Único.
Foi num dia de turbulência que eu encontrei a pessoa mais calma que já havia visto. Achei-o um bocado esquisito, a principio, mas bonito. Ele parecia o céu cinza-profundo que estendia-se sobre os vivos. Ele me disse que não vivia, lhe respondi que a existência é forma de vida e que de repente, de repente fazia sentido viver ao seu lado. Ele me disse que era uma garota que não sabia das coisas e eu ri dele, de como ele sabia menos do que imaginava. Naquele dia cinza eu havia escolhido rosa como minha eterna cor. Rosa vivo. A principio, não sei se por medo de si mesmo ou de mim, ele ficou distante, cinza, cinza para valer, me partia o coração de vê-lo assim, fiquei tão cinzenta quanto ele, e chorei. Ele ouviu meu choro e foi perguntar porquê. Eu disse que não ia responder o que ele já sabia. Então por algum motivo ele riu e pediu-me pra ser rosa de novo: disse que somente rosa-eu dava graça na sua vida. Rindo mais e beijando – feliz, sim eu vi, estava feliz – aceitou. Amou. Disse que aprendeu comigo, que eu era pra sempre a menina dele e dessa vez fiquei, rosa, rosa e até ele ficou um pouco. Mas rosa mesmo era a pessoinha que demos um ao outro. Nos amávamos. Tanto que não pude, não pude evitar, de ir com ele, lutar entre as cinzas de mundos queimando, lutar pelas rosas e pelo nosso pequeno botão, tão pequeno enrolado naqueles cobertores... Louca, louca ele disse que eu era. Disse que ambos éramos. É louco quem luta por amor, talvez. Quem morre, quem morre apenas é... E não é mais. Cinza e rosa, somente. Orai por nós meu pequeno, que já não podemos olhar por ti. Amém e nada mais.
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