Reencontro
Muito tempo se passou desde aquela última vez na Rua dos Alfeneiros, nº4. Ainda lembrava daquela noite como se fosse ontem. Não lembrava muito bem o nome deles. Dedão, Dédalo, Dig-dig... O outro nome não sabia nem por onde começar. Mas um lembrava bem. Como poderia esquecer? Harry Potter...
Dudley Dursley estava sentado às margens do rio Tamisa. Seu chá esfriava com a leve brisa que vinha do leste enquanto olhava distraído a famosa London Bridge. O outono havia acabado de chegar à Londres. Era 1º de setembro e o céu azul e o sol ameno que tremulavam seus cabelos só ajudava ainda mais a se orgulhar do país que há quase 20 anos não pisava os pés.
Apesar de gostar muito da Inglaterra não sentia como se aquele tivesse sido seu lar. Aliás... Nenhum lugar talvez ganhasse esse posto de lar. Suas lembranças de Litlle Whinging foram marcas das quais ele se arrependeu para o resto da vida.
Olhou para a cadeira vazia à sua frente. Sentiu a solidão invadindo-o. Amigos... Nunca tivera um de verdade... Malcolm, Górdon... E claro: seu “velho amigo” Pedro Polkins... Não passavam de cachorros vira-latas que ficavam à sombra do Dudão para ver se conseguiam um pequeno resto do osso... E “Dudão”... Que apelido idiota! Teve raiva de si mesmo. Nunca tivera amigos de verdade. Eram sempre idiotas... Assim como ele.
Harry tornara-se feliz. Ele sabia. Apesar de todo mal, ele havia encontrado a felicidade. Algo em que podia sempre contar. Ele havia conquistado a amizade. E o Duda? Sempre impondo o medo nos que estivessem com ele. Não era amizade. Era medo. Só ele não havia percebido.
E ainda maltratara Harry. Caçoava dele por seus pais mortos. Caçoava dele por ter pesadelos horríveis à noite. Caçoava dele pelo fato de, querendo ou não, sua família era a única família dele.
Como pudera ser daquele jeito por tanto tempo? Criança mimada, burro...
Sempre quis saber se algum dia reverteria essa situação... Essa sensação de que seu passado sempre ultrapassaria o presente. Essa sensação de eterna incapacidade... De não saber como mudar isso.
Tomou mais gole do seu chá. Já estava frio, mas sua cabeça estava nas nuvens e ele nem percebeu.
Tinha de fazer alguma coisa. Ele já tinha tomado essa decisão. Sabia exatamente o que fazer. Aquele, ele não sabia como, era o dia.
Chamou o garçom e pediu que trouxesse a conta.
Após dar um ultimo olhar naquela velha ponte, se levantou e rumou para o carro estacionado ali perto.
Era um CLK novinho em folha. O símbolo da Mercedes reluzia com os raios de sol da manhã. Orgulhou-se de ter alcançado tudo aquilo. “Bem sucedido na carreira, carro novo, casa nova”... Deu um leve sorriso, porém, como sempre, ele logo dissipou. Tinha que encontrar o Potter ou sua mente jamais o perdoaria.
Sentou-se em frente ao volante, manobrou o carro e olhou para o GPS:
-King’s Cross- disse com sua forte voz.
O GPS entendeu o comando e rapidamente um linha foi tracejada no mapa digital da pequena tela acima do painel do carro.
Ele então pisou o acelerador. Atravessou a London Bridge e rapidamente entrou na King Willian St.. De acordo com o aparelho o melhor caminho no momento era a City Road.
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Estacionou o carro e rumou para dentro da estação. Comprou um bilhete e atravessou a catraca com uma ansiedade muito fora do comum. Ele não havia tido notícias. Só sabia que ele sobrevivera. Nunca entendeu realmente o mal que o afligia, mas sabiamente muito bem que era realmente algo perigoso. Na verdade, a única notícia que receberam daquela estranha coruja era:
Sr e Sra Dursley,
O retorno para vossa casa será amanhã às 17:00. Se houver alguma dúvida, ou informação que envolva cancelamento ou mudança no horário da partida, respondam através desta mesma coruja.
PS.: Apenas amarre o pergaminho reposta na perna da ave. Ela saberá o que fazer.
Atenciosamente,
Kingsley Shacklebolt
Ministro da Magia
Duda ficou indignado por receber uma mensagem com tão pouca informação. O que havia acontecido? E a tal da guerra? O que aconteceu com Harry Potter?
Porém seu pai, Válter, pareceu feliz em receber aquela notícia. Duda sabia que mesmo se a carta tivesse mais informações seu pai as ignoraria. Sabia que a única coisa com o qual o pai se importaria já estava escrito no inicio da carta “o retorno para vossa casa será amanhã as 17:00”. Mais precisamente as cinco primeiras palavras.
Porém o que seu pai falou foi completamente inesperado:
-Não vamos a lugar algum.
-Quê?-Duda não acreditava que estivesse ouvindo aquilo. - Por quê?
-Porque vamos nos mudar agora. Vamos para longe. Para fora do país.
Duda não sabia o que dizer. Aquilo era ridículo. Depois do episódio da casa sobre o rochedo no mar, nunca mais achou que o pai tentaria fugir dos bruxos achando que não poderia ser encontrado.
-Vamos para a China. – anunciou Válter de modo que Petúnia ouvisse da cozinha.
-Quê? China? Pai você enlou... – mas antes de terminar a frase ele viu sua mãe abraçar feliz seu gorducho pai. Como ela poderia estar feliz com isso?- Mas... – então ele entendeu. Como poderia ter esquecido? – Pai você conseguiu? – disse sorridente.
-Claro que consegui Duda, ou não me chamo Valter Dursley! – disse o pai sorridente.
Duda também abraçou o pai. Estava realmente maravilhado com o que estava para acontecer. Havia se esquecido de tudo. De guerra, de Potter... Agora eram apenas eles e a vida normal outra vez.
A verdade era que seu pai havia conseguido um contrato realmente estrondoso com os chineses. A firma Grunnings que ele havia dedicado boa parte da sua vida finalmente havia conseguido fechar um negócio que iria levá-la as alturas.
“Esses chineses gostam mesmo de trabalhar! Respeito muito eles. Não são como esses bruxos que vivem vagabundeando por aí...” era o que, nas últimas semanas, mais se ouvia da boca de seu pai.
Eles haviam discutido bastante a respeito de se mudar para a China. Não que gostassem da China, mas seu pai via lá uma boa oportunidade de enriquecer. Fora o fato de que na China eles iram ter uma vida muito melhor do que na Inglaterra. “Uma mansão” sua mãe dizia sonhadora.
E foi o que aconteceu. Demorou menos de um mês para que já estivessem pisando em solo oriental. A chamada “próxima potência mundial” era um lugar estranho, não podia negar, mas estavam enriquecendo. Como poderiam ficar tristes?
Logo que chegaram passaram a morar numa casa pequena em Jinfeng, não muito longe de Xangai, para que pudessem estar perto da administração de perfurações com a qual seu pai estava envolvido. Por perto não havia muita coisa de interessante. Havia fábricas de aço, algodão e vidro nas quais, todos os dias, formavam-se fileiras de operários. Esses operários, em sua maior parte, eram migrantes que vieram do campo. A maioria trabalhava por cerca de 40 centavos à hora. Tinham a promessa de um futuro livre dos mil anos de tirania no trabalho camponês.
A fábrica de aço, isso eles descobriram depois, era de origem alemã. O dono, Shen Wenrong, comprou a fábrica da empresa Phoenix em Dortmund na Alemanha. Em pouco tempo, os chineses desmontaram por completo a fábrica, levaram para um navio e se prepararam para atravessar meio mundo com ela. Os chineses literalmente trouxeram uma fábrica da Alemanha para a China!
“Jinfeng não seria nada se não fosse a fábrica de Shen” diziam os próprios moradores. Agora na cidade havia um hotel 5 estrelas e alguns pequenos restaurantes de luxo, o que faziam contraste com as ruas sem tampa nos bueiros e o lixo amontoado perto das valas.
Logo, o que antes era um ambiente estranho e triste, passou a se tornar um de seus piores pesadelos. Não havia se quer alguma coisa que os divertissem na cidade.
Havia somente um chamado “Jinfeng Cinema” que apresentava um pequeno espetáculo de música e dança. Quando o caminhão anunciante passou pela primeira vez, Petúnia ficou horrorizada. Uma jovem com o rosto pintado de ruge e seios quase nus dava “belos olhares” para os operários migrantes que esticavam o pescoço para vê-la melhor.
Petúnia amaldiçoou Valter por ter trazido seu Dudoca para um lugar como aquele.
-Não se preocupem. Passaremos pouco tempo aqui. Só quero ficar tempo o bastante para ganhar a confiança desses chineses.
Realmente ficaram lá somente tempo o bastante para ganhar a confiança deles, mas não foi tão pouco tempo como achava Valter.
Demorou dois anos para que saíssem daquela cidade. Jinfeng havia crescido bastante nesse tempo. A imagem de Jinfeng agora era apenas um reflexo de todo o contraste vivido pela China. De um lado: podridão e lixo, do outro: luxo e riqueza.
Saíram muito felizes daquela cidade. Valter havia conseguido contrato com mais duas empresas e agora, todos os donos de Jinfeng e redondezas disputavam-no.
Mudaram-se para as redondezas de Xangai.
Duda não sabia como na China encontrariam um lugar como aquele. Era tudo gigante. Belo. E, também riu por isso, trouxa. Nada na Inglaterra que havia conhecido chegava aos pés daquele lugar. Arranha-céus por todos os lados. Avenidas e carros dos mais variados tipos. Haviam chegado à China Moderna.
Duda ficou embasbacado em como aquela cidade sabia ser consumista. Ele comprou um jornal (ele já havia se acostumado com o Mandarim) enquanto esperava o pai no recém criado escritório da Grun Shen e viu uma reportagem sobre uma feira de milionários.
Feira de Milionários de Xangai espera atrair a lista da ''Forbes''
Pequim, 28 abr (EFE).- A primeira Feira de Milionários de Xangai, que começa hoje, espera atrair as figuras mais proeminentes da lista da ''Forbes'', que reúne as pessoas mais ricas do planeta, anunciou hoje seu porta-voz, Zhong Gang, à agência ''Xinhua''.
Trata-se da primeira feira de milionários celebrada na Ásia e que terá como palco a metrópole oriental chinesa de Xangai, centro financeiro do país.
Uma mansão de Xangai de mais de US$ 30 milhões e uma peça de joalheria de US$ 25 milhões são parte do cenário de inauguração da feira, à qual irão hoje supermodelos e astros de cinema.
Na exposição de três dias, será exibida uma série de produtos de luxo entre os quais há antigüidades, aviões particulares, helicópteros, iates, alta costura, veículos de luxo, animais de estimação e o melhor da cozinha internacional.
Só a entrada para a abertura oficial desta noite custa 1.500 iuanes (US$ 187,5), mais ou menos um salário médio de uma área urbana na China.
Após ler aquele jornal, confortou-se na cadeira e fechou os olhos. “Como é possível que tanta gente gaste tanto dinheiro assim?”
Dezessete anos depois, aquela Xangai havia crescido de forma absurda. Aliás, toda a China.
Seu pai havia se tornado um dos mais importantes donos de companhia do país. E, antes o que era só perfuração, agora era tudo em relação à engenharia civil. Duda seguia os mesmos passos. Havia se formado na engenharia civil e era sócio do pai. A empresa “Grunnings” havia passado a se chamar “Grun Shen” em forma de eterna homenagem ao chinês que fez o primeiro contato com Valter.
A China realmente se tornou a potência que todos diziam. Aliás, nada naquele mundo havia tomado à forma que antes não pudesse ter sido premeditada.
Os EUA entraram em crise com a guerra, a China os ultrapassou, os países do 3º mundo... Continuam 3º mundo. O aquecimento global veio e pra variar os humanos acharam uma forma de contorná-lo: adquirir bons hábitos e não poluir o planeta? Claro que não. Eles criaram foi um satélite refletor colossal na órbita da Terra para poder reduzir a quantidade de raios ultravioletas atingiam a Terra.
Duda ficou se perguntando “Será que os bruxos alguma vez se importaram com essas questões ecológicas?”... Se conhecesse bruxos de novo talvez perguntasse essas coisas. Então parou com seus devaneios e olhou para a pilastra que estava na sua frente. Havia de cada lado da pilastra os números 9 e 10, respectivamente.
Não acreditava que iria fazer aquilo. Nunca entendeu muito bem como era pra fazer, mas ele estava ali, não podia fraquejar agora. Olhou para os lados e viu se não tinha ninguém olhando. Então correu em direção a pilastra com os braços estendidos para frente e os olhos fechados. Sabia que ia se estabacar na pilastra e iria se arrepender depois. Mas antes que pudesse ter outro pensamento, foi engolido para dentro daqueles tijolos.
Abriu os olhos e sorriu ao ver escrito na placa acima de sua cabeça os dizeres: Plataforma Nove e Meia.
Olhou para os lados para ter certeza de que não sonhava. Havia um trem vermelho parado ali e sua fumaça dispersava pelo alto das cabeças das pessoas. A plataforma era apinhada de crianças carregando corujas, sapos e gatos de todas as cores. Havia muita balbúrdia. Os pais pareciam dar a seus filhos as últimas instruções antes de deixá-los ir para o trem.
Então um sorriso brotou nos lábios de Duda.
Um pouco mais à sua frente estava um homem de cabelos pretos e óculos olhando para o trem. Ao seu lado havia uma mulher cabelos ruivos. Também perto dele havia um casal, um outro ruivo e uma morena. Á frente deles havia um menino e uma menina.
Será que ele se casara? Será que algum daqueles pequenos era filho dele? Ficou feliz pelo primo. Harry estava bem, estava feliz. Mesmo depois de todo o sofrimento que ele passará, ele estava ali. Sorridente e feliz.
Sentiu como se uma pedra descesse por sua garganta. Afinal, parte do sofrimento de Harry havia sido por culpa dele.
Olhou para a ruiva do lado dele. Era realmente linda. Abraçava Harry de um modo que qualquer homem do mundo gostaria de ser abraçado à todo momento, não importa onde estivessem. Seus cabelos pareciam dançar com a brisa que entrava pela estação.
Não pode deixar de se lembrar de Nathalie. Sua mente voou para bem longe dali. De volta para o outro lado do mundo.
Ela estava no parapeito da varanda olhando para a belíssima Xangai que se estendia até o infinito de seus olhos. O sol se escondia por detrás dos arranha-céus que refletiam seus raios em todas as direções. A cor vermelha - alaranjada pintava os céus e uma brisa soprava nos cabelos castanhos de Nathalie fazendo-os dançar. Uma dança que insinuava frases como: “Me admire e beije-me se for capaz”.
Duda olhava encostado na porta de vidro da varanda do seu recém comprado apartamento. A mulher, junto com aquele pôr-do-sol na sua frente, era a visão mais perfeita da qual ele poderia imaginar. Apesar de que, mesmo se não tivesse pôr-do-sol algum, ela continuaria sendo perfeita.
Olhou para Nathalie que estava de costas. Ela usava uma calça jeans que descrevia muito bem cada curva de suas pernas. Estava com uma blusa verde de alça e um lindo cordão que ele havia dado no Natal. Por detrás do pingente deste cordão havia as letras D e N.
Aproximou-se e a segurou pela cintura, o que a fez se arrepiar. Deu um pequeno beijo em seu pescoço e colocou a cabeça por cima de seu ombro para que pudesse admirar também aquela vista da cidade.
De repente, sentiu uma gota quente escorrer de Nathalie e descer por sua bochecha.
“Ela estava chorando.”
-O que aconteceu Nath?-perguntou Duda confuso.
-N-nada...- sussurrou Nath.
Duda a virou para si. Os olhos dela estavam vermelhos e cheios d’água. Percebeu que não era a primeira vez que ela havia chorado naquele dia.
-O que aconteceu?- tornou a perguntar.
-E-eu...- sua voz não produziu mais nada. Ela começou a chorar compulsivamente. Duda a abraçou instintivamente. Talvez aquele abraço protetor pudesse acalmá-la.
Ficaram assim por um bom tempo. Duda sentiu as lágrimas escorrerem por seu peito. Estava aflito. O que será que havia acontecido? Nathalie nunca fora assim.
De repente, sentiu Nathalie se afastar. Ele a soltou.
-E-eu...-Nath parecia travar uma batalha consiga mesma.- Eu não posso continuar aqui.- Duda não sabia o que dizer.- Voltarei para a Inglaterra amanhã.
Após um sonoro apito, o trem começou a se deslocar e Duda se desligou de seus devaneios. Esperou que ele terminasse de fazer a curva para poder se aproximar.
Ao se aproximar, Harry que ainda estava de costas tocava sua cicatriz:
-Harry?
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