Quatro
Harry suspirou relutante e de má vontade assentiu com a cabeça. Levantou-se e seguiu em direção a porta passando por ela sem ao menos bater a continência como todos os outros comensais.
Voldemort acomodou-se em sua poltrona começando a sentir a brisa fria da noite contra sua pele branca e áspera. A lareira acendeu do nada iluminando o quarto que há minutos atrás era iluminado pelos últimos vestígios de sol do dia e ele pensou “Você é tolo como uma pedra, Potter. Desistirá disso tão cedo quanto imagina.”.
_****_
Hermione olhou no relógio da parede da cozinha e respirou tranqüila. Certo, ele ainda não estava atrasado. Sophie estava na mesa desenhando com seu giz de cera novo sem dar o mínimo sinal de fome, ou de sono.
Sabia que deveria estar sentada na mesa de sua biblioteca escrevendo, afinal, o profeta já lhe notificara que estava atrasada com as redações, porém, ela não parecia muito disposta a tirar esse atraso, mesmo sabendo que isso a prejudicaria. Algo que da parte dela seria considerado um absurdo.
Não demorou até que o som da porta da sala se abrindo chegasse até a cozinha. Hermione sentiu seu animo florescer e viu Sophie pular da cadeira para receber Harry quando ele finalmente apareceu.
- Nossa, Mione! Isso está cheirando lá fora. – disse abrindo a tampa da panela no fogão e observando o jantar borbulhar. – Parece realmente bom.
Ele se abaixou e deu um grande abraço em Sophie.
- Eu fiz um desenho hoje. – comentou Sophie animada. – A tia disse que eu desenho bem, você acha que quando eu crescer eu posso ficar rica com os meus desenhos?
Harry riu.
- Se você se esforçar muito. – disse a garotinha. – Onde está seu desenho?
Ela sorriu radiante com os olhos brilhando.
- A tia pôs no mural. E colocou meu nome também. Todo mundo que passa vê meu desenho. – ela olhou para Hermione esperançosa. – Eu contei para ela sobre minha mãe e meu pai e sobre vocês também. Ela me disse que vocês são agora são meu papai e minha mamãe novos, e que eu devia amar vocês como eu amava o papai e a mamãe antigos. Disse que eu não devia me preocupar por que tem muitas crianças como eu que perdem o papai e a mamãe e não ganham outros novos. Eu tenho sorte, não tenho?
- Tem sim! – disse Harry sorrindo e estalando um beijo demorado bochecha de Sophie.
- A tia Mione comprou uma televisão para mim, sabia? Ela disse que eu posso assistir desenho a hora que eu estiver livre. – ela saltou para frente de Hermione juntou as mãozinhas com os olhos brilhando num ar pedante. – Eu posso ver o que está passando agora? Eu aprendi a mexer no controle.
Hermione sorriu.
- Claro que pode. – disse passando as mãos sobre o cabelo louro da menina. – Mas terá que desligar quando eu te chamar para o jantar, certo?
Sophie assentiu e saiu ligeira em direção a sala. Harry viu o sorriso de Hermione desaparecer assim que a garotinha passou pela porta da cozinha. Suas feições mudaram de uma terna para uma cansada num de uma forma extremamente rápida e natural.
Harry se aproximou e lhe deu um demorado beijo na testa. Afastou-se e tocou seu rosto com uma das mãos dando-lhe um sorriso fortalecedor.
- Hei. – ele murmurou sorrindo. – Eu cheguei antes do jantar. Cheguei a tempo, não? – brincou.
Hermione abriu um sorriso fraco passando os braços em volta do tronco de Harry e apoiando a testa em seu tórax, assim como sempre fazia quando precisava de um certo apoio.
- Agora eu entendo o real motivo dos pequenos fios de cabelo branco que apareciam em Rony e Luna.
Harry riu.
- Você realmente parece cansada. – ele a afastou e tirou alguns cabelos de sua face. – Sirva o jantar e vá dormir.
Ela negou com a cabeça.
- Tenho que por Sophie na cama, e creio que fazê-la dormir depois de uma tarde de hoje não será muito difícil. Preciso fazer minhas redações. – ela riu de repente maneando a cabeça. – Por um momento imaginei que eles fossem pedir para que eu te entrevistasse novamente.
Harry revirou os olhos.
- Hermione, sabe que eu preferiria você do que qualquer outra repórter. E... Deus! Eu não suporto quando mandam loiras perfeitas, elas dão em cima de mim descaradamente!
Hermione gargalhou.
- As vezes eu penso que você é gay. – comentou Hermione em meio a seus risos.
Harry abriu um daqueles sorrisos sedutores que faziam qualquer mulher sentir arrepios.
- Posso te mostrar o que realmente sou quando estivermos a sós. – e lançou-lhe uma piscadela.
Hermione ergueu a sobrancelhas.
- Pensei que a história fosse sobre loiras perfeitas que te davam mole.
- Eu sou um moreno de olhos verdes te dando mole. – brincou Harry.
Hermione riu e se soltou do homem que sorria devido a brincadeira.
- Deixe que eu ponho Sophie pra dormir, afinal, como você disse, talvez não seja tão difícil fazê-la dormir depois de um dia como hoje. Assim você pode fazer suas redações e ir dormir. – disse enquanto a via desligar o fogo e pegar um prato fundo numa de suas estantes bem organizadas.
Ela suspirou.
- Obrigada, Harry. Mesmo. – agradeceu Hermione enquanto enchia o prato de Sophie de caldo.
- Gina foi em minha sala ontem. – comentou Harry enquanto pegava seu prato.
- Seu tom não me pareceu contente. – disse Hermione casualmente.
- Ela queria o endereço da creche em que colocamos Sophie. – disse Harry rapidamente.
Hermione o olhou apreensiva antes de colocar o prato de Sophie na mesa.
- Você não... Você não deu. Ou deu?
- Não! Eu não... – ele parou e soltou suspirou. – Disse que iria conversar com você.
Hermione pos o prato de Sophie sobre a mesa e cruzou os braços.
- Harry, você sabe que nós não podemos fazer isso. – disse Hermione.
Harry revirou os olhos servindo-se.
- Mione! – exclamou. – Nós estamos falando de Molly Weasley! Aquela que nos acolhia todas férias de verão de Hogwarts. Aquela que nos deu presentes. A mãe de Rony! Ela acabou de perder o filho.
Hermione pareceu ponderar rapidamente.
- Sabe o que eu penso, Harry James Potter? – indagou Hermione aproximando-se do homem - Penso que você não esta conseguindo ceder um pedido de Gina!
Harry a olhou incrédulo.
- Por Deus, Mione! – exclamou largando o prato sobre a mesa. – Seu pensamento está sendo totalmente estúpido! Não estou pensando em Gina, estou pensando na Sra. Weasley!
- Certo. – resmungou Hermione. – Você está pensando na Sra. Weasley. Então... Vejamos! Onde fica o Sr. Lovegood em tudo isso? Ele acabou de perder a filha. A única filha! Ele só tem Sophie nesse momento, alias, ao menos Sophie ele tem.
Harry passou as mãos pelo rosto e respirou fundo. Aproximou se Hermione e pôs carinhosamente seu rosto entre suas mãos lembrando-se de Voldemort instantaneamente.
- Ok! – disse calmamente. – Você tem razão. Foi um erro meu dar ouvidos a Gina. Mas... O que vou dizer a ela? Eu só não... Queria ser tão grosso. Ela acabou de perder o irmão, tem direitos de ver a sobrinha assim como o Sr. Lovegood também tem direito de ver a neta. Porém ambos estão proibidos sequer de ver a menina pintada.
- Diga que não pode dar privilégios a ela, assim como não pode dar privilégios ao pai de Luna. Diga que esta sendo juntos. Você sempre foi justo. – murmurou ela.
Harry processou a ultima frase e sentiu um sorriso amarelo querer aparecer em sua face, porém, o conteve. Apenas assentiu com a cabeça e tirou as mãos do rosto de Hermione. Ela lhe lançou um sorriso animado como se quisesse fazer com que o clima se dissipasse e rumou para a porta da cozinha passando a chamar Sophie que apenas gritou um “já vou” animado em resposta.
_****_
Um garotinho de cabelos loiros fungou sentado a maca da enfermaria do St. Mungos. Seus pulmões estavam a plenos trabalhos, e a pausa para o fungo parecia somente ser uma busca de ar para mais uma sessão de berros.
Harry observou minuciosamente o corte profundo em seu braço e por um instante teve dó do menininho.
- Olhe! – exclamou Harry calmamente. – Eu sei que de fato isso está mesmo doendo, mas eu preciso que não grite. Eu juro que vai doer bem menos se não gritar tanto. – Harry tentou acalmá-lo. – Consegue esticar mais o braço?
O garotinho prendeu o choro deixando somente sua face púrpura e as lagrimas escorrendo por ela. Assentiu apressadamente com a cabeça fazendo seus cabelos loiros esvoaçarem diante da pergunta de Harry. Gemeu de dor ao esticar mais o braço.
Harry segurou o braço do garoto com cuidado e apontou sua varinha para ele. Passou a ponta da varinha algumas poucas vezes centímetros acima do corte depois da forma mais cuidadosa que pode tornou a soltar o braço do menininho que fungou novamente.
- Ele estava brincando. – explicou a mãe que amparava o filho. – Eu disse para que tomasse cuidado, mas ele nunca me escuta... Eu não sou boa com isso de primeiros socorros. Eu só fiz até o quinto ano de escola e minha varinha esta quebrad...
- Tudo bem. – Harry a cortou lhe lançando um sorriso carismático enquanto colocava a varinha sobre uma estranha bandeja ao lado de um aparelho que pulsava. – Não precisa explicar. Eu tenho uma dessas em casa e digamos que é típico da idade.
A mãe do garoto pareceu ficar grata com o comentário e assuntou-se quando aparelho que pulsava começou a emitir sons agudos e datilográficos. Isso atraiu a atenção do garotinho que por um segundo acabou esquecendo-se do braço cortado.
Ela não pode perceber o que era exatamente o aparelho quando Harry dirigiu-se para trás dele e depois simplesmente estava erguendo um pergaminho na altura dos olhos.
- Vejamos... – a voz dele soou e logo um grande silêncio se fez enquanto o garotinho via a expressão apreensiva da mãe. – É... Nada que realmente chegasse a nos preocupar. – falou finalmente num tom animado deixando o pergaminho de lado e se dirigindo agora a um dos grandes armários que havia no consultório.
O garotinho o viu remexer em vários daqueles frasquinhos coloridos que podia enxergar através do vidro do armário e surpreendeu-se ao ver que ao mesmo tempo uma das gavetas da mesa do medibruxo se abria fazendo uma pipeta sair flutuando lentamente ate ficar parada no ar.
Harry virou-se trazendo consigo agora um frasquinho com um liquido meio alaranjado. O loirinho imaginou se aquilo seria para por em seu ferimento e quase pode sentir o quanto aquilo seria torturante. Harry pegou a pipeta suspensa no ar e se dirigiu para o garotinho tirando a rolha do pequenos frasquinho e a deixando de lado.
- Bem, eu não vou garantir que isso não vá doer, mas ontem eu recebi um menino menor que você aqui e ele não fez um barulho sequer quando coloquei isso no machucado dele. E o dele parecia estar bem pior que o seu. – Harry definitivamente adorava usar técnicas como essa com crianças. Na maioria das vezes o grito saia mais controlado ou sequer saia um grito.
Não deixou de sentir pena do garotinho ao pingar três gotinhas sobre o corte. O loiro imediatamente passou a gemer com os lábios apertados e logo seus olhos estava cheio de lagrimas novamente. Mas ele acertou exatamente o que vinha depois. O garotinho murchou os ombros e sorriu para ele num ar cansado.
O corte ainda permanecia lá, mas a dor já se fora, Harry tinha plena certeza disso. Apanhou sua varinha e acenou para o braço do garotinho sem pronunciar palavra alguma como se aquilo não passasse do toque final. O corte foi se fechando sem deixar cicatriz alguma e o garotinho passou a ter um sorriso quase insano nos lábios.
- O senhor é Harry Potter, não? – a voz fina do loiro soou pela sala.
Harry que tinha suas vistas abaixadas para um pergaminho em sua mesa ergueu os olhos e incomodado focou o garoto.
- Bem... – disse mexendo-se desconfortavelmente na cadeira. – Sim. Como sabe?
O loiro pulou da maca para o chão, a mãe o segurou pelo braço tentando contê-lo, porém não teve sucesso quando ele desvencilhou-se sem dificuldades da mão da mãe.
- Eu vi sua cicatriz quando estava olhando o meu machucado, daí eu reparei na cor dos seus olhos e o mesmo desenho que está bordado no seu casaco branco é o desenho que tem no livro que conta sobre sua vida. – disse animadamente.
Harry olhou para seu jaleco e viu seu próprio nome bordado num bolso do lado esquerdo. Lembrou-se de quando Hermione dera-lhe o jaleco de presente alegando ter sido a própria que bordara seu nome ali e ele ficou realmente feliz pela dedicação da amiga. Ela havia tido um grande avanço desde que resolvera enfeitar gorros para elfos. Harry dava graças a Deus por ela ter abandonado essa obsessão a tempos, porém ela não parava de exercitar suas habilidades, sempre que podia estava lá com a linha e a agulha.
- Você matou mesmo você-sabe-quem? – a voz do garotinho tirou Harry de seus devaneios.
Ele lhe lançou um sorriso que teve quase certeza de que saíra amarelo.
- Bem, é o que todos dizem por aí, não? – respondeu Harry.
- Eu posso ver a marca em seu pulso?
- Desculpe. – interrompeu a mãe. – Ele não mede as palavras.
O garotinho pareceu irritado, mas Harry tentou sorrir amorosamente, porem soube que aquele sorriso saíra mais aliviado pela interrupção da mãe.
- Bem. – Harry disse casualmente enquanto imprensava a marca do St. Mungos junto da sua assinatura na cera vermelha do pergaminho. – Deve dar essa poção a ele por ter dias. De preferência depois do almoço ou antes de dormir. Pode encontrar no beco diagonal, mas se for na distribuidora do hospital eles podem te fazer por um bom preço.
A mulher sorriu grata e pegou o pergaminho quando Harry lhe estendeu. Tomou o braço do menininho que relutante esperava um olhar de Harry e saiu da sala agradecendo.
Harry olhou no relógio logo que a mulher bateu a porta. Suspirou aliviado e sorriu. Iria almoçar em casa, graças a Deus! Estava tentando fazer isso a dois dias e nunca conseguira sair a tempo.
Saiu da sala da enfermaria e rumou para a sua certo de que conseguiria chegar a tempo do almoço com Sophie e Hermione. Ele não tivera muito progresso com Hermione e estava começando a bolar estratégias mínimas que pudessem indicar alguma intenção amais.
Abriu a porta de sua sala e parou surpreso.
- Que bom que você não demorou! – exclamou uma vozinha fininha que Harry nunca sentira tanto prazer em ouvir. – Tia Mione disse que provavelmente você demoraria.
Harry sorriu e abaixou-se para dar um abraço da menininha sorridente que logo ao vê-lo correu ao seu encontro. Ele reparou que Hermione estava de fato surpresa pelo sua chegada cedo.
- Pensei que fosse demorar. – disse Hermione. – Digo... Você sempre demora.
Ele aproximou-se dela e lhe deu um demorado abraço.
- Diz isso num ar de lamento sabia? – disse ele num ar brincalhão separando-se dela.
Por mais que tenham se separado o fato que deixou Hermione surpresa foi que ele mantinha as mãos em sua cintura. Ele sempre tivera liberdade com ela, mas o que lhe deixava com medo era que não conseguia reconhecer aquele olhar novo que ele estava lhe lançando enquanto não deixava que seus corpos criassem a distância que ela por incrível que pareça não estava querendo que criasse. Estava bom ali, só não conhecia aquele olhar.
- De fato! – ela exclamou sorrindo. – Penso que eu deveria sentir mais falta de você do que costumo sentir quando não aparece nas horas certas, e olha que eu sinto realmente bastante falta de você!
Harry sorriu e lhe beijou no topo da testa.
- O que fazem aqui, afinal? – indagou.
- Tia Mione perguntou se eu queria esperar você para o almoço. – Sophie disparou a dizer enquanto subia na cadeira de Harry e passava a girá-la num ar divertido. – Então eu perguntei porque esperar agora se você nunca chegava para almoçar na hora. Daí a tia Mione teve uma idéia.
Harry riu e soltou a cintura de Hermione para poder cruzar os braços e a focar com um olhar estreito.
- Tia Mione teve uma idéia... – disse num ar divertido.
Hermione sorriu encabulada.
- Eu estive pensando. – começou ela afastando-se e dando as costas. – Se não podemos obrigá-lo a adaptar-se ao horário que temos devido a Sophie, nós vamos nos adaptar aos seus horários.
- Nós aprendemos sobre família na creche! – exclamou Sophie de repente. – A tia disse que famílias devem ser unidas. Um se ajustando ao outro. Nós somos uma família, não somos?
Harry e Hermione trocaram olhares.
- Ah... – hesitou Hermione. – Somos, não somos? – indagou olhando apreensiva para Harry.
- Somos. – concordou Harry. – Claro que somos. – acrescentou com um sorriso que gerou outro de alivio na face de Hermione.
- Então nós estamos nos ajustando? – indagou Sophie. Ambos os adultos concordaram num ar de “se você for eu vou”. – O que é ajustando?
Hermione riu enquanto ia em direção a menina e a pegava no colo com um certo esforço.
- Vem do verbo ajustar. – explicou Hermione cautelosamente. – Pense em um jogo onde existem várias peças e elas tem que se encaixar uma na outra. Então é como se elas se ajustassem uma na outra. Procurando melhor jeito de uma se apoiar na outra.
- Como no lego? – perguntou ela.
Hermione ponderou.
- Sim! – exclamou ela. – Como num lego. Pense que cada um de nós somos uma peça. Cada um tem sua forma e nós estamos tentando se ajudar da melhor forma. Mas nó nosso caso é um pouco mais complicado.
- Sei... – disse Sophie com seu sorriso sapeca passando os braçinhos em volta do pescoço de Hermione. – Se formos como um lego eu quero ser as peças vermelhas.
Hermione riu.
- Então eu quero ser as amarelas. – apressou-se ela e dizer.
Então as duas focaram Harry como se esperasse algo dele que por sua vez ergueu as sobrancelhas num ar confuso e disse:
- Ah... – gaguejou. – Então eu posso ser as azuis... – disse procurando um olhar de ajuda da parte de Hermione que apenas segurava as gargalhadas.
- No meu lego eu sumi quase todas as azuis. – disse Sophie num ar tristonho. – Se importaria se fosse as verdes?
Ele deu de ombros achando que não faria grande diferença, ao menos sabia o que era lego.
- De forma alguma.
Sophie voltou a abrir seu sorriso animado.
- Então agora que nós nos ajustamos podemos ir almoçar? – disse ela animada. - Eu estou mesmo com fome.
- Certo. Para onde vamos? – apressou-se Harry enquanto tirava o jaleco.
- Oras, para casa. – disse Hermione como se não fosse óbvio.
- Claro que não! – exclamou Harry. – Nós já estamos na rua. Vamos a algum lugar, almoçar juntos. Somos uma família, não? Toda família tem o seu momento de descontração fora de casa...
Harry continuaria falando se Sophie não tivesse soltado um “Tia Gi!” estridentemente.
Gina acabara de entrar na sala espantando-se ao ver Hermione e abrindo um enorme sorriso ao ver Sophie que fez menção de querer sair do colo de Hermione. Ela, sem opção soltou a menina que correu até Gina sendo levantada num grande abraço pela ruiva.
- Tio Harry esta tentando convencer tia Mione a irmos comer fora de casa. – comentou Sophie apertando seus braçinhos em torno do pescoço de Gina já em seu colo. – Nós estamos nos ajustando. Como num lego, mas tia Mione disse que é um pouco mais complicado no nosso caso. Eu sou as peças vermelhas, ela é as amarelas e tio Harry é as verdes. Ele queria ser as azuis, mas no meu lego não tem muitas peças azuis então eu perguntei se ele não se importava em ser as verdes e ele disse que de forma alguma. Eu acho que isso quis dizer que ele não se importava.
Gina riu estalando um beijo na bochecha da menina.
- Como eu senti sua falta! – exclamou Gina deixando-a segura em seus braços. – Você está bem?
- Eu acho que sim. – respondeu Sophie divertida. – Tia Mione faz comida melhor do que a mamãe, mas eu sinto falta das sopas da vovó. Por que você não nos visita?
Harry viu o brilho que perpassou nos olhos de Gina e procurou desesperadamente os de Hermione.
A ruiva abriu a boca, mas a voz que soou não foi, de fato, a dela.
- Acho que seria um ótima comermos fora! – exclamou Hermione de repente.
Harry sorriu aliviado e Sophie os olhos com um ar de curiosa.
Gina tornou a fechar a boca e relutante deixou a menina no chão.
- Você não quer vir conosco? – perguntou Sophie.
Gina lançou um olhar a Harry e a Hermione e viu que não havia esperanças para ela.
- Não, meu bem. Eu tenho que trabalhar. – murmurou. – Quem sabe depois?
- Eu gostaria de ir na Toca. Sinto falta de todos vocês. – ela se virou para Harry e Hermione. – Podemos ir visitá-los? Depois.
Hermione tentou sorrir.
- Podemos tentar.
Sophie sorriu feliz e postou-se ao lado de Harry pegando em sua mão.
- Podemos conversar depois, Gina. – disse Harry. – Eu estou saindo agora.
Gina assentiu sorrindo quase em transe para Sophie.
- Tente uma autorização no ministério. – cochichou Hermione para Gina que lhe olhou com certo receio quando Harry passou pela porta com Sophie. – Não estamos sendo más pessoas. Apenas estamos cumprindo o que nos confiaram.
Gina assentiu relutante e Hermione deu algumas batidinhas em seu ombro antes de passar por ela e seguir Harry.
_****_
Harry entrou no quarto já tarde da noite. Hermione estava arranhando um pergaminho com a pena em uma mesa próxima a janela. Os livros estavam esparramados a sua volta e sua concentração era extrema, tanto que ao menos percebeu quando Harry bateu a porta do quarto.
- Pondo as redações em dia peças amarelas? – indagou Harry divertidamente enquanto desabotoava a camisa.
Hermione sorriu soltando a pena e virando-se para vê-lo.
- Sim. E pelo visto você já terminou de estudar, não é peças azuis? – brincou ela.
- Verdes. – corrigiu Harry sentando-se a beira da cama passando a tirar os sapatos.
Hermione riu.
- Ao contrário de mim você vai ter uma longa noite de sono. – ela disse sem nenhum sinal de desapontamento.
- E você me parece bastante animada por ter que ficar fazendo redações até muito tarde. – disse tirando o cinto e pegando uma toalha dentro do próprio guarda roupa.
- Penso que meu cérebro consegue funcionar melhor durante a noite. – murmurou voltando aos seu livros enquanto Harry caminhava até o banheiro. – Sabe, - ela disse depois de um tempo. – Estive pensando sobre o dia de hoje e acredito que saídas como essa que fizemos hoje distraia Sophie.
Harry apareceu na porta do banheiro escovando os dentes e disse com a boca cheia de espuma:
- A distraia em que sentido?
Hermione tornou a soltar a pena e passou a focá-lo.
- Harry, se não percebeu, ela não tocou no nome dos pais durante toda a tarde de hoje.
Harry tornou a entrar no banheiro e saiu com uma toalha de mão secando a boca. Encostou-se na mesa onde Hermione estava e disse:
- Pensa que Sophie está acreditando que a vida conosco seria melhor do que a vida com os próprios pais?
Hermione fez uma careta.
- Pelos céus, Harry! – exclamou. – Não acredito que meu comentário soou dessa forma.
- Não. – Harry disse instantaneamente. – Fiz uma pergunta somente para saber se esta pensando da mesma forma que eu.
- Esta pensando que Sophie acredita que a vida conosco está sendo melhor que a vida com os pais dela? – indagou ela incrédula.
- Sim. – Hermione fez uma careta. – Não! – Harry tentou concertar, mas a careta de Hermione se transformou numa de intrigada. – Digo, - Harry sacudiu a cabeça. – Sophie foi mais criada pela babá do que pelos próprios pais. Não quero dizer que eles foram pais ruins... Só penso talvez ela pudesse estar mesmo gostando de estar se divertindo conosco. Rony era obcecado por Quadribol e Luna passava o dia misturando poções esperando que um dia uma delas fizesse um ser humano virar fantasma. Não que eles não amassem Sophie, mas penso que ela tenha dado trabalho o suficiente quando tinha menos de dois anos para que fizesse os dois quererem deixá-la mais solta quando ela finalmente conseguiu criado uma idade para escovar os próprios dentes sozinha.
Hermione ergueu uma sobrancelha e Harry deduziu que ela fosse levantar e por as mãos na cintura passando a olhá-lo desaprovadoramente. Ele, de fato, não havia errado em sua dedução.
- Esse seu pensamento é horrível, Sr. Peças Verdes. – ela disse.
Harry suspirou, abaixou a cabeça e não pode deixar de rir lançando a toalha sobre os ombros. Quando tornou a erguê-la viu uma Hermione totalmente intrigada o olhando de braços não mais sobre as cintura, mas sim cruzados.
- Certo. – simplesmente disse. – Vamos esquecer tudo isso.
- E em pensar que por um instante eu cheguei a acreditar que alguém que me conhece tão bem quanto você havia chegado a pensar que eu estaria pensando sobre algo tão absurdo como esse. – resmungou ela descruzando os braços
Harry se aproximou dela e pousou as mãos na cintura da mulher que surpreendeu-se com o ato do amigo. Certo que, de fato, eles eram íntimos, mas ela não costumava o ver pousando as mãos, dessa forma, sem que nada de especial pedisse o ato, em sua cintura. Pensou em recuar quando ele aproximou-se ameaçadoramente de seu rosto, mas seus pés não lhe obedeceram.
Respirou tranqüila quando Harry somente lhe deu um beijo na testa. Ele se afastou e ela não conseguiu esconder a expressão de susto, ainda mais por ver que ele a olhava de uma forma que ela não conseguia desvendar o que ele estava querendo. Ela não conhecia aquele olhar. Não! Ela nunca vira aquele olhar. Parecia tão natural e tão artificial e não entendeu por que aquele olhar lhe fez sentir um arrepio repentino na nuca e uma tremedeira insistente nas pernas.
Ele sorriu para ela e ela por sua vez, limitou-se a retribuir um incerto.
- Hei. – ele murmurou e ela também não conseguiu reconhecer aquela voz profunda que lhe fez quase cair. – Você parece assustada.
- Assustada? Eu? – gaguejou. Sorriu e tentou fingir que estava tudo bem. – De forma alguma. Só... - ela pensou rapidamente. – Só acho que esqueci de citar algo importante em uma das minhas redações.
Ele sorriu e ela finalmente conseguiu ver o porque todas costumavam sempre dizer que ele era o homem mais atraente do mundo bruxo. Só que... Por que ela estava vendo isso só agora? Por favor, Harry, tire logo suas mãos da minha cintura. Anda...
Harry viu o quanto ela estava intrigada com si própria e o quanto ele estava se saindo bem. Ele nunca fizera isso com nenhuma mulher, afinal, ele nunca tivera realmente vontade de querer conquistar uma mulher. Nunca se sentira pessoalmente atraído por uma que o fizesse chegar ao ponto de usar o que tinha de “ótimo” para consegui-la.
- Então eu vou tomar um banho enquanto você revisa suas redações. – ele disse piscando para ela.
Hermione não soube de onde veio, mas ela nunca sentira uma vontade tão grande de suspirar sonhadoramente, no entanto ela se deteve sabendo que sua expressão estava numa de transe total. Merlin, ele só me beijou na testa. Ele faz isso tão constantemente.
- Certo... – sussurrou ela, mal acreditando que sua voz saíra tão baixa.
Ele se afastou em direção ao banheiro e ela sentiu os dedos dele escorregarem por sua cintura como se tudo estivesse acontecendo em câmera lenta. Como se ela pudesse sentir os dedos dele fumegando querendo sua pele por cima de sua fina blusa. Ela ofegou quando sentiu finalmente que os dedos dele não estavam mais lhe tocando. Mas o que a deixou mais assustada do que tudo que sentira era que mesmo querendo que ele tirasse logo suas mãos de sua cintura, assim que ele o fez ela desejou ardentemente que ele voltasse e a segurasse novamente daquela forma.
Harry caminhou até o banheiro com um sorriso maroto nos lábios. Belo passo, Potter, disse a si mesmo. Fechou a porta a tempo de a ver desabar na cadeira. Postou suas mãos uma de cada lado da pia e inclinou-se para focar seu sorriso vitoriosos no espelho. Ele fora tão espontâneo. Somente segurou-a pela cintura e lhe deu um beijo doce na testa, já fizera isso milhares de vezes, no entanto, nunca fizera aquilo usando te tudo que conseguisse para que ela sentisse algo a mais do que um mero beijo na testa. E ele conseguira. Aproximara-se dando menção de que iria beijá-la na boca, e não na testa e teve certeza de que ela se assustou com aquilo, mas tudo pareceu normal quando ele somente lhe deu um beijo na testa e acabou como se ela estivesse imaginando coisas. Você está sendo sorrateiro... Você é tão baixo.
Seu sorriso murchou quando ele começou a refletir em sua parte na história. Ele não começara tudo aquilo com a intenção de ser mais um passo no plano. De fato não! E não era para ele estar feliz por ter conseguido ver aquele olhar de total transe da parte de Hermione. Ele sacudiu a cabeça e tentou pensar o pior da história, porém, por mais que tentasse um sorriso apareceu após um momento de distrações e logo ele fechou a cara para si próprio pelo reflexo e focou a marca negra em seu punho. Não tornaria a sorrir daquela forma da próxima vez que aquilo tornasse a acontecer.
Hermione sentada em sua cadeira focava totalmente em transe suas redações. Céus... Eu sou um pessoa horrível, muito horrível. Como por um segundo eu cheguei a imaginar que Harry, meu melhor amigo, iria me beijar... na boca. Hermione, você, de fato, é uma pessoa muito horrível por imaginar isso!
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