CAPÍTULO DEZESSEIS



Dezesseis


Beijar Draco é o que preciso para dar mais tempo a Harry. A lógica é meio complicada, mas sinto que essa pequena traição me iguala a Harry pelo menos por enquanto. Ele é noivo; eu beijei o amigo dele. Gina discorda dessa lógica. Ela está inquieta, dizendo para eu acabar logo com essa história. Chega. Já foi o suficiente.

- Só mais um pouco - argumento. - Ainda estamos em julho.

Ela olha para mim, cética.

- Ah, Gi - imploro. - A paciência é uma virtude ... Quem espera sempre alcança ... O tempo cura tudo.

- Ahã - diz ela. - Que tal "Não deixe para amanhã o que você pode fazer hoje"? Já ouviu essa?

- Vou conversar com ele logo, logo. Vou mesmo.

- Isso aí. Você realmente não pode adiar essa conversa por mais tempo. Você precisa definir tudo de uma vez por todas - diz ela. – Seguir em frente, de uma maneira ou de outra. Mione, essa coisa de ficar esperando eternamente não faz bem. Estou muito preocupada com você ...

- Eu sei. Vou falar com ele. Você deve lembrar que só estivemos juntos uma vez desde o nosso fim de semana. E isso foi tarde da noite, depois do trabalho. Ele dormiu no meu sofá.

- Bem ... - diz ela com malícia.

-Bem o quê?

- Você não acha que isso indica alguma coisa?

Sei o que ela está insinuando. Que se Harry me amasse o bastante passaria mais tempo comigo. Que perdi a empolgação inicial desde o Quatro de Julho.

- Não, na verdade não indica nada - respondo na defensiva. – O trabalho tem sido uma loucura para nós dois. Les anda agitado o tempo todo. Você sabe disso.A gente literalmente não teve tempo de se encontrar.

- Certo - diz ela. - Mas vou esperar só mais uma semana. Depois disso, não aceito nenhuma desculpa.

- Mais duas semanas - negocio.

Explico que apenas uma pessoa muito insensível cancelaria tão facilmente um noivado. Que a situação é muito mais complicada do que ela imagina. Que Harry não ficaria me enganando só para se divertir. Que no mínimo ele preza nossa amizade. Que ele também considera minha amizade com Cho. Que ele é íntegro. Que ele afirmou que me amava. E que, quando disse isso, falava sério. Falo pausadamente, tentando me convencer.

- Está bem, então - diz ela. – Duas semanas. No máximo.

Sorrio e concordo aliviada, duas semanas serão suficientes. De um jeito ou de outro.

Enquanto isso, preciso encarar um outro obstáculo: a despedida de solteira de Cho. Há séculos está marcada para o terceiro sábado de julho, mas, por razões óbvias, ainda não planejei a noite. Pansy me telefona de tarde para perguntar detalhes.

- É melhor comemorar nos Hamptons ou na cidade?

- Não sei. O que você acha?

Estou distraída, notando que minha secretária está prestes a encaminhar um fax que ainda não revisei. Se Les perceber isso, vai ficar furioso.

- Depende do que a Cho quiser - diz Pansy.

Naturalmente. Como sempre.

- Certo - respondo.

- E então? O que ela quer fazer? - pergunta Pansy insinuando que eu deveria saber disso, já que sou a madrinha.

Confesso que não sei.

- Vamos ligar para ela e descobrir - sugere Pansy com a autoridade de quem já organizou muitos eventos na época da faculdade. Ela me deixa esperando e retoma com Cho na linha.

Apresentamos a ela duas opções: Manhattan ou os Hamptons. Pansy enfatiza os prós e contras de cada lugar e garante que de qualquer maneira será a melhor despedida de solteira de todos os tempos.

Cho diz que tanto faz, as duas opções são ótimas. Ela está abatida. Alguma coisa está errada. Talvez seja o início de um problema no noivado, um atrito surgindo no relacionamento dos dois. Talvez Harry tenha contado alguma coisa para ela. Sinto uma onda de esperança, logo seguida de uma pontada de culpa. Como posso ser a causa da infelicidade da minha amiga?

- Para você tanto faz? - pergunta Pansy. - Isso é inédito.

- Vocês decidam. Para mim está bom de um jeito ou de outro.

- O que Harry vai fazer? - pergunta Pansy.

Estou imaginando a mesma coisa.

- Não tenho certeza - responde Cho. - Ele mencionou a possibilidade de ir aos Hamptons para jogar golfe.

- Bem, se ele vai para lá, então deveríamos ficar na cidade. Você não quer que ele esteja por perto na sua grande noite, quer? – pergunta Pansy.

- Não - responde Cho. - Acho que não.

Algo está definitivamente errado. Ela não parece nem um pouco animada com sua própria festa. Meu instinto de consolá-la entra em ação.

- Pansy e eu vamos organizar tudo e depois avisamos você - digo. - Que tal?

- É, está ótimo - a voz dela mostra desânimo.

- Tudo bem com você? - pergunta Pansy.

- Tudo, só estou um pouco cansada.

- Está bem, nós cuidamos disso, Cho. Vai ser uma festa maravilhosa- digo.

Nós nos despedimos e desligamos. Pansy me telefona em seguida.

- O que houve com ela? Parecia chateada.

-Não sei.

- Você acha que ela está aborrecida porque ainda não planejamos nada? Realmente fomos desleixadas - Pansy diz, transparecendo preocupação - Fico com medo só em pensar na hipótese de Cho estar com raiva da gente.

- Não, não pode ser isso. Ela sabe que já avisamos todo mundo semanas atrás ... Vão estar todos lá. Falta só definir os últimos detalhes. Vou conversar com ela - decido.

Desligo e telefono para Cho. Ela atende, abatida.

- Tem certeza de que você está bem? - pergunto, entrando em conflito comigo mesma, enquanto espero por uma resposta.

- Estou bem, apenas cansada ... Talvez um pouco pra baixo.

- Por quê? Como foi o fim de semana? - pergunto meio hesitante.

- Legal.

- Você se divertiu com o pai do Harry?

- É, ele é legal - diz ela.

- Você gostou da madrasta dele?

- Ela é legal. Mas sabe ser um pé no saco.

Os iguais se reconhecem.

- O que ela fez?

- Bem, ela não parava de reclamar do frio no teatro. Você devia ter visto como ela insistiu nisso durante todo o intervalo, mesmo depois de o pai do Harry ter cedido seu próprio casaco a ela. Harry e eu concordamos que é isso que acontece quando se usa um vestido muito decotado.

Harry e eu ... Meu estômago dói. Espero não ter que continuar ouvindo isso para sempre.

- Mas de modo geral o fim de semana foi bom? - Continuo investigando e grudo o telefone na orelha.

- É, foi legal.

- Então por que você está pra baixo?

- Oh, eu não sei. Acho que é apenas TPM. Vou ficar numa boa.

Em outras épocas eu me esforçaria para tirar Cho desse baixo-astral, encontraria um modo de animá-la, mas em vez disso digo apenas:

- Bem, preciso desligar. Tenho de tomar algumas providências para uma festa.
Ela ri.

- É. Realmente. Vê se capricha.

- Está bem - respondo.

Mas sei que vou deixar Pansy tomar a frente na organização de tudo. Ela ficará feliz em armar essa despedida de solteira. Sei que ela acredita que é mais importante para Cho, que seria a madrinha do casamento se eu não conhecesse Cho há mais tempo. Ela provavelmente tem razão. O que Cho e eu temos de mais significativo em comum é o passado.

O passado e Harry.

***

O restante da semana passa muito rápido. Não vejo Harry, mas apenas porque ele está em Dallas, numa viagem de trabalho. Tento convencer Gina a estender o prazo por três dias, pois enquanto estiver no Texas ele não pode tomar nenhuma decisão (apesar de termos gastado mais de quatro horas em telefonemas). Gina diz que ele devia aproveitar a distância para reavaliar seus sentimentos e estabelecer um plano. Afirmo que é isso o que ele está fazendo.

Na sexta-feira de manhã, apenas algumas horas depois de voltar para Nova York, Harry telefona me convidando para almoçar antes de ir aos Hamptons. Combinamos de nos encontrar num café próximo ao meu apartamento para evitar as multidões da hora do almoço no centro de Manhattan. Fico nervosa quando pego o metrô. Não o vejo há mais de uma semana - desde que beijei Draco. Sei que beijar Draco não foi um acontecimento significativo (para ele também não, já que mal nos falamos desde esse dia), mas me sinto estranha quando dou um beijo em Harry. Não exatamente culpada, apenas hesitante.

- Senti tanta saudade de você - diz ele, balançando a cabeça. – Tive esperanças de que você voaria até Dallas para me fazer uma surpresa.

Rio, porque essa idéia realmente me passou pela cabeça.

- Também tive muita saudade de você - digo, me sentindo confortável. Ficamos na esquina, sorrindo feito loucos, antes de entrar no café.

O lugar está lotado, um pretexto para tocarmos um no outro. Os dedos dele tocam os meus de leve, encostamos nossas pernas, a mão dele se apóia nas minhas costas enquanto ele me conduz pela fila. Estou muito feliz perto de Harry, muito distraída para fazer o pedido. Deixamos três pessoas passarem na nossa frente antes de escolhermos sanduíches de salada para viagem. Pagamos pela comida e pelos dois chás de limão, depois caminhamos em ritmo acelerado para o meu apartamento. Digo a mim mesma que devo manter o controle quando estivermos finalmente sozinhos. Eu realmente preciso falar com ele sobre Cho antes da despedida de solteira. Preciso falar enquanto comemos nossos sanduíches. A não ser, é claro, que ele comece a conversa.

No exato momento em que nos aproximamos do meu prédio, dou de cara com Pansy vindo em nossa direção, a meio quarteirão de distância.

Ouço Harry praguejar com a boca entreaberta, assim como percebo um olhar de incompreensão no rosto de Pansy. Não há tempo para inventar uma história. Cinco passos depois ela está na nossa frente. Um tremendo flagra.

- Oi, Pansy! - diz Harry com vigor.

- O que vocês dois estão fazendo aqui? - ela passa sua bolsa Prada cor de mostarda de um ombro para o outro e sorri intrigada.

Rio, nervosa.

- O que você está fazendo aqui? -pergunto.

Trata-se de uma tentativa fajuta de ganhar tempo. Estou sob uma pressão terrível, um desastre. Não deveria ser advogada, pelo menos não do tipo que trava embates num tribunal. Prefiro minhas grandes caixas de documentos em salas de reuniões com ar-condicionado.

- Saí do trabalho mais cedo para me preparar para a festa amanhã. Estava comprando um papel de presente e um cartão para Cho. – Ela vê nossas sacolas. Estou segurando as bebidas, Harry os sanduíches. Vocês vão almoçar?

- Não - Harry responde. Ele está perfeitamente controlado. - Bem, nós acabamos de comprar comida. Mas estou indo para o meu carro ... Vou para os Hamptons.

- Oh - diz Pansy, sem parecer satisfeita. Por sorte, ela continua olhando para Harry.

Levo mais fé nele do que em mim.

- Vim deixar uma coisa para Hermione entregar a Cho – explica Harry.

Ela inclina sua cabeça para o lado.

- O quê?

Acho que ela não suspeita de nada. Ela simplesmente não percebe que o que estamos fazendo não é da conta dela. Ao seu ver, ela faz parte do círculo íntimo de amizades de Cho, e por isso tem direito a saber tudo que diga respeito à amiga. E isso certamente inclui Harry e eu.

- Um bilhete - responde Harry. – Uma coisinha que quero entregar a Cho antes de sua noitada.

- Ah - Pansy sorri, sem ao menos imaginar por que Harry simplesmente não deixou o bilhete no apartamento deles por que ele precisaria me designar como mensageira. - Bem, vai ser mesmo o maior festão. Pode apostar.

- Imagino ... - diz Harry.

- E então, Hermione? Você também vai matar o trabalho hoje à tarde?

Eu gaguejo, hesito e digo não, sim, não tenho certeza, talvez.

- Ah, manda tudo pro espaço. Aproveita pra me ajudar a tomar as últimas providências para a festa. Estou a caminho de uma loja de roupas íntimas para pegar umas coisinhas extras - diz ela. Nós decidimos fazer da noite de amanhã uma mistura de festival de lingerie e despedida de solteira. - Por favor, vem comigo?

- Está bem. Só preciso dar uma subidinha, trocar de roupa e telefonar. Encontro você daqui a 15 minutos?

- Ótimo! - responde Pansy.

Espero que ela saia primeiro, torcendo para ter ainda um tempinho sozinha com Harry, mas ela está grudada na calçada. Depois de alguns segundos, Harry desiste e se despede da gente. Tenho cuidado de não olhar para ele enquanto vai embora.

- Então combinado - digo a Pansy. - Encontro você daqui a pouco.

Caminho para casa em pânico, me convencendo de que está tudo bem, de que Pansy não suspeita de uma traição tão cruel. Harry me liga assim que entro no apartamento. Atendo o telefone, minhas mãos trêmulas.

- Ei - diz Harry. - Dá para acreditar nisso?

- Oh, meu Deus - lamento. - Parece que vou desmaiar. Onde você está?

- Virando a esquina ... Acha que ficou tudo bem?

- Espero que sim - digo, sentindo minha pulsação voltar ao normal.

- Você se saiu bem ... Como conseguiu inventar aquela desculpa tão rápido?

- Não sei. Ela engoliu, não foi?

- Parece que sim ... E o bilhete?

- Estou escrevendo um agora ... Droga, nem sei o que escrever. Isto é ridículo ... Vou subir, está bem?

Digo que não é uma boa idéia, tenho de me encontrar com Pansy.

Ele suspira.

- Queria passar um tempo com você. Será que você não consegue se livrar dela?

Sinto que vou ceder.

- Você não acha que pode parecer estranho se eu der um bolo nela?

- Ah, vamos lá, só por alguns minutos.

- Está bem - digo. - Sobe, mas só para me dar o bilhete. Depois eu realmente tenho de ir me encontrar com ela.

Ele chega ao meu apartamento alguns minutos depois e me entrega o sanduíche e o bilhete dobrado. Coloco os dois na mesa de centro, perto das bebidas. Sentamos no sofá.

- Incrível como é fácil esbarrar em alguém conhecido nesta cidade, não é? - pergunto.

- É, é mesmo - diz ele, segurando minha mão. Ele tenta me beijar, mas ainda estou muito abalada para retribuir. Não consigo relaxar. É como se Pansy ainda estivesse com a gente.

- Tenho mesmo de ir - digo, furiosa por Pansy ter arruinado a chance de termos nossa grande conversa, mas ao mesmo tempo aliviada.

Ele me beija enquanto tira meu terninho e massageia meu ombro.

- Harry!

-O quê?

- Tenho de ir.

- Só um minuto.

- Não. Agora.

Mas quando ele acaricia meu pescoço, esqueço Pansy. Em pouco tempo estamos fazendo amor.

Meu celular toca. Dou um salto.

- Merda. Deve ser Pansy. Eu realmente tenho de ir - digo, sentando.

- Mas eu queria conversar sobre este fim de semana - diz ele.

- O que é que tem? - pergunto, evitando seu olhar enquanto abotôo a camisa.

- Bem ... sinto muito pela despedida de solteira e tudo o mais ...

Eu o interrompo.

- Eu sei, Harry.

- Preciso tomar uma providência logo. Simplesmente ainda não tive um momento livre. Ainda não tive uma chance ... mas quero que você saiba que penso sobre isso, e sobre você, o tempo todo. Quero dizer, o tempo todo ... - sua expressão é sincera, torturada. Ele espera que eu fale.

Esta é a minha deixa. As palavras vêm na minha cabeça. Estão na ponta da língua, mas eu me calo, ponderando que este não é o melhor momento. Não temos tempo para uma conversa de verdade. Não sou covarde, sou apenas paciente. Quero esperar a hora certa para discutir a ruína da minha melhor amiga. Então sugiro um acordo.

- Eu sei, Harry - repito. - Vamos conversar na semana que vem, está bem?

Ele concorda meio melancólico e me abraça com força.

Depois que ele vai embora, telefono para Pansy e digo que fiquei presa numa ligação de trabalho e que já estou a caminho. Acabo de me vestir, bebo meu chá gelado e coloco o sanduíche na geladeira. Vou para a porta e olho o bilhete dobrado. Não consigo resistir. Volto, desdobro e leio:

CHO,
SÓ QUERIA QUE VOCÊ RECEBESSE ALGUMA COISA MINHA ANTES DA SUA NOITADA.
ESPERO QUE VOCÊ SE DIVIRTA COM AS SUAS AMIGAS.
COM AMOR, HARRY

Por que ele tinha de incluir a palavra "amor"? Meu consolo é que ela não acabou de fazer amor com ele e que vamos conversar na semana que vem, ainda dentro do prazo estabelecido por Gina. Então, corro para encontrar Pansy e ajudá-la a preparar o grande fim de semana de Cho.

A situação está completamente fora de controle, aquelas histórias que só acontecem com os outros. Nunca com a gente.

***

O misto de festival de lingerie e despedida de solteira é uma agonia do
início ao fim, por razões óbvias e também porque não tenho nada em comum com as amigas de trabalho da Cho, todas materialistas, superficiais, umas vadias egocêntricas. Pansy é a melhor do lote, o que é assustador. Me convenço a sorrir e engolir. É apenas por uma noite.

Primeiro nos encontramos na casa de Pansy, para dar a lingerie a Cho, um arsenal incomparável de rendas pretas e sedas vermelhas. Se ela resolver usar qualquer uma dessas peças antes do casamento, especialmente a cinta-liga com a meia arrastão, estou ferrada, a menos que ela use apenas o meu presente: uma camisola comprida, cor de marfim, com um decote quase inexistente. É como se essa camisola gritasse "sou uma virgem inocente", ao contrário dos outros presentes sensuais, que gritam "me joga na cama e me enche de amor". Cho finge que gosta do meu presente, enquanto percebo uma troca de olhares maliciosos entre Pansy e Jocelyn, uma amiga da Cho que é sósia da Uma Thurman.

Paranóica, acredito que Pansy suspeita de tudo e está contando para Jocelyn. Mas logo percebo os cochichos: Hermione, a amiga antiquada de Cho ataca novamente. Como ela pode ser a madrinha se não sabe nem escolher uma lingerie?

Depois do festival de lingerie vamos de táxi para a Churrascaria Plataforma,
um restaurante brasileiro de rodízio de carnes perto dos teatros. Ali os garçons servem intermináveis porções de carne. Trata-se de uma escolha intrigante para um bando de mulheres magérrimas, metade das quais é vegetariana e sobrevive à base de aipo e cigarro. Nosso grupo desfila orgulhoso, atraindo os olhares da clientela predominantemente masculina.

Depois de uma dolorosa rodada de coquetéis caríssimos (debitados do meu cartão de crédito), somos encaminhadas a uma mesa comprida, no centro do restaurante, onde as meninas continuam a provocar o ambiente, fingindo ignorar os olhares que vêm de todas as direções.

Observo perto de nós um grupo de mulheres em trajes sóbrios olhando para a gente com uma estranha mistura de inveja e condescendência. Aposto que até o fim da noite elas vão reclamar com o garçom que a nossa mesa está muito barulhenta. Ele vai pedir educadamente para falarmos mais baixo. Então as amigas de Cho vão ficar ofendidas e chamar as mulheres de um bando de gordas fracassadas. Estou sentada na mesa errada, penso, Cho ao meu lado. Ela ainda está usando um pequeno véu feito com as fitas e laços dos seus presentes, feliz em ser a garota mais sensual numa mesa cheia de mulheres bonitas. Isto é, tirando eu. Finjo me importar com a conversa inconsistente, enquanto bebo minha sangria e sorrio o tempo todo.

Depois do jantar seguimos para uma boate em Midtown com cordas de veludo e seguranças arrogantes organizando as filas. Obviamente estamos numa lista VIP, uma gentileza de Pansy, e ultrapassamos a longa fila de "ninguéns" (descrição da Cho). A noite segue a mesmice boba da típica despedida de solteira de uma pessoa de vinte e poucos anos. O que seria razoável, imagino, exceto pela maioria de nós ter passado dessa idade. Estamos velhas demais para os gritinhos, as doses de bebida e a dança selvagem com qualquer cara atrevido (ou autodestrutivo) o bastante para se aproximar do nosso grupo de nove mulheres. E Cho é velha demais para cumprir a lista de tarefas preparada por Pansy: encontrar um cara ruivo que lhe pague um drinque chamado sex on the Beach, dançar com um cinqüentão (imagine aquele tipo que ainda freqüenta clubes noturnos), beijar um cara tatuado ou com um piercing.

Todo o evento é exagerado, cafona e espalhafatoso, mas Cho brilha. Ela está na pista de dança, cintilando, seu cabelo fica um pouco encaracolado por causa da transpiração. Sua barriga malhada se revela entre a calça de cintura baixa e o top sem mangas. Seu rosto está rosado pelo suor. Todos querem falar com a noivinha. Solteiras perguntam ansiosas pelo vestido, e mais de um cara alerta que ela deve pensar duas vezes antes de se casar, ou, no mínimo, ter ainda uma última aventura. Danço por ali, fazendo hora.

Quando a noite finalmente termina, estou exausta, sóbria e quinhentos dólares mais pobre. Quando saímos da boate, Cho diz que quer dormir na minha casa, só nós duas, como nos velhos tempos. Ela está tão entusiasmada que não posso recusar. Sorrio. Ela sussurra no meu ouvido sua intenção de dispensar Pansy, porque não será a mesma coisa se ela for junto. Isso me lembra os tempos do segundo grau, de como Cho decidia quem ela queria incluir e excluir. Lila e eu raramente opinávamos e muitas vezes não conseguíamos entender por que alguém era incluído ou não.

Chamamos um táxi enquanto Cho se despede de Pansy, dizendo que a noite foi um sucesso. Depois, falando bem alto e me dando uma cutucada:

- Por que a gente não racha um táxi? Deixo você primeiro. - Concordo e saímos em direção ao meu apartamento.

José está de serviço. Ele fica feliz em ver Cho, que sempre dá bola para ele.

- Por onde cê tem andado, garota? - pergunta ele. - Você num me visita mais.

- Estou organizando meu casamento - diz ela jogando charme. Aponta para o véu que agora está todo amassado, como se fosse precioso.

- Ah, não. Diz que é mentira! Você vai se casar? - Trinco meus dentes e chamo o elevador.

- É - diz ela, inclinando a cabeça. - Você acha que eu não deveria?

José ri, mostrando todos os dentes.

- Droga, não. Não faça isso! - Até mesmo o meu porteiro deseja Cho. - Dispensa esse cara - diz ele.

Com certeza ele não juntou as peças deste quebra-cabeça. Cho segura a mão de José, rodopia e termina o movimento com uma batida de quadril contra quadril.

- Vamos lá, Cho - digo, já dentro do elevador, segurando a porta.

- Estou cansada.

Ela rodopia mais uma vez e depois entra no elevador.

Na subida, acena e joga beijinhos para a câmera de segurança, para o caso de José estar observando.

Quando entramos no apartamento, tiro o volume da secretária eletrônica e desligo meu telefone celular para o caso de Harry resolver telefonar. Então visto um short e uma camiseta e empresto uma roupa para Cho.

- Será que posso usar sua velha camiseta da escola? Assim vou ter uma sensação de velhos tempos.

Digo que botei para lavar e que ela vai ter de se virar com a minha camiseta" 1989 Indy 500". Ela aceita, já que não tem jeito.

Escovo os dentes, passo o fio dental e lavo meu rosto enquanto ela fica sentada na beira da cama e fala sobre a despedida de solteira, de como se divertiu. Trocamos de lugar. Cho lava o rosto e pergunta se pode usar minha escova de dentes. Concordo, apesar de achar repulsivo compartilhar escova de dentes seja lá com quem for. Até mesmo o Harry. Tudo bem, talvez não o Harry, mas qualquer outra pessoa. Com a boca cheia de pasta, ela fala que não está bêbada, nem mesmo alta, o que é surpreendente, considerando a quantidade de álcool que consumimos. Deve ser por causa de toda a carne que a gente comeu. Ela cospe na pia.

- Eca. Nem me lembre disso. Devo ter engordado mais de dois quilos esta noite.

- Imagina. Você queimou tudo dançando e suando.

- Tem razão! - ela bochecha, espalhando água para todos os lados antes de sair do banheiro.

- Você já está pronta para dormir? - pergunto, enxugando a água que ela derramou.

Ela olha para mim completamente despreocupada.

- Não, quero ficar acordada e conversar.

- Será que a gente pode pelo menos conversar na cama?

- Com a luz acesa. Se não você vai cair no sono.

- Está bem - concordo.

Vamos para a cama. Graças a Deus troquei os lençóis hoje de manhã. Olhamos uma para a outra, nossos joelhos flexionados se tocam.

- O que devemos falar primeiro? - pergunta ela.

- Você escolhe.

Esperava conversas sobre o casamento, mas em vez disso ela dispara uma longa sessão de fofocas sobre as meninas da festa, suas roupas, o novo corte de cabelo de Tracy, a luta de Jocelyn para superar a bulimia, a mania de Pansy de ficar citando nomes.

Falamos da ausência de Gina. É claro, Cho ficou indignada.

- Mesmo apaixonada, ela devia ter deixado o Julian pelo menos por uma noite. É claro, não pude dizer que a verdadeira razão do boicote de Gina não tinha nada a ver com seu novo namorado.

Então chegamos ao Rony. Ela quer saber se ele é gay. Ela está sempre especulando, apresentando pequenas evidências inconsistentes: ele brincava
com as meninas no primário, estudava economia doméstica no segundo grau em vez de noções de mecânica, tem várias amigas mulheres, se veste bem, e desde Fleur não namorou mais ninguém. Digo que não, que tenho quase certeza de que ele não é gay.

- Como você sabe?

- Só não acho que ele seja.

- Não há nada de errado se ele for – diz Cho.

- Eu sei disso, Cho. Eu só não acho que ele seja gay.

- Bissexual.

-Não.

- Então você realmente não acha que ele já transou com outro cara?

- Não - respondo.

- Também tenho dificuldade em imaginar Rony tocando o pênis de outro cara.

- Chega - digo.

- Está bem. Tudo bem. Qual é a sua última impressão sobre Draco?

- Ando mais interessada nele do que antes - respondo, só para garantir que ela não tenha uma mínima intuição dos meus sentimentos por Harry.

- É mesmo? Desde quando?

- Dei um beijo nele no sábado à noite - digo e imediatamente me arrependo. Ela vai contar ao Harry.

- Sério? Pensei que você tivesse saído com Gina e Julian no sábado à noite.

- Eu saí. Mas encontrei Draco depois ... para alguns drinques. Não foi grande coisa, sério.

- Depois você foi para a casa dele?

- Não. Não mesmo.

- Então, onde foi que você deu um beijo nele?

-Num bar.

- E isso foi tudo? Vocês só se beijaram?

- É. O que você está pensando? Que nós transamos num bar? Nossa.

- Bem, isso é interessante ... pensei que as coisas tinham esfriado entre vocês dois. Então você consegue se imaginar casando com ele?

Rio. Isso é típico de Cho ... transformar um fiapo de informação numa grande viagem.

- Por que você está rindo? Ele não é "casável"?

- Não sei. Talvez... Agora será que a gente pode, por favor, apagar a luz? Os meus olhos estão doendo.

Ela concorda, mas me lança um olhar ameaçador insinuando que ainda não é hora de dormir.

Desligo a lâmpada da minha cabeceira e logo que ficamos no escuro ela fala sobre Harry e o bilhete. Ela foi bem indiferente quando recebeu o papel no começo da noite, mas agora diz que foi atencioso da parte dele.

- Hum - respondo.

Segue um longo silêncio. Então ela diz.

- As coisas têm estado meio estranhas com a gente ultimamente.

Meu coração dispara. -É mesmo?

- A gente não transa há um tempão.

- Quanto tempo? - pergunto, cruzando os dedos embaixo dos lençóis.

Ela me dá a resposta que quero ouvir: desde antes do Quatro de Julho.

- É mesmo? - as palmas das minhas mãos estão suadas.

- É. Isso é um mau sinal?

- Não sei... Com que freqüência vocês costumavam transar antes? - pergunto, satisfeita por estarmos no escuro.

- Antes disso?

Antes de ele me dizer que me amava.

- Antes do Quatro de Julho.

- Variava, mas quando as coisas estavam bem a gente transava todos os dias. Às vezes duas vezes por dia.

Tento afastar essas imagens revoltantes da minha cabeça, tentando encontrar algo para dizer.

- Talvez seja a pressão do casamento?

- É... - responde ela.

E talvez seja porque ele está tendo um caso comigo. Sinto uma pontada de culpa dez vezes maior quando ela muda de assunto e pergunta do nada:

- Você acredita que a gente já seja amiga há tanto tempo assim?

- É, há um tempão.

- Pensa só em quantas vezes dormimos uma na casa da outra. Quantas vezes você acha que isso aconteceu? Não sou boa com contas. Talvez umas mil vezes?

- Provavelmente algo em torno disso - respondo.

- Fazia tempo que a gente não dormia juntas - diz ela.

Meus olhos já se acostumaram com o escuro, então agora posso vê-la vagamente. Com seu rosto recém-lavado e seu cabelo preso num rabo-de-cavalo,
ela parece uma adolescente. Nós poderíamos estar na cama dela, de volta aos tempos de escola, dando risadinhas e cochichando, com Lila roncando levemente ao lado da cama em seu saco de dormir do Garfield. Cho sempre deixava Lila pegar no sono. Acho que ela quase desejava que Lila dormisse. Eu pelo menos sei que às vezes desejava.

- Você quer jogar "Vinte perguntas"? - proponho. Era uma das nossas brincadeiras favoritas.

- Tudo bem. Você começa.

- Está bem. Tenho uma.

- As mesmas regras?

- As mesmas regras.

As regras eram simples: você deve escolher alguém que ambas conheçam
pessoalmente (não vale celebridade, morta ou viva) e depois o outro tem de adivinhar quem é fazendo perguntas a serem respondidas com sim ou não.

- Do segundo grau? - pergunta ela.

-Sim.

-Homem?

-Não.

- Da nossa turma de formatura?

-Não.

- De uma sala acima ou abaixo da gente?

- Aí já são duas perguntas.

- Não, é uma pergunta composta - diz ela. - Se a resposta for sim. eu ainda tenho que subdividir e usar uma outra pergunta. Lembra?

- Está certo. Você tem razão - respondo, lembrando dessa nuance. - A resposta é não.

-Aluna?

- Não. Já está na pergunta cinco. Faltam 15.

Cho fica impaciente, ela também está contando.

- Alguma das nossas professoras?

- Não - digo, seis dedos escondidos embaixo das cobertas. Cho era famosa por "errar nas contas" durante o jogo.

- Uma professora que você teve?

-Não.

- Uma professora que eu tive?

-Não.

- Orientadora?

-Não.

- A diretora?

- Essa foi a décima. Não.

- Alguma outra funcionária?

-Sim.

- Zeladora?

-Não.

- Inspetora?

- Não - sorrio, lembrando da vez que a inspetora flagrou Cho e Miguel indo para um fast-food na hora do almoço. Enquanto a inspetora os conduzia à sala da diretora, Cho disse para ela arranjar um trabalho de verdade: "Quantos anos você tem? Trinta? Você não acha que já está mais do que na hora de sair do segundo grau?" O comentário rendeu a ela duas advertências adicionais.

- Ah! Acho que descobri! - ela começa a rir sem parar. - Ela é por acaso responsável pelo lanche?

Rio.

-Ahã.

-É a June.

- Isso! Você acertou.

June foi um símbolo do segundo grau. Ela tinha uns oitenta anos, 1,20m de altura e era muito enrugada por ter fumado por muito tempo. E o principal motivo de sua fama foi ter deixado cair uma unha postiça na lasanha de Tommy Baxter. Todo cheio de formalidades, Tommy entrou de novo na fila e devolveu a unha para June.

- Acho que você perdeu isso aqui, June, não foi?

June abriu um sorriso, limpou o molho e o queijo da unha e a grudou de volta no dedo. Todo mundo comemorou, bateu palmas e cantou:

- Dá-lhe, dá-lhe, dá-lhe Ju-ne! Dá-lhe, dá-lhe, dá-lhe Ju-ne!

Além de recolocar a unha, não sei o que mais ela fez para merecer o respeito dos alunos. Na verdade algum aluno entre os mais populares simplesmente decidiu que era bacana gostar de June. Talvez tenha até sido a Cho. Ela tinha esse tipo de poder.

Cho ri.

- A boa e velha June! Será que ela já morreu?

- Não, certamente ela ainda está lá, perguntando às crianças com sua voz rouca se elas querem molho de tomate ou à bolonhesa no rigatoni.

Quando finalmente pára de rir, ela diz:

-Ah, isto aqui está igualzinho àquelas vezes em que dormíamos uma na casa da outra, há muito tempo.

- É, parece - digo, enquanto uma onda de afeto por Cho toma conta de mim.

-. A gente se divertiu na infância, não foi?

- É, é verdade.

Cho começa a rir novamente.

- O que foi? - pergunto.

- Você lembra de quando dormimos na casa da Lila e enforcamos as Barbies da irmã dela?

Caio na gargalhada lembrando das Barbies, enforcadas com barbante e penduradas no vão da porta. A irmã da Lila chorou e reclamou histericamente com os pais, que logo combinaram com nossos pais a punição adequada. Ficamos uma semana sem brincar. O que no verão representava bastante tempo.

- Agora, pensando melhor, acho que realmente foi meio doentio - digo.

- É mesmo. E você lembra de como Lila não parava de dizer que não tinha sido idéia dela?

- É, nada era idéia dela, nunca - digo.

- Nós é que sempre tínhamos idéias originais. Ela era uma tremenda
maria-vai-com-as-outras.

- É- concordo.

Estou silenciosa, pensando na nossa infância. Lembro do dia em que fomos deixadas no shopping com nossas reles economias da sexta série e saímos correndo para comprar nossos colares de "melhor amiga", um coração partido com dizeres em cada uma das partes, cada lado pendurado numa corrente folheada a ouro.

Cho ficou com a metade "Mel Am" e eu com a "hor iga". É claro, ficamos tão preocupadas com os sentimentos de Lila que só usávamos os colares secretamente, sob nossas golas rulê, ou na cama, à noite. Mas ainda me lembro da emoção de enfiar a metade do coração dentro da camisa, contra a minha pele. Tinha uma melhor amiga. Havia tanta segurança nisso, um senso tão grande de identidade e de pertencimento.

Ainda guardo o colar na minha caixa de jóias. A placa dourada ficou esverdeada pelo uso e pelo tempo e também está manchada por algo que não pode ser removido. De repente sou tomada por uma profunda tristeza por essas duas menininhas. Pelo que agora não existe mais entre elas. Pelo que talvez nunca seja recuperado, independente de Harry.

- Fala mais - pede Cho com doçura. Não há vestígio daquela futura noiva egoísta e arrogante que passou a me inspirar indignação e até mesmo desgosto. - Por favor, não dorme ainda não. Nós nunca mais ficamos assim juntas. Eu sinto saudade disso.

- Eu também - digo, e estou falando sério.

Pergunto se ela se lembra do nosso colar de "melhor amiga".

- Lembro. Mas como foi mesmo? - ela diz de um jeito charmoso.

Cho adora ouvir meus relatos nostálgicos, sempre elogiando a minha boa memória. Conto a ela a história do colar, na versão mais longa possível. Depois que acabo, sussurro:

- Você já dormiu?

Nenhuma resposta.

Enquanto escuto Cho respirando no escuro ao meu lado, fico imaginando
como chegamos a este ponto. Como pudemos nos apaixonar pela mesma pessoa? Como pude sabotar o noivado da minha melhor amiga? Nos últimos segundos antes de pegar no sono, desejo voltar atrás e desfazer tudo, presentear essas menininhas com uma nova chance.


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PAULA POTTER***Lokinha*** faz bastante tempo que eu li esse livro, + sempre pensei que seria uma boa fic, vou continuar com certeza.

Victoria Vasconcelos, tive um problema na hora de postar o cap 13 e 14, e na hora não deu tempo de consertar.

Cordy W. Malfoy o que acontece é que a Hermione tem medo de pressionar o Harry e ficar sem ele... já o Harry tá muito confuso... tem um relacionamento de muitos anos e está comprometido até o pescoço... difícil resolver essa situação...

Jéssy Nefertari realmente não há quem não se apaixone por esse casal, apesar das circunstanciais... eles têm química.
Se por um lado a Hermione errou ao escolher a melhor amiga, seus outros amigos compensam, o Rony e a Gina são maravilhosos....

Tata esses dois vão enrolar bastante tempo pra ter uma conversa definitiva, + não se preocupe, uma hora a Mione chuta o balde...

Nick Granger Potter nessa situação os dois estão bem enroscados, + com certeza o Harry é o único que pode arrumar as coisas.

Cordy W. Malfoy a Mione tá muito apaixonada pelo Harry, então o Draco tá sem muita chance com ela...

Obrigada pelos comentarios e beijos

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