Quem Chega



CAPITULO 1 – Quem chega

Era uma mala desbotada, empoeirada. Fora usada tão poucas vezes e permanecera guardada por tanto tempo, que havia mofo em suas quinas formando estranhos desenhos e texturas visuais de cores esverdeadas. Pesava muito, afinal praticamente tudo o que ela possuía estava ali: roupas, anotações, poções... E também havia uma espécie de gaiola negra totalmente selada, exceto por pequeninos buracos que permitiam que as criaturas farfalhantes de dentro dela respirassem...

A esguia figura de negro andou com dificuldade, por causa do peso da bagagem, até uma parte obscura da rua cuja placa dizia:

Largo Grimmauld

Ela então queimou um pedaço de papel na mão que segurava a gaiola. Suas cinzas ainda incandescentes voaram. Uma voz calma e insensível sussurrou:

- Largo Grimmauld, 12

O ar já não era mais o mesmo, era como se surgisse uma brecha no universo, uma espécie de vácuo. Algo pesado foi surgindo, era uma casa. Ela espremia estranhamente as outras construções do quarteirão num ruído surdo, até se acomodar tão perfeitamente, que ninguém diria que não estava ali 5 minutos antes.

A campainha soou na soleira da porta. Uma luz amarelada fraca foi surgindo enquanto a porta se abria:

-Ahn... É você. - A mulher que atendeu não parecia muito contente. Seus cabelos ruivos estavam amarrados descuidadamente, como se o tivesse feito às pressas e seu vestido, que tinha motivos floridos, estava cheio de pó que lembrava horrivelmente as fezes de fada mordente.

- Também estou feliz em lhe ver, Molly. – A voz insensível se pronunciou.

- Dumbledore está lhe esperando – Ela disse sem entusiasmo – pode deixar suas malas aqui se quiser. – E apontou para um canto do corredor se dirigindo à sala de jantar.

Havia cerca de uma dúzia de pessoas na sala. Algumas eram conhecidas, e dessas, somente três não expressaram um olhar de desagrado ao visitante: Dumbledore, Snape e Lupin.

- Boa noite...- seu tom acéptico ressoou cínico pela cozinha.

- Acácia Waracnac... - Dumbledore se levantou de um salto considerável para um homem de idade - Você não mudou nada nos últimos dez anos!- E sorrindo, fez um aceno de cabeça cumprimentando a bruxa, e indicou a porta de outra sala – Estou encantado em vê-la novamente, fico feliz que tenha atendido ao meu chamado. Preciso mesmo conversar com você.

Os dois sumiram pela porta deixando uma dúzia de pessoas curiosas do outro lado. Todos trocavam olhares de estranhamento, inclusive Harry, Rony, Hermione e Gina, que estavam comendo e não tinham entendido absolutamente nada.

A senhora Weasley foi a única que não escondeu sua irritação. Quase explodiu a garrafa de cerveja amanteigada que colocou sobre a mesa para os garotos tomarem. Seu olhar era tão forte que parecia querer quebrar a porta que a separava da indesejável visitante.

Gina e Hermione se olharam. Harry desviou o olhar de seu copo para a senhora Weasley que bufava. Rony continuou comendo os biscoitos em cima da mesa, como se nada tivesse acontecido.

- O que ELA está fazendo aqui? – Molly olhou arguitivamente nos olhos de Snape. Ele não pareceu sequer alterado, apesar de Harry quase poder distinguir um sorriso na face dura do professor de Poções.

- Dumbledore vai oferecer a ela cargo de Professora de Defesa Contra as Artes das Trevas. – ele disse despreocupadamente enquanto seu negros olhos esquadrinhavam a mulher à sua frente.

- E sendo imparcial, Molly, você lembrará que ela uma das melhores da nossa época - completou Artur, que suspirou conformado.

- Além dela não ser um lobisomem... - Lupin sorriu num tom falso de brincadeira que parecia disfarçar uma tristeza. Sua fronte se abaixou um pouco, até que seu olhar não fixasse nada além dos talheres na mesa onde se quedou demoradamente.

Ele suspirou e se levantou, deixando a sala de jantar logo em seguida, sem dizer uma palavra. Harry nunca tinha visto Lupin tão deprimido. Ele estava assim desde a morte de Sirius, mas tinha piorado consideravelmente durante o café, quando Harry os ouviu falar de uma tal visita...

À saída de Lupin, seguiu-se um silêncio desconfortável que durou até a porta da sala, onde Dumbledore se encontrava, se abrir. Então Harry e os garotos puderam dar uma boa olhada na mulher de negro.

Ela era meio pálida, como se tivesse passado grande parte de sua vida numa masmorra de Hogwarts; Seus cabelos eram negros e lisos, cortados na altura dos seios fartos que, por sua vez, eram escondidos por um vestido preto simples de mangas compridas terminadas em sino com bordados em prata. Seus olhos eram de um azul profundo e exalavam uma tristeza que parecia inexplicável. Ela devia ter a mesma idade de Lupin ou Snape, mas era linda, melancolicamente linda.

Pareceu não notar que estava sendo observada. Dumbledore acenou para ela se sentar antes de voltar à sala anexa acompanhado de Mundungo e Tonks. A muito contragosto, Molly lhe passou uma garrafa de Cerveja amanteigada.

- Obrigada, Molly – e se sentou na cadeira que Lupin tinha deixado vaga ao lado de Snape.

- Como estão as pesquisas Acácia? – Snape nem olhou para o lado onde a mulher havia se sentado. – Alguma grande descoberta além daquela de 84?

- Não Severus, - ela suspirou - só pequenos êxitos em projetos menores nos últimos anos. Estava pesquisando você-sabe-o-quê paralelamente, mas como não houve um progresso visível nos últimos 10 anos, eles me tiraram a bolsa, você sabe, existem coisas mais abrangentes e urgentes... – Ela declarou distraída enquanto bebia a garrafa de cerveja no gargalo, observada abismada por Gina e Hermione.

A Senhora Weasley pigarreou, lembrando A antiga professora Umbridge num de seus piores momentos.

- Desculpe Molly, não queria que tivesse o trabalho de lavar meus copos... – ela disse cinicamente enquanto transfigurava a garrafa em um belo copo com um delicado aceno de uma varinha prateada que tirou das vestes. Apesar disso a Sra. Weasley não pareceu muito mais contente.

Então Acácia pareceu notar os quatro indivíduos que a observavam como se examinasse um quebra cabeças. Pela cor dos cabelos ela percebeu que dois eram crianças Weasleys.

- Belos filhos os seus, Molly. Se parecem com você e Artur no tempo de Hogwarts. E os outros dois?

Artur Weasley sorriu, ou pelo menos tentou, Harry teve a impressão que ele também não se sentia muito à vontade com a presença daquela mulher... A única pessoa que parecia à vontade além dela era Snape. Se é que aquela postura dura e insensível de ambos pudesse ser chamada de estar à vontade...

- Eles são colegas de Rony, Acácia. – disse Artur - Esta é a Srta. Granger e esse... – disse apontando para Harry – Bem... Ele você deve reconhecer...

Ela olhou Harry por dois segundos antes de murmurar a palavra Potter e olhar para mesa de um modo semelhante ao que Lupin fez anteriormente, como se procurasse se encontrar embaixo de algum dos farelos de biscoitos espalhados pela extensa superfície de madeira.

- Ele é o filho de Lílian... e Tiago, certo? – disse ainda mirando a mesa. Depois levantou a cabeça de repente e encarou Harry.

Ele se sentiu muito sem graça com a maneira que ela o olhou:

- Não te vejo desde o seu batizado.- Sua voz pareceu mais descontraída, mas sua expressão continuava insensível - Devo admitir que você mudou um bocado... – Ela passou a mão pelos cabelos de maneira displicente.

A Sra Weasley que estava limpando um dos armários da cozinha não deixou escapar:

- Eu me pergunto que tipo excelente de Madrinha só vê o afilhado uma única vez na vida, Acácia...

Harry teve um estalo. Se Sirius era o padrinho de Harry, era lógico que ele tinha uma madrinha! Então Ela era sua madrinha. Harry a encarou confuso.

Porque não tinha falado nada a ele durante todos esses anos? Um calor insuportável foi crescendo no peito de Harry. Ele teve raiva dela, e ainda assim,no fundo havia uma sensação estranha de esperança.

-Obrigado por nos apresentar Molly – Ela se virou para Molly num tom que lembrava horrivelmente as discussões entre Snape e Sirius no ano anteiror. Harry desejou que elas parassem, mas ainda sim, aquela estranha figura de negro lhe devia uma explicação. Ela não estivera em Azkaban nos últimos anos, estivera?

–Talvez deva esclarecer que passei os últimos 15 anos no Centro de Pesquisas em Exsumpholis, na Bélgica, e nada nem ninguém deixa o lugar a menos que tenha um mandado do diretor do estabelecimento, pela obvia necessidade de segredo sobre o que acontece lá dentro. –Acácia acrescentou como se estivesse conversando com uma criança de 5 anos.

-Isso não justifica o seu descaso com o menino – A Sra Weasley estava de pé encarando ameaçadoramente a mulher do outro lado da mesa que ainda segurava calmamente o copo de cerveja amanteigada. – Você não deu sequer um sinal de vida quando os Potter se foram... – ela engoliu em seco – Você nem ao menos se interessou pelo menino, Acácia. Você é o ser mais egoísta e narcisista que eu já tive o desprazer...

Acácia se levantou. Encarou Molly e se virou para cumprimentar um a um os presentes na mesa. Snape parecia achar toda a situação muito divertida.

-Bem, adoraria ficar e apreciar a companhia de vocês, mas parece que tenho que conhecer os meus aposentos... – Ela se dirigiu à porta - Obrigado Molly... - E saiu em direção ao corredor, acompanhada de Snape que se ofereceu para mostrar-lhe o quarto.


***

Ela olhou o corredor com cuidado, não parecia tão diferente do centro de Pesquisas em Exsumpholis. Muito pó e coisas cobertas por todo o lado.

- De quem é a casa, Severus?

- Era de Black,... ...mas agora que ele morreu, a casa é de Potter. Ele caridosamente concordou que as reuniões da Ordem continuassem aqui. – o desdém normal na voz de Snape tremeu por um segundo.

- É a primeira vez que te vejo triste por causa de Sirius... – A mulher olhou fundo nos olhos de snape que não os desviou - Você nunca foi com a cara dele... A bem da verdade, você o odiava, não?

- Não diga sandices, Acácia. Sirius sempre foi um insuportável muito cheio de si para acreditar-se em perigo. Isso o levou à morte. – Ele a olhou enquanto falava com um pouco de asco. E baixou os olhos. – Porém, devido às circunstâncias, lutávamos do mesmo lado. Por mais desprezível, irresponsável e imaturo que eu o achasse, ele valia mais vivo...

- Não quis dizer isso...

- Entendo... Só abusando um pouco da sua paciência. – ele esboçou um sorriso.

- Anh... E agora você tem senso de humor? –disse ela no mesmo tom frio e desumanizado de sempre - O que essas crianças têm feito a você? – ela balançou a cabeça.

- Nada agradável, posso garantir. Entenderá o que digo na primeira semana. Mas logo saberá como impor o devido respeito – disse ele voltando tom seco e normal – Pronto, chegamos.

- Conversaremos mais amanhã – ela acrescentou – Tive saudades disso...

- O quê? Ser odiada por mais de metade da Ordem da Fênix? Acácia, você é simplesmente inacreditável...

- Não, Severus, - ela balançou a cabeça - ter alguém com quem eu possa conversar.- Ela respirou fundo – Dez anos pesquisando essa maldição sem poder contar a ninguém o que estava fazendo, ou porque diabos eu procuro a cura de uma maldição que nem ao menos tem um crédito de ser real! Não me admira eu ter perdido a bolsa... Fiquei sem argumentos... – a moça tinha o peito levemente arfante.

Mas o ponto, é que você é o único amigo com quem eu posso desabafar essas coisas. – Seus olhos o encararam profundamente enquanto ela tomava fôlego e voltava ao tom melancólico de sempre – Obrigada ...

- Também...- Snape respirou fundo como se fosse um esforço incrível dizer aquilo -...senti saudades. Boa Noite, Acácia...

- Boa Noite, Severus...

Snape continuou subindo a escada para seus aposentos quando deu de cara com Lupin descendo. Ele se encararam por uma milésima fração de segundo, porém suficiente para notar o ódio por trás de seus olhos. Então Snape balançou a cabeça e seguiu em frente com seu costumeiro desdém...

***

- Eu não suporto aquela... – Molly se queixava a Artur – Ela some durante 15 anos, na hora em que mais precisamos de ajuda, e depois chega com a cara mais lavada do mundo... Ela nunca me enganou... Covarde...

Harry ainda não tinha falado nada desde que soubera que Acácia era sua madrinha. Rony, Hermione e Gina esperavam sua reação, que parecia não querer ocorrer.

- Harry, diz alguma coisa, cara. – Rony pousou a mão no ombro de Harry. O garoto tomou um susto, como se acordasse de um transe. –Vamos...

- Que foi Rony? – ele olhou pro lado

- Você está legal? – Gina parecia preocupada

- Tô – Mentiu. Ele soou tão estranhamente calmo que pensou ter se anestesiado contra sentimentos que o aproximassem de mais alguém.

Ele vinha se sentindo assim desde a morte de Sirius. Não queria as pessoas por perto, não queria se envolver. Era estranho, porque ele continuava sentindo, mas parecia não ter motivos para se expressar. E ele sabia que no fundo o que ele queria era poder chorar no ombro de sua mãe, mas não haveria milagre no mundo capaz de fazê-lo reconhecer isso.

– Eu acho que vou dormir. Estou cansado. Boa Noite.

Subindo as escadas, ele percebeu uma porta entreaberta. Era a sala que tinha a árvore genealógica de Sirius. E tinha alguém lá dentro. Harry observou Lupin que se sentara numa poltrona pensativo.
Harry foi entrando.

Quando a porta rangeu ao abrir o restante necessário à passagem de Harry, Lupin o olhou surpreso, era óbvio que pretendia estar sozinho ali.

- Prof. Lupin, o senhor está bem? O senhor se sentiu mal durante o jantar?

- Mais ou menos, Harry. – Ele o encarou por um estante – Acho que eu só não esperava ver Acácia nunca mais... – ele olhou tristemente a lua crescente do lado de fora da janela – tinha esperanças que ela não viesse...

- Por quê, professor? Ela é mesmo tão má assim? A Sra. Weasley disse que ela é minha madrinha e que não quis me ver ou se importou comigo esse tempo todo... – Harry se sentou na poltrona em frente. – Mas se ela não gostava de mim, por que meus pais a escolheram? Por Melin, ela é amiga do Snape!

- Harry, as coisas não são bem assim. Acácia não é uma má pessoa. Molly tem muito ciúme dela, porque mesmo ela estando sempre afastada trabalhando, Lílian preferiu escolhê-la como sua madrinha ao invés de Molly a quem conhecemos mais a fundo na formação da antiga Ordem da Fenix. Na época, eu me lembro de Acácia mencionar que ia ser difícil ser uma madrinha presente, por causa da bolsa que ela tinha acabado de receber da Bélgica. Ela poderia somente receber notícias, nunca mandá-las por causa de uma política do lugar que visa manter as pesquisas livres de espiões. Mas ela e Sirius eram as pessoas mais sorridentes no seu batismo, mesmo que os dois não fossem amigos... E isso é algo grande, sabe? Ela quase nunca sorri... – ele baixou os olhos.

- Mas e você, porque você ficou tão triste depois que ela chegou?

- Nada importante... – ele se ajeitou na cadeira com o olhar ainda perdido na janela – Vamos...( pigarreou ) Você tem que descansar pra poder pegar o trem amanhã. – Ele se levantou e acompanhou Harry até o quarto e depois seguiu para o seu próprio.


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Só uma apresentação básica dos personagens...
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