De Meninas Desaparecidas e Gar

De Meninas Desaparecidas e Gar



Nota da Autora: Essa fic é inspirada no filme Anastácia.

**


O dia estava insuportavelmente quente, e ainda por cima, Draco Malfoy estava enfrentando uma ressaca dos diabos. Bem, mas ele também não estava esperando por um dia frio. Estando em pleno verão, e ainda por cima, na África, o calor era algo totalmente impossível de se evitar.


A festa do dia anterior havia sido bárbara, ou pelo menos, Draco achava que tinha sido. Ele mal se lembrava do que tinha acontecido, mas não se assustou ao acordar e encontrar uma garota ao seu lado. Ele se assustou menos ainda ao constatar que estava na casa da moça. Draco não se deu ao trabalho de se despedir. Vestiu-se rapidamente e foi embora, sem deixar qualquer bilhete. Diabos, ele não se lembrava nem do nome da garota!


Ele não tinha dinheiro para tomar um táxi e voltar para o seu barracão, então teve que caminhar. Duas horas depois, chegou, molhado de suor. Xingou o sol pela milésima vez e se enfiou debaixo da ducha gelada, tentando esfriar o corpo e a cabeça.


Dez anos haviam se passado desde que se formara em Hogwarts. Quando Harry Potter derrotara Lorde Voldemort, naquele mesmo ano, Draco não era um Comensal da Morte. Seus pais eram e, portanto, ao serem mandados definitivamente para Azkaban, tinham perdido tudo. Todo o seu dinheiro e bens haviam sido confiscados pelo Ministério da Magia, e Draco não tinha tido direito a nada.


O garoto de então dezessete anos se desesperou com a possibilidade de ser pobre, mas Alvo Dumbledore o ajudou. E logo depois o mandou para a África, arrumando trabalho para ele num tipo de zoológico de animas mágicos. Draco foi, sem dinheiro e sem ninguém, e ficou ainda mais desesperado ao ver que dividiria o precário barracão com Longbottom, que cuidava das plantas do local.


Dez anos haviam se passado, e seu salário não havia aumentado. Ele até poderia morar em um lugar melhor, mas a maior parte do seu salário era gasto com festas e bebidas. Neville também não era santo, e os dois sempre estavam em apuros por causa de dinheiro.


Depois de tanto tempo morando juntos, Draco e Neville haviam desenvolvido uma relação que chegava a quase ser uma amizade. Era o mais próximo de um amigo que Draco já tivera.


Logo que Draco saiu da ducha, encontrou Neville, que acabava de chegar.


- Bom dia. – disse o loiro platinado.


- Bom dia. Acabou de chegar?


- Aham... Onde foi que você passou a noite?


- Não faço idéia. Acordei na casa de uma garota, e ela se ofereceu para me trazer até aqui. Acabou me deixando na porta do zoológico.


- Ainda bem. Ela iria se assustar se visse o estado disso aqui.


Neville suspirou e se jogou na cama. Draco se sentou na sua cama. O barracão era composto apenas por aquele quarto, o banheiro (se é que podia ser chamado de banheiro, tinha uma ducha fria e um vaso sanitário. Quando queriam lavar as mãos, tinham que lavar no chuveiro), e uma miniatura de cozinha. Os dois agradeciam pela existência de um refeitório para empregados do zoológico.


- Você pagou a conta de luz? – perguntou Neville, de repente.


- Era o seu mês.


- Não, não era, eu paguei mês passado! Draco, é a única conta que nós temos que pagar, você poderia fazer um esforcinho!


- Ei, calma, jardineiro! Eu vou pagar!


Os dois ficaram quietos por alguns segundos, até que Draco perguntou:


- Você tem dinheiro para me emprestar?


**


No fim, Draco teve que pedir dinheiro para um colega de trabalho, que ganhava um salário um pouco mais alto. Ele e Neville ficaram dias sem se falar, até que ficaram sabendo que um novo grupo de especialistas ia chegar ao zoológico. Não agüentaram por muito tempo, mesmo porque Draco estava com uma vontade irresistível de comentar com Neville que o grupo era composto por mulheres.


- Totalmente por mulheres? – perguntou o herbologista, boquiaberto.


- Sim. Acho que são umas dez. Você já imaginou que paraíso?


- Nós temos que organizar uma festa de boas vindas. Quando é que elas vêm?


- Chegam amanha de manhã.


- Merda, não vai dar tempo. Mas nós estaremos lá para recebê-las mesmo assim.


- Claro que estaremos, sua anta.


Neville não se preocupou em dar uma resposta, nem se importou com a delicadeza de Draco. Sua mente estava em outro lugar no momento. Estava nas dez mulheres que estavam pra chegar. Depois de um tempo, sua preocupação com o dinheiro recomeçou.


- Draco, como você vai fazer para pagar o seu amigo?


- Não faço a menor idéia. Nossos salários são uma bosta. O único jeito de ganhar algum dinheiro é tendo sorte na loteria ou achando a menina Weasley.


- Claro, como se isso fosse acontecer. – Neville revirou os olhos.


A loteria, todos sabiam, era algo impossível. E a menina Weasley... bem, ela estava desaparecida há dez anos. Todos tinham tentado achá-la, mas sem sucesso.


Logo após a batalha final contra Voldemort, Ginny Weasley, que era uma prisioneira do casal Lestrange, havia desaparecido. Os Lestranges, tendo morrido na guerra, não podiam dizer onde ela estava. Não havia uma única pessoa que soubesse. Todos os Comensais haviam sido interrogados, e até mesmo aqueles que tinham alguma ligação com os Comensais, Draco incluído.


A recompensa para quem achasse Ginny Weasley era de duzentos mil galeões. Arthur Weasley havia se tornado Ministro da Magia. Fred e Jorge Weasley haviam obtido um sucesso estrondos com sua loja de logros. Gui agora ocupava um cargo altíssimo em Gringotes, Carlinhos era famoso por seu trabalho com dragões. Percy estava morto, mas até mesmo Rony estava bem de vida, sendo Auror. E, claro, havia Harry Potter. O garoto já era rico por herança, e tinha o seu salário de Auror. E sendo o namorado de Ginny, também tinha contribuído.


Os Weasley haviam procurado a filha caçula por todo o mundo, mas não havia registro algum. Harry Potter ainda esperava pelo dia que teria sua namorada de volta.


E nesse tempo todo, enquanto via seus inimigos de Hogwarts enriquecendo, Draco empobrecia. Neville costumava pensar que empobrecer fora a melhor coisa que acontecera a Malfoy, mas não era burro de dizer isso alto. Draco sacaria a varinha e lhe lançaria um Avada Kedrava no momento seguinte. Ele ainda era arrogante e um tanto mimado, mas não havia comparação entre o Draco atual e o de dez anos atrás.


Draco também tinha suas impressões sobre Neville. O garoto, que antes era de longe a pessoa mais burra que conhecera, havia se tornado bem inteligente. Draco sabia que essa mudança havia acontecido logo após o quinto ano deles em Hogwarts. Neville havia contado a Draco tudo o que acontecera, sobre os grupos de AD e a viagem até o Departamento de Mistérios. “Pelo menos para alguma coisa, o Potter foi útil!”, pensava o loiro platinado. Neville, depois disso, havia se aprofundado em herbologia, tornando-se realmente muito bom.


Os dois saíram de seus devaneios, se encarando.


- Bem, então teremos que arranjar uma outra maneira de pagar o coitado. – disse Draco.


- Nós não. Você. A culpa é sua se não teve dinheiro para pagar a conta. Ninguém manda ficar gastando com festas e mulheres.


- Olha quem fala! O que aconteceu com o seu dinheiro, então? Perdeu?


- Não interessa. O que importa é que era sua vez de pagar a conta.


- Eu achei que já tinha pagado mês passado!


- Está anotado perto do chuveiro que era sua vez!


- E eu lá fico olhando bloquinhos quando vou tomar banho?


- Pois devia!


Os dois se calaram, parando de se falar novamente. Neville jurou que não voltaria a falar com Draco nunca mais. Draco jurou o mesmo.


**


No dia seguinte, os dois saíram do barracão com pressa, conversando animadamente. Estavam loucos para conhecer as especialistas. Neville havia sido avisado que haviam algumas trouxas entre elas, que apenas sabiam da existência de bruxos, ao que Draco fez uma careta. Neville ignorou o loiro, e os dois chegaram no refeitório quase correndo. Engoliram seus cafés, e logo depois, voaram para a sala de conferencias do zoológico, onde iriam receber as especialistas.


Neville teve que segurar Draco, ao mesmo tempo em que se apoiava na parede. Não precisariam recebê-las; as mulheres já estavam lá. Mas devia haver algum engano. Aquelas não podiam ser suas novas colegas de trabalho. Aquelas mulheres eram... velhas!


O queixo de Draco parecia ter caído, enquanto Neville sentia vontade de morrer ali mesmo. Tanta expectativa.


Uma das mulheres se aproximou. Ela parecia ser a mais velha de todas, e Draco poderia jurar que ela tinha uns duzentos anos.


- Ah, olá! Sou Teresa Campbell. Vocês devem ser os senhores Longbottom e Malfoy, estou certa?


Neville concordou com a cabeça, muito fraco para falar.


- Ah, excelente! Deixe-me apresentar minhas colegas.


Sete mulheres tão velhas quanto Teresa se aproximaram, e Draco e Neville deram um passo para trás.


- Essas são Melinda Tramp, Nora Kim, Jane Moritt, Catherine Calles, Mary-Ann Hotz, Gertrude Fisher e Rose Lorreny.


Draco e Neville deram um sorriso amarelo, e Teresa continuou.


- Elas são todas bruxas, mas nós trouxemos duas trouxas conosco. Elas vieram como aprendizes, e apesar de não poderem usar magia, estão se saindo muito bem. Mas onde é que elas se meteram?


A mulher apresentada como Gertrude Fisher disse:


- Ah, estão ali no canto. Acho que estão com vergonha.


Gertrude foi buscá-las, enquanto Draco e Neville se preparavam para mais duas velhas. Quando Gertrude voltou, tiveram a segunda surpresa do dia, mas esta foi muito bem recebida. As duas aprendizes não eram velhas. Neville quase pulou de alegria, e Draco as olhou, maravilhado.


Uma delas era ruiva, com cabelos ondulados que desciam até o meio das costas, e tinha grandes olhos castanhos. A outra tinha a pele bem clara, mas o cabelo mais escuro que Draco já vira. Os olhos também eram escuros. Draco e Neville as acharam lindas, mas talvez isso fosse porque eles estavam rodeados de velhas.


Teresa as apresentou. A morena se chamava Lizbeth Morgan, e a ruiva, Dominique Vollash.


- Sr Malfoy, você e o Sr Longbottom poderiam mostrar o zoológico para Lizbeth e Dominique? Nós estamos terrivelmente cansadas da viagem.


- Claro, Sra Campbell.


Draco e Neville saíram, acompanhados de Lizbeth e Dominique, ambos com um sorriso enorme no rosto.


**


- Então, é a sua primeira vez em um zoológico mágico? – perguntou Neville.


- Não, para falar a verdade. – Lizbeth respondeu, sorrindo para Neville. – Nós estivemos em um outro, na França, mas não era tão grande como esse. O que você faz aqui?


- Sou o herbologista. Cuido das plantas.


- Ah, é a parte que mais gosto!


Lizbeth e Neville engataram uma conversa sobre toda a flora do zoológico, e Draco sorriu para Dominique.


- Ela sempre é assim empolgada?


- Quando se trata de plantas, sim. Têm especialização em botânica, que é a nossa herbologia.


- E você?


- Sou veterinária. Cuido de animais trouxas.


- Gosta?


- Muito.


- Deixe-me advinhar. Desde os tempos de escola, sempre quis ser veteniraria!


- Veterinária.


- O que foi que eu disse?


- Veteniraria.


Draco passou a mão pelos cabelos, sorrindo. Dominique o olhou.


- E você?


- Bom, sou o veterinário dos bruxos, por assim dizer. Cuido dos animais também. – ele fez uma pausa. – Desculpe-me por perguntar, mas porque o interesse por bruxos?


Ela não respondeu de imediato. Olhou para o chão antes de encará-lo.


- Por que eu acho que eu posso ser uma.


- Como assim?


- Coisas estranhas acontecem quando estou nervosa. E acho que sempre soube da existência de vocês.


- Mas se você fosse bruxa, teria recebida uma carta de convocação para alguma escola.


- Eu sei.


- Mas você não recebeu.


- Para falar a verdade, eu não sei se recebi.


- O que está dizendo?


- Eu... perdi minha memória nove anos atrás. Não consigo me lembrar de nada.


Naquele momento, foram interrompidos por uma gargalhada de Neville, que parecia entretido demais com Lizbeth. Dominique aproveitou e puxou Lizbeth, dizendo que elas tinham que se reunir junto às outras. Neville e Draco se despediram das duas. Neville, satisfeito; Draco, intrigado.


**


- Neville! Neville!


O moreno praguejou, mas abriu os olhos sonolentos.


- Mas que diabos, Draco! O que você quer? – ele olhou o relógio de pulso. – São três horas da manhã!


- Eu tive um excelente idéia!


- Não podia esperar até amanhã?


- Não! Escute, com quem Dominique se parece?


- O que?


- Dominique! Lembra-se dela? Pense, com quem ela se parece?


- Draco, aonde você quer chegar?


- Apenas responda!


Neville pensou um pouco. Dominique... Não tinha conversado muita com a ruiva... Ruiva!


- Ela parece uma Weasley, com aqueles cabelos ruivos...


- Exatamente! Neville, ela se parece exatamente com Ginny Weasley.


Neville não respondeu. Ficou olhando para Draco, tentando imaginar onde ele queria chegar.


- Tem razão, ela se parece com Ginny.


- Você conheceu bem a Weasley, não conheceu? Eram amigos! Você acha que Dominique realmente se passaria por ela?


- Claro que sim, mas aonde você quer chegar?


- Fácil! Dominique perdeu a memória nove anos atrás. Não se lembra de nada de sua adolescência. E ainda por cima acha que é bruxa. Neville, se ela for mesmo uma bruxa, nós podemos fazer os Weasley pensar que ela é Ginny! Nós só temos que convencer Dominique do mesmo.


- Você quer convencer Dominique de que ela é Ginny Weasley, para pegar a recompensa?


- Exato!


Neville se animou.


- E olha que lindo! Dominique ganharia uma família, os Weasley ficariam felizes e nós, ricos.


- Todos saem ganhando!


Neville depositou um beijo na bochecha de Draco, agarrando seu rosto.


- Você é um gênio!


Continua...


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