Capítulo 12



- Preciso achar esse sujeito e acertar algumas contas com ele - disse Grant Granger por entre os dentes, andando de um lado para outro da cozinha e lembrando um dragão prestes a cuspir fogo.

- Isso não a faria parar de sofrer - salientou Gennie, afastando-se da janela de onde estivera observando a filha.

Notando a atitude impaciente e irritada do marido, lembrou-se do homem por quem ela havia se apaixonado muitos anos antes. Grant ainda mantinha alguns traços do caráter incisivo da juventude, só que permeados pelo charmoso ar da maturidade. Seu amor por ele havia mudado ao longo dos anos, mas não havia dúvida de que continuava tão intenso quanto antes.

- Pelo menos iria fazer eu me sentir bem melhor - resmungou ele. - Vou sair para buscá-la.

- Não, você não vai. - Gennie pousou a mão sobre o braço dele, antes que ele passasse pela porta. - Deixe-a sozinha por algum tempo.

- Mas está ficando escuro - argumentou Grant, sentindo-se impotente.

- Hermione virá quando sentir que está pronta.

- Não sei se vou agüentar isso. Detesto ver a sombra de tristeza que Draco deixou nos olhos dela.

- É preciso se ferir, antes de se curar. Ambos sabemos disso. - Gennie abraçou o marido e repousou a cabeça sobre o ombro dele. - Ela sabe que estamos aqui.

- Era mais fácil quando algum deles caía, se machucava e precisava de cuidados. Pelo menos sabíamos o que fazer.

Gennie sorriu.

- Não era o que você pensava na época. - Afastando-se um pouco, segurou o rosto dele entre as mãos. - Você sempre se feriu mais do que eles.

- Eu apenas queria aninhá-los no colo e fazer a dor passar. Como quero fazer com ela agora. Depois irei atrás do sujeito e acertarei as contas com ele.

- Também estou sofrendo por vê-la sofrer - confessou Gennie. Sorrindo, acrescentou: - Se pudesse, também quebraria o pescoço do "sujeito", como você diz. Mas sabemos que essas coisas não se resolvem assim.

Foi dessa maneira que Hermione os encontrou ao entrar na cozinha. Os dois abraçados diante da janela, fitando-se nos olhos.

Mais do que nunca, teve certeza de que era aquilo que ela queria para si. Havia sido criada em meio àquela atmosfera romântica e tranqüila, e não conseguia se imaginar criando seus próprios filhos em um ambiente diferente.

Aproximando-se devagar, abraçou-os ao mesmo tempo.

- Vocês têm idéia de quantas vezes na minha vida eu vim até aqui e os vi exatamente dessa maneira? E de quanto é bom poder ver isso de novo?

- Seus cabelos estão molhados - observou Grant, passando a mão por eles.

- Eu estava olhando as ondas se quebrando nas rochas. - Hermione o beijou. - Pare de se preocupar comigo, papai.

- Vou parar. Quando você estiver com cinqüenta anos. Talvez. - Ele pousou a mão sobre o rosto dela.

- Quer um pouco de café?

- Hum... não. Acho que vou tomar um banho quente e ir para a cama junto com um bom livro. Isso sempre funcionou para mim, quando eu era adolescente e passava por alguma crise.

- Naquele tempo, quando você estava em crise, era eu quem preparava seu banho - a mãe a lembrou. - Então, por que quebrar a tradição?

- Não precisa fazer isso, mamãe.

- Ah, deixe que eu me intrometa um pouco também. Ou será que essa honra cabe apenas a seu pai? - Gennie sorriu, passando o braço pelos ombros da filha.

Com um suspiro, Hermione deixou que a mãe a conduzisse em direção ao quarto.

- E eu que estava com esperanças de fazê-la desistir.

Gennie manteve o sorriso.

- Seu pai precisa ficar um pouco sozinho para ter tempo de andar de um lado para outro e xingar seu namorado.

- Ele não é meu "namorado" - protestou Hermione, quando as duas começaram a subir a ampla escada em caracol. - Nunca foi.

- Você não é mais uma adolescente. - Com gentileza, Gennie virou Hermione de frente para ela quando os duas entraram no quarto que havia sido de Hermione.

- E isso não é uma crise.

Os olhos de Hermione se encheram de lágrimas mais uma vez.

- Oh, mamãe...

- Calma, minha querida.

Gennie a conduziu até a cama, ainda coberta com a colcha de retalhos coloridos preferida de Hermione, na época da adolescência. Sentando-se sobre o colchão, Gennie fez um sinal para que a filha se sentasse ao lado dela. Quando Hermione obedeceu, a mãe a abraçou.

- Eu quero odiá-lo. - Aninhando-se no colo da mãe, Hermione começou a chorar.- Eu quero odiá-lo - repetiu. - Se pelo menos eu conseguisse deixar de amá-lo...

- Eu gostaria de poder lhe dizer que isso é possível, Mione. Eu realmente gostaria. Alguns homens são tão difíceis. - Gennie embalou a filha enquanto falava: - Eu a conheço muito bem, minha querida. Sei que se você o ama é porque deve haver algo nele que seja digno do seu amor.

- Ele é maravilhoso. Ele é insensível. Oh, mamãe... – Hermione voltou a chorar. - Ele é igualzinho a papai.

- Oh, minha querida. Então, que Deus a ajude. - Com um sorriso, Gennie abraçou-a com mais força.

- Eu sempre adorei a história de vocês dois - falou Hermione, enxugando as lágrimas e voltando a se acalmar. - A história de como vocês se conheceram, quando seu carro quebrou em meio à tempestade e você ficou aflita, indo buscar ajuda no farol onde ele estava vivendo feito um eremita. E de como ele foi rude com você.

Hermione parou um instante para assoar o nariz em seu lencinho.

- Ele não via a hora de se livrar de mim - falou Gennie, rindo e afagando os cabelos da filha.

- Da maneira como ele conta, você praticamente invadiu o espaço dele. E ele ficou aborrecido porque você era linda e estava toda encharcada. - Hermione suspirou, observando os traços clássicos do semblante da mãe, emoldurados pelos belos cabelos negros.
- Você é tão linda, mamãe.

- Você tem meus olhos -- afirmou Gennie, com seu costumeiro tom gentil. - Isso é que faz com que eu me sinta bonita.

Hermione sorriu.

- Não fomos feitos um para o outro. Draco e eu. Ele é tão conservador e vive tão absorto no trabalho... Não que ele não tenha bom humor, mas o humor dele é diferente do meu, entende? - Ficou de pé com um suspiro e caminhou até a janela, para ver a lua se refletindo sobre as águas além da casa. - Às vezes, ele é incrivelmente charmoso, surpreendente e encantador. Mas é tão temperamental que nunca sei como vai estar o humor dele quando nos encontrarmos de novo. Junto a isso, há também uma incrível sensibilidade que o faz sentir medo de confiar nos outros, de sentir algo mais intenso por alguém. Mas basta ele me tocar para eu me esquecer do resto do mundo...

- Oh, meu Deus. Ele é realmente igualzinho a seu pai. Mione, precisa fazer o que é melhor para você. Mas se o ama tanto assim, talvez nunca consiga ser feliz sem antes tentar acertar essa situação.

- Ele acha que sou uma inconseqüente - Hermione retomou o tom indignado, levando Gennie a sorrir com sabedoria. - E que meu trabalho é menos importante do que o dele só porque é diferente. Ele não confia em mim. Em um minuto me manda embora do apartamento dele, e no outro age como se não conseguisse ficar longe de mim. - Virou-se de repente, pronta para fazer mais algumas reclamações, mas se espantou ao ver a mãe sorrindo.

- O que foi?

- Como conseguiu encontrar outro homem como esse? Pensei que eu tivesse o único do mundo - disse Gennie.

- Vovô o encontrou.

O sorriso de Gennie adquiriu um ar mais sagaz.

- Oh. - Ela arqueou uma sobrancelha perfeita. - É mesmo? Não me diga...

Pela primeira vez naquelas últimas vinte e quatro horas, Hermione começou a rir.

Draco resmungou algo, guardando o sax de volta na maleta. Mulheres, pensou.

Conseguiam afetar tanto um homem que não o deixavam em paz nem mesmo para tocar seu instrumento preferido e liberar sua frustração. Como se não bastasse, também não estava conseguindo trabalhar.

Passara a maior parte do dia olhando para a tela do computador, indo até a janela ou ameaçando bater à porta do apartamento de Hermione. Isso até finalmente perceber que ela não se encontrava mais lá.

Ela o havia deixado. O que, provavelmente, fora a atitude mais sensata que ela tomara desde que o conhecera. Após o primeiro momento de aflição, Draco ponderara um pouco mais a respeito da situação e chegara à conclusão de que a melhor coisa que poderia fazer para ambos seria ir embora antes que ela voltasse para casa.

Voltaria para Connecticut na manhã seguinte. Achava que poderia agüentar pedreiros, encanadores, eletricistas e quem mais estivesse reformando a casa por mais algumas semanas. Mas não conseguiria agüentar ficar ali, morando bem em frente ao apartamento da mulher que ele amava e que perdera devido à sua idiotice.

Tudo que Hermione lhe dissera fora a mais completa verdade, e ele não tivera nenhuma defesa contra isso.

- Vou ficar fora durante algum tempo, André.

O pianista olhou para ele através da neblina formada pela fumaça dos cigarros.

- É mesmo?

- Vou voltar amanhã para Connecticut.

- Hum-hum. Levou um fora da garota? - perguntou André. Esticando-se para olhar as costas de Draco, acrescentou:

- Por acaso é um rabo isso que estou vendo entre suas pernas, meu caro?

Draco pegou a maleta, forçando um riso.

- Nos veremos por aí.

- Vou continuar bem aqui. É só me procurar.

Quando Draco se virou de costas para ele, André esticou o pescoço e fez um sinal para a esposa, então apontou o polegar na direção do amigo. Entendendo a mensagem, Delta se dirigiu à saída pelo outro lado.

- Está saindo mais cedo hoje, meu querido?

- Preciso arrumar algumas coisas porque vou viajar cedo amanhã. Vou voltar para Connecticut.

- Vai voltar às origens? - Delta sorriu, passando o braço por dentro do dele. - Bem, então vamos tomar um drinque de despedida, porque vou sentir falta dessa sua carinha bonita.

Draco riu.

- Também vou sentir da sua.

- Aposto que não só da minha - disse ela, mostrando dois dedos ao barman. - Aquela garota linda acendeu o blues em sua alma, mas você não está conseguindo transmitir isso a seu sax, não é mesmo? Ainda não foi dessa vez?

- Não, não foi. - Draco levantou o copo, em um brinde. - Está terminado.

- Mas por quê?

- Porque ela disse que está - respondeu ele, tomando a bebida de um único gole. Delta riu com charme.

- E desde quando os homens passaram a aceitar esse tipo de situação?

- Quando a mulher está sendo absolutamente sincera, não há o que argumentar.

- Draco Malfoy, não estou acreditando no que estou ouvindo... - Você é mesmo um idiota - acrescentou, em um tom afetuoso.

- Sem argumentos, Delta. Por isso acabou. Eu estraguei tudo, e agora preciso aprender a conviver com isso.

- Se foi você quem estragou, será você quem terá de consertar.

- Quando se magoa uma pessoa tanto quanto eu magoei Hermione, ela passa a ter o direito de não querer lhe ver mais.

- Meu querido, quando se ama uma pessoa tanto quanto eu sei que você a ama, você passa a ter direito de agir, ainda que tenha de se ajoelhar e implorar pelo amor dela. - Delta fitou-o bem nos olhos.

- Você a ama tanto assim?

Draco olhou para o copo de uísque deixado sobre o balcão.

- Nem eu mesmo sabia que a amava tanto. Nunca imaginei que eu fosse capaz de amar tanto.

- Ah, meu amigo... - Delta o beijou no rosto. - Então o que está esperando para ir atrás dela?

Draco balançou a cabeça negativamente, como se aquele assunto estivesse encerrado para ele. Dando um beijo de despedida na amiga, encaminhou-se para a saída e voltou a pé para casa.

Delta estava errada, disse a si mesmo. Às vezes, não havia como consertar um erro. Que motivo teria Hermione para aceitá-lo de volta? Ainda trazia na lembrança a imagem da sombra de tristeza que surgira naqueles olhos castanhos quando ele demonstrara desconfiança quanto ao caráter dela.

Não tinha o direito de pedir a ela que o ouvisse, depois da maneira como agira. Ajoelhar-se e implorar talvez fosse pouco dessa vez.

Para seu espanto, só se deu conta de que havia começado a correr quando chegou ofegante ao apartamento de Gina. Levado por um impulso, começou a bater à porta.

- Pelo amor de Deus, o que é isso?

Depois de verificar quem era através do olho mágico, Gina abriu a porta e fechou o robe com mais firmeza em torno de si. Se Harry não dormisse feito uma pedra, ela não teria de ter saído correndo, antes que o barulho acordasse o bebê.

- Já passa da meia-noite - disse ela. - Ficou maluco?

- Onde ela está, Gina? Para onde ela foi? - Gina torceu o nariz, levantando o queixo com um ar de dignidade difícil de ser sustentado naquele robe todo estampado com gatinhos cor-de-rosa.

- Você bebeu?

- Tomei um drinque - respondeu Draco. - Mas não estou bêbado. - De fato, ele nunca se sentira tão sóbrio, ou tão desesperado.

- Onde está Hermione?

- Como se eu fosse lhe dizer isso, depois de você haver arrasado o coração dela. Volte para sua toca - Gina apontou o corredor com dramaticidade -, antes que eu acorde Harry e algumas outras pessoas por aqui. Elas vão querer matá-lo quando souberem o que você fez. - Os lábios dela se tornaram trêmulos. - Todo mundo adora Hermione.

- Eu também a adoro.

- Sim, claro. E por isso a fez chorar como nunca. - Draco fechou os olhos por um instante, lamentando o que havia feito.

- Por favor, diga-me onde ela está.

- E por que eu deveria?

- Porque eu quero ir até lá, me ajoelhar e dar a ela chance de me chutar enquanto eu estiver abaixado - respondeu ele, no mesmo tom dramático. - Para que eu possa implorar. Vamos, Gina, me diga onde ela está. Eu preciso ver Hermione.

Gina estreitou olhar, examinando-o com cuidado. Ao ver a sombra de desespero nos olhos dele, pareceu ceder um pouco.

- Você a ama de verdade?

- Tanto que me conformarei e irei embora para sempre se ela não me quiser. Mas primeiro preciso vê-la.

Gina levou a mão ao peito. O que uma mulher romântica poderia fazer em uma situação como aquela senão suspirar?

- Ele está na casa dos pais, em Maine. Vou anotar o endereço para você.

Tomado por uma onda de alívio, e de gratidão, Draco fechou os olhos mais uma vez, antes de beijá-la no rosto.

- Obrigado, Gina.

- Mas se você a magoar novamente - falou ela, enquanto anotava o endereço no papel - irei procurá-lo até no fim do mundo, para matá-lo com minhas próprias mãos!

Draco riu.

- Não se preocupe. Não terá de fazer isso. - Lembrando-se do que Hermione havia dito, ele acrescentou: - Você está mesmo...

Gina franziu o cenho, confusa, então sorriu e levou a mão ao ventre.

- Sim, estou. O nascimento está previsto para acontecer no Dia dos Namorados. Não é perfeito?

- É maravilhoso. Meus parabéns. - Draco guardou no bolso o papel que ela lhe entregou. - Obrigado - agradeceu mais uma vez e beijou-a no rosto antes de sair.

Gina ficou algum tempo ali, parada com ar sonhador.

- Sim... - murmurou, enquanto fechava a porta. - Aí vai mais um encontro fora de qualquer escala. - Cruzando os dedos, sussurrou: - Boa sorte, Hermione.


- McDeal - disse Grant, por entre os dentes, com um brilho de fúria no olhar. - Raposa bisbilhoteira.

Aquele era apenas mais um dos termos que ele inventara para se referir a Gregory, desde que a esposa havia contado a ele sobre os planos casamenteiros do patriarca da família em relação a Hermione, na noite anterior.

Gennie riu. Sabia que, no íntimo, seu marido adorava Gregory McDeal.

- Pensei que fosse "velho alcoviteiro" - disse ela.

- Isso também. Se ele não estivesse com pelo menos seiscentos anos, juro que eu chutaria aquele traseiro dele.

- Grant. - Gennie deixou de lado o esboço que estava fazendo e olhou para ele.

- Você sabe que ele faz isso por amor.

- Mas não funcionou, funcionou?

Gennie começou a falar, mas se interrompeu ao ouvir o motor de um carro se aproximando.

Experimentando uma súbita onda de expectativa advinda de sua intuição feminina, respondeu:

- Não tenha tanta certeza disso.

- Quem diabos pode ser? - perguntou Grant, demonstrando mais uma vez a reação que costumava ter quando alguém ousava invadir seu território.

- Se for outro daqueles repórteres, vou pegar a arma.

- Você não tem uma arma.

- Então vou comprar uma.

Sem conseguir conter o riso, Gennie ficou de pé e o abraçou.

- Oh, Grant, eu te amo.

A delicada proximidade de Gennie agiu sobre ele como o sol despontando por trás de uma nuvem escura e invadindo-a sem hesitar.

- Geneviève - murmurou ele, chamando-a pelo nome completo, como costumava fazer em momentos mais íntimos. - Diga, a quem quer que seja, que vá embora e que nunca volte.

Gennie manteve os braços em torno do pescoço dele e a cabeça repousada sobre seu ombro, enquanto ouvia o possante motor do carro se aproximar cada vez mais.

- Acho que isso dependerá de Hermione.

- O quê? - Grant virou-se para a janela no mesmo instante, observando a estrada com ar desconfiado. A estrada que Gennie vivia lhe pedindo para ele mandar reparar.

- Acha que é ele? Ora, ora... - Teria saído de imediato, se a esposa não o houvesse detido. - Parece que vou poder chutar um traseiro afinal.

- Comporte-se.

- Uma ova que vou me comportar. - Ela sorriu.

- Venha. Vamos para a varanda - disse, segurando a mão dele.

Draco os avistou a distância e enrijeceu o maxilar. Ao longo dos últimos quilômetros, havia se preocupado mais em xingar a falta de manutenção daquela estrada do que em imaginar como seria seu encontro com os pais de Hermione. Quem quer que fosse o encarregado pela manutenção daquela estrada, não era lá muito responsável.
Surpreendeu-se ao notar que o casal Granger se encontrava abraçado na varanda da casa. E então se perguntou qual dos dois iria tentar matá-lo primeiro.

Com um suspiro resignado, conduziu o carro adiante, observando o lugar onde, provavelmente, logo ele seria enterrado em uma cova rasa.

O lugar era maravilhoso, com a mansão branca cercada de uma vegetação bem cuidada. Hermione havia sido criada ali, pensou ele. E talvez por isso ainda carregasse no espírito aquele cativante comportamento espontâneo.

Ao parar o carro diante da casa, sentiu que seus nervos não estavam tão calmos quanto ele imaginara que estariam naquele momento. O casal continuou a observá-lo da varanda. Mesmo à distância, notou que a expressão do pai de Hermione não era de muito boas-vindas.

Respirando fundo, saiu do carro, determinado a viver pelo menos o suficiente para ver Hermione e abrir seu coração para ela. Depois disso, nada mais importaria.

Não era de admirar que sua filha estivesse perdidamente apaixonada, pensou Gennie, ao observar o belíssimo rapaz que se aproximou pelo pátio. Notando a tensão de Grant, segurou o braço dele com mais força, em sinal de apelo.

- Sra. Granger, sr. Granger - Draco os cumprimentou com uma inclinação de cabeça, tendo o cuidado de não oferecer a mão ao pai de Hermione. Sabia que seria um bocado difícil digitar com os dedos quebrados.

- Sou Draco Malfoy. Preciso de... Preciso ver Hermione - ele corrigiu.

- Quantos anos você tem, rapaz?

Draco franziu o cenho, parecendo surpreso com a pergunta.

- Trinta.

Grant inclinou a cabeça.

- Pois se quiser completar os trinta e um, sugiro que entre novamente naquele carro e que volte para o lugar de onde veio.

Draco se manteve no mesmo lugar, encarando aquele olhar mortífero.

- Não irei embora antes de ver Hermione. Depois disso, o senhor mesmo pode me expulsar daqui se quiser. Ou tentar.

- Não vai chegar perto da minha filha nem por cima do meu cadáver.

Grant colocou Gennie de lado, como se esta não pesasse mais do que uma boneca. Mesmo quando ele deu um passo à frente, em uma atitude ameaçadora, Draco manteve os braços abaixados. O pai de Hermione poderia dar o primeiro soco, concluiu. Ele até que merecia.

- Chega!

Gennie se posicionou entre eles, levando uma mão ao peito de cada um. Então lançou um olhar de aviso para o marido, antes de dirigir outro mais ameno a Draco.

Ele levou um momento para se dar conta de que havia sido perdoado por uma rainha, como na História Antiga. Somente então respirou aliviado.

- Ela tem seus olhos - não pôde deixar de dizer, admirado. - Hermione. Ela tem seus olhos. - Um brilho de satisfação surgiu nos olhos dela.

- Sim, eu sei. Ela está na colina, atrás do farol.

- Gennie! Mas que droga!

Quando deu por si, Draco já havia pousado a mão sobre aquela que ela ainda mantinha em seu peito.

- Obrigado, sra. Granger. - Então levantou a vista para Grant e sustentou o olhar.

- Não vou magoá-la, sr. Granger. Eu prometo.

- Droga - resmungou Grant, quando Draco começou a se dirigir à colina com passos firmes. - Por que você fez isso?

Com um suspiro, Gennie se voltou para ele e lhe segurou o rosto entre as mãos.

- Por que ele me lembrou alguém.

- Tolice.

Ela riu.

- E acho que nossa filha vai se tornar uma mulher muito feliz antes do que você imagina.

Grant ficou olhando Draco seguir em frente, até desaparecer a certa altura do caminho.

- O rapaz está mesmo apaixonado por ela - ele finalmente admitiu. - Pude ver isso nos olhos dele.

- Eu sei. E você se lembra de quanto a sensação era assustadora?

- Ainda é. - Com um sorriso, Grant a puxou para si. - O rapaz tem coragem. Mas se bem conheço nossa filha, duvido que ela o perdoe facilmente. O coitado está perdido.

- Perdido de amor, você quer dizer - corrigiu Gennie, com ar sonhador. - Mas Mione vai perdoá-lo, sim. Ele merece. Para variar, Gregory acertou mais uma vez.

- Eu sei. - Grant sorriu para ela. - Mas não vamos contar nada a ele durante algum tempo para fazê-lo sofrer um pouquinho.

Sentada sobre uma pedra, Hermione desenhava alguns esboços. O vento fazia seus cabelos esvoaçarem, deixando-a com um ar sensual e infantil ao mesmo tempo.

Ao vê-la, em meio àquela belíssima paisagem, Draco perdeu o fôlego. Havia dirigido a noite inteira, e também a manhã, imaginando durante todo o tempo como seria rever aquele rosto. Mas nada o preparara para aquilo.

Chamou-a uma vez, mas se deu conta de que o vento desviara o som de sua voz. Desistindo de chamá-la, seguiu em frente, pela trilha que levava ao local onde ela se encontrava.

Talvez Hermione o tivesse ouvido, ou talvez sua aproximação houvesse mudado a incidência da luz sobre o papel. Ou talvez simplesmente o houvesse sentido de alguma maneira, mas a verdade é que ela de repente parou de desenhar e olhou na direção dele.
De súbito, foi como se todo o mundo ao redor houvesse parado por um instante, restando apenas a tempestade de emoções que os dois compartilharam naquela fração de segundo.

Então, como se a presença dele não fizesse a menor diferença para ela, Hermione voltou a desenhar.

- Você viajou um bocado, não, Draco?

- Hermione. - Ele sentiu a boca secar.

- Não costumamos receber muitas visitas por aqui. Meu pai não se importa muito em manter a estrada conservada justamente para afastar os visitantes.

- Hermione - ele disse mais uma vez, contendo a vontade de tocá-la.

- Se eu tivesse mais alguma coisa para lhe dizer, teria dito em Nova York.

"Vá embora!", pedia ela, em pensamento. "Vá embora antes que eu comece a chorar."

- Eu tenho algo para lhe dizer.

Ela o olhou de relance, sem muito interesse.

- Se eu quisesse ouvi-lo... Bem, o que eu disse também serve nesse caso. - Dizendo isso, fechou o caderno de esboços e ficou de pé. - Agora...

- Por favor. - Draco levantou a mão, mas abaixou-a novamente diante do olhar indignado de Hermione. - Ouça. Apenas ouça. Se quiser que eu vá embora depois, eu irei.

Ela respirou fundo.

- Está bem - respondeu, sentando-se novamente sobre a pedra e abrindo o caderno de esboços. - Mas vou continuar trabalhando, se não se importa.

- Eu... - Draco não sabia por onde começar. Todas as frases que havia ensaiado simplesmente fugiram de sua mente. - Minha agente se encontrou com o seu agente ontem.

- É mesmo? Que mundo pequeno, não?

Draco deveria ter se sentido insultado com o tom de Hermione, mas estava ocupado demais em observá-la para isso.

- Ele contou a ela sobre a série de televisão que se baseará nos seus desenhos. Disse que foi um grande acordo.

- Para alguns.

- Você não me contou.

Ela o olhou de soslaio.

- Você não está interessado no meu trabalho.

- Isso não é verdade, mas não posso culpá-la por pensar assim. Agi feito um idiota no dia em que você apareceu toda animada para me dar a notícia. Sei que arruinei tudo. Eu... - Draco sentiu a necessidade de se interromper e olhar a paisagem, tentando se acalmar. - Eu estava distraído, terminando meu roteiro. Mas também estava distraído com meus sentimentos por você. Com o que eu não queria sentir por você.

Hermione quebrou a ponta do lápis. Furiosa consigo mesma, colocou-o atrás da orelha e abriu seu estojo à procura de outro.

- Se foi isso que veio me dizer, então já disse. Agora pode ir.

- Não, não foi isso que vim lhe dizer. Mas peço desculpas por não tê-la ouvido naquele momento. Estou muito feliz por você.

- Puxa, não imagina como isso me deixa aliviada - ironizou ela.

Draco fechou os olhos, cerrando os punhos. Então Hermione também sabia ser cruel quando queria, pensou ele.

- Tudo que você me disse naquela noite em que me expulsou de sua vida estava certo. Deixei uma sombra do passado se instalar entre nós, e usei isso para arrasar o que de melhor poderia haver me acontecido. Vi o mundo de minha irmã se desfazer diante de meus olhos, presenciando quanto ela teve de lutar para superar a dor da traição e criar sozinha os dois filhos.

Hermione fechou o livro novamente.

- Sei que você e sua irmã viveram um inferno. Nem todo mundo agüentaria passar pelo que ela passou, Draco.

- Talvez. Mas as pessoas são mais fortes do que imaginam.

Ele se virou novamente e seus olhares se encontraram. Draco sentiu um fio de esperança ao notar um tênue brilho de simpatia nos olhos de Hermione.

- Teria funcionado, não teria? Se eu tivesse usado minha irmã para despertar sua compaixão? Mas não é isso que quero fazer. Não é o que vou fazer. - Voltando a olhar a paisagem, Draco prosseguiu: -- Eu amei Pansy. O que aconteceu entre nós me mudou de alguma maneira.

- Eu sei.

Hermione sentiu que teria de perdoá-lo. Isso seria inevitável, já que seu coração começara a se enternecer só pelo fato de Draco estar ali, à sua frente, tentando se explicar.

-- Eu a amei - repetiu ele, virando-se e se aproximando dela. - Mas o que eu senti por Pansy não é nem a sombra daquilo que sinto por você. Do que eu sinto quando penso em você e quando olho para você, Hermione. Esse sentimento preenche meu ser, me dá esperança.

Os lábios entreabertos de Hermione começaram a tremer. Seu coração acelerou, preenchido por algo que ela identificou primeiramente como esperança. Estava vendo no semblante de Draco algo que nunca imaginara ver. Lutando para capturar e compreender aquilo em toda sua amplitude, desviou o olhar por um instante.

- Esperança de quê? - conseguiu dizer.

- Esperança de que um milagre seja possível. Sei que a magoei muito, e que não mereço desculpa pela forma como fiz isso. Disse aquelas tolices quando pensei que você estava grávida porque estava aborrecido comigo mesmo. Aborrecido pelo fato de que uma parte de mim estava pensando que ter um filho com você seria uma maneira, de mantê-la junto de mim.

Quando Hermione voltou a fitá-lo, seus olhos estavam arregalados de surpresa. Draco passou a mão por entre os cabelos.

- Sabia que você não queria se casar, mas se estivesse... Pelo menos eu poderia forçá-la a se casar comigo de alguma maneira. E minha única defesa contra esse tipo de pensamento foi me voltar contra você.

- Me forçar a casar? - foi tudo que Hermione conseguir dizer.

Aturdida, ficou de pé e deu alguns passos. Observando a paisagem com olhar vago, perguntou-se como deveria lidar com tudo aquilo. Como a situação pudera mudar tão rapidamente?

- Sei que isso não é desculpa, mas você tem o direito de saber que, em nenhum momento, eu achei que você havia me enganado ou montado uma armadilha para mim. Nunca conheci uma pessoa tão humana e generosa quanto você, Hermione. Tê-la na minha vida foi... Você me fez feliz, e acho que eu havia esquecido o que era sentir felicidade.

- Draco. - Ela se virou para ele com os olhos marejados de lágrimas.

- Por favor, deixe-me terminar. Apenas ouça. - Draco segurou as mãos dela. - Eu te amo. E você disse que me amava. Sei que você não mente, então pensei que pudesse haver uma chance...

- Não, eu não minto.

Hermione distinguiu os traços de cansaço no rosto dele. Draco parecia haver sofrido tanto quanto ela naquelas últimas horas.

- Eu preciso de você, Hermione. Muito mais do que você precisa de mim. Sei que pode continuar a viver sem mim. É uma mulher independente e aberta para a vida, e ninguém a impedirá de ser quem você é. Sei que minha ausência não fará diferença em sua vida e que isso não a impedirá de ser feliz. Você nasceu para ser feliz.

Enquanto falava, Draco observava cada detalhe do rosto dela, como se quisesse guardar aquela imagem na lembrança.

- Nunca conseguirei esquecê-la - continuou ele. - Nunca deixarei de amá-la ou de lamentar o que fiz para perdê-la. Eu irei embora, se você quiser. Mas se houver uma única chance de recomeçarmos... Por favor, não me mande embora.

- Você acredita nisso? - perguntou ela, em um fio de voz. - Acredita mesmo que eu conseguiria ser feliz sem você? Além disso, por que eu o mandaria embora se quero que fique?

Draco soltou o fôlego que estivera contendo. Antes mesmo que um sorriso se formasse nos lábios de Hermione, Draco a puxou para si, em um abraço cheio de alívio.

- Pensei que a havia perdido, Hermione. Pensei...

Os lábios dele cobriram os dela em um beijo apaixonado. Quando eles se afastaram, ela estava com os olhos marejados de lágrimas.

- Não chore.

- Não consegue mesmo se acostumar, não é? - Ela sorriu. - Nós, da família Granger, somos muito emotivos.

- Eu imagino. Seu pai me olhou com um ar de quem estava querendo torcer meu pescoço "emotivamente" ainda há pouco.

- Quando ele vir que você me deixou feliz, ele o deixará viver. – Hermione riu. - Ele vai adorá-lo, Draco, e minha mãe também. Primeiro porque eu já o adoro e depois por quem você é.

- Ranzinza, rude e temperamental?

- Isso mesmo. - Ela riu alto quando Draco fez uma careta de desagrado. - Eu poderia tentar mentir, mas você sabe que eu sou péssima nisso. - Os dois começaram a andar de mãos dadas.


- Eu adoro este lugar. Foi aqui que meus pais se conheceram e se apaixonaram. Papai vivia no farol naquela época, como um eremita, guardando o trabalho e irritando-se com a mulher que aparecia para distraí-lo. - Hermione olhou-o de soslaio.

- Ele é ranzinza, rude e temperamental.

Draco riu.

- Parece um homem bastante sensato. - Levou a mão dela aos lábios. - Hermione, quer ir a Newport comigo e conhecer minha família?

- Vou adorar. - Ela o olhou mais uma vez e franziu o cenho ao notar um brilho diferente nos olhos dele.

- O que foi?

Draco parou e a virou de frente para si, segurando-a pelos ombros.

- Sei que você não quer se casar agora e que prefere se dedicar à sua carreira e à vida agitada de Nova York... Nem espero que goste da minha casa, que fica em um lugar afastado da cidade, sem muito barulho. Ainda assim... - Ele hesitou.

- Não quero que mude seu estilo de vida, Hermione, mas se algum dia decidir que quer se casar comigo e ter um lar e uma família tranqüilos, não se esqueça de me avisar, está bem?

Hermione sentiu uma onda de felicidade que ameaçou explodir em seu peito, mas se limitou a assentir.

- Pode deixar. Você será o primeiro a saber.

Dizendo a si mesmo que deveria se sentir satisfeito com aquilo, Draco beijou a mão dela.

- Está bem.

Fez menção de recomeçar a andar, mas surpreendeu-se quando Hermione o fez parar de repente.

- Draco?

- Sim?

- Quero me casar com você e ter um lar e uma família. - O sorriso que surgiu no rosto dele foi um reflexo do dela.- Está vendo? Cumpri a promessa de avisá-lo.

Ele a tomou nos braços e rodopiou com ela, dando um grito de felicidade. Quem disse que sonhos não se realizavam?

Muito tempo depois, os dois se encaminharam de mãos dadas para a casa dos Granger. Havia ainda toda uma família que precisava ser avisada da novidade. Principalmente um avô muito, muito especial.....


s2 F I M...? s2

~~~ // ~~~

Ta ai people....é com mta tristeza q eu postei o ultimo cap *snif*
Bom oq eu posso dizer... ainda estou sem palavras... q final mais perfeito.... *-*
Definitivamente... eu preciso de um Draco Malfoy desse em minha vida *suspira*
O pai e a mãe da Mione são tão cute né!! *-*
Pronto, parece q o vovô McDeal finalmente conseguiu juntar os dois né!
Aiii, sooo perfect! Acho q já podemos dizer... e viveram felizes para sempre! (?)
Hehe.. :p

Bom amores do meu core, sinto muito mesmo maaas infelizmente dessa vez não poderei responder á cada comment como eu tanto queria! =/ A semana já começou um caos total! ¬¬’
Mas saibam q eu os leio e releio com mtooooooo carinho e agradeço do fundo do meu coração todos q comentaram e acompanharam a fic.. fazendo essa pobre leitora feliz! :D

Amo todos vcs! ♥ ♥

Um beijo enorme pra todos!! ;)

Love,

xoxo – Lay ~

Compartilhe!

anúncio

Comentários (2)

Você precisa estar logado para comentar. Faça Login.