História para dormir



-- Mamãe...

Já passava da onze quando uma garotinha com aparentes quatro anos e brilhantes cabelos vermelhos adentrou o quarto de seus pais, arrastando seu unicórnio de pelúcia e com seus olhos azuis cheios de lágrimas.

- Mamãe... – tornou choramingar – Não consigo dormir... – abraçou apertado o unicórnio que tinha acabado de ganhar da sua tia.
- Lily? – um homem com cabelo preto bagunçado apertou o cenho, tentando focalizar a filha a sua frente – O que aconteceu? – tateou na mesinha ao lado da cama os óculos.
- Papai. – passou a mão pela camisola roxa com pequenas luas brilhantes que a sua madrinha Luna havia lhe dado de Natal, ligeiramente envergonhada.
- Querida, já passa da hora de você estar na cama. – ele olhou bondosamente para a filha, que tinha estendido os bracinhos na direção dele.
- Eu sei disso, papai. – fungou, enquanto o homem a pegava no colo – Mas é que o Jamie me contou uma história do vampiro mal que mordia as pessoas. – as lágrimas começaram a escorrer – Agora, não posso mais fechar os meus olhinhos.
- Mas é só uma história. – ele secou o rosto da filha – Não é nada mais que isso.
- Mas papai... – ela arregalou os olhos – O Jamie disse que é uma história de verdade. – os cabelos da garota bateram no rosto do pai enquanto ela balançava a cabeça freneticamente.
- Eu já disse milhares de vezes para ele parar de assustar os irmãos, principalmente a Lily, com essas histórias de terror. – uma mulher também ruiva, fechou a porta do banheiro atrás de si.
- Eu vivo dizendo isso para ele, Ginny.
- Ele está ficando impossível, Harry! Impossível! – ela suspirou - Eu te disse que não era para colocar esse nome nele.
- E qual é o problema com James Sirius Potter? – Harry levantou as sobrancelhas e a esposa balançou a cabeça.
- Quero ver como vai ser quando ele for para Hogwarts! Acho que vou receber mais corujas que a mamãe quando os gêmeos estavam na escola.
- E tudo isso por conta de um nome?
- Tudo isso por conta de dois nomes dos maiores criadores de confusão de Hogwarts! – ela suspirou resignada.

Não queria mais discutir por causa das escolhas dos nomes das crianças com ele. Não tem como mudar mesmo, as escolhas já foram feitas.

Agora era só rezar e esperar que o James Sirius não fique igual ao avô e ao padrinho do pai; que o Albus Severus não fique brincalhão e rabugento e que a Lily Luna não fique esquentada e avoada ao mesmo tempo.

- Você vai ter que falar com ele amanhã, Harry.
- Não se preocupe, vou ser bem duro com ele. – respondeu sorrindo.
- Quero só ver isso. – olhou para a filha, sentada no colo do pai, com seus olhos azuis completamente abertos na sua direção – Vamos, Lil, mamãe fica até você dormir. – pegou a menina no colo.
- Tchau, papai. – sorriu, dando tchauzinhos para o homem que tinha voltado a se acomodar na cama.

- A senhora me conta uma história? – a pequena perguntou assim que elas chegaram no quarto.
- Outra história?
- Mas eu não quero uma de terror. – ela balançou a cabeça.
- Tudo bem. – Ginny sorriu e a colocou na cama. Foi até a estante e pegou um livro velho e manchado – Qual eu leio? ”Babbity, a coelha e o Toco que Cacarejava”?
- Não, mamãe. – se acomodou melhor na cama – Eu quero algo diferente.
- Diferente? – franziu o cenho - ”O coração peludo do Mago”? Ou ”O conto dos três irmãos? Esse é o máximo de diferente que eu consigo arrumar para você.
- Não, mamãe. Eu não quero escutar nenhuma história do Beedle. – ela fez um muxoxo – Eu já conheço todas de cor.
- Você quer o que? – sentou na cadeira ao lado da cama da filha – Algumas das histórias trouxas que a sua tia Hermione te deu?
- Não. – olhou em volta – Eu quero... Quero alguma história que seja verdadeira.
- História verdadeira? – franziu o cenho.
- É, mamãe! Uma história verdadeira! – ela abriu um sorriso enorme e seus olhos brilharam – Eu já sei, mamãe! Eu já sei que história que eu quero!
- Já sabe, querida?
- Sei, sim. – afirmou freneticamente com a cabeça – Me conta como a senhora começou a namorar o papai!
- Como é que é? Não, Lily, eu não vou te conta isso! – olhou para a filha que a olhava com uma expressão fofa – Está bem, pestinha. – a menina sorriu – Mas não conte nunca para o seu pai que eu te contei isso para você. Ouviu bem? – apertou de leve o nariz dela.
- Nenhuma palavra, mamãe.
- Certo, então. – cobriu a filha melhor – E por onde eu começo?...
- Pelo beijo, mamãe! Pelo beijo! – Lily gritava feliz.
- Pelo beijo? – Ginny olhou divertida para a filha – Sim, é justamente por ele que tudo começa.

Então como se tivessem virado uma chave em sua cabeça, os anos começaram a correr para muito tempo atrás. Em uma velocidade incrível, como se a sua vida dependesse disso.

Lembrou dos primeiros aniversários de seus filhos, do nascimento deles, de algumas brigas com o Harry, de seu casamento, de algumas conquistas no Harpias, sua primeira vez, da primeira palavra do Teddy, do enterro do seu irmão, o presente que ela deu ao Harry...

Todos esses anos passaram correndo na sua mente, tudo em menos de dois segundos.

E tão rápido como havia começado, terminou.



***********



- Ele foi um completo idiota.
- Hermione, você quer fazer o favor de parar de repetir isso? – Ginny olhou para ela pelo espelho – Você já repetiu isso pelo menos umas cem vezes nos últimos minutos.
- Mas ele É um completo idiota! – bufou – Não sei como você consegue gostar dele do jeito que gosta. – Ginny só levantou uma sobrancelha.
- O meu irmão tem a sensibilidade de uma colher de chá, e nem por isso você deixa de gostar dele. E outra coisa, eu não gosto mais do Harry. Só para deixar claro.
- Nem eu do Ron. – Hermione disse categórica.
- O problema - Ginny virou de frente para a amiga, que estava deitada na cama dela – é que você não sabe mentir.
- Ele não devia ter feito isso! Tudo bem que o Malfoy ia usar uma Maldição Imperdoável, mas o Harry também não podia usar um feitiço que ele não conhecia. – Hermione recomeçou, não prestando mais atenção aos comentários da amiga.
- Você até pode estar certa, mas porque não voltamos a falar sobre isso lá fora, no salão comunal? Eu vou acabar ficando atrasada para o jogo. – começou a puxar a amiga para fora do dormitório.

- Não, não e não! Eu já disse que não é assim, Dean¹! – elas escutaram Harry esbravejando, assim que alcançaram a metade da escada - Você vai primeiro para esquerda e depois para a direita!

- Vocês já tomaram café? – Ginny parou ao lado deles dois e do irmão, mas se dirigiu ao Harry.
- Estou sem fome. – ele respondeu firme.
- Você precisa comer alguma coisa. – tornou a repetir, mais firme que ele.
- Eu já disse que estou sem fome.
- Você não vai ficar de barriga vazia! – Ginny sentenciou e ele se deu por vencido. Não queria discutir com ela por besteira.



- Eu queria poder ir com vocês. – Harry disse desanimado, meia hora depois.
- Se você não tivesse seguido aquele livro idiota.
- Por Merlin, Hermione! Você não se cansa de repetir isso toda hora não? – Ron olhou irritado para ela.
- Eu venho repetindo o ano inteiro que aquele livro não era boa coisa, e ele me escutava? Não! E olha só no que deu! – retrucou com todo aquele seu ar de sabe tudo – Imagina o que poderia ter acontecido se eu não tivesse passado esse tempo todo falando? – olhou irritada para o outro.
- Como você consegue ser irritante! Eu acho que você faz isso de propósito! Você ainda não percebeu que ele já está se culpando o suficiente? – Ron apontou para o Harry, tendo as suas orelhas já tingidas de vermelho – Você podia dar um desconto para ele! – cruzou os braços e virou de frente para ela.
- Por mais que você possa não ver nada de errado no que ele fez, Ronald...
- Caraca! – Ginny disse baixo – Eles já vão começar! – tapou o rosto com a mão e balançou a cabeça.
- Eles nunca param. – Harry corrigiu – Mas, como quase sempre, ela está certa. Isso tudo é culpa exclusiva minha, eu que me meti nessa confusão toda.
- Não tinha como você saber que feitiço era aquele. – Harry olhou melhor para ela.
- Por isso mesmo que eu não tinha que ter usado. – olhou para um ponto atrás dela - Acho melhor você ir logo, já está em cima da hora.
- Tomara que dê tudo certo com o Snape. – ela olhou nos olhos verdes dele.
- Tomara que dê tudo certo no campo. – ele olhou nos olhos âmbar dela.
- Vai dar. – ele continuou a olhando com uma expressão firme.
- Tome cuidado, Ginny. – tocou de leve no braço dela.

É...

Talvez ela estivesse um pouco equivocada. Talvez, mas só talvez, ela ainda sinta alguma coisa pelo “menino-que-sobreviveu.”

Ou quem sabe, ela sinta alguma coisa não pelo “Eleito” ou pelo “menino-que-sobreviveu”. E sim, pelo Harry. Somente, Harry. Sem nenhum apelido.

Só Harry.


*****

- Será que ele demora muito ainda? – voltou a andar de um lado para o outro, completamente impaciente.
- Pouco menos do que ele demoraria cinco minutos atrás, quando você perguntou pela quinta vez. – Hermione levantou os olhos do livro e olhou a ruiva a sua frente – Continue assim que você vai acabar fazendo um buraco no chão. – voltou a atenção para o livro.
- Eu não consigo ficar parada. – tornou a olhar para o retrato da Mulher Gorda.
- Ginny, porque você não vai comemorar com os outros? Uma hora ou outra o Harry acaba aparecendo.
- Mas ele já deveria estar aqui há muito tempo, Hermione!
- Eu sei disso, você sabe disso, o time todo sabe, a Grifinória toda sabe e aposto as calças de Merlin que até o Snape sabe. – fechou o livro e olhou para a amiga – E é justamente por isso que ele vai prende-lo o máximo possível.
- Mas isso não é justo!
- Você sabe que é justo sim. – balançou a cabeça – Ele fez por merecer isso. E ele deu sorte de não ter sido expulso.
- Mas ele não devia prende-lo por tanto tempo. – virou de frente para a janela – Isso é um absurdo!

Ela virou para a janela e olhou para a noite que começava a se encaminhar lá fora, mas sem vê-la realmente. Seus pensamentos estavam no moreno.

Estavam, onde sempre ficavam. Nele.

Mesmo ela não querendo, vez ou outra ele sempre aparecia em seus sonhos, sempre aparecia mesmo ela não o convidando ou o chamando. Era como se tivesse um imã, que ligava seus pensamentos nele. Ela gostaria muito que com ele também fosse a mesma coisa.

Queria que ele também pensasse nela, e não como a irmãzinha do seu melhor amigo, mas sim, como uma garota. Mas isso ela sabia que era pedir demais. Não é?

Um urro a tirou de seus pensamentos. Um urro, seguido de perto por vários gritos. Ginny olhou para a amiga que sorria, depois virou para o buraco da Mulher Gorda, onde um Harry assustado era felicitado por várias pessoas.
- Vencemos! – ela viu e ouviu o berro que o Ron deu, começando a pular sacudindo a taça na frente dele – Vencemos! Quatrocentos e cinqüenta a cento e quarenta!

E sem pensar, sem planejar nada, Ginny foi em direção ao Harry. Se atirou no pescoço dele, que era o que ela mais queria fazer desde que o jogo tinha acabado.

Ela abriu a boca para falar, mas som algum saiu de lá. Não deu tempo para formular frase alguma, porque para sua mais completa surpresa, Harry a beijou!

Ela estava beijando Harry James Potter!

Foi um choque tão grande quando ela percebeu isso, que num primeiro momento ela não conseguiu corresponder. Mas foi somente uma fração de segundos, logo ela já estava o beijando com todo o seu coração.

E ela percebeu o que há muito ela sabia, mas não tinha coragem de confessar para ninguém, nem para ela mesma: ela ainda o amava, o amava cada vez mais.

Era um fato consumado, Ginevra Molly Weasley ama Harry James Potter.

E ninguém ia mudar isso.

Ela sentiu as mãos dele apertando a sua cintura de forma urgente, de uma forma que fez com que seu corpo ficasse mole. Ela o puxou ainda mais para perto pela nuca. Não queria se separar mais dele.

Mas foi justamente isso que ele fez. Se separou dela.

Ela buscou os olhos dele, mas não os encontrou. Ele olhava para algum ponto a cima da cabeça dela, como se procurasse algo ou alguém. Harry deve ter encontrado o que procurava, porque a expressão dele relaxou e ele olhou para os olhos castanhos da Ginny. Sorriu logo em seguida, indicando o buraco do retrato.

Talvez eles devessem conversar... Ou quem sabe, apenas aproveitar o momento...

Quem sabe... Um pouco dos dois.

- Então... – ele começou lentamente – Ganhamos o jogo, não foi?
- É o que parece. – ela respondeu, andando ao lado dele.
- Como foi o jogo? – tirou uma tapeçaria da frente deles – Vamos por aqui, Ginny. – pegou a mão dela a guiando pelos caminhos que ele conhecia de cor – Tem menos gente.
- Para onde estamos indo, afinal? – ela perguntou olhando para a própria mão atada a dele.

De repente ela percebeu como a mão dele era grande. Percebeu também, que mesmo a dela sendo tão menor que a dele, elas se encaixavam perfeitamente. Como se tivessem sido moldadas para andarem juntas.

Juntas, nunca separadas.

Estranho isso, mas ela estava com a pequena impressão que, mesmo ela tendo apenas 15 anos, talvez ela não queira se separa daquela mão nunca mais.

Sorriu. Não tinha mesmo como não sorriu.

- Pensei que talvez você gostaria de dar um passeio pelo jardim. – ele respondeu meio sem jeito – Para falarmos do jogo, é claro. – completou apressado.
- Falar do jogo. Está bem, vamos falar do jogo. – ela concordou com um sorriso bobo brincando em seus lábios.

Ele parou de andar e virou de frente para ela. Ficou sem se mexer alguns segundos, só olhando para o rosto pontuado de sardas da garota.

Olhou fundo nos olhos âmbar dela. Ela retribuiu o gesto, podendo apreciar sem constrangimentos, sem ter que se esconder, os olhos verdes dele. Ele levantou a mão pegou uma mecha do cabelo dela enrolou nas pontas dos dedos e tornou a olhar nos olhos dela por uma fração de segundos.

Nada mais que isso, porque ele os fechou e começou a chegar mais perto dela. Ela ainda manteve os dela abertos por algum tempo, com medo que fosse só mais um dos seus sonhos loucos.

Mas não era.

Ele largou a mecha do cabelo dela e a segurou pela nuca. A outra mão ele pousou delicadamente na cintura fina dela. Ele a trouxe para mais perto, encostando o seu corpo no dela.

Foi nesse momento que Ginny esqueceu qualquer receio, qualquer medo, qualquer insegurança que ainda poderia sentira, e se entregou de corpo e alma ao beijo de Harry.

Esse foi diferente do primeiro. Esse foi mais calmo, eles não tinham mais a pressa, ainda tinha muito tempo... Seus lábios podiam se conhecer calmamente, sem desespero algum...

Ela o enlaçou pelo pescoço, o trazendo para mais perto ainda...

- POTTER! – alguém gritou perto deles.

Eles se separam com um pulo, ficando quase um metro longe um do outro. Os lábios vermelhos, as roupas amassadas, os cabelos completamente fora do lugar... Não era uma aparência para estudantes de uma escola de prestigio como aquela.

- Onde você pensa que está, Potter? – Snape mantinha o olhar fixo nele, ignorando completamente a garota.
- É que... Bem... – ele olhou de relance para Ginny.
- Desculpa, professor. – Ginny falou, fazendo com que ele virasse a sua atenção para ela – Estávamos indo para o jardim...

Ele olhou demoradamente os cabelos ruivos dela com uma expressão indefinível no rosto. Depois tornou olhar o garoto, agora com uma expressão que beirava o asco estampado no rosto.

- Suma da minha frente Potter. – a voz dele exalava um gelo surpreendente – E Weasley, escolha melhor suas companhias da próxima vez. – girou nos calcanhares e sumiu no breu do corredor mais próximo.
- O que fou isso? – Ginny perguntou indo para perto do garoto.
- Não sei, e não quero ficar aqui para descobrir. – ele deu de ombros – Vamos logo para o jardim.

Voltaram a caminhar lado a lado, com um silêncio constrangedor pairando entre eles. Ela não sabia o que falar, e ele parecia compartilhar desse sentimento.

Mas ela resolveu quebrar a monotonia: segurou na mão dele de repente, fazendo com que ele a olhasse. Ela sorriu como resposta.

- O que foi? – ela perguntou inocentemente.
- Nada. – ele riu, a fazendo sorrir ainda mais.

Continuaram andando em direção ao jardim quando um pequeno grupo de alunas da Lufa-Lufa passou por eles. Algumas deram risadinhas apontando para a mão dada deles, outras começaram a cochichar também os olhando, e umas duas ou três sorriram para o Harry. Ginny, por algum motivo que ela desconhecia, não gostou dessas garotas. Ela olhou torto para elas e chegou mais perto do Harry.

- O que foi? – foi a vez dele perguntar inocentemente.
- Nada. – ela respondeu séria, fazendo com que ele escondesse o sorriso que se formou no seu rosto.
- Você deve achar isso muito engraçado. Não é mesmo, Sr. Potter? – ela estreitou os olhos na direção dele.
- O que eu acho engraçado? – perguntou no momento que pisaram no jardim.
- Agora deu para ficar fazendo brincadeiras?
- Eu não estou fazendo brincadeiras, Ginny. – deu um sorriso de lado, que ela achou particularmente lindo – Eu apenas não sei do que você está falando.
- Não sabe, é? – soltou a mão e virou de frente para ele – Pois então você vai ficar sem saber. – ela sorriu antes de sair correndo.
- GINNY! GINNY! Volte aqui! – ele começou a correr atrás dela – Para onde você está indo? – ela somente virou e deu língua para ele, voltando a correr em seguida, rindo cada vez mais.
- Você não vai me pegar.
- Não? – ele a agarrou por trás, fazendo com que ela desse um pequeno gritinho de susto – Você até pode ser rápida com uma vassoura, Weasley, mas eu sou mais rápido que você com os dois pés no chão. – a virou – O que você tem a dizer sobre isso?
- Nada. – ela olhou nos olhos dele que brilhavam para ela.

E o que ela viu lá foi o que ela sonhou ver neles desde que se entendia por gente, a mesma coisa que, com certeza, ele sempre pode ver nos dela.

Ela colocou as mãos nos braços dele, esperando para ver o que viria a seguir. Ele desviou dos olhos âmbar dela e focalizou os lábios dela. E ela entendeu o que ele faria a seguir. Fecharam os olhos ao mesmo tempo, e no momento seguinte, seus lábios se encontraram.


- Eu passei o ano todo querendo fazer isso. – ele comentou alguns minutos depois.
- E porque não fez? – ela, que estava deitada na grama na frente dele, se apoiou num dos braços e o olhou.
- Porque você vivia ocupada. – ela riu e virou de barriga para cima, esparramando seus cabelos ruivos pela grama – É sério. – ele ficou sério e ela riu ainda mais – Você nunca estava... desocupada.
- Mas eu estou desocupada há muito tempo. – ela sorriu.
- É aí que entra o meu outro problema. – ela virou para poder o olhar melhor – A falta de coragem.
- Como pode o “Eleito” não ter coragem para chamar uma garota para sair? – ela ajoelhou na frente dele.
- Não me chame assim. – ele disse sério.
- Por que? Você não é o “Eleito”?
- Não acho que esse seja o melhor assunto para a gente conversar agora. – ele virou o rosto.
- Para mim você é o “Eleito”. – deu de ombros – Posso “eleger” outro se você quiser. – ele virou o rosto rápido a olhando de cenho franzido.
- “Eleger”?
- É... – ela respondeu indiferente – Eu posso eleger outro garoto para ficar aqui comigo. – ela olhou em volta – Acho que o Dean¹ viraria de bom grado o “meu eleito”. – ela fez como se fosse sair de perto dele.
- Não, eu não abro mão de ser o seu eleito. – ele a segurou pela cintura e a beijou.


- Eu sempre quis saber, – ele disse de repente – de onde você tirou a história dos “sapinhos cozidos?²”
- Que sapinhos cozidos?
- Vai dizer que você não lembra do cartão que você me mandou no meu segundo ano? – ele olhou divertido para ela que tinha corado – Era algo com os meus olhos parecerem sapinhos cozidos...
- Eu tinha certeza que um dia você ia acabar me perguntando isso. – ela balançou a cabeça – Isso foi idéia dos gêmeos, eles acharam que era uma ótima brincadeira. – ele riu.
- Os gêmeos?
- Eles queriam implicar com o fato deu gostar de você. – ela o acompanhou nas risadas – Eu briguei muito com eles depois. E não ria, foi sério!
- Mas você também está rindo.
- Não foi nada engraçado. – ela fingiu que estava brava – Eu fiquei morrendo de vergonha.
- Eu lembro como você corava só deu te dar um “oi”. – ele parou e a olhou – Esse foi um dos motivos para eu não falar com você também.
- Por que eu corava?
- Porque você parou de corar. – a olhou – Eu achei que você... Sei lá... – deu de ombros – Achei que você tivesse superado a paixonite que sentia por mim... – ele a olhou – Justo quando eu passei a pensar com mais freqüência em você. – ele sorriu.
- “Passou a pensar em mim com mais freqüência?” É assim que você diz que está perdidamente apaixonado por mim?
- E quem disse que eu estou perdidamente apaixonado por você? – ele levantou uma sobrancelha.
- Não está, é? Então o que você está fazendo aqui comigo? Não sei se você sabe, mas eu tenho seis irmãos bem ciumentos.
- Acho que eu posso encarar eles. – ele a abraçou – Eu encaro qualquer coisa se for para ficar com você no final.
- Isso é uma confissão, Sr. Potter? – ela perguntou sorridente.
- É uma confirmação, Srta. Weasley. – ele encostou delicadamente seus lábios nos dela.

E ela sentiu muito mais que uma paixonite, ela sentiu muito mais que isso, algo que ela não conseguiu explicar o que era no momento.

Só muito tempo depois, só depois que o maior de todos os obstáculos caiu bem aos seus pés, que ela conseguiu entender o que era aquilo que ela sentiu. Só quando ele caiu para nunca mais levantar.

Ele podia ter levado consigo um pedaço dela, ter levado alguns de seus amigos, seu melhor professor e uma ótima amiga e auror, mas ele nunca mais estaria lá para atrapalhar a vida dele. Para atrapalhar mais a vida de ninguém. Nunca mais.

Nunca mais atrapalharia a vida deles.

Eles agora eram livres para viverem, para sonharem e para, principalmente, serem felizes.

E para amarem.

Foi isso que ela sentiu quando o beijou. Amor. O bem mais precioso que ele tinha, a capacidade de amar. O que o difere do que caiu.

Amor... Ele era capaz de amar...

Assim como ela...




***********



- Mamãe?

A voz da sua filha veio de muito longe, era quase como se fosse pouco mais que um sussurro. Parecia que o ouvido dela estava entupido, ela não conseguia escutar nada com clareza, só as lembras dela. As lembranças que passavam correndo, pouco mais que borrões coloridos, pela sua mente.

- MAMÃE! – alguém a balançou.
- O que? – ela piscou algumas vezes até que os olhos azuis e o cabelo vermelho da sua filha entraram no seu foco de visão mais nitidamente – Querida.
- Eu ainda estou esperando a história. – tornou a deitar emburrada.
- Que história? – olhou confusa para ela.
- A sua com o papai! – ela respondeu mais feliz.
- Ahhh. – olhou para a menina – Pensei em uma história melhor. – sorriu.
- Mas eu quero uma diferente! – emburrou novamente – E uma de verdade!
- Mas essa é diferente e também é de verdade. – tornou a sorrir – Você vai gostar, Lily, pode ter certeza.
- Hunf! – cruzou os braços – Não vou nada.
- Era uma vez em um reino muito, muito longe um cruel rei, que gostava de maltratar o seu povo...
- E a princesa, mamãe? – a menina perguntou mais animada.
- Eu vou chegar nela. – sentou melhor – Todos tinham muito medo dele, mas o velho feiticeiro não tinha. Ele já tinha visto reis como esse, e sabia o que fazer para acabar com as maldades dele. Ele tinha um segredo, ele sabia de uma coisa que o rei não podia nunca desconfiar.
- Qual era o segredo, mamãe?
- O feiticeiro muito tempo antes, tinha entregado um pequeno bebê para uma família num outro reino. E agora, o garoto tinha virado um corajoso e leal cavaleiro. E você sabe quem era ele de verdade? – a menina negou – Filho do verdadeiro rei do reino do velho feiticeiro.
- Ohhh!
- E esse velho feiticeiro, que era muito inteligente e bondoso, sabia que quando fosse a hora certa, esse garoto os livraria do cruel rei.
- Então, mamãe? – os olhos dela brilharam.
- Então, quando o príncipe já estava grande suficiente para entender, o velho feiticeiro juntou os seus melhores, mais corajosos e leais cavaleiros e foi até o outro reino buscar o garoto de olhos verdes.
“Só que ele não tinha onde esconder o garoto para que o malvado rei não o encontrasse. Foi aí que um dos seus corajosos cavaleiros falou para o feiticeiro que hospedaria o garoto em sua casa. Só que o garoto não quis aceitar, com medo que o rei descobrisse e fizesse mal a família dele.
Mas o cavaleiro bateu pé, não havia lugar melhor para o garoto se esconder do que junto de uma numerosa e amorosa família como a dele. O jovem príncipe, por fim, acabou cedendo e foi junto do cavaleiro para a casa dele.
E foi lá que ele encontrou, em um dos filhos do cavaleiro, um fiel amigo que o acompanharia em sua jornada para sempre. E foi lá também que ele conheceu uma jovem de longos cabelos vermelhos como o fogo que fez com que ele quisesse acabar com as maldades do rei de uma vez por todas.”
- E aí, mamãe? O príncipe conseguiu?
- Isso você só vai descobrir amanhã. – ela ajeitou melhor a coberta da filha.
- Mas mamãe... – a garota bateu na colcha chateada – Eu quero saber como termina.
- E vai saber, mas só amanhã. – deu um beijo na testa dela – Agora já está tarde demais e a senhorita tem que dormir.
- Mas eu não tenho que acordar cedo amanhã! - cruzou os braços – Eu não tenho aula amanhã, mamãe!
- Eu sei disso, Lil, mas você vai dormir assim mesmo. – a menina suspirou, ela sabia quando perdia. A mulher beijou mais uma vez a filha – Durma bem, querida.
- Será que a senhora pode deixar a luz do abajur acesa? – a mãe sorriu e acendeu com um floreio da varinha.

Olhou mais uma vez para a filha, que tinha fechado os olhos e abraçado apertado o unicórnio de pelúcia, antes de sair de vez do quarto. Atravessou o corredor em direção ao seu próprio quarto.

Já estava quase tocando na maçaneta da porta do seu quarto, quando reparou que a porta do último quarto estava entreaberta e um feixe de luz saia de lá.

Ela voltou alguns passos, pé ante pé, e parou. Olhou pela fresta, para dentro do quarto do seu filho mais velho. Ela teve que se segurar para não rir e se entregar. Ela viu de onde ela tinha parado, um vulto alto andando de um lado para o outro, com a varinha em punho, como se duelasse com algum inimigo invisível.

- Então eu gritei: “EXPELLIARMUS”! E a varinha dele voou longe e ele caiu para trás. Cheguei perto dele e coloquei a minha varinha na garganta dele. Falei: “Quem você pensa que é? O próximo Rei do Mundo? Ou o Primeiro Ministro dos Trouxas?”

Ginny sorriu ao ver as cabeças vermelhas do James e do Albus sentados na cama, escutando o que o pai contava empolgado.

- E aí, pai? O que ele fez? – James perguntou eufórico.
- Ele me olhou com os olhos fervendo de raiva e falou: “Por que você não vai, Potter, para...”
- Espero que ele tenha falado para você voltar para o Ministério. – Ginny entrou e encostou-se à porta de braços cruzados.
- Ginny, querida. – Harry passou a mão pelo cabelo, deixando ele mais bagunçado do que o normal – Lily já dormiu?
- Já, e era o que esses dois deviam estar fazendo. Vamos, Albus, para o seu quarto. – o garoto olhou desolado para o irmão, que tinha uma expressão parecida estampada no rosto e para o pai que se limitou a dar um sorriso nervoso.
- Faça o que a sua mãe está mandando. – o garoto pulou ligeiro da cama e saiu correndo para o seu próprio quarto.

Ela estreitou os olhos para o marido, que a olhava com um sorriso amarelo.

- Você não tem jeito mesmo. – disse entre dentes.

Ela ajeitou a coberta do pequeno, os dois se despediram dele e foram para o outro quarto, onde o garoto estava com os olhos apertados, fingindo que dormia.


- Agora você vai me explicar o que aconteceu direitinho. – ela falou assim que eles entraram no quarto deles – O que foi que deu neles hoje?
- Você sabe... O James não conseguiu dormir... – sentou na beirada da cama.
- Também com a história que ele contou para os irmãos.
- E logo depois ele e o Albus começaram a discutir, já aqui no nosso quarto. Então eu coloquei os dois no quarto do James e resolvi contar uma história para eles.
- Nem quero imaginar que tipo de história você estava contando.
- Nada de mais. – deu de ombros – Só mais uma das minhas inúmeras prisões. – a puxou pela cintura para mais perto dele.
- Você era mais modesto quando a gente namorava. – ele a acomodou entre as pernas dele.
- Continuo sendo o mesmo Harry de antes. – ela sorriu, e ele passou a mão no rosto dela – O mesmo Harry que ainda te ama. – ela beijou a mão dele – Que te ama cada dia mais.
- E eu ainda sou a mesma Ginny. – sorriu para ele – A mesma que você beijou em frente de toda a Grifinória. – ele gargalhou a apertando mais contra si.

Amor.

O maior sentimento de todos. O sentimento que fez com que ele desse fim a tirania do malvado rei. Um amor que resistiu a tudo, ao tempo, a uma guerra, a distancia... Sem nunca fraquejar, sem nunca acabar, só aumentando cada vez mais.

Talvez Dumbledore estivesse realmente certo, ele tinha um poder surpreendente... Ele era capaz, apesar de tudo, de amar...

- Eu te amo.

E de ser amado de volta.


°°°°°°°°°°°°°°

Nota da autora:
Para quem não sabe:
1: Dean = Dino
2: Harry Potter e a Câmara Secreta, p. 203

Teus olhos são verdes como sapinhos cozidos,
Teus cabelos, negros como um quadro de aula.
Queria que tu fosses meu, garoto divino,
Herói que venceu o malvado Lord das Trevas.


Primeiro: quero pedir as minhas sinceras desculpas. Não foi a minha intenção demorar tanto para postar a segunda parte.
Segundo: quero agradecer a -
Lola Potter, Fl4v1nh4, Anna Nogueira, Fran Delacour, **K@T!@**, Lore Weasley Potter, Guta Weasley Potter, Tonks & Lupin, Nie Greyheart, Isabela Marx e NATALIA REIS.
MUITO OBRIGADA! Eu espero não ter decepcionado vocês.
E, Kiinha, mesmo você não lendo, essa vai para você. Só porque você é a minha Flet-CHA preferida! ;D
Eu não tenho palavras para agradecer a paciência de vocês. Mais uma vez, muito obrigada.

P.S.: Relevem qualquer erro.

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