CAPÍTULO QUATRO
Quatro
Estamos a apenas alguns dias do começo oficial do verão e Cho não fala de outra coisa que não seja os Hamptons. Ela telefona e me manda e-mails o tempo todo, encaminhando informações sobre festas no feriado do Memorial Day, reservas em restaurantes e lojas com vendas especiais de peças usadas em desfiles ou mostruários, onde nós certamente vamos achar as roupas mais bonitas do verão. É claro, estou absolutamente em pânico com tudo isso. Como nos últimos quatro verões, vou ficar numa casa com Cho e Harry. Este ano também vão com a gente Draco, Pansy e Gina.
- Você acha que deveríamos ter alugado por toda a temporada? - pergunta Cho pela vigésima vez. Nunca conheci alguém que refletisse tanto sobre decisões já tomadas. Ela se arrepende das compras que faz até quando sai de uma sorveteria.
- Não, meia temporada é o suficiente. Você acaba não usando toda a temporada - digo, o telefone enfiado entre a orelha e o ombro, enquanto sigo revisando meu memorando que resume a diferença entre a regulamentação de seguro suplementar na Flórida e em Nova York.
- Você está digitando? - indaga Cho, sempre esperando receber atenção total.
- Não - minto, digitando ainda mais silenciosamente.
- É melhor que não esteja ...
- Não estou.
- Bem, acho que você tem razão, meia temporada é melhor ... E, de qualquer jeito, nós temos muitas providências a tomar para o casamento aqui na cidade.
O casamento é o único assunto que desejo evitar mais do que os Hamptons.
- Ahã.
- E então? Você vai de carro com a gente ou vai pegar o trem?
- O trem. Não sei se vou conseguir sair daqui num horário decente - digo, pensando que não quero ficar presa dentro de um carro com ela e Harry. Não vejo Harry desde que ele saiu do meu apartamento. Não vejo Cho desde a traição.
- É mesmo? Porque eu estava pensando que nós definitivamente, definitivamente devemos ir dirigindo ... Não seria melhor estar de carro no primeiro fim de semana fora? Sabe como é, especialmente porque vai ser um fim de semana prolongado. Não queremos ficar dependendo de táxis e coisas do tipo ... Ah, vai, vem de carro com a gente!
- Vamos ver - respondo, como uma mãe que diz a uma criança para mudar de assunto.
- Nada de "vamos ver". Você vem com a gente.
Suspiro e digo a ela que realmente preciso voltar ao trabalho.
- Certo, certo. Vou deixar você fazer o seu "oh, tão importante" trabalho... E aí? Nosso programa de hoje à noite está de pé?
- O que tem hoje à noite?
- Alô? Senhorita Esquecidinha. Nem venha me dizer que precisa trabalhar até tarde. Você prometeu. Biquínis? Isso te faz lembrar de alguma coisa?
- Está bem - respondo. Tinha esquecido completamente da minha promessa de sair para comprar biquínis com ela. Uma das tarefas mais desagradáveis do mundo. Bem lá no alto da lista, ao lado de limpar banheiros e fazer tratamento de canal. - Ah, claro. Vamos sim.
- Ótimo. Encontro você no balcão do iogurte no subsolo da Bloornie' s. Você sabe, perto das roupas para mulheres gordas. Às 19h em ponto.
Chego à estação da rua 59 com 15 minutos de atraso e corro nervosa até o subsolo da Bloomingdale's, imaginando que àquela altura Cho já estaria fazendo beicinho. Não estou muito a fim de ficar me esforçando para acabar com um dos seus momentos de mau humor. Mas ela parece satisfeita, sentada no balcão com um copinho de sorvete de iogurte de morango. Ela sorri e acena para mim. Respiro fundo me lembrando de que não há nenhuma letra escarlate no meu peito.
- Oi, Cho.
- Ei, você chegou! Oh, meu Deus! Vou ficar tão gorda para experimentar biquínis! Ela aponta para o estômago com sua colher de plástico. - Paciência, estou acostumada a ser cheinha.
Reviro os olhos.
- Você não é gorda.
Todos os anos a gente conversa sobre a mesma coisa quando chega a época de usar biquínis. Que inferno, a gente fala nisso quase todos os dias. O peso da Cho é uma fonte constante de energia e discussão. Ela me diz o quanto está pesando: sempre algo em torno de 57 quilos, sempre gorda demais para seus rigorosos padrões. Seu objetivo é chegar aos 54 - o que insisto que é muito pouco para quem mede 1,74m. Ela me manda um e-mail enquanto come um saco de batata frita: "Faça eu parar! Socorro! Liga pra mim assim que puder!" Ligo de volta e ela pergunta:
- Quinze gramas de gordura é muito?
Ou então:
- Uma libra corresponde a quantos gramas?
O que me irrita, entretanto, é que ela é sete centímetros mais alta do que eu, mas três quilos mais magra. Quando comento isso, ela diz: "É verdade, mas os seus peitos são muito maiores." Então eu respondo: "Não três quilos maiores." Ao que ela retruca: ''Ainda assim, você fica ótima do jeito que está." Sempre sobra pra mim.
Estou longe de ser gorda, mas quando Cho me usa como parâmetro nesse assunto é como se eu fosse reclamar para uma mulher cega que tenho de usar lentes de contato.
- Estou tão gorda. Estou sim, completamente! E eu comi na hora do almoço. Enfim, seja lá o que for. Desde que eu não fique gorda como uma vaca no meu vestido de casamento ... - diz, dando sua última colherada no sorvete e jogando o copinho no lixo. - Só preciso que você me diga que tenho tempo de perder peso antes do casamento.
- Você tem tempo suficiente - digo a ela.
E eu tenho tempo suficiente antes do casamento para parar de pensar que fui para a cama com o seu futuro marido.
- Preciso me controlar, sabe como é, do contrário vou ter de vir fazer compras aqui. - Cho aponta para a seção de roupas largas sem verificar se há por perto alguma mulher acima do peso.
Digo a ela para não ser ridícula.
- Bem, enfim - continua Cho, enquanto subimos para o segundo andar pela escada rolante – Pansy disse que estamos ficando velhas demais para biquínis. Que maiôs são mais classudos. O que você acha disso?
A expressão dela e o tom deixam claro o que ela pensa da opinião de Pansy sobre roupas de banho.
- Não acredito que haja limite de idade quanto a biquínis - explico. Pansy é cheia de regras exaustivas. Uma vez ela me disse que caneta preta só deve ser usada para cartões de pêsames.
- E-xa-to! Foi o que eu disse a ela. Além do mais, ela provavelmente só está dizendo isso porque não fica tão bem de biquíni, você não acha?
Faço que sim com a cabeça. Pansy faz ginástica religiosamente e há anos não come frituras, mas está destinada a fazer o tipo cheinha. Ela se redime, entretanto, por ser super bem-cuidada e usar roupas caríssimas. Chega à praia com um maiô de trezentos dólares, uma canga combinando, um chapéu chique, óculos de algum designer e tudo isso para disfarçar um pneuzinho na cintura.
Percorremos a loja em busca de biquínis razoáveis. A certa altura, percebo que nós duas separamos o mesmo modelo preto básico de Anne Klein. Se acabarmos as duas escolhendo esse modelo, Cho ou vai insistir que viu primeiro ou dirá que podemos levar o mesmo. Então o próximo passo é ela passar o verão inteiro ficando melhor no biquíni do que eu. Não, obrigada.
Isso me lembra da vez em que ela, Lila e eu saímos para comprar mochilas, uma semana antes do início da 4a série. Nós nos interessamos de cara pela mesma mochila. Era roxa, com estrelas prateadas no compartimento de fora - muito mais legal do que as outras. Lila sugeriu que comprássemos mochilas iguais e Cho disse que não, que combinar era coisa de bebezinho, coisa de gente da 3a série.
Então jogamos pedra, papel e tesoura para ver quem ficava com a mochila. Escolhi pedra (notei que era a opção que saía ganhando na maior parte das vezes). Bati meu punho cheio de júbilo sobre as tesouras estendidas e arrastei minha mochila roxa para dentro do carrinho que estávamos dividindo. Lila recuou, resmungando que nós sabíamos que roxo era sua cor favorita.
- Pensei que você gostasse mais de vermelho, Mione!
Lila não era páreo para mim. Simplesmente disse a ela que sim, preferia vermelho, mas como ela podia muito bem observar, não havia mochilas vermelhas. Então Lila optou por uma amarela com uma daquelas carinhas sorridentes no compartimento da frente. Cho agonizou entre as opções que restavam e finalmente disse a nós que iria pensar e voltar no dia seguinte com a mãe. Não pensei mais no assunto, até o primeiro dia de aula. Quando cheguei ao ponto de ônibus lá estava ela, com uma mochila roxa exatamente igual à minha.
Apontei para a bolsa sem conseguir acreditar.
- Você está com a minha mochila.
- Eu sei - disse Darcy. - Decidi que queria esta. Quem se importa se a gente está igual?
Não foi ela quem disse que mochila igual era coisa de bebê?
- Eu me importo - respondi, sentindo o ódio crescendo dentro de mim.
Cho revirou os olhos e estalou a língua.
- Ah, Mione, como se isso fizesse diferença. No fim das contas é apenas uma mochila.
Lila também estava chateada, por suas próprias razões.
- Como é que vocês duas acabaram ficando iguais e eu fui deixada de fora? Minha mochila é muito espalhafatosa.
Cho e eu a ignoramos.
- Mas você disse que não deveríamos ficar iguais - acusei Cho, enquanto o ônibus surgia na esquina e parava na nossa frente com um barulho forte do freio.
- Ah, eu disse, é? - falou Cho enquanto passava os dedos pelo cabelo cortado em camadas e todo duro pela quantidade de spray que ela tinha acabado de passar. - Bem, quem se importa com isso?
Cho costumava usar a expressão "quem se importa com isso" (substituída mais tarde por "seja lá o que for") como resposta que tendia mais para uma agressividade passiva. Naquele momento não reconheci sua tática como tal; apenas sabia que ela sempre dava um jeito de fazer as coisas a seu modo e que eu me sentiria idiota se tentasse revidar.
Entramos no ônibus, Cho primeiro. Ela sentou e eu fiquei logo atrás dela, ainda furiosa. Observei que Lila hesitou e depois decidiu sentar comigo, reconhecendo que era eu quem tinha razão. Todo esse assunto de mochila roxa poderia ter evoluído para uma luta descomunal, mas eu me recusei a permitir que a traição de Cho arruinasse o primeiro dia de aula. Não valia a pena guerrear com ela. O resultado final raramente era satisfatório.
A caminho das longas filas dos provadores, devolvo discretamente o biquíni de Anne Klein para o cabide. Quando uma das cabines fica livre, Cho decide que nós devemos dividi-la para economizar tempo. Ela fica só com uma calcinha preta e um sutiã combinando, tentando decidir qual biquíni experimentar primeiro. Dou uma olhada discreta para ela no espelho. Seu corpo está ainda melhor do que no verão passado. Os músculos de seus longos braços e pernas estão definidos por causa da rotina de exercícios preparatórios para o casamento, e sua pele já está morena por conta das aplicações freqüentes de creme bronzeador e de algumas sessões adicionais de bronzeamento artificial.
Penso em Harry. Ele certamente comparou nossos corpos depois da nossa noite juntos (ou mesmo durante, já que ele "não estava tão bêbado"). O meu não chega nem perto de estar tão bem. Sou mais baixa, mais mole, mais branca. E embora meus peitos sejam maiores, os dela são melhores. Proporcionais.
- Pare de olhar para as minhas gordurinhas - reclama Cho com uma voz esganiçada, flagrando meu olhar no espelho.
Agora sou obrigada a elogiá-la.
- Você não está gorda, Cho. Você está ótima. Dá para perceber que você tem malhado.
- É mesmo? Qual parte do corpo você acha que melhorou? - Cho gosta de elogios específicos.
- Ah, todos os lugares. Suas pernas estão alongadas ... - que ótimo. Isso é tudo o que ela vai levar de mim.
Ela estuda as pernas, franzindo o rosto para o reflexo no espelho.
Tiro a roupa, notando minha calcinha de algodão e meu sutiã descombinando, um pouco gasto. Rapidamente experimento minha primeira opção, um duas-peças branco e azul-marinho que revela apenas sete centímetros entre o tórax e o abdome. Fica no meio do caminho entre o maiô de Pansy e a preferência de Cho por biquínis.
- Oh, meu Deus! Este fica tão bem em você! Você tem de levar este - insiste Cho. - Você vai levar?
- Acho que sim - respondo. Não está sensacional, mas não está mal. Durante esses anos todos tenho estudado revistas sobre roupas de banho e imperfeições do corpo para saber que modelos vão ficar decentes em mim. Este passa.
Cho experimenta um biquíni pretinho, mínimo, com a parte de cima triangular e a parte de baixo mal cobrindo qualquer coisa. Ela fica simplesmente sexy.
- Você gosta?
- Está legal - digo, pensando que Harry vai adorar.
- Você acha que devo levar?
Digo a ela para experimentar os outros antes de tomar uma decisão. Ela obedece tirando o próximo do cabide. Obviamente, todos os biquínis ficam maravilhosos nela. Cho não se encaixa em nenhuma dessas categorias de imperfeições que se vê nas revistas. Depois de muita discussão, fico com o duas-peças e Cho se decide por três pequenos biquínis - um vermelho, um preto e um modelo cor da pele que vai fazê-la parecer estar nua a qualquer distância.
Quando estamos indo pagar pelos biquínis, Cho agarra o meu braço.
- Oh, merda! Quase esqueci de dizer!
- O quê? - pergunto amedrontada por sua repentina explosão, embora saiba que ela não vai falar: "Esqueci de dizer que sei que você foi para a cama com o Harry!"
- O Draco gosta de você!
Nós poderíamos muito bem estar na 8a série. Tanto pelo seu tom quanto pela escolha da palavra "gosta".
Fico me fazendo de desentendida.
- Gosto dele também - digo. - Ele é um cara legal. - E um álibi dos diabos.
- Não, sua boba. Quero dizer que ele gosta de você. Você deve ter feito um bom trabalho na festa, porque ele ligou para o Harry e pediu seu telefone. Acho que ele vai chamar você para sair neste fim de semana. É claro, eu queria que nós fôssemos juntos, mas o Draco disse que não, que ele não quer testemunhas.
Ela deixa cair os biquínis sobre o balcão e vasculha a bolsa em busca da carteira.
- Ele conseguiu meu telefone com o Harry? - pergunto, pensando que esse é um desdobramento interessante.
- É. Harry foi uma graça quando me falou sobre isso. Ele foi... - ela olha para cima buscando a palavra certa. - Ele foi meio protetor a seu respeito.
- O que você quer dizer com "protetor"? - pergunto, muito mais interessada no papel de Harry nessa troca do que nas intenções de Draco.
- Bem, ele deu o número, mas quando desligou o telefone me fez um monte de perguntas, se você estava saindo com alguém e se eu achava que você iria gostar do Draco. E, você sabe, se ele era inteligente o suficiente para você. Coisas desse tipo. Foi realmente uma graça.
Fico digerindo essas informações enquanto a vendedora registra os biquínis de Cho.
- E aí? O que foi que você falou para ele?
- Eu apenas disse que você era totalmente solteira e que obviamente estaria interessada no Draco. Ele é tão fofo. Você não acha?
Dou de ombros. Draco se mudou de São Francisco para Nova York alguns meses atrás. Sei muito pouco sobre ele, a não ser que ele e Harry se tornaram amigos na Georgetown, onde Draco ficou famoso por ter se formado em último lugar. Aparentemente, Draco nunca ia às aulas e sempre ficava bêbado. A história mais infame é que ele perdeu a hora no dia da prova final de Estatística, apareceu com vinte minutos de atraso e ainda descobriu que, em vez da calculadora, havia jogado o controle remoto dentro da mochila. Ainda não consegui determinar se ele é um cara que não se prende a convenções ou um fanfarrão.
- E aí, animada? Se você sair com ele antes da nossa viagem vai levar vantagem em relação a Pansy e Gina.
Eu rio e balanço a cabeça.
- É sério. - Cho assina o papel do cartão e abre um sorriso rápido para a funcionária. - Pansy adoraria dar uns bons arranhões nele.
- Quem disse que vou sair com ele?
- Oh, pooor favooor. Nem começa com essa merda. Você vai. (A) ele é uma gracinha. E (B), Hermione, sem ofensa, você não pode se dar ao luxo de ser toda exigente, Senhorita Não-Fica-Com-Ninguém-Há-Mais-De ... o quê? Há mais de um ano?
A funcionária da loja olha para mim solidária. Olho para Cho enquanto empurro meu duas-peças sobre o balcão. É, isso... um ano.
Saímos da Bloomingdale's e procuramos um táxi na Terceira Avenida.
- E então, você vai sair com o Draco?
- Acho que sim.
- Promete? - pergunta ela, tirando o telefone da bolsa.
- Você quer que eu faça um juramento de sangue? Sim, eu vou - digo. - Para quem você está telefonando?
- Harry, ele apostou vinte pratas que você não iria.
Cho tem razão: não há mais nada acontecendo na minha vida. Mas o verdadeiro motivo para eu dizer sim a Draco quando ele me telefona convidando para sair é Harry ter dito que eu não iria. E apenas no caso de ele ter pensado que tinha lançado alguma maldição sobre mim, e que eu iria rejeitar Draco por estar preocupada com o Incidente, vou sair com Draco.
Mas logo que digo sim, começo a ficar paranóica a respeito do que Draco realmente sabe. Será que Harry disse alguma coisa a ele? Preciso telefonar para Harry e descobrir. Desligo três vezes antes de conseguir completar O número todo. Meu estômago está dando voltas quando ele atende no primeiro sinal.
- Harry Potter.
- Então, o que Draco sabe sobre o que aconteceu no sábado passado? - digo de repente, meu coração disparado.
- Bem, olá para você também - ele diz.
Relaxo um pouquinho.
- Oi, Harry.
- Sábado passado? O que aconteceu no sábado passado? Refresque a minha memória.
- Estou falando sério. O que você disse a ele? - Estou horrorizada de me pegar falando daquele jeito menininha resmungando na que Cho tão bem aperfeiçoou.
- O que você acha que eu disse a ele? - pergunta Harry.
- Harry, diga para mim!
- Oh, relaxa - diz ele, no tom de quem ainda está se divertindo. - Não disse nada a ele... O que você acha que é isso?Um vestiário de escola? Por que eu contaria a alguém o que só interessa a nós?
Só interessa a nós. Nós. Nós dois.
- Eu só estava imaginando o que ele sabia. Quer dizer, você disse a Cho que estava com ele naquela noite ...
- É, eu disse: "Draco, eu estava com você na noite passada e depois tomamos café da manhã juntos, certo?" E isso foi tudo. Sei que não é assim que as coisas funcionam com vocês meninas ... mulheres.
- O que você quer dizer com isso?
- Quero dizer que você e Cho compartilham exaustivamente cada detalhe uma com a outra. Como o que vocês comeram em tal dia e que marca de xampu planejam comprar.
- E quando uma dorme com o noivo da outra? Esse tipo de detalhe?
Ele ri.
- É, esse seria um outro exemplo.
- Ou coisas como você ter apostado que eu diria não para o Draco?
Ele ri outra vez, sabendo que se deu mal.
- Ela contou isso para você, não foi?
- É, ela me contou.
- E isso ofendeu você?
Percebo que estou começando a relaxar, quase me divertindo com a conversa.
- Não, mas me fez dizer sim.
- Oh - ri Harry. - Agora entendo como a coisa funciona. Então você está dizendo que se ela não tivesse compartilhado essa informação com você, você teria dispensado o meu amigo?
- Ah, você está querendo saber? - pergunto fazendo charme, quase não me reconhecendo.
- Na verdade, quero. Por favor, me livre da ignorância.
- Não tenho certeza ... Por que você achou que eu diria não?
- Ah, você está querendo saber? - retruca ele.
Sorrio. Isso é flertar descaradamente.
- Tudo bem. Achei que você diria não porque Draco não parece ser o seu tipo - diz ele afinal.
- E quem é? - pergunto e logo me arrependo. Flertar assim não leva ao caminho da redenção. Não é a maneira de consertar o que fiz de errado. É isso o que meu cérebro me diz, mas meu coração dispara enquanto espero a resposta.
- Não sei, há sete anos venho tentando descobrir.
Fico imaginando o que ele quer dizer com essa afirmação. Enrolo o fio do telefone no dedo e não consigo pensar em nada para dizer em resposta. Nós deveríamos desligar agora. Isto está tomando um rumo ruim.
- Mione? - a voz dele está baixa e num tom de intimidade.
Fico sem fôlego, ouvindo-o dizer meu nome dessa forma. Soa familiar, caloroso.
- Sim?
- Você ainda está aí? - ele sussurra.
Consigo dizer:
- Sim, ainda estou aqui.
- O que você está pensando?
- Nada - minto.
Tenho de mentir. Porque o que estou pensando é: Talvez você faça mais o meu tipo do que já cheguei a pensar.
Comentários (0)
Não há comentários. Seja o primeiro!