A Mercedes Voadora
Cap3 A Mercedes Voadora
-Merlin! Duda?- disse Harry sobressaltado.
“Vamos Duda, diz alguma coisa. Não desiste agora.” Pensava Duda.
-Caramba cara! Como você está?- disse Harry sorridente se aproximando.
Duda não sabia o que dizer. Sua mente havia se esvaziado. Não sabia mais o que dizer. Não esperava que aquele Harry o tratasse assim. Depois de tudo o que tinha feito. Como ainda sorria para ele?
Harry não sabia por que sorria. Depois de tudo que passara, não sabia como, mas não havia mágoa, nada. Aquele, ele sabia, não era o antigo Duda. Ele havia mudado. Estava muito diferente daquele que o sempre maltratou. Dava para ver nos olhos dele.
-Harry eu...
Mas antes que pudesse continuar a falar, Harry o abraçou. Como ele podia? Sentiu o rosto queimar. Seus olhos arderem. A pedra parecia estar mais uma vez atravessando sua garganta. Remorso e mais remorso. Não podia retribuir o abraço como ele fazia. Uma sombra o invadia e ele não sabia como evitar.
Harry sabia o que o primo sentia. Mas ele tinha que acabar logo com isso. Queria deixar claro para ele que não guardava mais mágoas. A guerra havia acabado e não queria nunca mais ter problemas que envolvessem suas emoções.
Foi então que sentiu uma lágrima correr por suas costas. Duda chorava.
-Vamos Duda. Acabou. – Duda chorou ainda mais forte. – Acabou. – Harry olhou em seus olhos. As feições de porquinho ainda eram vivas em seu rosto. – Vamos. Eu te levo à minha casa.
.
.
.
.
.
.
.
.
.
.
.
.
.
.
.
Gina sentou-se irritada no banco traseiro do CLK.
“Quem esse cara pensa que é?”
Gina sabia quem ele era. Sabia o quanto este homem havia maltratado seu marido na infância. O quanto o marido sofrera por causa do primo. O quanto eles renegaram seu pobre Potter.
-Mãe? Você está bem? – perguntou Lílian fitando a mãe sentada ao seu lado no carro.
-Estou minha querida. – disse Gina tentando, com fracasso, sorrir.
Duda olhou pelo retrovisor. Entendeu o motivo de irritação de Gina logo que cruzou seu olhar. O olhar fulminante da ruiva quase o fez bater no carro de trás enquanto manobrava para sair. Não culpava a mulher por tratá-lo assim. Aliás, esperava que todos naquele carro o tratassem assim, mas para sua surpresa, e decepção talvez, Harry não o tratava. Esperava que Harry o olhasse com raiva, com desprezo. Ele talvez estivesse preparado para aquilo, mas não para essa felicidade toda. O fazia sentir ainda mais remorso ver o primo feliz com ele. Duda sentia raiva de si mesmo. Sentia raiva descomunal do ser desprezível que ele fora. “Você não veio aqui analisar como Harry reagiria a você, você veio aqui para pedir o perdão dele!”
Harry podia entender o que se passava na cabeça do primo. Confusão talvez. Remorso também. Seu pensamento voou para aquela sua última noite em Little Whinging.
- Venha então. - disse Tio Valter. Ele já havia chegado à porta da sala de estar quando Duda murmurou:
– Eu não estou entendendo.
- O que você não entende, querido? - perguntou Tia Petúnia.
Duda apontou para Harry sua mão grande e parecida com um presunto:
– Por que ele não está vindo com a gente?
Tio Válter e Tia Petúnia pararam onde estavam fitando Duda como se ele tivesse dito que queria se tornar uma bailarina.
- O quê? - Tio Válter disse alto.
- Por que ele não está vindo também? - perguntou Duda.
-Bom, ele... Ele não quer! - disse Tio Valter, virando parar olhar Harry e
adicionando, - Você não quer, quer?
- Nem um pouco. - disse Harry.
- Viu? - Tio Valter disse a Duda, - Agora venha, estamos indo!
Ele atravessou a sala. Eles ouviram a porta da frente abrir, mas Duda não se moveu após alguns pequenos passos. Petúnia parou também.
- O que foi agora? - rosnou tio Válter, reaparecendo na porta.
Parecia que Duda estava lutando com concepções muito difíceis para colocar em palavras. Após vários momentos de uma luta interna aparentemente dolorosa, ele disse:
-Mas pra onde ele está indo?
Tia Petúnia e Tio Válter olharam um pro outro. Estava claro que Duda os estava
assustando. Héstia Jones quebrou o silêncio.
- Mas... Você com certeza sabem pra onde seu sobrinho está indo? – ela perguntou, parecendo confusa.
- Claro que sabemos. - disse Válter. - Ele está saindo com gente da sua laia, não
está? Certo, Duda, vamos indo pro carro, você ouviu o homem, estamos com pressa.
Outra vez, Válter Dursley marchou o mais longe que pôde da porta da frente, mas Duda não o seguiu.
- Saindo com gente da nossa laia? - Héstia parecia ofendida. Harry já vira essa
atitude antes. Bruxos e bruxas pareciam chocados com o fato de que os parentes mais próximos dele tinham pouco interesse no famoso Harry Potter.
- Está tudo bem, - Harry disse a ela - Não importa, mesmo!
- Não importa? - repetiu Héstia, sua voz aumentando gradativamente. - Essas
pessoas não têm idéia do que você passou? Do perigo que você corre? A posição única em que você se encontra nos corações do movimento anti-Voldemort?
- Er... Não. - disse Harry. - Eles acham que eu sou uma perda de espaço, mas eu
estou acostumado...
- Eu não acho que você seja uma perda de espaço.
Se Harry não tivesse visto os lábios de Duda mexerem, ele não teria acreditado. Ele fitou Duda por bastante tempo antes de aceitar que fora seu primo que havia dito aquilo. Duda estava vermelho. Harry estava embaraçado e chocado:
- Bem... Er... Obrigado, Duda!
Outra vez Duda pareceu lutar contra seus pensamentos fortemente antes de dizer:
- Você salvou minha vida!
- Na verdade não. - disse Harry. - Era a sua alma que o dementador iria pegar...
Ele olhou curiosamente para seu primo. Eles não tiveram basicamente nenhum contato no último verão, ou depois, pois Harry voltou para a Rua dos Alfeneiros recentemente e ficou praticamente o tempo todo em seu quarto. Agora pareceu a Harry, em contrapartida, de que o copo de chá gelado em que ele encontrara não tinha sido uma brincadeira afinal... Embora bastante comovido, ele estava aliviado de que Duda parecesse ter acabado com sua habilidade de expressar seus sentimentos. Após abrir a boca uma ou duas vezes mais, Duda se rendeu a um silêncio escarlate.
Tia Petúnia caiu em lágrimas. Héstia Jones deu a ela um olhar aprovador que mudou para neutralidade quando Tia Petúnia correu e abraçou Duda ao invés de Harry.
- T-Tão... Doce... Dudinha... - ela suspirou em seu peito compacto. -Um...G-Garoto...T-Tão... Amável... d..dizendo... Obrigado...
- Mas ele não disse obrigado! - disse Héstia Jones indignada. - Ele apenas falou
que não achava que Harry era um desperdício de espaço!
- Sim, mas vindo de Duda isso é quase um 'Eu te amo’. - disse Harry, dividido entre preocupação e uma vontade de rir enquanto Tia Petúnia se agarrava em Duda como se este tivesse acabado de salvar Harry de um prédio em chamas.
- Nós estamos indo ou não? - rosnou Tio Válter, reaparecendo outra vez na porta da sala de estar. - Eu pensei que tivéssemos um horário apertado!
- Sim, sim nós temos... - disse Dédalo, que estava assistindo a essas trocas com um ar de incredulidade e agora parecia se recompor. - Nós realmente precisamos partir Harry...
Ele avançou e pegou na mão de Harry com ambas as mãos. -...Boa sorte! Espero nos encontrarmos novamente! As esperanças do Mundo Bruxo estão sobre seus ombros!
- Ah... - disse Harry, -...certo! Obrigado.
- Adeus, Harry! - disse Héstia também apertando sua mão. – Nossos pensamentos vão com você.
- Espero que tudo dê certo. - disse Harry dando uma olhadela para Tia Petúnia e Duda.
- Tenho certeza de que tudo isso acabará bem! - disse Diggle, balançando seu
chapéu ao deixar a sala. Héstia o seguiu. Duda gentilmente se desvencilhou das garras de sua mãe e caminhou até Harry que teve que reprimir um desejo de ameaçá-lo com magia.
Então Duda estendeu sua grande e rosada mão.
- Caraca, Duda -, disse Harry sob o olhar de censura de Tia Petúnia. – Os dementadores colocaram uma nova personalidade em você?
- Não sei -, murmurou Duda. - Te vejo por aí, Harry!
- É- disse Harry, apertando a mão de Duda e a balançando. – Quem sabe. Se cuida, Dudão.
Duda quase sorriu e em seguida saiu, desajeitado, da sala.
.
.
.
.
.
.
.
.
.
.
Naquele dia, Harry suspeitara que algo houvesse mudado na vida de Duda. Hoje, ele havia confirmado.
-Onde fica sua casa?- perguntou Duda enquanto saía com o carro do estacionamento da estação de King’s Cross.
Harry pegou sua varinha e encostou na pequena tela do GPS no painel do carro. Duda viu o endereço “1037, Godric’s Hollow” aparecer na tela rapidamente, então sentiu seu carro arrancar sozinho.
-Harry! Mas que... – o carro fez uma curva apressada e horrivelmente perfeita. Duda olhou para Harry, mas este só sabia rir.
O coração de Duda disparou quando sentiu o carro acelerar na Euston Road. De acordo com o mapa: Godric’s Hollow ficava em Gales. O carro acelerou ainda mais:
-Harry!- disse Gina no banco de trás. – Trouxas não estão acostumados a verem carros voadores!
-Não se preocupe Gi! Já cuidei disso!- gritou Harry em resposta.
“Deus! Diz que ela não falou em carros voadores!” pensava atônito Duda.
De repente, Duda olhou para o velocímetro: o ponteiro parecia estar quebrado pois não havia nenhuma indicação para depois do “310 km/h”. Sentiu um solavanco, sabia que as rodas do carro não estavam mais encostando no chão. O carro deu uma guinada e subiu, e em poucos segundos, Duda podia ver Londres do céu. Era uma bela vista com certeza. Sentiu uma leve pontada de inveja dos bruxos. Esse tipo de vista não era comum com pessoas normais.
Duda olhou pelo retrovisor. Viu a filha de Harry olhando maravilhada pela janela do carro. Sentiu uma pontada de inveja. Harry havia tido uma filha. Ela, com certeza, devia ser uma boa criança. Ainda mais com o pai que tinha. Olhou mais uma vez para a mulher ruiva no banco de trás. Seu rosto, levemente salpicado de sardas, olhava para a cidade lá embaixo. Porém ela não parecia interessada na cidade, estava perdida em pensamentos.
Duda apertou o botão que abria a janela de Lílian. Ela se assustou ao ver a janela se abrir sozinha, porém Duda disse do banco da frente:
-Fica ainda melhor de olhar se você sentir essa brisa matinal.
Lílian sorriu para Duda e Duda o retribuiu. Harry olhou para o primo com graça.
-É filha única? – indagou Duda.
-Não... Têm mais dois. Ela é muito nova para ir a Hogwarts. – Lílian soltou um muxoxo no banco de trás. – O nome dela é Lílian. Os irmãos se chamam Alvo, que entrou para Hogwarts esse ano, e Tiago, que é o mais velho.
Duda sorriu. Não era apenas uma, eram três! Sentiu uma enorme felicidade invadir seu coração. E tão rápido como ela entrou, ela saiu. A tristeza voltou a arremetê-lo. Nunca tivera muito tempo para dedicar às pessoas que amava. Seu trabalho ocupava quase todo seu dia. Ia visitar seus pais apenas nos fim de semana. Isso quando conseguia fazê-lo. Lembrou de Nathalie. A mágoa tomou seu coração. Não sabia mais o que pensar dela. Por um tempo, ele a imaginou como sua esposa. Aquela que traria seus filhos, a nova razão de seu viver. Imaginou-os morando em seu novo apartamento em Xangai. Ambos com carreiras promissoras, felizes e satisfeitos.
Então, como uma grande onda que leva tudo sem pensar, seu futuro picou para um mundo de incertezas. Nathalie havia ido embora sem dizer o motivo. Nada. Absolutamente nada. Ele estava como um cego no deserto. Sentiu raiva. Raiva por estar abandonando-o assim. Raiva por julgar que ele não deveria saber o motivo. Raiva por estar levando toda sua felicidade embora com ela.
Mas ao olhar aqueles olhos verdes chorando e suplicando por seu perdão, ele sentiu medo. O pavor e o pânico subiram-no a cabeça. Havia alguma coisa muito errada com ela. Algo que seu o coração dela ao mesmo tempo queria colocar para fora e guarda-lo para si. Sentiu pena de sua namorada. Quis ajudá-la, mas ela se recusava. Parecia que a cada vez que se mostrava indignado por não saber de nada ou implorava para que pudesse ajudá-la, faziam-na sofrer ainda mais. Sentiu-se desnorteado, confuso. A melhor palavra para o que ele sentiu naquele momento era “incapaz”.
-Que aconteceu Duda? – perguntou Harry fitando-o.
Duda olhou mais uma vez para Harry. Em sua face estampava preocupação.
-Nada Harry... – Ele voltou seus olhos para o volante. – Nada...
Duda sentiu o carro virar seus faróis em direção a cidade ao qual estavam sobrevoando. Sentiu o corpo mais leve ao perceber que o carro estava descendo. Viu uma vila surgir espremida por entre as colinas. Viu uma praça ao centro. Uma igreja com um cemitério estava um pouco mais atrás.
O carro então desacelerou cada vez mais rápido. Então simplesmente parou no ar em cima de um pequeno beco espremido entre duas casas. O CLK, como se estivesse sendo segurado por uma mão colossal, baixou levemente até tocar as rodas no chão do beco. Duda olhou para o lado e viu Harry segurando a varinha ainda muito concentrado. Quando percebeu que o primo o fitava, Harry sorriu e baixou a varinha:
-Que bom que não arranhou o carro entrar nesse beco!- disse ele sorrindo.
Então ele mais uma vez sacudiu a varinha e disse algo que Duda não entendeu.
-Pronto. Agora o carro está visível de novo. Acelera aí Duda, vamos pra minha casa. – disse Harry apontando para frente.
Duda nervoso pegou de novo o volante. “Será que este ainda é meu carro?” pensou Duda imaginando todo o “vôo” que tinham acabado de realizar. Pisou no acelerador e saiu andando pelo beco.
-Antes que eu me esqueça. – Harry apontou a varinha para o rosto de Duda e de sua ponta saiu uma luz azul que pareceu “entrar” na seu cabeça.
-O quê você fez?- perguntou Duda assustado.
-Só um feitiço para você poder ver melhor. – Harry lhe explicou. – Tem muita coisa aqui que trouxas não conseguiriam ver.
Duda olhou em volta. Pra ele, a vila não parecia ter mudado muita coisa. Reparou nas ruínas de uma casa ali perto. Sua atenção voltou-se então para o obelisco situado no centro da praça. Acelerou um pouco mais, mas ao chegar mais perto, o obelisco coberto de nomes transformou-se em uma estátua de três pessoas; um homem de cabelos rebeldes e óculos, uma mulher de cabelos longos e rosto bonito e bondoso, e um menininho aninhado nos braços dela.
Duda olhou atônito para a estátua. Virou-se para Harry e viu os olhos dele encherem-se de lágrimas. Harry sorriu para Duda e disse:
-Quero lhe apresentar seus tios, Dudão. Seja bem-vindo a Godric’s Hollow!
Comentários (0)
Não há comentários. Seja o primeiro!