You give love a bad name - úni
You give love a bad name
I.
Andar sem rumo pelas ruas depois de uma, duas decepções, sejam elas quais forem. Um hábito talvez, uma atividade inútil e sem sentido, um consolo mudo, renovação de consciência. Chame como quiser. A falta ou sobra de adjetivos não diminui a dura verdade: isso era inútil.
Não que Tonks não soubesse disso.
Experiências anteriores a tinham ensinado muitíssimo bem, obrigado. Mas não havia como não retomar aos velhos hábitos ruins, era inevitável, aterrador demais, fazia com que se descontrolasse e tudo se tornasse difuso.
Sem dramatizar, contudo. Não havia motivo em percorrer folhas frágeis de pergaminho, preenchê-las com palavras tristes e verdadeiras, abrir-se com penas e canetas, quando todas as letras formavam nomes ruins.
Continuava a andar. Os pés batiam quase ritmados, incontroláveis. O som chegava a seus ouvidos e a entorpecia. Palavras, aquelas falsas amigas, não eram necessárias. A doce melodia a fez sorrir. Mais tarde, riu descontroladamente de muitas coisas. De si mesma. Dele. Dele ou dela. Deles, como um todo. Um riso cor-de-rosa.
II.
- Eu vou deixar a porta aberta.
Não hesitou ao menos um instante ao proferir a frase que escapou de seus lábios secos, surpreendente. Mas o homem que cruzava a porta da casa não parou para ouvi-la, como parecia ser de costume. Caminhou sem rumo para a escuridão acolhedora da madrugada como mais tarde ela própria o faria. Mas talvez não fosse tão decidido quanto a esposa.
- Vai? – disse num fiapo de voz embargada.
- Sim.
O silêncio pesou entre eles como se tivesse toneladas, incômodo, urgente. Tonks suspirou e foi até a cozinha. O marido acompanhou-a com o olhar aturdido enquanto a moça pegava balas no armário. Uma pequena vingança em forma de balinhas coloridas.
- Não coma isso – disse o homem. A boca de Tonks curvou-se em um sorrisinho meio vitorioso, meio sedutor. – É puro açúcar. Não vai fazer bem em nada, para ninguém.
A frase “Como se você se importasse” aflorou na mente dela, e ela quase o disse. Quase. Preferiu não responder enquanto simplesmente desembalava os doces alheia do mundo. Ofereceu uma das balas ao marido, recebendo como resposta um olhar castanho de puro espanto e uma recusa muda como seu próprio gesto.
- Estou indo embora.
- Eu sei.
Talvez constatar o óbvio, o irremediável, fosse algo interessante para o casal. Mais interessante do que o silêncio que se seguiu, com certeza. O único som na saleta era o leve farfalhar das embalagens de balas. Tonks percebeu que o tempo em que ambos emudeciam tinha um gosto amargo, pungente, único. Tanto quanto eles. Tinha gosto de álcool, descendo vertiginosamente pela garganta, arranhando-a.
- Queria que ficasse.
O paladar do álcool dissipou-se ligeiramente de suas gargantas com a despretensiosa dose de sinceridade da mulher.
- Você sabe que existe muita coisa contra nós, Tonks, já...
- Certo, Remus.
Ela não saberia dizer qual sabor lhe era mais incômodo no momento: o açúcar cem por cento da vingança ou o intolerável e mortal gosto amargo do silêncio. Estremeceu coma mistura, por inteiro, e seus cabelos foram de lilás, aquele pelo qual Remus Lupin tinha se apaixonado, para louro platinado, tão artificial, tão estranho nela.
- Não mude seu cabelo para mim.
Nada mais era roxo nela.
III.
Robert fixou seus olhos azuis nela.
- Você dá ao amor um nome ruim.
A moça estivera até então distraída, absorta dos comentários mordazes do namorado sobre o time de quadribol da casa dela, da Corvinal e da Sonserina. Tinha certeza de que se ele dissesse “Mas nós temos Charlie Weasley!” mais uma vez, fugiria dali bem rapidamente. A frase, porém, era outra, e a jovem Tonks não podia negar que lhe chamara a atenção.
- Como é?
- Sério. Você recusa qualquer coisa que sinta, como se eu fosse extremamente desprezível e nada fizesse por você. Parece não sentir coisa alguma por mim. Eu não te entendo, Tonks.
Robbie era desprezível, afinal.
- Bem – desdenhou, sua voz muito calma e firme – talvez eu não sinta.
Retirou-se da presença intragável dele e foi escutar “The Weird Sisters” com as companheiras de quarto no volume mais alto a que tinha direito.
IV.
- Você dá ao amor um nome ruim.
Outra frase que escapou de sua boca, vinda de uma lembrança súbita. As palavras tremeram sobre as balinhas. É, com Remus era diferente.
- Você também – respondeu Remus antes de se virar, indicando o próprio peito.
É, ela também. Os dois, para se dizer a verdade. Não só eles, o que resultara deles também, um pequeno apreciador de balinhas coloridas.
Quando Remus se foi, Tonks sorriu. Porque ele ia voltar. Ela sabia. Remus era o típico homem que não consegue tomar uma decisão sensata sem ir e voltar muitas vezes.
Duas semanas depois, bateram em sua porta.
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Notas:
1 – sei que a tradução do título, de acordo com a música, é “você dá má fama ao amor”. mas a fic não tem relação alguma com a música, e achei que “você dá ao amor um nome ruim” combinasse mais com Remus/Tonks.
2 – Robert é uma criação minha (nada contra grifinórios), nada além disso.
3 – MUITO OBRIGADA pelos comentários na Floreios e Borrões. e me desculpem pela demora.
Lois Peverell
PS: um presentinho para quem acertar a referência de uma música no segmento 2. não é a do título! dica: está num filme famoso (bem, eu acho que é um filme famoso. foi, pelo menos) e o ator do filme que canta. chutem! pode ser o nome do filme ou da música. garanto que vale a pena.
e pra quem acompanha o american idol (vocês estão torcendo pro michael, né? *-*), o constantine (da quarta temporada) e a melinda (da sexta) já cantaram a música no reality.
se eu der mais uma dica vai ficar fácil demais...
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