ZERO



Pequeno rei... Não era nem tão brilhante, nem tão bonito – não era nem estrela! – Mas era um reizinho, desses que têm tudo que querem. Queria ser perfeito, ah sim... O maior e o melhor. Tão triste sua sina... Quando encarou o par de esferas negras no espelho – nada daquela imagem pálida se conectava ás faces altivas de seus delírios – o pequeno rei queria muito, muito ser grande e belo e forte...! Via-se sendo apenas uma das pessoas mais solitárias do mundo – E solidão é vazio... E vazio é limpeza, assepsia: a neutralidade absoluta, diziam a ele, de corpo, alma e sangue. Essa era a formula alquímica da nobreza – O pequeno rei bebeu palavra por palavra, que vazio era o mesmo que divindade. "Oh, e Deus é tão vazio quanto eu!" – Era a triste verdade. A única para ele. Mas, se era tão certo, por que dia após dia um vazio esmagador preenchia a superfície cristalina do espelho? Era seu direito de sangue ser belo e bom e estar sempre certo...! [Enganadores de merda!] Poderia chorar e chorar e se bater contra o chão, gritando de como se arrependia da moda cruel dos seus. Não há perdão nem arrependimento pra você, pequeno rei. Para um zero como você só há a solução absoluta. Beba do beijo amargo da amante dos infelizes. Saboreie uma a uma suas dores egoístas. Suas pequenas vaidades estarão superadas.


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