Único.
They cry your name, which is silence
Eles choram teu nome, quando faz silêncio
A irmã de misericórdia parou junto ao portão do pequeno cemitério e deixou que o menino subisse sozinho a encosta de túmulos. Não era a primeira vez que levava órfãos para ver o túmulo dos pais e sabia o suficiente sobre pessoas para compreender que Tom Riddle tinha que faze-lo sozinho.
Sem olhar para trás, ou sequer agradecer a velha freira, Tom subiu a encosta em passos apressados, repetindo mentalmente o local que haviam lhe indicado. Era apenas uma plaquinha de pedra posta no chão. Haviam passado quase nove anos e o monte de terra estava tão coberto pela grama que era quase impossível identificá-lo. Mas estava lá. "Srª M. Riddle" E uma data de morte. Era estranho ser exatamente o mesmo dia em que o garoto nascera. O vento soprou e fez o menino arrepiar-se. Sem entender seu gesto, sentou no chão, abraçando os joelhos com um braço, enquanto com a outra mão limpava as folhas sobre a placa. Suspirou. Era quase uma ironia não haver resposta nenhuma ali. Uma charada. Literalmente, uma charada... Afinal, Tom realmente esperava que houvessem respostas naquela cova desprovida de qualquer luxo? Jamais teve esperanças quanto aos vivos, quem dirá dos mortos.
Tom não estava bem. Na noite anterior os garotos mais velhos o cercaram quando cruzava o corredor até seu quarto. Diziam que Tom Riddle era uma aberração, porque todos sabiam das coisas estranhas que ele fazia. Mas eles não tinham medo daquele pequeno vermezinho arrogante. Tom Riddle sentia seu interior contorcer-se ao lembrar da humilhação de ser surrado e violado, enquanto, indefeso e desprezível, ele assistia a violência contra seu corpo. Podia ver a dor trincando os olhos castanhos cheios de lágrimas inevitáveis daquele garotinho fraco a que era reduzido, tão vazio de inocência e essas coisas que crianças como ele não poderiam ter jamais. Dor lhe era companheira de viagem. E a raiva... Se já possuíra algum sentimento por aqueles lugares, por aquelas pessoas, foi raiva por serem tão pérfidos, tão injustos. A raiva o moveria para o alto, para vencer e humilhar. Queria muito retribuir a agradável existência naquele orfanato.
Queria que tudo acabasse naquele instante.
Suspirou novamente e uma expressão de profundo ódio deformou o rosto pálido e bonito do garoto. Deitou sobre a cova, deixando o cheiro de terra úmida invadir suas narinas."Mamãe, me leva contigo" Quase podia sentir os braços dela, eram braços magros e pegajosos e a canção de ninar era um grito agourento. Era tudo que ele tinha. Mãe morta. Pequena mãe fraca que não pudera protegê-lo, nem ao menos deixar respostas. Só um nome vazio. Um garotinho pálido que queria morrer e queria viver ao mesmo tempo. "Mãe, fortalece minha raiva, dê-me coragem para prosseguir." Quase podia ouvi-la chamar das profundezas inorgânicas da cova. Tom sentia-se cercado de morte. Que ao menos a morte fosse maestra da mudança. Assim seria, para sempre.
"E juro que mandarei todos eles para você"
They play their game, which is violence
Eles jogam seu jogo, quando é violento
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