CAPÍTULO DEZENOVE
Dezenove
No dia seguinte, quando volto do trabalho, José me entrega a roupa que chegou da lavanderia, depois verifico minha caixa de correspondências e encontro a conta da TV a cabo, uma revista de moda e um grande envelope marfim escrito em uma caligrafia elaborada e postado com dois selos em forma de coração. Antes mesmo de ler o endereço do remetente em Indianápolis, reconheço o convite de casamento de Harry e Cho.
Preciso acreditar que um casamento ainda pode ser cancelado depois que os convites já foram enviados. Este é apenas mais um obstáculo. Sim, torna tudo mais doloroso, mas é apenas uma formalidade, um detalhe técnico. Ainda assim fico tonta e meio enjoada enquanto abro o envelope e encontro outro envelope dentro dele, com o meu nome e as humilhantes palavras: "e acompanhante”. Deixo de lado esse pequeno envelope e seus dois convites individuais quando uma folha de papel de seda cai no chão, deslizando para baixo do sofá. Não tenho energia para apanhá-la. Em vez disso, sento e respiro bem fundo, reunindo coragem para ler o que está impresso, como se as palavras pudessem melhorar ou piorar as coisas:
NOSSA ALEGRIA SERÁ INFINITA SE COMPARTILHADA POR VOCÊS NO CASAMENTO DE NOSSA FILHA CHO JANE COM O SR. HARRY POTTER
Eu pisco para conter as lágrimas e suspiro lentamente, passando direto para o final do convite:
CONVIDAMOS VOCÊS A CELEBRAREM CONOSCO, TESTEMUNHAREM SUAS PROMESSAS E SE JUNTAREM A NOS NUMA RECEPÇÃO NO CARLYLE DEPOIS DA CERIMONIA.
CASO NÃO POSSAM COMPARECER, PEDIMOS QUE ESTEJAM PRESENTES EM PENSAMENTO E EM SUAS PRECES. SR. E SRA. CHANG
É, realmente as palavras podem piorar ainda mais as coisas. Largo o convite na minha mesa de centro e fico olhando para ele. Imagino a senhora Chang pondo os envelopes no correio da rua Jefferson, suas longas unhas vermelhas alisando a pilha de convites com seu orgulho maternal. Ouço sua voz nasalada dizendo: "Nossa alegria será infinita" e "Pedimos que estejam presentes em pensamento e em suas preces".
Vou oferecer a ela uma prece ... uma prece para que o casamento jamais aconteça. Uma prece para que chegue ao meu apartamento outra correspondência.
SR. E SRA. CHANG ANUNCIAM QUE O CASAMENTO DE SUA FILHA CHO COM O SR. HARRY POTTER NÃO SE REALIZARÁ
Essas palavras sim, posso admirar. Poucas e doces, na medida certa. "Não se realizará”. Os Chang serão obrigados a abandonar seu estilo pomposo. Quero dizer, eles não podem fornecer mais detalhes: "Lamentamos informar que o noivo está apaixonado por outra'’: ou "Infelizmente anunciamos que Harry partiu o coração da nossa querida filha". Não, essa correspondência será objetiva: papel barato, letra de forma e impressa em casa mesmo. A senhora Chang não vai querer gastar mais dinheiro ainda com papel caro e caligrafia. Posso imaginá-la no correio, não mais triunfante, recusando os selos em forma de coração; selos comuns serão bastante.
***
Já estou deitada quando Harry telefona e pergunta se pode vir me ver. Mesmo no dia em que recebo seu convite de casamento eu ainda digo "venha agora mesmo". Tenho vergonha da minha fraqueza, mas aí me lembro de todos que já fizeram as coisas mais patéticas em nome do amor. E é inegável: eu amo Harry. Mesmo que ele seja a última pessoa no mundo pela qual eu deva sentir isso, eu o amo de verdade. E ainda não desisti dele.
Enquanto espero pela sua chegada, fico pensando se devo esconder o convite ou deixá-lo sobre a mesa, bem à vista. Decido enfiá-lo entre as páginas da revista de moda. Minutos depois, abro a porta vestida com a minha camisola branca de algodão.
- Você estava dormindo? - pergunta Harry.
-Ahã.
- Bem, deixa eu levar você de volta para lá.
Vamos para a cama. Ele nos cobre.
- Você é tão macia - diz ele, acariciando meu quadril por dentro da camisola.
No começo resisto, mas depois acabo cedendo. Nossos olhos se encontram antes de ele me beijar bem lentamente. . Não importa o tamanho da minha decepção, não consigo me imaginar interrompendo esse momento.
Quase não me mexo enquanto fazemos amor. Ele fala o tempo todo, o que normalmente não acontece. Não consigo entender quase nada, mas ouço as palavras "para sempre". Ele quer ficar comigo para sempre, penso. Ele não vai se casar com Cho. Ele não pode. Ela o traiu. Eles não estão apaixonados. Ele me ama.
Enquanto fazemos amor, minhas lágrimas molham o travesseiro.
- Você está tão quieta hoje - diz ele.
- É - respondo, tentando manter a voz firme. Não quero que ele saiba que estou chorando. Meu último desejo é que Harry sinta pena de mim. Sou passiva e fraca, mas tenho algum orgulho, apesar de limitado.
- Fala comigo - diz ele. - O que está se passando na sua cabeça?
Quase pergunto do convite, dos planos dele, de nós dois, mas em vez disso falo despreocupada.
- Nada, sério ... só estava imaginando se vocês vão para os Hamptons neste fim de semana.
- Eu prometi ao Draco que iria. Ele quer jogar golfe de novo.
-Ah.
- Você não parece querer ir, não é?
- Não acho uma boa idéia.
- Por favor.
- Não, acho que não.
Ele beija minha nuca.
- Por favor, vai, por favor.
Três vezes "por favor" me convence.
- Está bem - murmuro -, eu vou.
Pego no sono odiando a mim mesma.
***
No dia seguinte Gina invade minha sala.
- Adivinha o que recebi pelo correio - o tom dela é agressivo, nada simpático. Não me ocorreu que Gina também receberia um convite. Por isso, não preparei uma defesa.
- Eu sei - digo.
- Então você tem a sua resposta.
- Ele ainda pode cancelar - argumento.
- Hermione!
- Ainda há tempo, Gi. Você deu a ele duas semanas, lembra? Ele ainda tem alguns dias.
Gina ergue as sobrancelhas e tosse com desprezo.
- Vocês têm se encontrado ultimamente?
Penso em mentir, mas não tenho forças para isso.
- Ontem à noite.
Ela arregala os olhos para mim, incrédula.
- Você disse a ele que recebeu o convite?
-Não.
- Hermione!
- Eu sei - digo, envergonhada.
- Por favor, diz para mim que você não se tornou uma dessas mulheres.
Sei o tipo ao qual ela está se referindo. Uma mulher que mantém um relacionamento com um homem casado por anos e anos, esperando, até mesmo acreditando, que um dia ele vai resolver abandonar a esposa. O rompimento está prestes a acontecer ... se ela continuar com ele, não vai se arrepender no final. Mas o tempo passa e os anos apenas criam novas desculpas. As crianças ainda estão na escola, a esposa está doente, um casamento está sendo planejado, um neto vai nascer. Há sempre um motivo uma razão para manter o status quo. Mas aí as desculpas acabam e finalmente ela aceita que ele jamais abandonará a esposa, que ela vai terminar sempre em segundo lugar. Ela passa a acreditar que o segundo lugar = melhor do que nada. Ela se rende ao destino. Começo a sentir empatia por essas mulheres, apesar de ainda não acreditar que tenha me juntado a elas.
- Não me chame assim - protesto.
Ela olha para mim como se dissesse: "É mesmo”?
- Harry não é casado.
- Você tem razão. Ele não é casado. Mas é noivo. O que pode ser pior. Ele pode mudar a situação dele assim - ela estala o dedo. – Mas não está fazendo porra nenhuma.
- Olha aqui, Gina, nós temos ainda um tempo até o casamento se concretizar... eu só posso ser umas dessas mulheres por mais um mês.
- Um mês? Você vai levar adiante essa história até o último segundo?
Olho pela janela.
- Mione, o que você está esperando?
- Quero que seja uma decisão dele. Não quero ser responsável...
- Por que não?
Dou de ombros. Se ela soubesse da traição de Cho teria um chilique.
Ela suspira.
- Você quer um conselho?
Não quero, mas aceito mesmo assim.
- Você deve acabar tudo com ele. Agora. Faça alguma coisa enquanto ainda tem escolha. Quanto mais tempo isso durar, pior você vai se sentir quando estiver parada naquela igreja, observando os dois selarem os votos matrimoniais com um beijo que Cho prolongará por mais tempo do que manda o bom gosto... Depois você vai ficar olhando eles cortarem o bolo, darem garfadas, e ela limpando o rosto dele sujo de cobertura... Em seguida vai observá-los dançando a noite toda... e então ...
- Eu sei, eu sei.
Gina não terminou.
- Vai assisti-Ios escapando noite adentro para sua lua-de-mel na porra do Havaí! - Faço uma cara de dor e digo a ela que já consegui imaginar a cena.
- Só não entendo por que você não faz alguma coisa, não força a barra.
Repito que não quero ser responsável pelo rompimento deles, que só Harry pode decidir.
- Vai ser uma decisão dele. Você não pode fazer uma lavagem cerebral nele. Mas pode lutar por aquilo que você quer. Por que você não está lutando por algo tão significante e importante?
Não tenho resposta. Pelo menos nenhuma aceitável. Meu telefone toca, interrompendo o silêncio constrangedor.
Olho para o identificador de chamadas. É o Les.
- É melhor atender - digo, sentindo-me aliviada com o fim do interrogatório. Se fiquei satisfeita em receber um telefonema de Les é porque o dia está realmente muito triste.
***
Mais tarde, dou um tempo nas minhas pesquisas e deslizo a cadeira até a janela. Fico olhando lá para baixo, para a Avenida Park, observando as pessoas enfrentarem seu dia-a-dia. Quantas delas se sentem desesperadas, eufóricas ou simplesmente mortas por dentro? Será que alguém está prestes a perder sua maior chance? Será que já perdeu? Fecho os olhos e imagino as cenas de casamento que Gina descreveu. Então, acrescento minha própria seqüência da lua-de-mel: Cho usando as lingeries novas e fazendo poses sedutoras na cama deles. Posso imaginar a cena perfeitamente.
E, de repente, de uma vez, fica claro por que não forço a barra. Por que não disse nada no Quatro de Julho, por que fiquei calada desde então, até mesmo na noite passada. Tudo tem a ver com expectativas. No fundo, duvido que Harry vá adiar o casamento e ficar comigo, não importa o que eu faça ou diga. Acredito naquelas cenas de Cho e Harry se casando e partindo para a lua-de-mel, enquanto sou deixada de lado, sozinha. Antevejo minha tristeza, meus momentos finais com Harry, se isso ainda não aconteceu.
É claro, de vez em quando imagino um final diferente, eu e Harry juntos, mas essas imagens são sempre passageiras, nunca escapam da esfera do "e se". Em resumo, não levo fé na minha própria felicidade. Por outro lado, há Cho. Ela é uma mulher superconfiante e, conseqüentemente, consegue tudo. Tem sido sempre assim. Ela ganha porque espera ganhar. Eu não espero conseguir o que quero, então não consigo. E nem mesmo tento.
***
Sábado de manhã, estamos nos Hamptons. Peguei o trem hoje bem cedo e agora estamos reunidos novamente no jardim. A proximidade é um convite ao desastre. Julian e Gina estão jogando badminton. Eles perguntam se alguém topa desafiá-Ios numa partida de duplas. Harry aceita.
Gina olha para ele séria.
- Quem você quer que seja seu par, Harry?
Até agora, Harry não sabia que eu contara para Gina sobre nós. Eu tinha duas razões para não revelar isso a ele: não queria que ele ficasse desconfortável perto dela, nem que se sentisse no direito de contar para um amigo.
Mas Gina fez seu comentário sarcástico de uma maneira que quem estivesse a par da situação simplesmente não deixaria de perceber. O que aparentemente é a condição de Julian, porque ele lança a ela um olhar de censura. Fica claro que Julian será a força que vai manter firme o relacionamento dos dois. Ela não pára por aí.
- E então, Harry? Quem vai ser? - ela coloca a mão na cintura e aponta para ele com a raquete.
Harry olha furioso para Gina. O maxilar dele trava.
- E se por acaso duas pessoas quiserem formar dupla com você. E aí? - Gina provoca.
Cho parece não perceber a tensão. Assim como Draco e Pansy. Talvez todos já estejam acostumados com o tom de confrontação que Gina adota de vez em quando. Talvez eles apenas o atribuam à advogada que existe nela.
Harry vira e olha para nós.
- Alguém de vocês quer jogar?
Draco abana a mão dispensando a oferta.
- Não, cara. Não, obrigado. Este jogo é de mulherzinha.
Cho ri.
- É, Harry. Você é um homem feminino.
Pansy recusa também, ela odeia esportes.
- Badminton nem mesmo é um esporte - diz Draco, abrindo uma lata de cerveja. - É como chamar jogo-da-velha de esporte.
- Você precisa escolher entre Cho e Hermione. Não é? – pergunta Gina. - Você quer jogar, Hermione?
Estou paralisada junto à mesa de piquenique, entre Cho e Pansy.
- Não, obrigado - digo com suavidade.
- Você quer que eu seja sua parceira, querido? - pergunta Cho.
Seu olhar cruza o jardim na direção de Harry, enquanto ela protege os olhos da luminosidade com as mãos.
- Claro - diz ele. - Então vem.
Gina bufa enquanto Cho logo pula da mesa dizendo que não joga bem badminton.
Harry olha para a grama, esperando que Cho pegue a quarta raquete e se junte a ele no espaço verde demarcado por uma fileira de chinelos e tênis.
- Jogamos até dez - diz Gina, lançando a peteca para o alto a fim de dar o primeiro saque.
- Por que você vai começar a sacar? - pergunta Harry.
- Aqui está - diz ela, jogando a peteca por cima da rede. – Faço questão.
Harry agarra a peteca e olha sério para ela.
A partida é violenta, pelo menos todas as vezes em que Gina e Harry têm o controle. A peteca é como a munição e eles rebatem com toda a força, mirando um no outro. Draco imita um comentarista esportivo:
- E o clima está tenso aqui em East Hampton, onde os dois times disputam o campeonato.
Pansy torce para todos. Eu fico calada.
O placar está 9 a 8, Gina e Julian lideram. Julian saca por baixo. Cho dá um gritinho e joga de olhos fechados conseguindo acertar a peteca por pura sorte. Ela rebate para o outro lado em direção a Gina.
Gina prepara o movimento e lança a peteca com força. A peteca voa. Zunindo bem acima da rede em direção a Cho. Cho se encolhe, pronta para rebater, quando Harry grita.
- Fora! Vai para fora! - O rosto dele está suado.
A peteca aterrissa bem ao lado do chinelo de Pansy.
- Fora! - grita Harry, enxugando a testa com as costas da mão.
- Bobagem. Foi dentro! - Gina grita de volta. - Acabou a partida!
Draco comenta conciliador que um joguinho de badminton não merece ser chamado de partida. Pansy se levanta do banco e caminheaté a peteca para verificar o alinhamento com o seu chinelo. Gina e Julian se juntam a ela. Há cinco pares de olhos sobre a peteca. Julian diz que é difícil decidir. Gina olha séria para ele antes de Harry e ela começarem a gritaria de "fóra" e "dentro", como jogadores de times rivais.
Pansy manda voltar o ponto num clima de "vamos fazer as pazes". Ela obviamente não era uma criança que brincava fora de casa porque mandar voltar o ponto é uma das maiores causas de desavenças na vizinhança.
Gina comprova.
- Bobagem - diz ela. - Nada de voltar o ponto. A peteca passou o dia inteiro caindo do lado de dentro.
- O dia inteiro? Nós estamos jogando há apenas vinte minutos - Harry diz, sarcástico.
- De qualquer forma, não acho que tenha caído na linha – Cho palpita, indiferente. Apesar de competitiva na vida real, esportes e jogos não a preocupam muito. Ela costumava comprar propriedades no Banco Imobiliário baseada no tamanho. Achava as casinhas muito mais bonitinhas do que "aqueles hotéis horríveis de tão enormes".
- Está bem. Se você quer trair as regras - diz Gina para Harry, disfarçando sua alfinetada com um sorriso amigável, como se estivesse apenas brincando. Seus olhos estão arregalados, inocentes.
Acho que vou desmaiar.
- Está bem, você venceu - diz Harry para Gina, como se não se importasse. Ela ganhou seu joguinho bobo. Gina se recusa. Ela parece desorientada, indecisa entre discutir ou saborear a vitória. Estou com medo do que ela possa dizer.
Harry joga a raquete na grama, sob uma árvore.
- Vou tomar uma chuveirada - diz, indo em direção à casa.
- Ele está puto - comenta Cho, com uma expressão ofuscante de tão óbvia. Ela acha que é por causa do jogo. - Harry detesta perder.
- É, ele sabe dar uma de bebezão - diz Gina enojada.
Percebo (com satisfação? esperança? superioridade?) que Cho não defende Harry. Se ele fosse meu noivo, eu o defenderia. É claro, se eu estivesse no lugar de Cho, Gina não teria sido tão impiedosa.
Olho firme para ela, como se dissesse "chega".
Ela dá de ombros, cai na grama e coça uma mordida de mosquito no tornozelo até sangrar. Depois, limpa o sangue com um pedacinho de grama e olha para mim novamente.
- E então? - diz ela, desafiadora.
***
Naquela noite, Harry está muito quieto, quase mal-humorado. Não sei se ele está furioso com a Gina ou comigo por ter contado a ela sobre nós.
Ele ignora nós duas. Gina também o ignora, a não ser por algumas provocações ocasionais, enquanto eu tento inutilmente falar com ele.
- O que você vai pedir? - pergunto enquanto ele examina o cardápio. Ele nem ergue o olhar.
- Não sei ainda.
- Não é novidade - resmunga Gina. - Por que você não pede dois pratos? - Julian aperta o ombro dela e me olha sem graça.
Harry se volta para Draco e faz de tudo para evitar qualquer conversa ou mesmo cruzar o olhar comigo e com Gina até o final do jantar.
Estou muito preocupada. Você está com raiva? Você está com raiva? Você está com raiva?, penso enquanto luto para comer meu peixe-espada. Por favor, não fique zangado. Estou desesperada, aflita para conversar com Harry, esclarecer tudo e aproveitar o tempo que ainda nos resta. Não quero terminar de um jeito assim tão amargo.
Mais tarde, no Talkhouse, Harry e eu ficamos finalmente sozinhos. Estou pronta para pedir desculpas por Gina quando ele olha para mim, seus olhos verdes faiscando:
- Por que diabos você contou para ela? - ele murmura.
Não sou muito bem treinada em conflitos e sua hostilidade me pega de surpresa. Olho para ele sem entender, fingindo estar confusa. Será que devo pedir desculpas? Dar alguma explicação? Sei que tínhamos um acordo tácito de manter segredo, mas eu precisava contar para alguém.
- Gina, você contou para ela - diz ele, afastando o cabelo da testa.
Ele é ainda mais atraente quando está com raiva ... seu maxilar fica de alguma forma mais quadrado.
Desprezo o comentário dele quando de repente me bate uma sensação estranha. Como ele se atreve a ficar com raiva de mim! Eu não fiz nada! Por que estou enlouquecida, desesperada para ser perdoada?
- Posso contar para quem eu quiser - digo, surpresa com a dureza da minha voz.
- Fala para ela ficar fora disso - diz Harry.
- Ficar fora do quê, Harry? Do nosso relacionamento fodido?
Ele está chocado. E depois magoado. Ótimo.
- Não é fodido - diz ele. - A situação é, mas o nosso relacionamento não.
- Você está noivo, Harry. - Minha indignação aumenta e se transforma em fúria. - Você não pode ignorar isso.
- Eu sei. Ainda estou noivo ... mas você ficou com Draco.
- O quê? - pergunto incrédula.
- Você deu um beijo nele no Aubette.
Não posso acreditar no que estou ouvindo - ele está noivo e reclama de um beijinho de nada! Rapidamente me pergunto há quanto tempo ele sabe disso e por que não disse nada até agora. Luto contra o instinto de me arrepender.
- É, eu beijei o Draco. Grande coisa.
- Para mim é grande coisa, sim. - Ele está tão perto de mim que sinto seu cheiro de álcool. - Eu odeio isso. Não faça de novo.
- Não me dê ordens - sussurro de volta bem agressiva. Lágrimas de raiva escorrem dos meus olhos. - Eu não digo a você o que fazer... Quer saber do que mais? Talvez eu devesse...Que tal: Case-se com a Cho. Eu não me importo. - Saio de perto de Harry, quase acreditando no que disse. É o meu primeiro momento de liberdade do verão. Talvez o momento mais livre da minha vida. Estou no comando. Eu decido. Vou para os fundos, sozinha entre a multidão, o coração acelerado. Minutos depois, Harry me encontra e me segura pelo cotovelo.
- Você não falou aquilo a sério ... sobre não se importar.
Agora é sua vez de ficar desesperado. Sempre me impressiono em ver como esta regra é infalível: a pessoa que se importa menos (ou que finge se importar menos) tem o poder. Mais uma vez tenho a prova. Sacudo meu braço para me desvencilhar dele e o encaro com frieza. Ele se aproxima e segura meu braço novamente.
- Sinto muito, Mione - ele sussurra, inclinando-se em direção ao meu rosto.
Resisto. Não vou amolecer.
- Estou cansada dessa espiral de emoções, Harry. O interminável ciclo de esperança, culpa e ressentimento. Estou cansada de imaginar o que vai acontecer com a gente. Estou cansada de esperar por você.
- Eu sei. Sinto muito - diz ele. - Eu te amo, Hermione.
Sinto que estou enfraquecendo. Apesar da fachada de mulher forte, tremo por estar tão perto de Harry, por causa de suas palavras. Olho no olho dele. Todos os meus instintos e desejos ... tudo me leva a fazer as pazes, a dizer a ele que eu também o amo. Mas resisto como alguém que se afoga numa correnteza. Sei o que preciso dizer. Penso nos conselhos de Gina, seus alertas para uma atitude. Mas não estou fazendo isto por ela. Isto é por mim. Formulo as frases, as palavras que estiveram martelando na minha cabeça durante todo o verão.
- Quero ficar com você, Harry - digo com firmeza. - Cancele o casamento, fique comigo.
Aí está. Depois de dois meses de espera, depois de uma vida inteira de passividade, as cartas estão na mesa. Sinto-me aliviada, liberada, modificada. Sou uma mulher que quer ser feliz. Eu mereço a felicidade. Certamente, ele vai me fazer feliz.
Harry inspira, prestes a me responder.
- Não - digo balançando a cabeça. - Por favor, não fale comigo outra vez, exceto para me dizer que o casamento foi cancelado. Nós não temos nada mais para discutir até lá.
Ficamos nos olhando fixamente. Por algum tempo, nenhum de nós pisca. E então, pela primeira vez, venço Harry no jogo de quem consegue ficar sério por mais tempo.
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Nick Granger Potter, realmente a Hermione não contar sobre a traição foi o certo, assim se o Harry escolher ficar com ela vai ser por decisão própria.
Tata, essa traição da Cho foi mesmo inesperada, mas agora chegou a hora da verdade, vamos ver no que dá.
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Beijos e comentem...
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