Princesa Ruiva
Não durmo muito, nem sou muito branca. Meu cabelo também não é gigante. Ah, nem perdi nenhum sapatinho. Mas sou uma princesa. Sei, é péssimo alguém da minha idade dizer isso, mas é a verdade. Tenho uma irmã malvada, meu mundo está repleto de magia e... Ah, não sei.
Aliás, porque estou filosofando sobre contos de fada? Se eu não tivesse nada pra fazer até vai... Mas eu to no Salão Comunal. É meio difícil não ter nada pra fazer (ou ouvir) aqui. Porém, tem coisas que se deve pensar sozinha, não é? Por exemplo, se eu chegasse pra a maioria aqui de Hogwarts e começasse com um papo sobre contos de fada, eles provavelmente ririam e falariam “O Quê? Você sabe que fadas não falam, não é?”, depois me levariam para a enfermaria.
Então, já que não posso conversar sobre Cinderela e tal com minhas amigas... Sou obrigada a falar sobre a vida dos outros. Eu sei, deprimente. Mas é o que todos fazem por aqui. No café falamos sobre o que aconteceu durante a noite. No almoço sobre as primeiras aulas. E no jantar sobre o resto da tarde. Emocionante, não? Todo mundo fica informado sobre tudo por aqui. Sendo assim, todos sabem do suposto amor de James Potter por mim. Não, não acredito que seja amor. Sabe como é, James Potter (lê-se cafajeste, tiraro e arrogante, não bobo apaixonado).
Remo já me disse que sim, o Potter gosta mesmo de mim. E sabe, o Remo não costuma mentir. Minhas amigas também, falam que ele não para de olhar pra mim e tudo mais. E pra eu esquecer o Severo. Mas eu não gosto do Sev. Ele é só meu amigo mesmo. E agora ainda tá metido com Artes das Trevas...
Quem interrompe minhas divagações? Ah, só podia ser! Potter!
- Lírio – James fala. Com os olhinhos brilhando.
- Que foi?
- É que amanhã tem visita a...
- Não.
- Mas eu nem...
- Não Potter, não vou sair com você.
E é isso que eu tenho que enfrentar quase todos os dias. Sabe, eu até sentiria pena... Se ele não fosse James Potter e não tivesse todas as garotas de Hogwarts babando a seus pés.
E pra completar, no próximo sábado terá uma festa à fantasia aqui em Hogwarts. Pelo menos não é para se ir com pares. A tradição de Hogwarts é dançar a valsa, blá blá. Mas que bom que dessa vez nos livramos! Era uma chatisse pura ficar rodando pra lá e pra cá. O problema é a fantasia. Acho que vou de princesa. Ainda não sei.
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- Ei, Lily! – Remo me chama, à noite, no Salão Comunal.
- Oi, Remo.
- Olha, com que fantasia você vai pra festa? – Ele pergunta, se sentando na minha frente.
- Acho que vou de princesa.
- Hum, ok.
- Porque? Não vai copiar minha fantasia não, né?
- Pode ficar tranqüila – Ele falou, rindo.
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Eu estava tendo um belo sonho, onde eu era uma princesa e um príncipe vinha cavalgando na minha direção. Quando ele chegou perto o bastante para eu ver seu rosto... Eu acordo. Não foi por livre e espontânea vontade, não. É tudo culpa daquele ser loiro que está trancada no banheiro passando todas as maquiagens existentes neste. É, Emmeline. Ela jogou um sapato na minha cabeça e gritou “ACORDA! Não posso deixar o Remo esperando”. Mas porque ela me acordou? Pra eu ficar sentada aqui na cama sem poder entrar no banheiro ou secar meu cabelo, já que Marlene se apossou do secador? “Tenho que ficar bonita para o Sirius, Lily”, foi o que ela falou. E eu continuo aqui, sentada. Pra ser sincera, preferia continuar dormindo do que servir de vela para dois casaizinhos, ou três, não sei se Potter vai levar alguém. Finalmente, Emmeline saiu do banheiro! Enquanto ela e Marlene brigam por causa do secador, vou de fininho e entro no banheiro. Movo a mão pra pegar um batom... “LILY! Os meninos tão esperando”. Passo o batom e saio. Tanto faz mesmo. Vou me exibir pra quem? Pro Potter?
Marlene continua resmungando alguma coisa sobre “só faltava uns fiozinhos” enquanto descemos as escadas. Mas claro que após ver o Black ela se esquece até do cabelo.
Sem dúvidas esse é um dos dias mais frios do ano até agora. Eu estou com um casacão e quase estou apelando pro Potter, que não para de falar “Mas se você tá com tanto frio, eu posso de abraçar”. Tá, mas eu disse ‘quase’. Nem que eu estivesse de biquini aqui eu apelaria. Porque sabe como é, você dá a mão ele quer todo o braço.
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Finalmente, no quentinho do Três Vassouras. James foi pegar umas cervejas amanteigadas, enquando eu fico aqui, no meio dos dois casaizinhos. Olho pra um lado, Emmeline e Remo conversando baixinho. Olho pra o outro, Marlene e Sirius praticando Antropofagia. Olho pra frente, lá está James, dando em cima da Rosmerta. Ele não pode nem pegar uma cerveja sem dar em cima de alguém? E ela ainda parece estar gostando...
- Que olhar é esse Lily?
- Han? O quê?
- Perguntei que olhar é esse. Tá com ciumes do James com a Rosmerta? – Só podia ser a minha querida (cof, cof) amiga Marlene me perguntando isso.
- Eu? Com ciúmes do Potter?
- É o que parece. Porque você corou?
- C... Corei?
Porque eu tenho que corar, Meu Merlin? Porque? Agora está o grupinho aí rindo de mim. E o Potter continua dando em cima da Rosmerta. Descaradamente.
- Aí James – Sirius fala – Seu Lírio tava morrendo de ciúmes de você com a Rosmerta.
- Sério, Lírio?
- Han... Não?
- Ela ficou toda coradinha – Eu mato esse garoto!
- Você sabe que meu coração é seu, Lily.
Reviro os olhos. O Potter acha que me ganha com essas cantadinhas baratas...
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Depois desse ‘incidente’ me desanimei totalmente a ficar lá e decidi voltar para o castelo. Agora estou andando na neve. Congelando, praticamente. Pelo menos não tem o idiota, galinha, cafa... É só falar!
- Lily, Lily... – Potter fala, ofegando.
- Oi.
- Tá com frio?
- Não, vou até tirar o casaco... Pode ir tirando essa cara de safado, Potter.
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E fomos nessa conversinha até o castelo, onde eu subi para o dormitório e não saí mais, até minhas amigas chegarem, contando como os namorados são ‘tudo de bom’. No jantar foi tudo normal, também. As fofocas sobre o que aconteceu em Hogsmead, e as fantasias que cada um comprou.
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Café da manhã. Aquela revoada de corujas. Chega um pacote pra mim. Abro. Meu vestido. Sim, meio escandaloso. Alguns babados a mais, mas era isso ou me aventurar na Trapobelo.
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Almoço. Me deu um pouco de nojo ver Pettigrew comendo, vou admitir. Eu não gosto de zoar o coitadinho, porque sei que ele deve ter sido atingido por algum feitiço, ou bebeu alguma poção, que aumentou o estômago dele, mas estava realmente nojento. Parecia que ele não comia a séculos. E olha que eu bem vi ele na aula anterior devorando um pacote de balas.
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Jantar. Pettigrew estava realmente esfomeado hoje.
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Vupt.
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Sábado. A semana passou assim, num ‘vupt’ mesmo. Também, com a quantidade de deveres, é a única coisa que fazemos. E, assim, o tempo acaba passando mais rápido. Nessa monotonia. Agora estou no banheiro (aproveitei que Emmeline estava se agarrando com Remo e subi mais cedo) me arrumando pra a festa. Marlene e Emmeline tem uma coleção admirável de maquiagens mesmo. Com esse vestido ouro-claro seria melhor uma sombra branca, não é? Ai, como eu preciso de Emmeline! Mas se eu sair do banheiro não entro mais... Ah, vai a branca mesmo. Pronto, vou sair. Na verdade, eu poderia dar uns retoques, mas é melhor eu sair mesmo. Antes que Marlene quebre a porta.
Ok, eu to me sentindo um saco de batatas com esse vestido. No momento Emmeline (falei que precisava dela) faz uns cachinhos no meu cabelo. Sei lá, pra dar um ar mais ‘princesa’. Marlene tá colocando sua roupa de ‘diabinha’. Sim, o Black vai enlouquecer. Antropofagia ao extremo nessa festa, com certeza.
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Uma anjinha, uma diabinha e uma princesa descendo as escadas. Um anjo, um vampiro e um princí... Espera, o Potter tá vestido de princípe?
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O sexteto sentado em uma mesa. Sirius e Marlene se agarrando. Emmeline e Remo abraçados. Eu e Potter desviando olhares.
- Lily – Potter fala – Preciso falar com você.
- Tá, fala.
- Lá fora.
- Ah... Tá.
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- Pode falar, Potter – Falei. Estamos no jardim, perto do lago.
- Eu queria saber porque você não acredita que eu gosto mesmo de você.
- Porque você ainda não me provou.
- E como eu faço isso?
- Sei lá, só me prove. Não importa como.
Ele está se aproximando, estamos muito perto. Chego para trás.
- Não é me beijando que você vai provar, Potter.
Saí andando.
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Na mesa novamente, pra variar, estou sobrando.
- Cadê o James? – Sirius pergunta.
- Da última vez que o vi estava lá fora.
- Pode chamá-lo aqui?
Fiz uma cara de cansaço.
- Por favor – Ele pediu, com aquela cara de cachorro-pidão.
- Tá.
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Vejo arbustos, árvores, o lago e a lula gigante. Mas cadê o Potter?
- Potter – Chamo.
- Potter?
Atrás de um arbusto há uma menina morena e ela esta beijando um garoto de cabelos pretos... Muito bagunçados! Eles interrompem o beijo. Saio andando, meio correndo. Então é assim a forma que ele quer me ‘provar’...
- LILY! LILY! – Potter está vindo atrás de mim, gritando.
- Que foi, Potter? – Não consegui mais correr. Parei, perto de uma margem do lago.
- O... Olha, é que ela me agarrou.
- Arran. E depois você me pergunta porque eu não acredito que você gosta de mim.
- Lily, eu te amo!
- Não parece. Toda vez que eu viro as costas você já arranja outra.
- Eu disse, ela me agarrou.
Respiro fundo. Se eu falasse tudo o que me vem a cabeça sobre ele agora...
- Não sei se posso acreditar em você...
- Você nunca me dá uma chance, Lily! Você não acredita que eu te amo, não acredita que eu estou falando a verdade... Pode perguntar pro Almofadinhas, todas as garotas que eu fiquei nesses últimos meses foi pra tentar esquecer você. Eu nunca gostei de ninguém igual a como eu gosto de você. EU TE AMO, DROGA!
- James você tá c...chorando? – Eu não sabia que ele sentia tudo isso por mim. Achei que eu fosse mais um ‘desafio’.
Ele enxugou as lágrimas e saiu andando.
- J...James! – Eu também estou quase chorando agora.
- JAMES!
- Que foi, Lily?
É, eu estou chorando agora.
- E... eu não sabia que eu era tão importante pra v... você – Tentei dizer, entre um soluço e outro.
James me abraçou. Se fosse a dez minutos atrás eu teria quase socado ele, mas agora não. Eu deixei ele me abraçar.
- Ruiva – Ele falou - Agora você acredita que eu gosto de você?
- A... acredito. Você também é muito importante pra mim, James. Apesar de tudo que vo...
Ele me beijou. Isso mesmo, num movimento muito rápido, que eu não pude prever. Afastei ele. Tudo bem que fiquei sensibilizada por essa declaração tão comovente. Mas isso não quer dizer que vou me render ao Potter.
- Potter...
- Um dia você ainda vai gostar de mim assim como eu gosto de você, Lily. Eu sei.
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