vou com você. - disse Neville rapidamente, se juntando a ela.
Dominique e Draco ficaram sozinhos, cada um sentado em uma cama. Ficaram se olhando por um momento, depois, Dominique pulou para a cama dele. Sentou-se ao lado de Draco, tomando o cuidado de não encostar no loiro.
- Nossas famílias realmente se odiavam, não é?
- Mais do que qualquer coisa.
- Por que tanto ódio? Apenas por lutarem em lados opostos?
- Se fosse só por isso... Mesmo quando Voldemort não tinha ressurgido havia ódio. Meu pai costumava dizer que era nojento o jeito que os Weasley se misturavam com bruxos nascidos trouxas, e até mesmo trouxas. Dizia que seu pai não tinha a menor ambição, e estava fadado a ser pobre para sempre.
- Por que você não é como seus pais?
- Eu nunca disse que não era.
Eles se encararam. Dominique alcançou a mão de Draco e, segurando-a apertado na sua, suplicou:
- Fale comigo, Draco. Eu preciso sabe quem é você, porque a cada dia eu gosto mais de você, eu a cada dia eu encontro motivos para não gostar.
- Você não devia gostar, mesmo.
- Por favor.
Ele suspirou.
- Eu não sei o que você quer saber de mim!
- Tudo! Como você era na época em que nos conhecíamos? Porque está aqui?
- Eu era muito diferente. Eu era como meus pais. Eu repudiava sua família, ofendia vocês toda vez que os via. Tinha prazer em chamar os nascidos trouxas de sangue-ruim. Para mim, o mais importante era tirar sarro e até mesmo fazer sofrer todas as pessoas que eu julgava inferiores. Você não quer saber sobre esse Draco.
- O que foi que mudou?
- No começo do meu sétimo ano, a ficha finalmente caiu. Eu sempre soube que meus pais eram partidários de Voldemort, mas acho que nunca tinha entendido a profundidade daquilo. Nunca tinha entendido o que significava. E quando entendi, pensei: "Eu não quero matar pessoas!". E não foi por nobreza, foi covardia. Hoje eu vejo que eu era um garoto assustado, covarde. Eu não tinha coragem de seguir meus pais.
- E o que você fez?
- Nada. Simplesmente fiquei lá na escola, sem tomar partido. Mas quando a guerra terminou, procurei Dumbledore e disse que não era um Comensal da Morte.
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Ele entrou na sala de Dumbledore receoso. Tinha medo que o diretor o mandasse para Azkaban no momento em que o visse, para fazer companhia aos pais. Entrou sem fazer barulho, mas Dumbledore ergueu a cabeça quase que imediatamente.
- Eu estava te esperando, Sr Malfoy. Sente-se.
Draco se sentou, ainda com medo.
- O que é que tem a me dizer?
- Eu não sou um Comensal da Morte.
- Eu sei disso. Você não vai para Azkaban, Sr Malfoy. Nunca foi um partidário de Voldemort. Não há acusação contra você.
O loiro relaxou um pouco na cadeira.
- Mas você está ciente que perderá tudo, não está? Tudo o que pertence à família Malfoy será confiscado pelo Ministério.
- Sei disso.
Dumbledore sorriu.
- Há um zoológico na África do Sul, na cidade de Pretoria, que precisa de alguém para ajudar na criação dos bruxos. Posso mandar uma carta para lá dizendo que Draco Malfoy terá o prazer de aceitar o cargo?
- Sim, senhor. - ele não hesitou em responder. Não havia mais nada para ele na Inglaterra.
- Você terá um estilo de vida um tanto diferente lá, Sr Malfoy.
- Eu sei. Obrigado, Prof. Dumbledore.
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- Foi assim que vim parar aqui. Não houve nenhum honra, nenhuma coragem.
Ela não disse nada. Encostou sua mão esquerda no rosto dele, mas ele se esquivou.
- Você alguma vez falou com alguém sobre isso? - Dominique perguntou.
- Neville sabe. Conversamos sobre isso algumas coisas. Ele diz que eu não sou covarde, que eu fiz a coisa certa em procurar Dumbledore.
- Eu concordo com ele.
- Eu não preciso da piedade de ninguém. Minha consciência está limpa, não me arrependo de nada do que fiz.
- Não há nada para se arrepender.
- Escute, está satisfeita agora? Já sabe como eu era, vai parar de fazer esse tipo de pergunta?
Ela não respondeu. Tocou no seu rosto, mas dessa vez ele não se esquivou. Dominique se ergueu e passou uma das pernas por cima do colo de Draco. Sentou-se no colo dele, de frente para o loiro.
Ele a beijou e a abraçou com força. Dominique passou seus braços em volta do pescoço do loiro, sua mente trabalhando rapidamente. Eu já o beijei antes! E ela sabia que não era apenas o beijo no ônibus, era algo mais intenso, acontecido muitos anos antes. Ela sabia que já sentira aquela sensação antes; o beijo de Draco era maravilhoso, suas bocas se encaixavam perfeitamente. Era um beijo desesperador, e ela sentiu-se derreter sob os baços do loiro.
Beijaram-se por mais alguns minutos, e antes que pudessem ir adiante, ela se afastou e disse:
- Nós deveríamos descer para comer.
Ele assentiu, e ela se levantou.
- Você vem?
- Vá na frente, já estou indo.
Ela saiu do quarto, e ele deitou na cama, com as mãos na cabeça. Tinha acabado de beijar Ginny Weasley, e com plena consciência disso. Ela vai ser boa companhia durante a viagem. Depois posso largá-la. Draco pensou nisso com convicção, tentando acreditar naquelas palavras. Decidiu esquecer daquilo por enquanto. Afinal, não estava apaixonado.
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Nota da Autora: Agora que foi esclarecido que Dominique Vallosh é mesmo Ginny Weasley, vou começar a chamá-la assim agora. Bem, ninguém duvidava disso, né?
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Eles deixaram a casa de Robert Hotz no dia seguinte pela manhã. Robert tinha preparado vários sanduíches para eles, e até emprestado algum dinheiro.
- Tenho um amigo que está indo para Nairóbi através de uma chave de portal, e ele disse que pode levá-los, caso estejam interessados. - Robert dissera.
- Onde fica Nairóbi? - perguntou Draco.
- É a capital do Quênia, idiota. - respondeu Neville. - Mas que línguas eles falam lá?
- Inglês, kiswahili, kikuyu e luo. - disse Lizbeth imediatamente.
- Eu posso emprestar mais algum dinheiro para vocês, em Nairóbi vocês podem pegar um trem para quase todas as capitais da África. - terminou Robert.
- Diga ao seu amigo que nós aceitamos. - falou Draco, e logo depois, explicou rapidamente para Lizbeth e Ginny o que era uma chave de portal.
Então eles se encontravam na estação ferroviária de Nairóbi, mas não tinha certeza para onde iriam.
- Nós podemos pegar um trem para Cairo, no Egito, e depois, dali, atravessar o Canal de Suez. Entramos na Ásia por Israel, atravessamos a Jordânia, a Síria e chegamos na parte asiática da Turquia. Poderemos, dali, tentar entrar na Turquia européia.
- E depois? - perguntou Draco.
- Entramos na Bulgária, e dali seguimos para Paris. Esse é o caminho mais longo.
- E qual é o mais curto?
- Pegamos um trem pra Rabat, no Marrocos, e depois seguimos para Tanger. De Tanger, existem aviões para a Espanha, que atravessam o Estreito de Gibraltar.
- É mais caro, não é? - perguntou Ginny. - A passagem para Rabat é mais cara do que para Cairo, já que o Marrocos é mais longe que o Egito.
- Sim. E indo para Marrocos, teríamos que contornar o Saara, ou seja, ficaríamos dias no trem. Essa viagem tomaria todas as nossas economias.
- E nós não teríamos dinheiro para pegar um avião para a Espanha quando chegássemos a Tanger.
- Não, isso não seria problema. O Estreito de Gibraltar pertence à Inglaterra, conseguiríamos atravessar com facilidade. E ao entrarmos na Espanha, será bem mais fácil. O problema é a passagem para o Marrocos.
Eles pensaram muito, até que Neville disse:
- Vamos para o Marrocos. Quando chegarmos lá, eu posso conseguir dinheiro para podermos atravessar a Espanha.
- Tem certeza? - perguntou o amigo loiro.
- Tenho.
Draco não perguntou a Neville como conseguiriam o dinheiro; ele tinha uma idéia do que o amigo faria. Por fim, compraram as passagens para o primeiro trem, que sairia ao meio-dia. A viagem demoraria quinze dias, eles teriam que economizar o dinheiro restante caso não quisessem morrer de fome durante a viagem. O trem oferecia uma refeição por dia, a outra, teria de ser paga pelo passageiro.
Embarcaram na hora do almoço. As passagens que eles tinham comprado davam direito a duas cabines com duas camas cada; em cada cabine, havia também uma mesinha e duas cadeiras, e um armário.
Ginny já puxava Lizbeth para uma das cabines quando a morena falou:
- Do...Ginny, você se importa de dividir a cabine com Draco?
- Como?
- Eu... Neville e eu gostaríamos de ficar na mesma cabine.
- Ah... está bem.
A ruiva entrou com Draco na cabine ao lado, e colocou suas coisas em uma das camas. Virou-se e olhou para o loiro.
- Acho que vai ser você que vai ter que me ensinar magia.
Continua...
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