As aulas no Ministério

No dia seguinte ao da partida de Hermione, Harry acordou com os berros da Sra. Weasley, pois haviam dormido demais e perdido a hora do café da manhã. Sem óculos, Harry viu a figura borrada de Rony pular da cama e ir em direção à janela.
Uma grande coruja entrou voando pela janela recém aberta e quase atropelou Harry.
- É da Mione – disse Rony, tirando o pergaminho amarrado à perna da coruja.
Harry colocou os óculos e trocou de roupa, enquanto Rony respondia a carta entusiasticamente.
- Nunca vi você feliz em escrever coisa alguma – comentou Harry, vendo Rony amarrar outro pergaminho à perna da mesma coruja, que saiu às tontas pela janela.
- Se eu não responder ela me mata. E depois, acho que essa coruja maluca só sairia daqui com outra carta.
- E aí, alguma novidade?
- Na verdade, não. Ela só disse que está com saudades e manda lembranças a você e Gina.
Harry, Rony, Jorge e Gina passaram o resto do dia jogando quadribol. Rony na posição de goleiro e os outros três tentando marcar gols. Gina se saíra melhor, pois Harry e Jorge estavam fora de suas posições.
- Acho que não jogo quadribol desde que aquela sapa velha da Umbridge confiscou minha vassoura e proibiu a mim e ao Fred de jogar – comentou Jorge. – Desde que abrimos a loja não tem sobrado tempo pra mais nada.
- É, acho que Rony e eu também não tivemos muito tempo para o quadribol – disse Harry.
- E por falar na Umbridge, o que aconteceu com ela? Continua presa? – perguntou Gina.
- Ah é, e eu digo que ela não sai de Azkaban tão cedo – disse Rony. – Enquanto Kingsley for ministro, podemos confiar que as leis estão sendo cumpridas. E nada de Dementadores, o Profeta publicou uma nota sobre a erradicação do uso deles.
- Já era hora – disse Harry, lembrando-se das terríveis criaturas encapuzadas.

No dia seguinte, todos acordaram cedo. A Sra. Weasley preparou o café da manhã, como de costume, e Rony e Jorge foram para o Beco Diagonal. Harry acompanhou o Sr. Weasley e Percy até o Ministério.
- Bom, Harry – disse o Sr. Weasley – vou trabalhar, se precisar você sabe onde é a minha sala. Até mais e boa sorte!
- Obrigado.
Harry encaminhou-se para uma porta de madeira muito lustrosa onde se lia Ministro da Magia em uma placa de latão dourado. Bateu e aguardou até a voz grave de Kingsley Shacklebolt mandá-lo entrar.
O escritório do ministro era amplo e bem iluminado, com grandes janelas encantadas. Harry reparou que ele não estava sozinho, pois um homenzinho já conhecido encontrava-se sentado à sua frente.
- Bom-dia, Harry. Esse é o Prof. Tofty, examinador do Ministério.
- Já nos conhecemos – disse o professor. – Vi esse rapazinho executar um perfeito Feitiço do Patrono há três anos quando examinava seus N.O.M.s.
- Melhor assim – disse Kingsley. – Sente-se, Harry.
Harry deu alguns passos e ocupou a outra cadeira diante da escrivaninha do ministro.
- O Prof. Tofty irá prepará-lo para o curso de auror. Pronto para começar?
- Estou – respondeu o garoto.
- Ótimo. Então se puderem me acompanhar.
Kingsley levantou-se e dirigiu-se à porta, seguido por Harry e Tofty. Seguiram pelo corredor, desceram um lance de escadas e entraram em uma pequena sala de aula, com paredes de pedra. Havia um pequeno quadro negro na parede dos fundos, atrás de uma escrivaninha. Outra escrivaninha fora colocada diante do quadro, e junto a esta uma poltrona. Sobre a mesa havia alguns livros, rolos de pergaminho, tinteiros e penas. Ao lado da mesa um caldeirão de tamanho médio fora colocado no chão. Na parede do lado esquerdo havia um armário cheio de frascos contendo ingredientes para o preparo de poções. Uma única janela ocupava a parede do lado direito. O pessoal da Manutenção Mágica devia estar de bom humor, pensou Harry, pois a sala estava banhada pelos raios de sol.
- Aqui você terá suas aulas, Harry. Depois de terminá-las você pode ir ao escritório de Arthur para ir para casa com ele. Não preciso pedir que se dedique, pois é importante que você esteja apto para fazer o curso o mais breve possível. Agora vou retomar meus afazeres.
- Obrigado – disse Harry, pela segunda vez.
Kingsley deu meia volta e saiu da sala. Eles ouviram o som de passos pesados subindo as escadas e morrendo aos poucos ao avançarem pelo corredor.
- É um prazer ser seu professor, Sr. Potter – disse Tofty. – Vamos começar com algumas azarações que você não conheça e também vou lhe ensinar a preparar uma poção muito útil. Se puder se sentar...
O garoto ocupou a poltrona enquanto o homem erguia a varinha e diminuía a claridade do lugar.
Ao fim da aula, Harry dirigiu-se ao escritório do Sr. Weasley, no segundo andar - que era mais espaçoso desde que havia sido promovido.
Harry entrou na sala e encontrou o Sr. Weasley conversando com um bruxo de outro departamento, a expressão em seu rosto era preocupada.
- Acho que terminamos, Arthur – disse o bruxo, assim que viu Harry.
- Eu posso esperar lá fora, Sr. Weasley.
- Não se preocupe, Harry, Rodolfo tem mesmo que ir. Até amanhã, Rodolfo.
O bruxo chamado Rodolfo saiu da sala apressado. O Sr. Weasley tirou seus óculos de aros de tartaruga, limpou as lentes e recolocou-os no rosto.
- Algum problema, Sr. Weasley?
- Não, Harry, nada de mais. Alguns bruxos desocupados andaram vendendo objetos mágicos aos trouxas, sempre acontece. Suponho que isso vá dar um pouco de trabalho aos obliviadores.
O Sr. Weasley deu uma risadinha sem graça, vestiu sua capa e deixou a sala. Harry acompanhou-o, certo de que o problema era muito mais sério do que o outro havia lhe contado, mas não insistiu. Se agora viria ao Ministério todos os dias poderia ficar sabendo o que realmente estava acontecendo.
Os dois encontraram Percy e foram para A Toca. Assim que Rony e Jorge chegaram, a Sra. Weasley serviu o jantar.
- Caracas! – exclamou Rony, quando os dois foram para o quarto – Você acha que eram objetos das trevas?
- Foi o que eu pensei. Aquele tal de Rodolfo estava bem preocupado e seu pai também ficou assim quando ele saiu. De qualquer jeito vou ficar de olho e se souber de algo eu te falo.
- Ok. E como foi a aula?
- Nada muito complicado. Eu estava praticando o Feitiço de Proteu antes de você chegar; aquele que a Mione usou nas moedas da AD. Ela mandou notícias?
- Mandou. Está em Paris, parece que os pais dela gostam muito da França.
O restante da semana passara depressa. Harry continuava assistindo as aulas do Prof. Tofty, sempre atento aos comentários dos trabalhadores do Ministério. Mas se os objetos mágicos eram ou não das trevas, ele não ficou sabendo, pois as pessoas não comentavam sobre o assunto. Ele também não cruzou novamente com o bruxo que estivera conversando com o Sr. Weasley em seu primeiro dia no Ministério.
Embora tudo indicasse que não havia problema algum, Harry notou certa agitação nos cubículos dos aurores. Toda hora eles eram vistos entrando e saindo e muitos estavam ausentes por vários dias. Harry se perguntou se estariam no St. Mungus ou cumprindo alguma missão. O Sr. Weasley continuava afirmando que não havia com o que se preocupar, mas parecia mais velho e cansado do que de costume. Ele também tinha certeza de que o pai de Rony tomava o cuidado de não comentar nada em casa, onde qualquer um dos filhos pudesse ouvi-lo.

Na semana seguinte, porém, Harry ouviu comentários sobre novos ataques a trouxas enquanto saia de sua aula. Alguns trabalhadores do Ministério passavam por ele aos cochichos, não porque quisessem impedi-lo de ouvir ou porque estivessem falando sobre ele, mas porque não ousavam fazer comentários em voz alta. Isso inevitavelmente lembrou a Harry os tempos que Lord Voldemort estava recuperando o poder, no entanto, agora ele sabia que isso não era possível. Voldemort não voltaria, estava morto. Mas que outra coisa tão grave poderia estar acontecendo? O que provocaria tal agitação nos trabalhadores e deixaria todos tão preocupados? E por que Kingsley tinha tanta pressa que ele se tornasse auror?
Uma voz grave às costas de Harry tirou-o de seus devaneios.
- Harry, acompanhe-me até minha sala, por favor.
Harry seguiu Kingsley até o escritório onde havia a placa Ministro da Magia na porta. Kingsley esperou até que Harry passasse, fechou a porta e contornou sua mesa para ficar de frente para o garoto. Sentou-se e indicou uma cadeira a Harry, que fez o mesmo.
- Suponho que você tenha percebido algo e esteja se perguntando o que está acontecendo por aqui, não?
- Sim, senhor. Eu perguntei ao Sr. Weasley, mas...
- Ele não está autorizado a contar, nenhum dos trabalhadores está. Mas antes que eu lhe explique devo lhe dar os parabéns. O Prof. Tofty acaba de me informar que você não precisará mais das aulas dele e já poderá iniciar seu curso.
Kingsley acomodou-se melhor na cadeira, de modo a encarar Harry.
- Bom, agora o que vou lhe contar é de extrema importância. Peço que seja discreto, pois poucos aqui sabem a real gravidade do assunto.
Harry deixou a sala do ministro quarenta minutos depois, pensando em tudo que acabara de ouvir. Dirigiu-se a sala do Sr. Weasley sem realmente prestar atenção aonde ia, seus pés já conheciam o caminho e pareciam perfeitamente capazes de encontrá-lo sozinhos. Quando notou que estava diante da porta, bateu e entrou. O Sr. Weasley estava sozinho, aparentemente a sua espera.
- E então, Harry, Kingsley lhe contou? – perguntou examinando o garoto através de seus óculos de aros de tartaruga.
- Sim... Sr. Weasley, ainda há gente que pense como o Voldemort sobre isso de ter sangue puro?
- É, Harry, creio que não podemos mudar a mente das pessoas ou mandar nos pensamentos delas. É horrível, mas como Kingsley deve ter lhe dito, essas pessoas têm prazer em ferir os trouxas, pois acham que o mundo seria melhor se só houvesse sangue mágico e puro correndo nas veias de todos, então bruxos mestiços e nascidos trouxas também correm certo perigo.
- E os aurores têm estado ausentes porque estão procurando os responsáveis por isso?
- Sim. É por isso que precisamos de aurores competentes e é por isso que Kingsley quer que você esteja pronto quando chegar a hora de entrar na missão.
- E alguém já foi capturado?
- Não. Estamos lidando com gente muito astuta, Harry, gente perigosa. Conseguimos algumas testemunhas, algumas provas de trouxas que foram gravemente feridos por comprarem objetos enfeitiçados, mas é o que temos.
Alguns segundos de silêncio se passaram até o Sr. Weasley se levantar e dizer:
- É melhor irmos andando, já estamos atrasados para o jantar.
Quando chegaram, Percy já estava em casa e conversava com a mãe enquanto ela fazia pratos levitarem do armário para a mesa. Até Rony e Jorge haviam chegado em casa primeiro e a Sra. Weasley pediu a Harry que fosse chamar os dois para jantar. Harry subiu as escadas e foi para o quarto de Jorge. Mas antes que alcançasse a porta e pudesse bater, essa se escancarou e a voz de Jorge mandou-o entrar.
- Como sabia que era eu? – perguntou Harry quando entrou no quarto.
- Graças a esse novo aparelhinho – respondeu Jorge, mostrando um objeto semelhante a um telefone celular.
- Isso é um celular? – perguntou o garoto.
- O que é um celular? – perguntou Rony.
- Um telefone móvel – respondeu. – Mas o que é esse negócio?
- Ainda não tem nome, mas aceito sugestões. Coloquei um feitiço que identifica quem está vindo em sua direção. É útil se quiser se esconder de alguém, mas ele ainda se engana. Antes ele detectou a presença de Carlinhos, sendo que ele está bem longe. Rony e eu ainda temos que trabalhar nele, deixá-lo a prova de falhas antes de colocar na loja.
- É como o Mapa do Maroto, genial – disse Harry.
- É, foi daí que tirei a idéia, mas ele funciona em qualquer lugar e mostra pessoas a certa distância de você.
Depois do jantar, Harry contou a Rony sobre a conversa que teve com Kingsley e também o que o Sr. Weasley havia dito.
- Isso é realmente estranho – comentou Rony -, quer dizer, objetos das trevas estão proibidos, assim como circular pela Travessa do Tranco, mas parece que encontraram um jeito de contrabandear essas coisas.
Harry demorou a pegar no sono àquela noite, pensando em tudo que ouvira. Instintivamente levou a mão direita à testa e tocou sua cicatriz; ela não doía desde que havia derrotadoVoldemort, e esperava que pelo bem de todos, continuasse assim. Rony roncava sonoramente na cama ao lado.

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