Rua dos Alfeneiros
As horas passaram rápido, e quando Harry olhou para o relógio na parede de sua sala, faltavam 10 minutos para as 14 horas, horário no qual deveria estar no gabinete do Ministro para reunião sobre o caso Cavendish. Quase no mesmo momento em que se dera conta do fato, Hermione adentrou sua sala, tendo em mãos a pasta preta na qual se lia “Caso Cavendish” na frente. Sem precisar sequer falar, Harry levantou-se e a acompanhou até o elevador. Chegando ao nível 1, viram Draco saindo de sua sala e foram se juntar a ele no caminho até o gabinete de Adrian Wright. Hermione reparou que Draco estava mais pálido que de costume, mas entendeu que ele estava de fato abatido pelos últimos acontecimentos.
- Derrotas, então... – Draco cochichou enquanto andava.
- Claro... – Hermione balbuciou e Harry apenas acenou com a cabeça.
Os três pararam à frente da porta da sala do Ministro, contudo, Adrian não estava sozinho. A porta entreaberta permitiu que Draco mirasse duas figuras muito conhecidas. O homem loiro fez sinal para que Harry e Hermione não falassem e tentou ouvir qualquer coisa que Adrian tratava com aquele casal.
- Eu não sei como isso foi acontecer...
- Não sabe, Adrian? – Um homem bem vestido falava em tom irônico – Eu sei... Incompetência. É isso.
- Adrian, nós somos uma equipe! Se você der mancada, vamos todos para a derrota! – Uma mulher morena, extremamente atraente, falava em tom de súplica.
- Não seja injusto, Tom... Paul e eu estamos dando nosso melhor! E Você, Pity... Deveria ser mais grata com seus irmãos!
- Grata? Mais...? – Pietra Watson deu um gemido de incredulidade, sendo interrompida por seu marido.
- Se esse é o melhor de vocês, estou de fato cercado de incompetentes! – Thomas Watson deixou-se enxergar por Harry e Hermione, que se entreolharam, confusos – Aquela bastarda é sua responsabilidade, Adrian! Jullie é a de Paul e nenhum dos dois consegue fazer nada direito! Será possível!
- Eu não sei como essa fedelha foi parar em Hogwarts! – Adrian tinha a veia da testa estufada e pulsante – Eu não sei! Planejamos tudo tão perfeitamente bem...
- Jeremy... – Thomas o interrompeu.
- Como? – Adrian ficou confuso e Draco, que ainda apurava os ouvidos para ouvi-los, também.
- Está vendo como é incompetente? Jeremy! Ele está por trás disso...
- Impossível! Jerry está internado no St. Mungus há anos!
- Disso sabemos, Adrian! – Pietra revirou os olhos – Mas Tom tem uma tese...
- Adrian, seu idiota... Você pode ser ótimo bruxo, Paul é excepcional também, mas Jeremy sempre foi o mais inteligente dos três.
- Tanto que... – Adrian deu um riso dissimulado – Foi para Grifinória? Não me façam rir!
- Não acha? Pois bem, Adrian... Continue com sua prepotência, mas... Eu te digo: se tiver que tomar providências como as que tomei, novamente, seus dias de reinado estarão contados. Entendidos?
Thomas falava num tom de ameaça, tanto que até Draco, que só estava participando da conversa como intruso, sentiu um calafrio percorrer sua nuca ao ouvi-lo. Que diabos estaria fazendo aquele homem visitando Adrian? E com Pietra? Contudo, Draco já estava ligando as informações e agora era mais do que verdade: Claire era de conhecimento do Ministro o tempo todo. Só restava agora saber o que estava por trás de tamanho mistério. E mais um dúvida veio à tona: O que teria Jullie, filha de Thomas e Pietra, a ver com o caso? Voltou a se concentrar na conversa nada animada no interior da sala, a tempo de ouvir Adrian num sussurro rouco.
- Não haverá necessidade... Garanto.
- Então, acho que não preciso dizer novamente que cuide para Diana Vasseur ficar bem longe... – Thomas falou com um riso macabro no rosto e Draco sentiu o coração disparar. Agora, Harry e Hermione também gelaram – Aquela traidora do sangue, desgraçada. Do marido dela... Já tratamos e graças a mim... – Ele fez questão de frisar bem sua participação – Tudo foi perfeito... Espero que ela não cruze nosso caminho, tampouco.
- Eu ainda não entendi por que...
- Não entenda, Adrian. – Thomas andava em direção a porta e Draco se afastou, sentindo-se tonto, se comunicando por olhares com Harry e Hermione, ambos estáticos até agora – Só faça o que eu mando... Diana sabe demais, o babaca do Vasseur sabia demais... Melhor... – Ele parou e deu uma última olhada para Adrian – Deixe-a comigo. Acho que posso me divertir um pouco.
- Mas Draco e...
- Dane-se Malfoy... Eu não me importaria de acabar com aquele inútil. Estaria fazendo um grande favor acabando com ele.
Draco enxergou tudo preto a sua frente e Hermione se antecipou, achando que ele desmoronaria ali mesmo.
- Thomas, por tudo o que á de mais sagrado... Não queremos mais mortes... – Pietra estremeceu.
- Então, Pity, meu amor... Peça a Merlin que ninguém se intrometa em nossos planos... Eu não me importo em derramar sangue, seja de quem for, seja como for... Passar bem Adrian...
O homem girou em seus calcanhares e levou a mão alva à maçaneta. O trio que estava no corredor agiu rapidamente, simulando que chegavam ali agora. Draco sentia o chão fugir de seus pés e Hermione, pensando rápido como sempre, brilhantemente encenou
- Malfoy... Céus! Está tão pálido, acho que deveria tira um dia de folga... Muito trabalho...
Hermione o olhou dentro dos olhos, como se pedisse para confiar nela. Ao mesmo tempo, Thomas abriu a porta vagarosamente, dando de cara com os três, acreditando que de fato chegavam ali naquele momento. O homem os olhou com nojo, mas foi em Harry que deteve os olhos. Draco tentou entrar no jogo de Hermione e parecer surpreso com a presença de Watson.
- Ah, eu acho que está certa... Weasley... – Draco virou a cabeça como se só agora visse Thomas. – Muito... Trabalho...
Pietra veio logo atrás do marido, contemplando-os com ar de superioridade. Harry encarava Thomas à altura, percebendo que seus olhos castanhos o fitavam fria e dissimuladamente.
- Ora, ora, ora... – Thomas o media dos pés a cabeça – Se não é Harry Potter, aquele que venceu o Lord das Trevas...
- Pois é, sou eu mesmo... – Harry manteve-se firme nas palavras – Alguma objeção?
- Nenhuma... – Um sorriso irônico estampou a face de Thomas momentaneamente - Passar bem.
Thomas e toda sua ironia saiam do recinto deixando Harry com o rosto púrpura de raiva e uma vontade louca de puxar a varinha e convidá-lo para um duelo, mas segurou a onda. Pietra sequer os cumprimentou, passando como se fugisse de um mau odor que se instalara no local. Adrian, que acabara de sentar atrás de sua mesa, trêmulo, suando frio e mais pálido que Draco, por mais incrível que parecesse, fez sinal para que entrassem. Hermione acudia Draco e Harry tentava parecer bem.
- Desculpem... Eu não esperava a visita deles hoje... – Adrian parecia extremamente confuso.
- Problemas de família, Ministro? – Hermione arriscou.
- Sim... Sim... Jullie... Paul está tendo dificuldades com nossa sobrinha, parece que ela apresenta distúrbios mentais seriíssimos, os mesmos que Jeremy apresenta...
- Engraçado... – Harry o interrompeu – Meus filhos conhecem sua sobrinha, Jullie Anne... Dizem ser uma garota adorável... Porém, Paul Wright a persegue.
Adrian levantou a cabeça rapidamente, encarando Harry com irritação. Hermione e Draco arregalaram os olhos.
- Como é, Potter?
- Foi o que me disseram, Ministro... – Harry não vacilou – Tiago e Alvo não mentem... Eduquei meus filhos para serem homens de bem, e eles disseram que Jullie era a garota da Sonserina mais legal que eles conheciam...
- Oras, Potter... Não se meta nos assuntos de minha família!
- Não me meto... Contanto que seus assuntos de família não prejudiquem outras famílias... Inclusive... Tiago me contou que Paul Wright está fazendo com que Jullie os ignore, a afastando dos amigos, repreendendo e ameaçando a pobre garota...
- BASTA POTTER! – Adrian se levantou com fúria, socando a mesa.
- Adrian... – Harry manteve-se aparentemente calmo – Acho melhor não mentir...
- O QUE VOCÊ ESTÁ INSINUANDO, SEU INSOLENTE!
- Rapazes... – Hermione empalidecera – Vamos nos concentrar no motivo da reunião?
- Saia daqui agora, Potter! – Adrian ignorou Hermione, apontando para a porta de seu gabinete, olhando enfurecido dentro dos olhos de Harry.
- Ah, não saio não... Viemos tratar de um assunto de meu interesse
- O caso foi confiado a Weasley e Malfoy... Retire-se agora e não questione minha superioridade, Potter! Não se atreva...
- Acho que... – Harry falava num tom inacreditavelmente sereno – Você não entendeu, Adrian... Eu sou o chefe dos Aurores... Eu não sou seu subordinado...
- Oras, seu...!
- Adrian... – Draco fez um breve sinal de “calma” para o homem, que estavas prestes a ter um colapso nervoso – Potter deve ficar... Afinal, ele está coordenando de perto o caso... Nós estamos muito confusos... Não estamos chegando a lugar nenhum, por mais que nos esforcemos...
Adrian deixou de olhar Harry para mirar Draco. Parecia que as palavras que ele proferia eram bálsamo para as aflições que tremiam em seu interior, como um grande terremoto.
- Prossiga... – Disse, ele, voltando a sentar-se, olhando de relance para Harry.
- Bom... Weasley e eu temos tentado contato com vizinhos, fomos até a escola onde Claire estudava, visitamos algumas amigas dela... Até no cartório trouxa nós fomos, e não localizamos registros dessa criança... É como se...
- O passado de Claire fosse apagado... - Hermione completou, folheando a pasta preta.
Adrian suspirou, parecendo aliviado. Draco estava olhando pelo canto do olho para verificar o que Hermione estaria fazendo com aquela pasta. “Ela surtou?” Pensava ele, temendo que Adrian desconfiasse que as derrotas não eram tantas assim. A mulher retirou uns papéis de dentro da enorme pasta, entregando-os a Adrian. Ele hesitou por alguns momentos, mas o pegou, sem entender o que ela queria o dizer.
- Esse é um relatório da polícia trouxa. – Hermione esclareceu para a surpresa de Draco e Harry. Se ela não fosse tão competente, achariam que estava a um passo da loucura.
- Polícia... Trouxa? – Adrian balbuciou
- Exatamente... Pedi a eles que escasseassem os arredores da residência da família Cavendish e outros bairros Londrinos... Sabe, temos um contato especial com essa polícia, pessoas que nos ajudam nos casos de uso indevido de magia na presença de trouxas e outras questões que envolvam o povo não mágico, estão, inclusive, ajudando Rony no caso Vasseur... Enfim... Os contatei na esperança que me ajudasse a localizar os Cavendish. Contudo, descobri algo inesperado que pode nos ajudar... Leia você mesmo.
Draco e Harry estavam tão atônitos quanto Adrian. Hermione tinha um péssimo hábito de fazer tudo por sua conta e risco. Era bárbara, mas custava contar com antecedência? Adrian leu os papéis, com a expressão de espanto. Enquanto isso, Hermione lançava aos outros dois um olhar de “tenho tudo sob controle”.
- Espera, Weasley... – Adrian falou sem retirar os olhos dos papéis – Aqui diz que...
- Os pais de Claire não existem, nunca existiram na Inglaterra. Não há registros deles. – Hermione afirmou com tranqüilidade.
- Mas é impossível!
- Não, não é... Tem alguém que está tratando de deletar todo o passado de Claire. Não sabemos até que ponto essa história é real, ou imaginária... Eu creio, Adrian... – A mulher olhou para os lados, para Draco e Harry, e falou num suspiro – Que isso tudo é uma grande lorota. Estão tentando desviar o foco do real problema por trás de Claire.
Houve um longo momento de silêncio. “Ela pirou”, Harry pensou.
- Poderia ser mais clara, Sra. Weasley? – Adrian estava impaciente e confuso.
- Ah, desculpa... – Hermione deu um sorriso nervoso – O que eu quero dizer é que alguém está criando essa história... Criando o registro de Claire como trouxa, dando a Claire uma nova história que não é a sua... Por exemplo... Os dados enviados a Hogwarts: nenhum foi confirmado, exceto pela própria garota. É extremamente fácil confundir a cabecinha de uma criança de onze anos...
- Onde você quer chegar?
- Quero chegar no ponto que essa história toda foi criada para cobrir o furo de deixar uma bruxa conviver com trouxas sem ser de conhecimento do Ministério. Claire recebeu carta de Hogwarts só porque alguém encaminhou a história e seus dados em segredo! Não tínhamos conhecimento dela no ministério... Se ela passasse dos onze anos sem ser convocada para Hogwarts... Imagine que incompetência seria!
- Isso não faz sentido algum...
- Pode parecer loucura, Adrian, mas tudo é loucura nesse caso... Estão tentando acobertar um erro do Ministério. Permita-me o comentário maldoso... Mas estão encobrindo o furo dado com Claire. A história da menina é uma farsa. Vai ver, nem o nome dela é Claire...
Hermione falara com tanta propriedade, que até Draco e Harry estavam acreditando que aquela história era real.
- Então...? – Adrian falou como se ainda esperasse alguma explicação.
- Então... Alguém dentro do Ministério está envolvido diretamente com esse caso. Alguém que tem poder suficiente para tal e acesso às informações mais sigilosas, quem tenha sua inteira confiança e influencia suficiente para lidar com trouxas e bruxos.
- Alguma sugestão de quem seja tal pessoa?
Hermione respirou fundo. Por fim, olhou para Draco.
- Draco Malfoy.
- EU...? – Draco demorou alguns segundos para assimilar a acusação– ESTÁ MALUCA, WEASLEY?
- Dra... – Adrian engasgou – Draco?
- Exatamente. – Hermione ainda olhava Draco, tentando se expressar com o olhar – Eu pensei muito sobre isso, e só Draco teria como fazer tal coisa, já que é seu braço direito, Ministro... E Diana Vasseur poderia o ajudar com seu convívio perfeito com os trouxas... Ela também será intimada.
- Essa é uma acusação muito, muito grave, Weasley! – Draco estava rubro de raiva. Como assim ela o culpava? Logo ele, que estava com ela no caso? E Diana? Era loucura demais para entender.
- Desculpe, Malfoy... Mas quero pedir ao Ministro autorização para investigá-lo e tirá-lo das suas responsabilidades no Ministério, até que possamos confiar novamente em você.
- Se é para o bem de... Err... de uma pobre criança... Draco... Está afastado das suas tarefas junto ao Ministério e sob observação dos Aurores. Nem pense em sair da Ing...
- Ministro... – Harry o interrompeu, Adrian franziu a testa demonstrando que não gostara da interrupção
- Que é, Potter?
- Essa fala... É de um Auror...
- Que seja! Eu sou o Ministro!
- Tudo bem, o Sr. é o Ministro, mas não tire a autoridade legal de um Auror...
- Você está testando minha paciência, Potter!
- Draco Lucius Malfoy... – Hermione estava um tanto nervosa, retirando outro papel de sua pasta, dessa apenas uma folha simples de pergaminho – Eu, Hermione Jane Weasley estou o autuando, pelos poderes a mim concedidos pelo Conselho de Aurores Ingleses, região II, e cumprindo o previsto no Código Mágico Criminal, vigente, parágrafo V, inciso XI... – E deu o papel a Draco – E o informo que está a partir de agora sob investigação judicial. Não deve sair do país e é aconselhável que nem ao menos saia da cidade. Também, está afastado de seu cargo de confiança, até que as suspeitas sejam descartadas. Deve contatar um advogado para assisti-lo nos trâmites legais. Tudo isso visando a segurança e tranqüilidade da População Mágica. Esse documento é a ordem judicial, que nos dá pleno direito de investigar sua pessoa.
Draco estava a ponto de partir para cima de Hermione.
- Eu ainda não... – Ele bradou enfurecido, mas foi cortado por Harry.
- Não conteste, Malfoy... Não ponha você também a autoridade de um Auror em xeque. Isso pode piorar sua situação.
- Bem... – Adrian parecia calmo demais para quem acabara de receber a notícia que seu braço direito era um impostor – Algo mais a declarar? Não, porque... Agora... Parece que os Aurores tomam conta do caso, não? – E lançou um olhar cheio de ironia para Harry.
- Era isso... – Hermione tremia um pouco – Eu precisava da sua autorização para afastar Draco do Ministério pelo período da investigação.
- Perfeito... Se me dão licença... Preciso sair. Problemas de família para resolver. – Adrian apontou para a porta sem cerimônias, quase os ordenando que saíssem.
Draco foi o primeiro a sair, com fúria nos olhos e sem olhar para trás. Harry olhou para Hermione, a mulher estava ofegante, como se quisesse chorar. Eles saíram da sala, fechando a porta cuidadosamente. Quando Harry abriu a boca para falar algo, Hermione o puxou pela mão, se certificando que Adrian estava de fato na sala e não os via.
- Vamos, Malfoy precisa entender o jogo!
Ela o puxou, correndo até a sala de Draco. Se aproximaram a tempo de ouvir o estrondo que a porta fechada por ele com ignorância descomunal fez. Hermione sequer bateu à porta, invadiu a sala e antes que Draco passasse seu sermão, ela vomitou as palavras.
- Saia triste e revoltado com o mundo... Procure Diana e fique com ela. Fiz isso para ganharmos tempo na Rua dos Alfeneiros e para que você fique fora dos olhos e Adrian. Sob custódia dos Aurores, Você e Diana estarão seguros, entendeu?
Draco desenrugou a testa. Então... Era um plano.
- Hermi...
- Não... Escute! – Ela o interrompeu – Você ouviu o que Thomas Watson disse! Eu já previa isso, Draco! Sério! Eu fiz o papel por garantia, mas não tive dúvidas quando o ouvi! Sabemos que eles são os culpados, mas temos que fazê-los se entregarem! Uma hora ou outra, eles vão se enrolar! Por Merlin, proteja Diana...Watson disse em outras palavras que matou Lucas Vasseur... Eu não sei o que ele tem a ver com isso... Mas Diana...
- Jeremy! – Draco se tornou pensativo
- Como é?
- Jeremy! Diana! Ela sabe do Jeremy! Ela me contou! É isso! – Draco abriu um sorrisão – Hermione, Merlin seja louvado por sua inteligência! Você é um gênio! Faz sentido... Preciso achar Diana logo... E ela precisa me contar o que sabe sobre Jerry...
- Mione... Acho que posso confessar agora... – Harry parecia ter se livrado de uma carga de 100 Kg – Eu estava com medo de você...
- Ah, pára! – Hermione riu, nervosa – Eu fiquei com medo de Draco dar um surto geral, mas agora vocês entendem, não?
- Ela é perfeita, Potter! – Draco arrumava algumas coisas – Eu fiquei louco de ódio, ela é muito convincente... Se não fosse Auror, poderia ser atriz...
Hermione corou.
- Ande, Malfoy... Saia e ache Diana... Hermione estará na sua cola, mesmo... E não deixe de nos avisar qualquer novidade, ok?
- Pode deixar, Potter...Agora é minha vez de ser ator... – Draco pegou alguns pertences e saiu da sala encenado frustração.
- Quanto a nós, Harry... – Hermione olhou Draco sumindo corredores a fora do Ministério – Vamos agora para a Rua do Alfeneiros. Não temos tempo a perder.
- Você vai tirar meu cargo de chefe, garota...
Harry não pensou duas vezes. Voltou com Hermione até sua sala, convocou os Aurores presentes no momento e lhes passou algumas ordens para o dia, explicando que devido aos mais recentes acontecimentos, deveria se ausentar durante toda a tarde.
- Em caso de urgência... McKinnan está autorizado a responder por mim... – Harry falava, mesmo que sem olhar para os Aurores, pois estava preocupado demais em arrumar sua bagunça de papéis antes de sair – E Teddy... Eu ainda não li seu relatório... Desculpa, não tive tempo... O entregue a Gina, para que ela leve para casa...
- Não, deixa que eu levo... – Teddy deu um risinho – Aproveito e janto com você, “dindo”...
- Oh... – Harry o olhou sorrindo – Será um prazer... Quase nunca o temos em casa...
- Eu sei, minha presença é o máximo, não? – Teddy piscou ao mesmo tempo em que seu cabelo ficava azul-marinho.
- Acho que é só... Rafa... Segure as pontas, por Merlin...
- Pode deixar, Harry! – Rafael McKinnan sorriu – Está tudo muito tranqüilo, não teremos problemas, em nome de Merlin...
- Onde está Rony? – Harry virou a cabeça, procurando a cabeleira ruiva de Rony.
- Ele teve que sair, parece que é algo sobre o caso do Vasseur... – Rafael explicou.
- Menos mal... Diga-o que roubei a mulher dele... No bom sentido, é claro... – Os Aurores riram, mais para agradar o chefe, do que da piadinha sem graça.
Depois de cumprir seu papel de chefe, Harry e Hermione saíram às pressas do Ministério. Harry estava com um olhar de expectativa. A mulher percebeu que ele estava eufórico e entendeu rapidamente: Desde seus 16 anos, Harry não via os Dursleys. Depois de mais de 20 anos... Aquele reencontro parecia algo improvável. Também, as circunstâncias não eram nada agradáveis, não estavam partindo para um chá das cinco, mas para um investigação formal. Hermione gentilmente levou a mão ao ombro do amigo, enquanto ele apertava o cinto de segurança.
- Tem certeza que está tudo bem em ir até os Dursleys?
- Tenho... – Harry fincou as mãos com força no volante – Eu me devo isso, Hermione... É o meu passado, também... Talvez eu seja expulso de lá com um rolo de macarrão, mas... preciso correr o risco.
- E eu estou com você... – Hermione deu um sorriso sincero.
Os dois amigos partiram. A cada quilômetro rodado, o coração de Harry acelerava. Ele lembrava de tudo que passara na Rua dos Alfeneiros, número 4. Lembrou-se de seu armário abaixo da escada, das suas roupas largas e remendadas, herdadas por ele de Duda, lembrou-se de como rezava todas as noites para que seus pais voltassem e o livrassem daquele lugar...
Mas agora, Harry era um homem. Não era mais aquele menino órfão. Harry tinha uma família de verdade...
As lembranças de sua infância dura e triste deram espaço às do dia de seu casamento, como Gina estava linda de noiva... E um ano depois, quando recebeu da mulher uma caixinha de presente, com sapatinhos dentro e uma mensagem “parabéns, papai” e soube que seu primogênito nasceria... Lembrou-se do nascimento de Tiago... Depois de Alvo e de sua princesinha, Lilian...
- Você está bem, Harry?
Ele se pegou chorando. Uma lágrima rolava em sua bochecha, mas foi com um sorriso de felicidade que ele respondeu Hermione.
- Eu venci, Mione... Quando me disseram que era um anormal, que era um inútil, um louco... Eu provei que não era... Eu venci. Eu sou um vencedor. Meus pais sentiriam orgulho de mim... Eu só lamento por não estarem aqui para me ver agora... Voltando à Rua do Alfeneiros, não como um derrotado, mas como um pai de família, um profissional bem sucedido e um homem feliz.
Hermione começou a chorar também.
- Você é um vencedor, Harry, desde o dia que você nasceu...
A emoção tomou conta de Harry, que agora, via um placa antiga, com uma seta indicando que a entrada para a “Rua dos Alfeneiro” era à esquerda. Entrou na curva, com o coração a mil. Parou o carro na praça que ficava a menos de 300 metros da casa de número 4. Olhou em volta. Estava mudado aquele lugar, mas a casa 4... Era exatamente igual a que ele deixara.
- Vamos... – Disse ele, mais para si mesmo do que para Hermione.
Desceram do carro, cheios de expectativa. Viram algumas crianças brincando, deteve os olhos em uma menina que se balançava sorridente. Aparentava ter seus 11 anos, tinha cabelos castanho-claros, pele rosada e era bem gordinha. Não teve dúvidas.
- Aquele deve ser a filha do Duda – Apontou para a menina, comentando com Hermione.
- Como sabe?
- Está na cara... É muito parecida... Mas vamos...
Parou em frente à porta branca, após cortar o jardim da casa. Olhou para as flores de Tia Petúnia, e estranhou. Não havia muitas rosas, mas sim uma vasta gama de lírios.
- Minha tia nunca gostou de lírios... – Harry enrugou a testa.
- Não? Ela deve preferir as petúnias...
- Não... As rosas... – Harry comentou parecendo não entender o trocadilho da amiga.
Estava ali, de frente para aquela tão conhecida casa. Suspirou, respirou fundo, olhou para Hermione e recebeu um olhar de conforto. “anda, Harry... Você consegue”
Bateu à porta.
- Carol, minha flor... É você? A porta está aberta...
Uma voz feminina muito conhecida gritou no interior da casa. Estava mais arrastada do que ele lembrava, mas era a mesma voz. Harry estremeceu, mas abriu a porta mesmo assim. Ficou imaginando como Tia Petúnia o receberia depois de tanto tempo. Ensaiou mentalmente o que falaria, mas ao ver a cena no interior da casa, emudeceu.
- Carol? – A voz voltou a perguntar – Quem está aí?
Tia Petúnia estava sentada numa cadeira de rodas. Estava velha e muito magra. Harry pôde ver que seus olhos estavam esbranquiçados. Ela estava cega. Hermione abafou um gemido.
- Quem está aí! Diga!
- Tia... – Harry engasgou – Tia Petúnia... Sou... Sou eu...
- HARRY...! – Ela gritou, com surpresa
- Eu sei que faz tempo...
- HARRY! – Ela gritou de novo e agora deixava lágrimas rolarem pelo rosto com ossos sobressalentes – EU SABIA! ELA DISSE QUE VOCÊ VIRIA!
Harry calou-se, olhando para Hermione, confuso. Viu sua tia abrir os braços, como se quisesse abraça-lo. A amiga o empurrou, como se o desse forças para ir até ela. Ele obedeceu. Parou em frente à tia, mas não expressou movimento nenhum.
- Ela disse, filho... – a velha continuou – Ela me jurou que eu ainda teria chances de me desculpar com você! Dê-me um abraço, querido... Eu não posso levantar-se... O que vê aqui é uma velha que colheu os frutos plantados em uma vida de amarguras.
Harry lançou um olhar breve para Hermione, que acenou levemente com a cabeça. Não respirou, apenas se inclinou, abraçando levemente a velha tia, com todo cuidado, com se ela pudesse partir ao meio caso ele exercesse maior força no abraço. Sentiu as lágrimas dela molharem seu ombro.
- Perdoe, querido... Perdoe por tudo o que te fiz... Oh, Deus! Obrigada! Eu já posso morrer em paz! Precisava do seu perdão, Harry...
Harry não conseguia dizer nada. Abraçou um pouco mais forte a tia, e desabou em lágrimas. Nunca pensara que ouviria pedidos de desculpas dela, mas era tão sincero. Hermione estava chorando também. Aquela cena era muito comovente. Um homem feito chorando como uma criança, uma senhora entrevada e cega que pedia perdão... Por alguns momentos, eles se permitiram esquecer do caso Cavendish para ceder lugar às emoções guardadas por anos.
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