Capitulo 9



CAPÍTULO IX

— Por que Hermione nos trouxe aqui? Este lugar é tão... tão sujo! — re­clamou Cecília.
Harry sentara-se sob a árvore e apoiara as costas no tronco, fechando os olhos.
— É um parque — observou sonolento. — Parques têm terra, folhas secas, formigas...
Continuou de olhos fechados, gozando o inesperado re­pouso. Os sons da cidade chegavam abafados naquele re­canto pacífico, onde a brisa era fresca e o ar mais limpo.
— Está cheio de besouros! Odeio insetos! —- exclamou Cecília.
Harry abriu os olhos e encarou-a. Ela sentara-se na bei­rada do cobertor que Hermione abrira no chão e, muito ereta, mantinha as pernas dobradas junto ao corpo, numa atitude tensa. Parecia equilibrada numa jangada, cercada de água turbulenta, em vez de sentada num gramado verde, que convidava ao descanso.
— Você disse que gostava de piqueniques — ele observou.
— Gosto dos piqueniques organizados pelo clube e não de vir comer qualquer coisa num parque, sem o mínimo conforto.
Hermione levara três tipos de sanduíches, batata-palha, frutas e chá gelado, além do bolo de aniversário. Harry achou uma injustiça chamar a gostosa refeição de "qualquer coisa".
— Ela teve muito trabalho — comentou. — E estava tudo muito gostoso.
— Pode ser, mas nada saudável. Os recheios dos sanduíches estavam gordurosos e muito condimentados. Caiu mostarda no meu blazer.
— Por que não escolheu uma roupa mais simples?
Cecília piscou várias vezes, surpresa.
— Este conjunto é simples, perfeitamente adequado para uma ocasião informal. Só que não imaginei que fôssemos ter de sentar num cobertor, como mendigos. O que essa moça tem na cabeça?
Harry alongou o olhar na direção do playground, onde Hermione, rodeada por uma porção de crianças, empurrava uma menininha no balanço.
— Ela está se divertindo — declarou. — Parece dar-se muito bem com crianças.
— É claro que sim, porque tem tanto juízo quanto elas. Tenho a impressão de que adora aventuras e que por isso escolheu um emprego que a faz viajar muito. Por falar nisso, ela tem trabalhado?
— Bastante — respondeu Harry, pensando nos esforços que Hermione fazia para "salvá-lo".
— Devo confessar que isso me surpreende. Parece que ela não leva nada a sério. É do tipo impulsivo, que se deixa arrastar pelas emoções. Ai! O que é isso? — gritou Cecília, pondo-se de pé.
Olhou atentamente para um ponto do cobertor e pisou numa pequena aranha inofensiva, esmagando-a.
— Por que fez isso? — Harry censurou. — O pobre bicho só estava cortando caminho.
— Que coisa mais primitiva! Pessoas civilizadas não co­mem sentadas no chão, no meio de aranhas e formigas re­pulsivas. Eu não devia ter vindo!
"Também acho", pensou Harry. Sentira-se desapontado, quando Hermione anunciara, lá no escritório, que não iriam sozinhos ao parque e, além disso, o comportamento da futura noiva estava sendo simplesmente irritante.
— Ela não vai parar de brincar? — perguntou Cecília, fazendo um gesto na direção de Hermione. — Se trabalha tanto quanto se diverte, deve estar acabando o que veio fazer em Los Angeles. Quando é que pretende ir embora?
— Daqui a quatro dias — respondeu Harry em tom seco.
Cecília aparentemente esqueceu o aborrecimento, porque esboçou um sorriso.
— Falta pouco, então. E para nós o tempo passará de­pressa, por causa da festa e tudo o mais. Hermione me contou que você a convidou e achei bonito de sua parte, mas não acha que ela se sentirá deslocada? Afinal, não pertence a nossa classe social.
— Nossa? Sua classe, a que eu também não pertenço — observou Harry, quase ríspido.
— Não acredito que estou falando com o bem-sucedido advogado Harry Potter! — exclamou Cecília, dando uma risada forçada. — Está se subestimando. Sua mãe pode ter sido uma pessoa apagada, mas seu pai chegou a ser famoso até na Europa e você tem um futuro brilhante a sua espera.
— Minha mãe não foi uma pessoa "apagada", Cecília. Foi uma mulher maravilhosa, boa e forte, que me criou sozinha, depois que meu pai pediu o divórcio e esqueceu de nós por causa da carreira.
— Eu sei que ela foi corajosa. Só disse que socialmente não teve nenhuma projeção. Mas nada disso importa, agora.
Harry ficou em silêncio.
Cecília ajoelhou-se no cobertor, tocando-o no rosto com a ponta dos dedos finos e brancos.
— Desculpe eu ter esquecido seu aniversário — pediu. — mas vou compensá-lo na noite da festa. Preparei uma surpresa especial.
— Não se incomode com isso.
— Não é incômodo, de jeito nenhum — afirmou Cecília, tornando a olhar para Hermione e levantando-se. — Não posso esperar mais. Tenho um milhão de coisas para resolver a respeito da festa. Vamos embora, Harry. Você também deve estar ansioso por voltar ao escritório.
— Não, não estou. Na verdade, estou me divertindo. Mas entendo, claro, que você precise ir.
Cecília apertou os lábios por um momento, então riu.
— Vai ter de vencer essa propensão para divertimentos de segunda classe, querido. Até amanhã.
Do playground, Hermione estivera observando os dois dis­farçadamente e os vira conversando, o que era um bom sinal. Seu plano estava dando certo, apesar de que Cecília parecera irritada, quando pisara em alguma coisa no co­bertor. Nesse momento, Harry franzira a testa e dissera algo, obviamente aborrecido.
Contudo, isso talvez fosse melhor do que a fria polidez com que geralmente se tratavam.
Hermione distraiu-se um pouco, ajudando a garotinha a descer do balanço e pondo um lindo menino de olhos cas­tanhos no lugar. Assim, quando tornou a olhar na direção de Harry e Cecília, surpreendeu-se ao ver que a loira estava indo embora. Harry a observava, enquanto ela caminhava para o carro com passos incertos, pois os saltos altos dos sapatos enterravam-se na grama fofa.
Bem, se ele seguia a namorada com os olhos, parecendo esquecido de tudo, devia estar se apaixonando. Hermione sabia que isso deveria alegrá-la, mas em vez de satisfação sentiu um aperto no coração. Dominou a reação inexplicável e sor­riu para o menininho, começando a impulsionar o balanço. Claro que estava feliz. Quanto mais depressa Harry e Ce­cília se apaixonassem um pelo outro, mais rápido ela voltaria para o céu.
Não ficava triste com a idéia de que deixaria o mundo para sempre, pois não faria falta a ninguém. Tio Herb... Pensando no tio, ela mordeu o lábio e deu um empurrão mais forte no balanço.
Ficara atônita, quando o vira sair do escritório de Harry, levado por um segurança e tão transtornado que nem notara sua presença. Sabia que ele se encontrava em Los Angeles e que se metera numa encrenca qualquer, mas nunca po­deria imaginar que fosse ele o homem que uma cliente de Harry desejava processar! O tio seria capaz de muita coisa, mas parecia pouco provável que se envolvesse com uma mulher a ponto de querer casar-se, mesmo que ela fosse rica. Sempre dissera que só a palavra "casamento" já lhe provocava alergia.
Ela pensara em dizer essas coisas a Harry, mas desistira ao encontrá-lo tão furioso com Herbert. Muitas vezes, em muitas cidades, já sofrera o antagonismo das pessoas, depois que seu criativo tio tentara atraí-las para algum "negócio fabuloso". Não, não contaria que era parente de Herbert Granger. Não havia necessidade. Dentro de alguns dias ela partiria para sempre e o tio teria de sair sozinho da enrascada em que entrara.
Essa decisão, contudo, era dolorosa. Ela amava o tio e preocupava-se com ele. Mas o que poderia fazer para aju­dá-lo? Sua missão era cuidar de Harry e encaminhá-lo na vida, num prazo curtíssimo. Não podia perder tempo com outras coisas.
Com um suspiro, arrancou-se do devaneio e sorriu para o garotinho. Então, olhou na direção de Harry, notando que ele se levantara e caminhava para ela. O vento brincava com o cabelo escuro, deixando-o revolto como o de um menino travesso. Ele sorriu ao chegar perto dela e Hermione refletiu que seria bom vê-lo sorrir mais vezes. Harry trabalhava demais, era exageradamente sério.
— Cecília precisou ir embora? — ela perguntou.
— Disse que tem algumas coisas para resolver sobre a festa — ele respondeu, olhando para o garoto no balanço.
— Para onde foram as outras crianças? Há quinze minutos você estava rodeada por um bando delas.
— Foram todas comprar sorvete.
— Quer dizer que a abandonaram?
—- Estou acostumada. Essa é a história da minha vida — ela respondeu com um sorriso, embora o coração doesse diante das lembranças do passado.
— Não está querendo dizer que seus pais a abandonaram, está? — perguntou Harry, olhando-a atentamente.
— Não... Bem, meu pai deixou minha mãe antes de eu nascer e morreu alguns anos depois. Os dois não eram ca­sados. Mamãe também não queria vínculos. Ficou zanzando de um lado para o outro do país, até o dia de sua morte.
— Quero descer — o menininho avisou.
Hermione parou o balanço, pegou a criança e colocou-a no chão. Depois, ficou olhando até vê-la desaparecer na direção do carrinho de sorvetes. Então, sentou-se no balanço, sacu­dindo os pés para tirar a areia das sandálias.
— Você deve ter tido uma infância difícil — comentou Harry.
— Não. Minha mãe e meu tio, irmão dela, eram muito divertidos. Tinham alegria de viver e em cada cidade para onde nos mudávamos encontravam coisas boas e bonitas para apreciar e que nem sempre os habitantes do lugar tinham olhos para ver.
— Seu tio ainda vive?
— Vive, sim. Ficou perdido, quando mamãe morreu, pois os dois se adoravam. Só restou ele da família.
— E você, como encarou a morte de sua mãe?
— Senti demais.
— Seu tio já se recuperou?
— Ah, já. Até está pensando em casar com uma mulher que conheceu recentemente.
— E com certeza pretende ser feliz para sempre — co­mentou Harry em tom cínico.
— E por que não?
— É uma ilusão.
— Não acho — ela discordou, começando a balançar-se para fugir de uma discussão.
Para seu alívio, Harry não insistiu no assunto. Deu um empurrão no balanço, mandando-a bem alto.
— O que está fazendo? Pare com isso! — ela protestou.
— Estou fazendo o mesmo que você fez comigo a semana toda. Me empurrando de um lado para o outro, me dei­xando zonzo.
-— Muito engraçado!
De repente, Hermione sentiu-se escorregar no balanço, como se uma força invisível quisesse jogá-la para baixo. Tentou segurar-se nas correntes, mas as mãos suadas deslizaram e ela caiu para a frente, sobre as mãos e os joelhos.
— Hermione! — gritou Harry, curvando-se e pegando-a por baixo dos braços para levantá-la.
Trêmula, ela ficou de pé, apoiada nele, e examinou as palmas das mãos ligeiramente esfoladas pela areia grossa.
— Nossa, que coisa ridícula — murmurou.
— O que aconteceu, Hermione? Você escorregou?
— Não sei o que houve. Parece que alguém invisível quis me derrubar. Acho que não estou fazendo as coisas direito, como anjo, e vieram me repreender.
Harry apertou os olhos, fitando-a com ar perscrutador.
— Quem viria te repreender?
— Bud, ou outro anjo graduado.
— Não acha que essa bobagem está indo longe demais, Hermione? Anjos comuns, anjos graduados, anjos-chefes...
— Não quero brigar com você no dia do seu aniversário — ela interrompeu-o. — Escorreguei, pronto.
— Você não sabe onde acaba a fantasia e começa a rea­lidade — ele insistiu, ignorando a chance de acabar com a discussão.
— Claro que sei.
— Sabe? Então, confesse que não é um anjo.
— Não posso fazer isso, porque sou um anjo. E logo irei embora daqui deste mundo.
Harry sentiu-se mal com aquela declaração. Lembrou-se de que quando Hermione desaparecera da universidade, ele sentira sua falta. E ela nem sabia que ele existia! O que não sentiria, depois de vários dias de convivência? Sufocando uma praga, deixou-a e foi pegar o cobertor e a cesta.
Cerca de meia hora depois, quando parou o carro diante do prédio onde morava para Hermione descer, Harry olhou-a pela primeira vez, desde que tinham saído do parque.
— Esteja pronta, quando eu voltar, à noite. Vamos jantar fora para comemorar meu aniversário.
— Tudo bem — ela concordou, saindo do carro. Harry colocou o veículo em movimento e seguiu pela rua, refletindo que faria qualquer coisa para livrar Hermione daquela fixação sobre ser um anjo. Faria amor com ela, se fosse preciso.
Assim, quando desaparecesse de sua vida, quando esti­vesse morando em outra cidade, ela não esqueceria de que ele existia.
Harry Potter seria uma lembrança indelével, completamente inesquecível.




Obs:Oiiiii pessoal!!!Capitulo Postado!!!!Espero que tenham curtido!!!!Próxima atualização na quinta, pois tenho que estudar para duas provas (terça e quarta) da faculdade!!!Bjux!!!!Adoro vocês!!!!

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