Ainda encrencado...
Elvira a Empalhadora soltou um muxoxo de impaciência ao ver
Kevin passar por ela.
- Hunf! Mais outro desmiolado...
Kevin estreitou os olhos para o quadro.
- Fica quieta, tá legal?Estou pensando.
- Ih, olha a fumacinha saindo da cabeça dele! – caçoou
Elvira.
Kevin lançou um olhar de desdém para o quadro e continuou
pensativo olhando para a porta da sala.Não poderia desperdiçar uma oportunidade
como aquela; O seu relacionamento com Eve nunca passara de “oi” e “tchau”, e
agora ela o convida para uma festinha particular.Mas a parte responsável da sua
cabeça dizia que ele estaria seriamente encrencado no dia seguinte. Mas isso não
teria muita importância quando ele acordasse no de manhã e se lembrasse do beijo
que havia dado em Eve.Foi contando com isso que ele deu três pancadas fortes na
porta da sala, ignorando a irritante cantoria de Elvira a Empalhadora “Aluninho
furtivo à noite, boa coisa não pode ser, em muitos problemas vai se meter...”.
- A senha – disse uma voz, que Kevin reconheceu ser a de
Quincy Jones um enorme sextanista da Sonserina que havia sido expulso do time de
quadribol no ano anterior por ser extremamente violento em campo.E fora dele.
- Er...não tenho a senha.
- Sem senha, nada feito. – disse Quincy secamente.
- Espere!Eu sou Kevin Potter, convidado da Eve Blackwell.
- Ah, é você. – Kevin ouviu um estalido e a porta se abriu
o suficiente para ele passar – Não trouxe mais ninguém com você espero.
- Não mesmo – disse Kevin entrando na sala, ouvindo a porta
se fechar atrás de si.
O salonete amplo estava todo decorado em néon colorido, as
paredes cheias de pôsteres de bandas bruxas e candelabros com velas de luz
azul.No teto, pendia um lustre com o que parecia ser bolas do tamanho de um
pomo, de cores azuladas.No canto do salonete tinha uma mesa com variados tipos
de bebida, desde cerveja amanteigada a uísque de fogo.A musica era uma batida
agitada tipo Rave do Dj O Azarado.E no centro da pista de dança
estava ela, usando um vestido rosa pink que parecia ter sido pintado em seu
corpo e os cabelos soltos e molhados, Eve dançava com os braços para o ar e com
os olhos fechados.Kevin poderia ter se deixado ficar ali, a noite inteira
olhando Eve dançar, ele nem perceberia o tempo passar.Não se importava que
várias pessoas o estivessem observando, a maioria com uma cara não muito
satisfeita.Não ligava a mínima que estivesse condenado a um castigo certamente
penoso por ter faltado a detenção.Se Eve continuasse ali, dançando daquele jeito
hipnotizante para ele, só para ele, Hogwarts poderia explodir que não faria
diferença.
Kevin só acordou daquele transe quando Allan Summer se
aproximou dele com um copo com uísque de fogo.
- Ela é demais hein, Potter?- disse Allan, tomando um
grande gole do drink.
- É...- respondeu Kevin, um pouco apreensivo.
- Mas ela é muita bolinha pro seu pijama cara. – ele deu
uma risadinha desdenhosa – você deve ser mais um dos caprichos dela, afinal, ela
nunca ficou com alguém da Grifinória, que parece ser famoso assim...Sabe
como é, o sobrenome Potter é um titulo agora.
Kevin sentiu seu rosto arder.Então pensavam assim?Eve só
poderia se interessar por ele porque seu pai era famoso, e por mais nada?
- Eu acho é que ela nunca ficou com alguém com um Q.I.
maior do que de um gnomo.- disse ele, se afastando em seguida.
Eve tinha parado de dançar e agora se aproximava sorridente
de Kevin, ofegante e corada pela agitação da dança.
- Eu sabia que você não me deixaria esperando! – disse ela,
dando um beijo no canto da boca dele.
- Nunca! – disse ele sorrindo – Só que eu preferia que essa
festa fosse feita no final de semana.Não quero nem pensar em como vou fazer pra
acordar cedo amanhã.
- Festas em fim de semana são mais fáceis de serem
descobertas, e geralmente usam essa sala para o Clube de Feitiços aos sábados -
Ela riu – e quanto a acordar cedo, nós somos acostumados, fazemos festas assim
desde o terceiro ano.
Antes que pudesse se conter, Kevin perguntou:
- Eve, sem querer ser chato nem nada...mas, porque você me
convidou?Olha só, você é da Sonserina e eu da Grifinória, nossas casas são as
maiores rivais de Hogwarts, alem disso, a gente só se falava de vez em quando e
eu não sou a pessoa mais popular daqui...
Eve riu novamente e segurou o rosto de Kevin entre as mãos.
- Ninguém me diz o que fazer, Kevin.Eu te convidei porque
quis,queria ficar com você sem ter aquela sua amiguinha chata por perto.Ela
nunca desgruda de você e por isso ficava difícil eu me aproximar.Aliás, tem
sempre um grupinho de menininhas afoitas atrás de você e isso irrita qualquer
uma.
Kevin ficou aturdido
- Perdão, mas não entendi.
- Kevin, você é filho do Harry Potter, qualquer pessoa, até
mesmo da Sonserina, considera seu pai um herói.Ele foi, ele é,
lendário.Naturalmente todos te consideram uma espécie de...de extensão do seu
pai, entende?Você só pensa que não é popular, mas todos, principalmente todas
querem ficar perto de você.Querem conhecer você melhor, seria maravilhoso ter
alguém como você como amigo, sabe, aonde você passa todos apontam pra você e
dizem “ELE é filho do Harry Potter”, ficar ao seu lado e ser reconhecido é muito
legal.
Kevin sorriu forçadamente.Claro que ele sabia que os seus
colegas o consideravam assim,mas ouvir tudo,pela voz de Eve tornava a coisa toda
mais absurda.Ninguém queria ser seu amigo porque ele era legal, simpático ou
inteligente, e sim porque era filho de Harry Potter e queriam ser reconhecidos
também.
- Isso é ridículo Eve – disse ele,mudando de assunto –
Você podia falar comigo sem se preocupar com a Kim, ela pode ser meio
esquentadinha mas é legal.
- Não sei, parece que ela ia me azarar a qualquer
momento.Eu acho que ela gosta de você.
Dessa vez, Kevin riu sinceramente.
- Ela é só a minha amiga, ela é como se fosse minha prima.
– Kevin tentou não considerar porque não disse que Kim era como uma irmã.
- Não é o que parece. – Eve passou os braços em torno do
pescoço de Kevin – Gostaria que você desse mais atenção a mim do que a ela...
Por um instante, Kevin pensou que iria finalmente beijá-la,
mas Eve se afastou rindo.
- Você ainda não dançou comigo!
- Eve...eu não sei dançar! – mas ela fingiu não ouvir e o
puxou para a pista de dança.Kevin fingia que dançava, mas estava com o
pensamento no que Eve disse.Era realmente ridículo.Kim, Marcel e Joshua sempre
foram seus amigos independente de ele ser filho do Harry Potter.Ele não podia
imaginar que era isso o que todos pensavam ao seu respeito.Estavam sempre
esperando que ele se metesse em aventuras incríveis e perigosas, que de um
momento para o outro ele se revelasse um astro em quadribol.Como devia ter
decepcionado a todos!Ele era um bruxinho mediano, que de interessante só tinha
as notas na escola.Não podia sequer ter uma namorada.Vai ver era por isso que
Amanda Carter terminou o namoro com ele.Kevin a decepcionara tanto que ela só
queria manter distancia.E agora Eve também esperava que ele fosse alguém
extraordinário assim como o seu pai foi.
Kevin perdeu totalmente o animo pela festa, disse “tchau”
para Eve, mas supôs que ela não ouviu, por causa da musica alta.Ele ficou
enrolando tanto fingindo que estava gostando da festa, que nem se deu conta de
que já era meia-noite.Kevin passou pelo retrato da Elvira a Empalhadora que
enfiava um bom tanto de palha pela goela de um mangusto, sem ligar para o
sorrisinho desdenhoso dela.Caminhava pelo extenso corredor com as mãos nos
bolsos totalmente imerso em seus pensamentos.Porque ele tinha que perguntar a
Eve o motivo do convite?Ele podia muito bem ter ficado quieto.Não era surpresa o
que ela lhe dissera, mas saber que todos pensavam assim...Kevin não podia
acreditar que Eve só se interessara por ele porque era famoso.Afinal ela era
muito popular, todos viviam disputando a atenção dela.Agora Kevin se encontrava
num problema bem grande; faltou a detenção e nem ao menos beijara Eve como tinha
planejado.Estava tentando pensar em uma boa desculpa quando ouviu um barulho
vindo perto da escada.Rapidamente se escondeu atrás de um pilar, quando Filch
passou arrastando a perna e resmungando.
- Se os pego, ah se os pego, pestes imundas...- e passou
ainda resmungando com a sua voz asmática em direção a ala sul.Kevin suspeitou
que Filch soubesse alguma coisa sobre a festa, de outro modo, porque estaria
acordado à uma hora daquelas andando para a ala sul?
Kevin tratou de sair dali o mais depressa possível antes
que Filch voltasse. O velho estava ficando senil mais ainda assim não perdera o
dom infalível de surpreender alunos suspeitos em atividades suspeitas.
Foi com alivio que Kevin viu se aproximar às escadas que
levam para a sala comunal da Grifinória.Estaria tudo bem, ele iria direto a
Prof. McGonagall e diria a ela que se sentia doente e resolvera dormir um pouco
antes da detenção para ver se melhorava,então acabou dormindo demais e quando
acordou já era muito tarde e Madame Pince já tinha saído da biblioteca.Assim,
teria que cumprir a sua detenção outro dia e tudo ficaria por isso mesmo.Estaria
tudo realmente bem se Pirraça não aparecesse flutuando sobre a cabeça de Kevin
com uma expressão inconfundivelmente maligna no rosto redondo como uma bolacha.
- Olá pequeno Potter! – disse ele flutuando a frente de
Kevin com as pernas cruzadas como se estivesse sentando em uma cadeira
invisível.
- Ahn...Olá Pirraça. – respondeu Kevin num tom forçadamente
amistoso.
- Que horas são jovem Potter? – perguntou o poltergueist
com um largo sorriso no rosto que cheirava a más noticias.
- Er...Quinze para as nove?- disse Kevin numa fraca
esperança de enganá-lo.Pirraça balançou o dedo indicador negativamente a bem uns
dois centímetros de distancia do nariz do garoto.
- Resposta errada, molequinho – disse Pirraça, alegremente
– Já passa da meia-noite e as criancinhas já devem estar dormindo.
Kevin engoliu em seco.
- Por favor Pirraça, me deixa passar, não conte nada a
ninguém – disse Kevin, em tom suplicante.Pirraça gargalhou como se tivesse
acabado de ouvir a piada mais engraçada do mundo e flutuou um pouco mais acima
dando cambalhotas no ar.
- Muito engraçadinho você!Mas o Pirraça é obediente e terá
que contar – inspirou profundamente e gritou – Acusado, um dois três!
Acusaaaaaaaado!
Kevin se enfurecera com a gritaria de Pirraça.
- Quieto seu poltergueist filho da...
- Potter!
Kevin nem precisou virar para saber de quem era aquela
voz.Nem precisava saber o motivo pelo qual ele estava ali.Era sempre assim,
Snape tinha que estar presente nos momentos mais importunamente oportunos para
ferrá-lo.
- É uma espécie de herança genética esse desprezo pelos
regulamentos não é garoto? – disse Snape com uma nota de satisfação obscena na
voz, enquanto se aproximava dele –Fora da cama a esse horário fazendo nem quero
saber o quê!
Kevin estava apavorado demais para sequer abrir a
boca.Pirraça dava cambalhotas alegremente, muito feliz por ter causado um
problema.Sempre se podia contar com Pirraça para se estragar as coisas quando
elas já não estão boas.
- Fui verificar se você estava cumprindo a sua detenção
corretamente, Madame Pince me informou que você sequer apareceu na
biblioteca.Receio que terá um castigo muito maior por não ter comparecido a sua
detenção e por estar perambulando pelos corredores a essa hora.- disse Snape
suavemente, que parecia estar gostando muito de incutir pânico em Kevin.
- Vamos chamar a professora McGonagall para que ninguém
possa dizer que estou sendo injusto com um aluno da Grifinória.- Snape pegou
Kevin pelo braço e o levou até a sala dos professores.
- Espere aqui Potter – Snape o encarou com os olhos
brilhando de satisfação – Faça qualquer gracinha e poderá arrumar as suas malas
e voltar para o seu querido papaizinho.
Kevin só conseguiu voltar a respirar depois que Snape saiu
da sala.Ele sabia que estava encrencado, mas agora com Snape por perto, Kevin
estava realmente encrencado.Ele se torturou com o inútil jogo do “se”; Se
não tivesse ido a festa, se eu tivesse ido cumprir a minha detenção, se eu
tivesse mandado um bilhete para a Eve avisando que eu não iria a festa...”Se,
uma palavra monossilábica composta por uma vogal e uma consoante” pensou Kevin
“completamente inútil que não vai fazer o Snape rolar da escada, bater a cabeça
e perder a memória, parabéns Kevin Potter o primeiro rolo do ano. Você se
superou...”.
- Então é verdade...- disse a Prof. McGonagall parada a
porta com uma expressão furiosa.
- Duvidava da minha palavra Minerva?- disse Snape,
ligeiramente irritado.
- Não – respondeu ela firmemente – Duvidava da estupidez do
Kevin.Explique-se menino.
Por um instante,Kevin se sentiu tentado a contar toda a
verdade para a professora, mas isso significava delatar Eve e um bom tanto de
alunos da Sonserina, todos maus e dispostos a quebrar seu pescoço.
- Eu...Eu estava com muita dor de cabeça, fui dormir um
pouco pra ver se a dor passava e acabei acordando tarde demais.Sai correndo do
dormitório para ver se ainda conseguia ajudar Madame Pince e encontrei o
professor Snape.- as palavras saíram mecanicamente, e Kevin torcia mentalmente
para que pelo menos a Prof. McGonagall acreditasse, porque se dependesse de
Snape, Kevin já podia estar sendo pendurado pelos polegares dos pés em meio ao
salão principal servindo de piñata mexicana.
- Se não estava se sentindo bem, porque não foi procurar
Madame Pomfrey? – perguntou a professora com os olhos perfurando Kevin.
- É que...Não gosto de remédios e além do mais, a dor de
cabeça parecia que passaria rápido.
- Ora Minerva, não é preciso ser perito em Legilimência
para saber que esse garoto está mentindo.
A Prof. McGonagall encarou Snape gélida.
- E você tem como provar que Kevin está mentindo?
- O que ele estava fazendo perto da ala sul se a biblioteca
fica perto da torre da Grifinória, numa direção totalmente oposta de onde ele
estava? – perguntou Snape, com um tom de triunfo.Kevin sentiu os olhares
inquisidores dos professores sobre si.Como ele escaparia dessa?
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