Plano Maligno



Paul estava estático, mas se um olhar matasse, a essas alturas, Ernesto e Neville já estariam mortos, pois os olhos claros daquele homem os fuzilava, com um ódio brutal. Mais pelo sorriso que Neville mantinha no rosto do que pela situação em si. Se ao menos pudesse se mexer... “Meia hora... Preciso voltar só meia hora!” pensava. Estava ali tão perto e tão longe ao mesmo tempo. Na gaveta da escrivaninha estava a solução para aquele vacilo, Paul pensou naquele artefato herdado por sua mãe: um vira-tempo antigo, mas super eficiente, que já o havia livrado de boas encrencas, essa seria apenas mais uma, mas... Como? Se estava imóvel...

- Padma foi buscar Minerva aonde? Na Índia? – Ernesto girava a varinha entre os dedos, impaciente.
- Está demorando mesmo, não é? – Neville olhou em direção a porta, como se esperasse que se abrisse a qualquer momento.
- Acho que vou lá ver o que está acontecendo... Você dá conta dele? – Ernesto apontou para Paul com a cabeça.
- Claro... – Neville lançou a Paul um olhar debochado – Traga logo Minerva, estou ansioso!

Paul lançava olhares para o lado de sua escrivaninha, vez ou outra. Neville virou-se para ver Ernesto sair, em seguida observando o homem imóvel a sua frente.

- Pois é, Paul... Padma acha que você é legilimente... Sabe o que estou pensando agora?
- Sei... – Paul disse, sem olhar para ele – Que você é um sortudo.
- Sortudo?
- Não acho outra palavra pra expressar a fortuna que você teve em me pegar desprevenido, Longbottom... Foi sorte, não pense que foi qualquer outra coisa.
- Eu não estou pensando nisso! Estou pensando que seus dias de glória acabaram, Wright! No mínimo, fora de Hogwarts você já está! – Neville olhava para onde Paul olhava agora – O que tem aí? O que tanto você olha?

Paul pensou rápido. Curiosidade é sempre bom.

- Não é da sua conta.
- Ah, não é? – Neville se aproximou, com a varinha em punho, sem saber se olhava para Paul ou se olhava para a tal escrivaninha.
- Você acha mesmo que está por cima, não é? Como você é idiota, Longbottom... Envergonha o mundo mágico, bruxos como você deviam perder suas varinhas...
- E os como você deveriam perder a vida, Wright! – Neville estendeu a varinha em direção ao homem.
- Ora, ora, ora... Vamos! Aproveita agora, pois, só assim mesmo para você ter alguma chance contra mim, Neville Longbottom... Seu fracassado!

Neville apertou a varinha contra a mão com mais força. Paul estava começando a gostar disso.

- Vamos, Neville... – Continuou ele – Seus pais iriam sentir vergonha de você, seu molóide, garoto desajeitado... Não consegue conjurar nem um feitiço simples como o Expelliarmus? Que espécie de bruxo é você! Você é a vergonha da família...
- CALA SUA BOCA! – Neville gritou, com os olhos lacrimejantes.
- A verdade dói, não é, criança? Um bruxo com quinze anos... Precisa dos coleguinhas para aprender os feitiços mais básicos... tsk, tsk...

Paul conseguira o que queria: Neville estava completamente vulnerável. Passava em sua mente aquelas aulas que tinha com Harry Potter e companhia, no quinto ano, quando formaram a Armada de Dumbledore. Neville era uma negação nos feitiços. Paul agora abria um leve sorriso maquiavélico sem seu rosto, enquanto Neville deixava algumas lágrimas caírem pelas bochechas coradas, lembrando dos fracassos de quando era mais jovem.

- Tudo o que você fez, Neville... – Paul continuou, cada vez mais suntuoso – Sorte. Pura sorte... Mas a sorte acaba, garoto... Acaba.
- Não! Não acaba! Não é sorte! – Neville chorava como se tivesse voltado aos seus quinze anos e fosse aquele mesmo garoto bobo. – Eu sou como meus pais! Eu sou bom!
- Bom pra envergonhá-los, Neville... Se eu fosse você... Acabava logo com isso. O mundo não precisa de um bruxo como você, imprestável, inútil...
- EU NÃO SOU INÚTIL!!! – Neville abaixou a varinha, deixando-a cair no chão, levando às mãos ao rosto, em sinal de desespero.

Ao mesmo tempo em que a varinha de Neville caiu no chão, Paul sentiu que o feitiço que o mantinha imóvel acabara. Lentamente, levou a mão à sua própria varinha, mirando um Neville fragilizado, como aquele que estudou em Hogwarts há anos e anos atrás. Ele resmungava qualquer coisa sem sentido. Com um aceno de sua varinha, a de Neville voou até sua mão. Era agora ou nunca.

- Não chore, criança... – Paul se aproximava lentamente da escrivaninha, abrindo a gaveta à direita, tateando seu interior – Nem todos nascem para a vitória... Só os melhores vencem... E isso não inclui você... Que pena, não?

Neville ergueu os olhos, mas tudo o que viu foi uma rajada de luz vermelha que o cegou, o deixando inconsciente logo em seguida. A última coisa que ouviu foi uma risada debochada vinda de Paul Wright.

***

Jullie sentia os dedos de Claire passarem gentilmente pelos seus longos cabelos. Como era bom se entregar aquela amizade, só ela sabia o que estava sofrendo, deixando de compartilhar seus medos, suas tristezas, suas frustrações... Jullie não tinha amigos, ou melhor, não queria envolvê-los naquela loucura que era sua vida. Mas estava ali, diante da garota mais doce do mundo, Claire, era sem sombra de dúvidas a melhor amiga que poderia ter sonhado nesses seus onze anos de existência. Não queria soltá-la, ficou abraçada com ela, ouvindo os risos de Justin e Zac. Olhou para Tiago, que agora se entregava ao riso também. Que sorriso lindo tinha o menino... Jullie o mirava, sonhadora, enquanto apertava Claire contra seu peito, como se tivesse medo que ela saísse correndo. Tiago a olhou de relance. Os olhos verdes da Sonserina se encontraram com os seu cor-de-mel. Mesmo marejados de lágrimas, os olhos de Jullie eram lindos. Tiago ficou a olhando, sustentando um sorriso nos lábios. Justin reparou aquela cena, e deu um cutucão forte em Zac, fazendo o garoto reclamar de dor.

- Olha a cara dele... – Justin murmurou maldosamente – Ele é caidinho por ela! Só não quer assumir!
- Ah, Justin, pra você todo mundo tem segundas intenções... – Zac esfregava o braço, que ainda doía pelo impacto da cotovelada do amigo.
- Não, Zac, você é que vive no plano tridimensional e nunca presta atenção em nada... – Justin resmungou, ofendido.

Mas estava certo: Tiago sentia por Jullie algo estranho. Ela o irritava, nunca ninguém conseguiu irritá-lo antes! Era especial. A menina sorriu para ele, e foi como se alguém tivesse dado um peteleco em seu coração, que agora saltitava feliz e esperançoso. Jullie valia a pena, estava disposto a fazer o que fosse por ela.

- Claire... – Jullie foi soltando a menina lentamente – Me desculpa? Eu fui uma idiota...
- Xiii! – Claire sorria – Não peça desculpas! Agora, eu só peço que você confie em mim! Sabe, as vezes dividir o fardo o torna mais leve...
- Mas... Claire, você não entende!
- Mas eu vou entender se você me explicar. Eu não tenho pressa, Ju. Tudo no seu tempo, está bem? Estou ao seu lado sempre que você precisar.
- Você não existe! – Jullie sorriu abertamente – Não mesmo!

Os cinco alunos continuavam por ali, na Clareira. Jullie e Tiago trocavam olhares tímidos um com o outro, Justin olhava de um para o outro, sorrindo maliciosamente, enquanto Zac e Claire conversavam sobre Escórpio. Mas tinha alguém ali que não havia sido convidada.

- Ah, essa garota é um pé no saco! – Jéssica estava vermelha de raiva ao observar que Jullie estava novamente de bem com os Grifinórios – Agora, até Escórpio está do lado dela! Acho que vou ter que por em prática meu plano B...

***

Túlio olhou para os lados, como se estivesse receoso. Tinha intenção de descobrir a senha de acesso à pasta virtual de Lucas Vasseur e, com ajuda de Diana, divulgar aquelas informações. Era exatamente o que Jeremy o indicara fazer. Com aquelas preciosas informações, Claire poderia voltar ao seu convívio e muita dor poderia ser poupada. Tudo o que precisava era do programa instalado em seu notebook, que estava dentro da pasta que carregava. Diana reparou sua inquietação, mas manteve a descrição. Virou-se distraidamente, observando pelos vidros da janela que havia um pequeno tumultuo do outro lado da rua. Algumas crianças corriam, gritando animadas.

- Que será que se passa ali? – Túlio perguntou, curioso, olhando para o mesmo lugar que ela.
- Não sei... Deve ser alguém famoso.

Na mesma hora, um garotinho aparentando ter os seus nove anos, entrou no recinto correndo, com um sorriso de ponta a ponta das orelhas, puxando a manga das vestes do pai, que estava sentado ali, lendo seu exemplar de “Magic Tous les Jours”.

- Pai! Pai! McPhilp está aqui! – O menino tinha brilho nos olhos.
- McPhilp? – O pai ajeitou os óculos para mirar o filho
- É pai! Vem ver! Vem ver! – E o menino saiu puxando o pai porta a fora.

- McPhilp...? – Diana levantou, indo em direção à janela
- Conhece? É famoso? – Túlio foi até Diana, que se esforçava para ver algo.
- Se for quem estou pensando que é... Com certeza...

A mulher loira enrugou a testa. No meio de crianças que pulavam animadas, um homem loiro sorria, pegando pedaços de pergaminhos e diários, dando sua assinatura, freneticamente. Vários flashes eram disparados: Estavam de frente para uma celebridade.

- Ele é mais famoso que você? – Túlio riu.
- Ele é mais popular... – Diana olhou para Túlio, era estranho alguém não conhecer aquele homem, mas lembrou-se que se tratava de um trouxa. – Aquele ali é Bradley McPhilp.
- Ele é o quê? O rei dos bruxos? – O homem riu.
- Não... Mais que isso... É o rei do quadribol mundial!
- Quadribol...?
- É, depois eu explico... Ele é como se fosse um David Beckhan do mundo mágico, sabe?
- Ah, entendi...
- Ele é o melhor artilheiro do mundo mágico, ganhou por três anos seguidos o troféu “Dono da Goles”, que é uma premiação que acontece anualmente no Reino Unido.
- E isso não tem nada a ver com a aparência dele, tem? – Túlio observava o tal Bradley, reparando que era realmente um cara bonitão.
- Não... A aparência dele rendeu outro prêmio, o do “Bruxo mais encantador do ano”, da revista “WiTeen”...

Diana e Túlio riram juntos. A aglomeração lá fora desviara a atenção da conversa principal, mas a mulher não podia deixar de olhar para Bradley, que agora dava uma breve entrevista para uma jornalista eufórica. “Ele não mudou nada, nada...” pensava ela, com um sorriso melancólico no rosto.

- Diana, acho que não é muito prudente puxar um notebook por aqui, não é? – Túlio ainda olhava para os lados.

Silêncio. Diana não parecia tê-lo ouvido.

- Diana?
- Ah, quê? – Ela o mirou, confusa.
- Vamos descobrir a senha de seu falecido...
- Vamos, vamos... Mas antes... – Diana fez sinal de “espera” para Túlio – Eu preciso fazer uma coisa...

Túlio ficou confuso, vendo Diana abrir a porta do barzinho e sair em direção à multidão. Sem pensar, pegou sua pasta e foi atrás dela, deixando sob a mesa algumas moedas dos bruxos para pagar pelo chá. Foi acompanhando a loira, até que ela parou, com olhos fixados no jogador. Chegou mais perto, e pode ouvir a entrevista.

- Então, o que o trás até a Tiret du Bonheur, McPhilp? – Perguntou a jornalista, tentando parecer sensual para ele.
- Estou divulgando o novo lançamento da Firebolt, a vassoura que é mais que uma vassoura, é um sonho realizado! – Bradley falava de modo ensaiado – A nova FireFox XL Master, a última palavra em velocidade e precisão!

- Hump... Virou garoto propaganda... – Diana resmungou para si mesma. – Bem a cara dele...
- Desculpa... Mas você tem algo contra esse tal aí? – Túlio não pode deixar de perceber a hostilidade da mulher.
- Se eu tenho algo contra ele? Eu tenho tudo contra ele...
- Ah... – Túlio corou. Não esperava uma resposta tão sincera.

- E agora, McPhilp... Conte-nos! Como anda seu coração? – A jornalista deu uma leve piscada, estufando o peito.
- Ah... Meu coração está perfeitamente feliz...
- E já tem dona? – Perguntou, desanimando.
- Ele é como uma cabana mágica na Copa Mundial de Quadribol, queria Maggie... – E retribuiu a piscada – Sempre tem lugar para mais uma fã apaixonada...

- É muito cachorro! – Diana riu dissimuladamente.
- Essa foi feia, mesmo... – Túlio tentou engolir o riso.

A risada de Diana chamou a atenção dos repórteres por ali. De repente, ela se viu dividindo atenção com Bradley McPhilp. Quando este a viu, piscou algumas vezes, como se tentasse se certificar que a imagem da mulher loira não fosse uma miragem.

- Diana Vasseur! – A jornalista correu em direção à ela – A França quer saber... Como está após a morte de seu adorável marido? – Perguntou, sem tirar os olhos de Túlio.
- Estou levando bem, mas estou aguardando justiça... – Respondeu, observando que vários flashes a fotografavam ao lado do trouxa.
- E quem é seu amigo? - Todos os olhos voltaram-se para Túlio.
- Esse é... – Diana falou rapidamente, antes que Túlio se denunciasse como trouxa – É um escritor da Inglaterra, estamos trabalhando num livro juntos.
- Ah, que legal! E qual é a história, Sr...?
- Rowling... – Túlio sorriu, olhando de relance para Diana – Jeremy Rowling.

- Você conhece alguma família Rowling na Inglaterra? – Cochichou um repórter com um fotógrafo.
- Nunca ouvi falar, mas se Diana Vasseur está com ele... Ele deve ser bom... – O Fotógrafo deu de ombros e ergueu a câmera, batendo uma nova foto.

- Ora! – Bradley se aproximou, medindo Diana de cima a baixo – Se não é DiLune...
- Diana Luna Vasseur... – Diana lançou a ele um olhar fatal. – Meu nome é Diana Luna Vasseur...
- Ah, calma, DiLune... Você nunca reclamou do jeito que a chamava no Salão Comunal da Noble...
- Pois é, McPhilp... – Diana cruzou os braços. Os repórteres esqueceram que Túlio existia, para alívio do homem, e passaram a prestar atenção nas duas celebridades que se encaravam – Pra você ver que algumas pessoas mudam, não é?
- Claro que mudam, Diana... Você é um exemplo vivo disso.
- Pena que eu não posso falar o mesmo de você... Caras como você nunca mudam, são sempre os mesmos arrogantes e prepotentes de sempre...

- Está anotando isso? – Uma jornalista magricela perguntou para sua própria pena de repetição rápida, que apenas parou por um momento, como se indignada com a pergunta.

- Você já foi mais doce e meiga, DiLune... – Bradley ria ironicamente – Quem te deixou assim? Aquele trasgo velho do seu falecido marido? Isso é que dá, você deveria ter casado comigo enquanto era tempo...
- Não fale idiotices, seu babaca! – Diana avançou para o homem – Lava sua boca pra falar do meu falecido marido!
- Quando eu dei a você seu primeiro beijo, DiLune, lá nos jardins de Beauxbatons, você não me mandou lavar a boca, não é?

Todos os que estavam presentes arregalaram os olhos. Diana corou na hora, e antes que pudesse falar qualquer coisa a mais, Bradley a puxou pelo braço, dando-lhe um beijo roubado. Naquele momento, várias coisas aconteceram: Flashes alucinados reluziam, penas alvoroçadas escreviam freneticamente, as mães tampavam os olhos das crianças menores, os mais velhos deixavam os queixos caírem e...

- Que inferno está acontecendo aqui!? – Draco Malfoy acabava de chegar naquele local, se deparando com o beijo de Diana e Bradley.


***

Trinta minutos antes...

Paul Wright voltara à cena em que estava de frente para Draco Malfoy. Mas agora, seu rumo mudara. Desaparatara até o local seguro, pelo qual tinha sua entrada secreta para Hogwarts. Sentia uma certa emoção, por um triz não foi descoberto. Guardava mentalmente que tinha que tomar cuidado e parar de subestimar Ernesto McMillan. Quanto à Neville Longbottom, este já estava fora da jogada. Era mais fácil que tirar doce de criança.

- Professor Wright?

Uma voz ecoou assim que Paul atingiu o interior de sua sala em Hogwarts. Um aluno dava leve batidas na porta, abrindo-a em seguida, colocando sua cabeça pela fresta, olhando para Paul.

- Professor? Posso lhe falar? – Um aluno sextanista da Sonserina pedia permissão para entrar.
- Claro, Stuart... Entre... Sente aqui... – Paul tentava segurar um riso. Conseguira, mais uma vez.


***

Jéssica permanecia parada, observando de longe a confraternização dos amigos na Clareira. Ficaram por uns vinte minutos entre conversinhas, até que Justin deu um jeito de tirar Zac e Claire do local, deixando Tiago e Jullie sozinhos. Com muito custo, Zac entendeu a intenção do amigo.

- Então... Tiago, vamos... Ali... – Justin tentava se explicar – Até... Daqui a pouco...
- Ah, está bem... – Tiago balbuciou sem Jullie perceber um “obrigado” para Justin.

Esperou que os três saíssem dali, passando pela saída até desaparecerem. Jéssica se espremeu para que não fosse vista, apurando os ouvidos para escutar a conversa dos dois. Assim que se certificou que estavam a sós, Tiago encarou Jullie.

- Jullie... Eu...
- Ô, Potter... – Jullie fez sinal para que ele parasse de falar – Olha, eu... Não é porque eu e Claire fizemos... As pazes... Ou sei lá o que houve aqui... Que eu mudei de...
- Ah, cala a boca, garota! – Tiago deu um guincho de impaciência, puxando Jullie e dando um beijo na menina.

Jéssica deixou seu queixo cair. Não esperava por aquela cena.

- Que isso? Está maluco? – Jullie empurrou Tiago, trêmula.
- Estou... Estou desde que conheci você! Jullie, eu não sei como, mas eu não consigo parar de pensar em você!
- Mas você tem que parar!
- Não dá! Você está aqui! – Tiago apontou para sua cabeça, e depois para seu coração – E aqui... Que é pior ainda...

Jullie mordeu o lábio inferior. Sentiu uma vontade louca de sorrir, era a coisa mais fofa do mundo do jeitinho de Tiago falar, se declarando... Mas não podia ceder.

- Escuta, Tiago... É para seu bem! Você precisa se distanciar de mim!
- Por quê? Por que, Jullie? Me diz por quê! Eu não posso simplesmente tirar você do meu coração assim, sem uma explicação...
- Eu não posso contar, eu juro...
- É sobre aquele diário? Ele é uma horcrux? – Tiago arriscou.

Jullie empalideceu na hora.

- Como é, Tiago?
- Seu diário, ele é uma horcrux, não é?
- Como...? De onde você tirou isso?
- Eu sou filho de Harry Potter... Sabe?
- Mas...? Você acha que meu diário é uma horcrux do Tom Riddle?
- Não dele, a dele meu pai... – Tiago parou de falar. Tom Riddle? Como Jullie sabia do nome do Lord Voldermort? Mesmo após a queda do Lord das Trevas, o nome “Tom Riddle” não era lá muito conhecido – Você disse Tom Riddle?

A menina deu um gemido. Segundo furo em menos de uma hora. Jéssica ainda prestava atenção na cena, antenas ligadas, captando tudo.

- Esse era o nome real do Lord Voldemort... Não era, filho de Harry Potter?
- Era, mas... Nunca ouvi ninguém chamá-lo assim antes... Nem meu pai.
- Tem sempre uma primeira vez... – Jullie fingiu bocejar – Ai, que sono... Eu vou dormir... Boa noite, Potter...
- Ah, não senhorita! – Tiago se pôs à frente da menina – Nem pense! Eu estou certo, não é? Está tentando desconversar, mas eu acertei! É uma horcrux, não é?
- Tiago... Não viaja... Eu nem sei o que é um horcrux ao certo... Jullie tentou se fazer de desentendida – Olha, depois a gente conversa, está bem? Muitas emoções para um dia só...
- Muitas? – Tiago riu, maliciosamente – Qual delas foi a mais emocionante?
- Ah... Com certeza não foi o seu beijo roubado. – Jullie riu.
- Não? Não precisa se fazer de difícil, Jullie.., Estamos só nós dois aqui... Eu não conto pra ninguém... Vai... Assume... Meu beijo é tudo de bom...
- Você é tão convencido... – Jullie revirou os olhos.
- Eu não sou convencido! Sou realista...
- Ah, está bem... Olha, tudo se aperfeiçoa com a prática, ok? Um dia seu beijo vai ser tudo o que há de bom, quem sabe...
- Então... Me ajuda a praticar? – Tiago se aproximou novamente da menina, a mirando sonsamente.
- Ai, ai... Por que eu sou tão prestativa assim...?

Os dois riram, se abraçando em seguida. Jéssica sentiu um ligeiro nojo com a cena. Resolveu sair dali e começar a colocar seu plano em prática. Andou ligeiramente pelos corredores, seguindo pelo caminho que levava ao Salão Comunal da Grifinória. De longe, viu que Claire estava parada na porta, acompanhada por Rosa e Alvo. A menina falava animada com os dois, e pelo visto contava as vitórias do dia para os dois.

- E aí Jullie fez as pazes com a gente! – Os olhos azuis de Claire brilhavam intensamente.
- Ai, isso é ótimo! – Rosa dava pulinhos, animada – Que bom! Claire, você é incrível!
- Claire é perfeita demais para ser verdade... – Alvo comentou, corado.
- Ah, pára, gente! – Claire ria, timidamente – Eu só fiz minha parte!


Jéssica se aproximou deles, respirando fundo, tentando mentalizar qual seria seu próximo passo.

- Ah... Claire? – Jéssica parou perto dos três, tentando parecer boazinha.
- Olá? – Claire sorriu para a menina, ao passo que Alvo e Rosa a encararam, com suas caras amarradas.
- Será que eu posso conversar com você? É sobre o Escórpio... Sabe, somos amigos, e eu... Queria uns conselhos seus... Podemos esquecer o passado e tentar recomeçar? – Jéssica estendeu a mão para Claire, mentindo perfeitamente bem.

Alvo e Rosa se entreolharam. Não parecia nada sincera aquela atitude.

- Claro que sim! – Claire apertou a mão da sua sósia.
- Ah, que bom! Bem que Escórpio falou que você era um amorzinho... – Jéssica se esforçava para sorrir – Podemos falar em particular?
- Sim! Mas... Onde?
- Vem comigo! – Jéssica puxou Claire pela mão.

Claire deu tchau para os amigos, deixando Rosa e Alvo inquietos.

- Isso não está me cheirando bem... – Rosa comentou.
- Ei, não fui eu! Juro! – Louis chegava perto dos primos, a tempo de ouvir a garota, a olhando com cara de culpado.
- Ai, Lou! Eu estou falando daquilo ali! – Rosa revirou os olhos, apontando para Claire e Jéssica andando pelo corredor – E... Sua mãe sabe o quanto você é porco?
- Rosa... Me erra? – Louis fez cara de tédio. – Alvo, me dá uma ajudinha no trabalho de poções? Estou meio enrolado...
- Claro... Em que questão?
- Err... – O menino sorriu sem graça – Em todas...
- Nossa, como é dedicado aos estudos... – Rosa balançou a cabeça, entrando em seguida para o Salão Comunal.

Jéssica e Claire andavam de mãos dadas. A Sonserina tentava bravamente parecer legal e feliz, ao passo que Claire estava realmente feliz pela atitude da menina. Pararam perto do Salão Comunal da Sonserina, nas Marmorras, e Jéssica falou amigavelmente.

- Me espera um instante? Eu quero pegar meu diário para te mostrar!
- Ah, eu espero! – Claire sorriu.

Jéssica virou as costas, fazendo um careta sem que Claire percebesse. Entrou correndo no Salão Comunal, ignorando as amigas que falavam com ela. Entrou correndo no Dormitório Feminino, pegando um frasquinho em cima do seu criado mudo, uma caixa de chocolates e um diário com plumas cor-de-rosa. Colocou a caixa de chocolate sobre a cama, aplicando em alguns chocolates um pouco do líquido que continha naquele frasquinho. Visualizou bem em quais deles havia colocado tal poção, para não cometer nenhum engano. Guardou novamente o frasquinho e saiu correndo novamente. Saiu do Salão Comunal, sorridente, encontrando Claire conversando com Escórpio.

- Nossa, ela não perde tempo! – Resmungou a garota.
- Ah, você já voltou! – Claire comentou, feliz – Estava contando para Escórpio sobre sua atitude bonita em querer recomeçar do zero...
- Recomeçar do zero, heim? – Escórpio olhou questionador para Jéssica.
- Pois é, e temo assuntos de meninas a tratar! – Jéssica sorria sonsamente – Vamos, Claire! Meninos estão proibidos de ver meu diário!

As duas meninas saíram correndo, deixando o garoto loiro com uma enorme pulga atrás da orelha. Tinha algo de muito estranho no comportamento do Jéssica.

Jéssica parou de frente para o mesmo armário das vassouras onde Claire achou Escórpio chorando. Era o lugar perfeito.

- Queremos segredo, não? Aqui é perfeito! Vamos? – Abriu a porta, deixando Claire entrar primeiro.
- Ah, eu gostei daqui! Tem bastante privacidade! – Claire se jogou no chão, sentando com as pernas cruzadas – Não é incrível como somos parecidas, Jéssica?
- Me chama de Jessie... – A menina sorriu forçadamente – Pois é, somos idênticas! Poderíamos ser irmãs, não é? Ah, trouxe um chocolate para gente! Pega um!

Jéssica estendeu a caixa, deixando disponíveis todos os chocolates enfeitiçados. Claire inocentemente pegou um dele, se deliciando. Adorava chocolates.

- Obrigada! Adoro chocolates! E então... Seu diário é tão bonito!
- Ah, obrigada... – Jéssica olhou para o diário – Pois é... Eu tenho uns segredos, sabe?

Aos poucos, Claire foi sentindo os olhos pesarem, ao passo que Jéssica ia abrindo um sorriso malicioso. Ainda fez Claire comer mais um dos chocolates, antes que a garota caísse num sono profundo. Aqueles chocolates estavam enfeitiçados com uma potente poção sonífera, preparada pelo próprio Paul Wright. Jéssica havia roubado da sala dele logo que teve a idéia do tal plano maligno.

- Um dos meus segredinhos, Claire, sua trouxa... – Jéssica ia tirando suas vestes da Sonserina – È que eu não me junto com sangue-ruins como você... Garotinha patética!

Entre risinhos vitoriosos, Jéssica trocou de vestes com Claire, deixando em seguida a garota dormindo no chão do armário. Ao sair dali, olhou para os lados, ajeitando aquela veste horrível, com aquele leão pomposo e tão idiota em sua concepção. Pensou se daria certo. Mal pensou e ouviu um nome que não era o seu, mas deveria ser agora.

- Claire! – Alice Longbottom acenava de longe – Oi, amiga!
- Ah... – Jéssica tentou parecer Claire – Olá!
- Você está bem, amiga? – Alice a mirou, curiosamente.
- Estou... Meio cansada! Acho que vou dormir, sabe? Nos falamos amanhã? Na aula?
- OK, eu preciso ir pro Salão Comunal, mesmo... Estou vindo do Corujal! Minha mãe mandou a última edição d’O Pasquim para mim, nem saiu nas bancas ainda! Estou tão empolgada para ler! – Alice ergueu a revista que tinha nas mãos e Jéssica sentiu vontade de vomitar ao se deparar com tal publicação.
- Ah, depois você me empresta, está bem? – Falou, sem vontade.

Alice tomou o rumo de seu Salão Comunal, ao passo que Jéssica respirou fundo. Era Claire agora. Seu plano começou a dar certo. Agora, vinha a segunda parte: O Salão Comunal da Grifinória e Tiago Potter. A garota ia andando, com um olhar de maldade incompatível com as vestes que trajava naquele momento.

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