O Livro (15/04/2008)



Capítulo 2 -O Livro
Agora que expliquei o título, passo a escrever o livro. Antes disso, porém, digamos os motivos que me põem a pena na mão.
Vivo só, com um criado. A casa em que moro é própria; eu a construi de propósito, levado de um impulso. Um dia, há muitos anos, quis reproduzir em Londres a casa em que me criei na antiga Rua dos Alfeneiros, dando-lhe o mesmo aspecto e economia daquela outra, que desapareceu. Construtor e pintor entenderam bem as indicações que lhes fiz: é o mesmo prédio assobradado, três janelas de frente, varanda ao fundo, as mesmas salas. Até a pintura do teto e das paredes é mais ou menos igual.Tenho flores, legumes,um poço e lavadouro. Uso louça velha e mobília velha. Enfim, agora,há aqui o mesmo contraste da vida interior, que é pacata, com a exterior, que é ruidosa.
O meu fim evidente era juntar as duas pontas da minha vida, e restaurar na velhice a adolescência. Pois, senhor, não consegui recompor o que fui. Em tudo, se o rosto é igual, a fisionomia é diferente. Se só me faltassem os outros, tudo bem, um homem consola-se mais ou menos das pessoas que
perde, mais falta eu mesmo, e isso é o pior. O que aqui está é apenas semelhante à uma pintura que se põe barba e cabelos, e que apenas conserva o hábito externo, por dentro não há tinta que resolva. Uma certidão que me desse vinte anos de idade poderia enganar os estranhos, como todos os documentos falsos, mas não a mim. Os amigos que me restam são de data recente; todos os antigos foram viver o mundo. Quanto às amigas, algumas datam de quinze anos, outras de menos, e ainda se vêem jovens. Duas ou três até passam aos outros, mas a língua que falam obriga muita vezes a consultar os dicionários, e tal freqüência é cansativa.
Entretanto, vida diferente não quer dizer vida pior,hoje aquela vida antiga aparece-me despida de muitos encantos que lhe achei; mas é também certo na minha memória, conservo alguma recordação doce e traiçoeira.
Em verdade, pouco apareço e menos falo. Distrações raras. O tempo é gasto em hortar, jardinar e ler; como bem e não durmo mal.
Ora, como tudo cansa, esta monotonia acabou por me cansar também. Tentei escrever um livro.Filosofia e política me animaram, mas não deram as forças necessárias.
Então me surgiu, simples e real.
Fiquei tão alegre com esta idéia, que ainda agora me treme a pena na mão. Sim, Neville, Dino,Simas, e você, grande Rony, que me incentiva a fazer os meus comentários, agradeço o conselho, e vou escrever tudo o que me vier. Deste modo, viverei o que vivi, e tornarei em algo maior. Vamos começar por uma tarde de novembro, que nunca me esquecerei. Tive outras muitas, melhores, e piores, mas aquela nunca se me apagou em mim.Leia e me entenderá.

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N/A: postei o segundo na esperança que alguém se anime...
comentem se está tão ruim assim pq aí eu deleto! =(

beijos

Anna!!

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