NATAL EM HOGWARTS



Capítulo 19
– Natal em Hogwarts –



A neve caía, em flocos gordos, deitando-se nos parapeitos das janelas, e evidenciando o impossível de se negar: o inverno havia chegado.
A Torre da Grifinória estava quase vazia, mas a grande lareira dourada rugia e crepitava, com o fogo queimando a madeira. Rony desceu as escadas, carregando seu malão. Hermione surgiu logo depois, trazendo o seu, mas fazendo-o flutuar com um belo Wingardium Leviossa.
– Harry, você vai ficar bem?
A preocupação da garota era evidente. Era o início das férias de Natal, e os alunos que quisessem poderiam voltar para suas casas, passando as datas com a família. Voltariam no segundo dia do novo ano, e as aulas recomeçariam. Antes disso, uma lista fora afixada nos Salões Comunais, para que os que quisessem ficar em Hogwarts dessem seus nomes. Harry a assinara sem hesitação. Não tinha família.
– Vou sim, Hermione – Sorriu ele, quente e terno. – Não se preocupe.
– Mas você vai ficar sozinho! Sozinho do dormitório, e talvez até sozinho na torre! – Exclamou ela.
– Ficarei bem. Estou acostumado em me virar, e talvez uma temporada sem os roncos do Rony me faça bem.
Os dois amigos riram, o moreno e o ruivo. Hermione não parecia totalmente convencida.
– Mas o quê você vai ficar fazendo? Procurando sobre Flamel?
Desde que Harry recebera o aviso de Grindewald, eles procuravam sobre o tal Nicolau Flamel. Harry lhes contara sobre o treinamento na Floresta, mas não tudo. Sabia que eles não gostariam de ouvir sobre alguns encantamentos e maldições, e gostava de manter algumas coisas só para si. Onze anos guardando tudo dentro de seu coração não o fariam despejar seus sentimentos para outra pessoa, assim, em tão pouco tempo.
– Fique bem, cara. As férias logo acabam. – Disse Rony. Eles apertaram as mãos e desejaram um bom Natal um para o outro.
Rony logo saiu, carregando a mala. Sentia que se tentasse um feitiço, poderia fazer seu malão explodir sem querer. Hermione mordeu o lábio, pensativa. Não acreditava que Harry ficaria bem sozinho.
– Mione – Chamou ele, lhe apertando num abraço. O apelido, tão carinhoso, a fazia se sentir bem. E os braços do garoto tinham um cheiro bom, além de serem tão quentinhos... – Não se preocupe comigo. Divirta-se, e me conte como foi sua experiência de voltar para casa sabendo que é uma Vampira.
– Meio-Vampira.
– Por enquanto, Mione. Por enquanto.
Ele lhe beijou suavemente a testa, e ela o estreitou em seus braços. Então se separaram e a castanha apanhou sua mala, fazendo-a flutuar novamente.
– Feliz Natal. – Desejou Harry, e ela lhe sorriu. Desapareceu pelo buraco do retrato, e o moreno ficou sozinho no salão comunal.
– Feliz... – Murmurou ele, ao esmo.

Ler, ler e ler. Era tudo o quê Harry fazia naquela biblioteca. As pilhas de livros iam e vinham, e ele continuava debruçado sobre os tomos, lendo tudo o quê podia por as mãos.
Procurava, desesperadamente, por Nicolau Flamel. Sabia, em seu íntimo, que precisava saber sobre ele. Voldemort estava na Floresta, e ele precisava ser impedido. Não contara a Dumbledore, nem a qualquer um, além de Rony e Hermione, sobre o vulto que se arrastava bebendo sangue de unicórnios.
Precisava, mais do quê tudo, saber o quê era o pacotinho encalombado que Hagrid colocara no Corredor Direito do Terceiro Andar. Ele desistiu dos livros, alguns dias depois. O Natal se aproximava rapidamente. Deitou a cabeça contra a madeira fria da mesa e suspirou lentamente.
Snape... Ele estava com a perna ferida. Pouco depois do Ataque do Trasgo... Harry fora atacado pelo Cão de Três Cabeças quando se perdera dentro da Viagem das Sombras. O animal tentara atacá-lo nas pernas...
Pernas...
Merda!
Harry sentiu vontade de se dar um soco. Era claro! Snape deixara o Trasgo entrar, uma excelente distração, e então tentara passar pelo Cérbero. Infelizmente, para ele, o cão levara a melhor e quase lhe arrancara a perna.
O garoto pressionou ainda mais a testa contra a mesa. Já tinha ouvido o nome de Flamel, sabia quem era o homem. Devia ser algo com Dumbledore, ele imaginava. Flamel era dono do pacotinho? Snape ia roubá-lo. Mas por quê? Porque Snape roubaria algo que Dumbledore estava protegendo...?
Merda Dupla, Potter, seu imbecil!
Snape era o vulto! Trabalhava para Voldemort! Sim, agora tudo se encaixava. Ele tentara matar Harry no jogo de Quadribol. E tentara atacá-lo na Floresta. Deixara o Trasgo entrar, e procurava o embrulho com todas as forças. Trabalhava para Voldemort, por isso odiava tanto o garoto!
– Harry? Está tudo bem?
A voz tensa fez o moreno levantar a cabeça. Deu de cara com Neville, tremendo da cabeça aos pés, e parecendo estar com as pernas coladas uma na outra.
– Neville? O quê aconteceu?
– Draco Malfoy, Harry. Ele prendeu minhas pernas com um feitiço...
Harry pensou um pouco, então murmurou alguma coisa e empurrou Neville com força. O garoto caiu para trás, sem equilíbrio. Levantou-se, perdido, quando percebeu que suas pernas estavam livres.
– Harry! Por Drácula, obrigado! – O garoto lhe apertou a mão fortemente. – Ernest está procurando o contra-feitiço até agora! Vou avisá-lo que já estou bem de novo!
– Não foi nada Neville. Mas se eu pudesse te dar um conselho, diria para enfrentar Draco. Aquela cobrinha exibida não vale nem a metade de você, Neville.
– Mas... – Suspirou o garoto, sentando-se de frente para Harry. – Eu não sou bom em nada, Harry. Nem em feitiços, nem em poções... Não posso fazer nada. Me sinto como um humano, como um inútil. Às vezes eu penso se não devia ir embora daqui...
– Neville, você é bom em alguma matéria. Pense...
– Herbologia... – Sussurrou o garoto gordinho. – Só em Herbologia.
– Se você é bom em Herbologia, Neville, então aprenda mais e mais, destaque-se nessa matéria! Isso vai te dar mais confiança, e as pessoas te olharão com mais respeito. Se lidar com plantas é seu dom, então porque escondê-lo?
– Harry, Herbologia depende muito de Poções. E eu sou um desastre nessa matéria. Não consigo fazer uma única poção corretamente, mesmo com a ajuda de Hermione.
Pense, Harry... Pense, como fazer poções...
Os olhos verdes brilharam.
– Neville! – Sorriu Harry. – Poções é como cozinhar!
– Grande coisa...
– Não, escute! Cada um cozinha de um jeito. É algo pessoal, o seu modo. Você não consegue fazer as poções seguindo o modo do Snape, então você deve criar o seu jeito de fazer as poções!
Neville sorriu, lentamente.
– Se eu buscar o porquê de cada ingrediente, talvez eu consiga entender Poções. E entendendo, eu saberei o quê colocar para concertar as minhas poções! Obrigado Harry!
O garoto apanhou um morcego de chocolate e lhe entregou.
– Até mais, Harry!
E saiu, apressadamente, sumindo por entre as estantes. Harry levantou, e com um aceno os livros voltaram para suas estantes. Ele saiu, calmamente, da Biblioteca, abrindo a embalagem.
Deu uma dentada na cabeça do morceguinho doce, e apanhou o cartão. Dumbledore, novamente. Lembrou-se de seu primeiro cartão, o primeiro morcego. O trem...
“O Professor Dumbledore é o atual diretor da Escola Vampira de Hogwarts, onde reside. Famoso por derrotar o Vampiro Maligno Grindewald e por desenvolver um trabalho alquímico com Nicolau Flamel, o Professor Dumbledore gosta de música de câmara e boliche”
E por desenvolver um trabalho alquímico com Nicolau...
...Flamel.
– MADAME PINCE! MADAME PINCE!

Nicolau Flamel
Famoso por seus trabalhos com alquimia, criou inúmeros encantamentos úteis para experiências. Mas é mundialmente conhecido por seu trabalho em parceria de Alvo Dumbledore, a Pedra Filosofal.
A Pedra, segundo dizem, pode transformar qualquer metal em ouro puro, além de produzir um elixir que, se tomado em doses regulares, garante a vida eterna, até mesmo para um Vampiro sem energia ou um humano. Se um Vampiro tomar o elixir, poderá sobreviver quase uma década sem beber uma gota de sangue.
– Vida eterna, energia, dinheiro. – Suspirou Harry, fechando o tomo de “Grandes Nomes Da Alquimia”. – Voldemort é um Vampiro, ele já tem vida eterna. Acho que ele não é do tipo que liga muito para o dinheiro. Então... Ele quer a Pedra para ter um corpo, novamente.
A Pedra. O garoto olhou a descrição, pelo tamanho aproximado, a certeza do quê era o pacotinho se fizera em sua mente. A Pedra Filosofal estava em Hogwarts, debaixo das patas do Cão de Três Cabeças. E Snape a queria.
– Maldito morcegão – Murmurou o moreno por entre os dentes. – Ele não poderia se contentar em aterrorizar grifinórios e ser parcial? Não, ele tem que ser um maldito traidor.
O garoto se movia rapidamente pelos corredores. O Natal estava muito perto, e ele realmente precisava de Rony e Hermione naquela hora. Precisava saber o quê fazer, não podia deixar Snape pegar a Pedra Filosofal.
Não, não era altruísmo. Se Voldemort voltasse, eles teriam de lutar. E não era porquê o demônio tentara lhe matar. Se Voldemort voltasse, seriam dois Senhores das Trevas. E só havia, no mundo, lugar para um.
Harry pensou seriamente no quê lhe acontecera. Ele viera para Hogwarts na esperança que o mundo Vampiro fosse melhor que a Rua dos Alfeneiros. Mas ali ele disputava o cargo de senhor das trevas, e seria caçado caso Voldemort voltasse. Também havia o pequeno fato que seus pais foram assassinados pelo cara. Ah, seria muito bom se Voldemort não voltasse à vida. Para seu próprio bem
O garoto se largou no parapeito de uma janela do primeiro andar, que dava para o pátio interno onde os alunos passavam o intervalo. Havia um intervalo de vinte minutos entre as aulas da manhã, e outro entre as aulas da tarde. Havia também o almoço, o café da manhã, e o jantar. Era proibido andar pelo castelo depois das nove da noite, e se isso acontecesse, o zelador Filch, e sua gata chamada Madame Nora, iriam capturá-lo, para que ele pudesse ter uma merecida detenção.
Quanto mais tarde você estivesse fora da cama, quanto mais regras você quebrava de uma vez, mais doloroso era o castigo.
Não que o velhote do Filch prendia alguém nas masmorras pelos tornozelos, como ele tanto falava que faziam nos bons tempos de Hogwarts. Isso não era mais permitido. Mas limpar todos os troféus da Sala de Troféus de Hogwarts sem usar magia não era lá uma atividade agradável. Você ficava cheirando a produto de limpeza por dias, e criava dezenas de calos nas mãos. Ele já vira os Gêmeos Weasley depois de uma seção de limpeza.
Outro castigo bem visto era limpar a Biblioteca. Harry tinha certeza que se Hermione pegasse uma detenção, proibiriam esse castigo para ela. “Hermione” e “biblioteca” eram quase um pleonasmo.
Harry ainda não tinha pego nenhuma detenção. A única situação que ele merecera uma, ele acabara como o Apanhador mais jovem do século. Se bem que seu primeiro jogo fora traumático o suficiente, e Wood lhe explicava as regras do Quadribol de uma maneira quase homicida, distribuindo passes, fintas e jogadas sobre o colo do garoto, sem que ele pudesse assimilar lá muita coisa.
Harry pulou da janela e decidiu voltar para o calor da lareira da Grifinória. A neve escurecia bastante o castelo, o sol não era mais visto. Num corredor particularmente escuro, perto dali, o garoto entrou nas sombras, usando a técnica de locomoção que lhe era cada vez mais simples. Em instantes, estava em seu dormitório, e depois no Salão Comunal da torre.
Neville estava num canto, com um livro de plantas mágicas nas mãos, e parecendo devorando-o com prazer. O Vampiro moreno sorriu, e se sentou numa poltrona confortável, pertinho da lareira, com um livro nas mãos, e um pergaminho.
A questão era que Harry nunca tivera dinheiro na vida. E saber que tinha um cofre abarrotado de ouro em algum lugar do subterrâneo de Londres lhe fazia pensar em muitas coisas. Também nunca tivera amigos, ou família. E agora tinha dinheiro e pessoas que se importavam realmente com ele.
E quando descobrira tudo isso, também lhe viera o fato que era maligno. Ainda não sabia bem o quê isso modificava sua vida. Mas percebera que isso, aliado aos anos sob as vistas dos Dursleys, lhe deram um bom naco de frieza.
Todavia, duas pessoas lhe davam emoções contrárias. Rony lhe despertava o forte sentimento de companheirismo. E descobrira que o alegre ruivo era um gênio do Xadrez, um excelente dominador do fogo, e um ótimo amigo. E havia Hermione, com aquela inteligência quase desconcertante, aquele saber sem fim, sua fome por mais e mais conhecimento, e sua habilidade de deixar Harry se sentindo bem.
A garota tinha palavras e atos certos para os momentos certos. Era ela que podia lhe devolver o sorriso depois de uma aula de poções, ou que podia lhe despertar um imenso carinho.
Ela era uma garota diferente, na opinião do garoto. Ele sempre fora visto como o diferente, o estranho, o quê não tinha amigos. E ali, naquele castelo, era um herói, mesmo sem saber nada sobre o quê fizera, exatamente, para destruir Voldemort. E era ela a estranha, a sozinha, a diferente de tudo.
Mas havia o adicional que ela era algo como um prato especialmente apetitoso aos olhos de todos. Não por beleza ou sensualidade, mas por sangue quente dentro de suas veias, e um coração batendo dentro de seu peito.
Ela era alimento, ali. Estava mais ameaçada que entre tigres, ou dentro da Floresta Proibida. Porém ela encontrara Harry, e o garoto era muito mais que um amigo para ela. Era um guardião, que não hesitava em derrubar e ameaçar qualquer Vampiro que chegasse muito perto do pescoço da menina.
Como recompensa, ela lhe dava algo que ele nunca tivera. Um carinho, um consolo, calor. Ela era tão quentinha, tão boa, tão doce com ele. Isso o fazia se sentir um gato sendo acariciado no colo. E, bem, desde seu treinamento na Floresta, ele tinha uma boa chance de ronronar de verdade.
Ela lhe dava uma certeza, porém: que não havia bondade em seu interior, mas que ela conseguia colocar parte da bondade dela dentro dele. E por isso, olhando o pergaminho em seu colo, ele sabia que fizera o certo, ao mimar um pouquinho seus novos amigos.


Hermione estava em casa no Natal. Seus olhos se abriram lentamente na manhã do vinte e cinco de Dezembro, e sentiu-se bem. Um cheiro doce de iguarias típicas da data invadia seu quarto branco. Ali estava suas prateleiras de livros (abarrotadas), sua escrivaninha (cheia de pergaminhos), seus móveis femininos (uma cômoda e uma penteadeira, sendo a última levemente sem uso), seu guarda-roupa organizado, sua mesinha de cabeceira com uma única foto, num porta retratos: ela e os pais, sorrindo, no dia em que fizera onze anos, no ano anterior. Por uma regra estrita, os alunos da escola vampira só recebiam as cartas ao completarem onze anos. Ela os completava duas semanas depois do início das aulas. Quando finalmente recebera a carta, teve de esperar quase um ano para entrar na escola. Logicamente este ano fora gasto com ela lendo exatamente tudo o quê podia sobre seu novo mundo.
A garota cambaleou um pouco até fora do quarto, onde entrou no banheiro, e depois de um bom banho, ela voltou para se trocar. Saiu do quarto com roupas normais, humanas: um casaco quentinho e rosado, calças quentes e trazia suas luvas nas mãos.
Cumprimentou os pais com beijos e votos de feliz Natal, e só depois de tomar café, o casal de dentistas lhe permitiram correr até a Árvore de Natal que estava armada na sala. Sorrindo, ela escolheu os presentes que lhe pertenciam, e os tirou de debaixo dos galhos do pinheiro. O casal Granger logo se juntou à ela, e sua mãe, Jane, a ajudou a carregar alguns dos embrulhos, que decididamente eram livros.
Logo as duas garotas, mãe e filha, distribuíam os papéis de embrulho para todos os lados. O pai, rindo da espevitada esposa, sentara-se na poltrona com uma grande caneca de chocolate.
– Esse é de seu primo, filha – Entregou ela, olhando a etiqueta.
A garota fez uma careta, enquanto desembrulhava um vidro de perfume, que as garotas de sua idade gostavam. Mas Hermione não era uma garota vaidosa, e perfumes não era o tipo de coisa que ela desejaria num Natal. A graça era que seus tios sabiam isso, mas insistiam em presentear-lhe com roupas, perfumes e bijuterias.
– Eles podiam aceitar que não sou uma garota deste tipo – Resmungou a menina.
Jane sorriu, e então lhe entregou um maior.
– O nosso...
O embrulho colorido se rasgou, e Hermione abraçou a mãe quando viu a capa de dois dos inúmeros livros que ela realmente desejava. Pulou também no colo do pai, e com um beijo em suas bochechas levemente barbadas, fez o coração do homem se derreter.
– Quem é Rony? – Sorriu Jane, com os olhos brilhando de empolgação. – Ele é da escola?
– É um grande amigo! – Sorriu a garota, de volta. Jane tentou não demonstrar, mas seu alívio e alegria por a filha finalmente ter conseguido amigos fez seus olhos castanhos brilharem.
– É um livro! – Riu a menina. – “O Livro Molhado”.
Jane riu do título, mas ela também compartilhava grande parte daquela sede de conhecimento que passara para a filha. A garota lhe explicou resumidamente sobre os elementos que os Vampiros controlavam, e então lhe disse que o livro era um dos melhores sobre o assunto, pois tratava exclusivamente sobre o elemento de baixo nível que era a água.
– Pode demonstrar? – Pediu a mãe e o pai, juntos.
Hermione pensou um pouco, quando viu a caneca de chocolate nas mãos do pai. Tentando reunir o máximo de energia, ela dispensou as luvas, e espalmou as mãos para a frente. Franzindo a testa em concentração, logo a garota já conseguira um domínio bom da água que estava dentro do chocolate quente. Tentou não derrubar nada, mas um pouco do chocolate ficou na caneca quando o conteúdo flutuou para fora, e rodeou a sala. Seus pais arfaram, encantados, quando a massa líquida flutuou graciosamente, girando e rodopiando, de volta para a caneca, sem derramar uma gota. Hermione soltou a respiração e os pais perceberam o brilho de suor em seu rosto.
– Isso cansa bastante – Explicou ela. – Gasta muita energia. Principalmente se não for água pura.
Ela abraçou o Livro Molhado, e sentiu um desejo imediato de se trancar no quarto e estudar cada linha da obra em suas mãos. Mas a mãe, conhecendo a filha, apanhou um embrulho feito de um papel realmente bonito, de tamanho considerável, e leu o cartão.
– Querido, parece que a nossa filhinha já arranjou um namorado! – A reação da família foi adversa. O Sr. Granger empalideceu, e apertou a caneca com força, Jane riu enquanto declarava a frase, e Hermione, absurdamente corada, tentou arrebatar o presente das mãos da mãe. – Aqui diz... Para Mione, de Harry Potter. “Mione”, que fofo!
– Ele... é... só... um... amigo! – Arfou a menina, finalmente apanhando o presente e o colocando em seu colo. O papel de embrulho era sedoso, e fino. Era quase todo de um vermelho vivo, bonito, com uma fita caprichada, dourada. Mas num canto, discreto, havia uma lua minguante, completamente negra. Não havia dúvidas.
O cartãozinho estava pendurado no presente por uma fina linha. Do lado de fora, realmente, lia-se seu apelido. Ela abriu o cartão. E corou.
Sua mãe, como não podia deixar de ser, não ignorou isso, e roubou o cartão de suas mãos, abrindo-o e lendo.

Querida Mione,

Obrigado por se preocupar. Feliz Natal.

Harry.


– Que amigo mais doce e fofo, esse... – Suspirou ela, parecia que “fofo” era seu termo favorito para descrever Harry. Ela passou o cartão para o marido, que o leu de cara fechada, e depois o jogou de volta para Mione.
– Abra! Abra! – Incentivou a mãe.
Hermione desfez a fita, tentando ao máximo não se apressar e rasgar o embrulho. Não sabia o quê Harry lhe preparara, não tinha o peso confortável de um livro. Era mais leve, e a garota percebeu que o presente não era mole como uma roupa, parecia duro, e fino. Engoliu em seco, discretamente, quando a fita dourada deslizou para fora de suas mãos. Rezava para que não fosse nada constrangedor, que faria sua mãe rir ainda mais. Nunca sabia o quê esperar do moreno, e não queria ter de explicar exatamente sua relação com ele. Eram melhores amigos, isso era fato, mas havia muito mais nisso. Sentimentos que ela ainda não estava preparada para examinar, ou até mesmo sentir.
O papel foi desembrulhado com todo o cuidado, e tão lentamente quanto possível. Seus pais já estavam impacientes, e o Sr. Granger estava de cara amarrada, com os braços cruzados no colo.
Era um pente.
Não um pente comum, de escovar os cabelos. Ela sabia pra que servia aquilo, e decididamente não esperava por essa. Era um pente para prender os cabelos, como uma presilha.
Era preto, discreto. Levemente arredondado, tinha uma pedra no centro, de um azul prateado, que girava, devagar, hipnótica. Leve como uma pluma, e daquele negro lustroso que lembrava as asas de Harry. Tão lindo que ela nem tinha palavras para dizer. Seus dedos não deixavam marcas de digitais na superfície, como ela imaginava que poderia acontecer, e ele parecia isento de qualquer mácula, arranhão ou coisa parecida. Era novo como se tivesse acabado de ser feito. Não parecia feito de plástico, ou metal. Era algo completamente diferente, que era resistente e leve ao mesmo tempo. Ela o alisou, encantada, antes de sua mãe pedir para vê-lo.
A mulher também ficou sem fala diante do presente. Hermione pensou que o presente era pequeno para o embrulho, e viu que a caixa estava cheia de pedacinhos de papel vermelho e papel dourado, que se misturavam. Sorriu, Harry Potter era sempre uma surpresa.
Sua mãe decidiu fazê-la experimentar o pente. A fez se sentar de pernas cruzadas, no chão, de costas para ela. A mulher então usou o pente negro para pentear cuidadosamente os cabelos da filha, que chegavam até o meio das costas. Os cabelos eram de um castanho quase da cor do mel, da cor de seus olhos. E era cheios, levemente armados. Hermione tinha os dentes da frente um pouco grandes, mas seus pais nunca deixariam ela consertá-los com magia. Os dois dentistas acreditavam que sua profissão e a magia dos Vampiros não deviam se misturarem. Nunca ligara para sua aparência, ou para seu corpo despeitado e comum demais. Era claro que com o devido tratamento de seus dentes e alguns cuidados com sua pele e cabelos, ela seria uma garota bem bonita, mas nunca se importara. Sua mãe então terminou o penteado, que fez com que os cabelos escorressem por suas costas, e finalizou prendendo o pente nos fios, mantendo o penteado.
Saiu e voltou com um espelho, mais rápido que um piscar de olhos. E Hermione se viu, com os cabelos cor de mel devidamente domados, o pente negro se destacando levemente na cor de seus fios. Delicado, mas presente. A pedra ainda mantinha sua cor girando, e ela viu ali a certeza. A intenção de Harry com o presente, e o orgulho de sua mãe, a grande irritação de seu pai.
Ela ficara linda com o presente do moreno. E Harry sabia disso, ele escolhera aquilo à dedo, pois sabia que ela ficaria linda com ele. E assim como o presente, era como se sentia Mione. Delicada, mas presente.

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Cap. grande, e duplo. Agradecimentos, comentários e afins no próximo capítulo.

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