Capítulo Único
N/A: É bobinha, mas foi divertida de escrever =)
Era uma tarde ensolarada como há muito não se via em Hogwarts. O castelo estava praticamente deserto, já que os alunos se encontravam do lado de fora, nos jardins, sentados à beira do lago, embaixo das árvores, ou mesmo ao sol, deitados na grama.
Rony Weasley era um desses alunos. Estava andando em direção a única árvore desocupada que restava no local. Ao chegar se sentou triunfante com as costas escoradas na árvore e as pernas estendidas para frente. Contemplou a cena ao seu redor: Primeiranistas correndo de um lado para o outro, jogando algo que lembrava uma goles; casais de namorados andando de mãos dadas; alguns quintanistas sentados com os amigos rindo de algo que devia ser muito engraçado...
Rony lembrou o que os próprios amigos estavam fazendo naquele momento: Harry estava cumprindo uma detenção com ninguém mais, ninguém menos que Snape, que tinha a estranha mania de dar detenções em tardes-ensolaradas-de-início-de-primavera... E Hermione estava numa reunião da monitoria, da qual ele próprio escapara completamente ciente de que teria que ouvir as reclamações da garota assim que a reunião acabasse. Ora, não era sua culpa se a professora McGonnagal também tinha a estranha mania de marcar reuniões em tardes-ensolaradas-de-início-de-primavera. Ele é que não ia ficar trancafiado numa sala sufocante ouvindo sobre as tarefas que teriam que cumprir. Não faria a menor diferença se ele fosse ou não àquela reunião mesmo. Ele ouviria tudo de Hermione depois, como sempre.
Respirou fundo quando uma brisa suave tocou seu rosto. Era realmente uma tarde maravilhosa. Até mesmo os gritos e gargalhadas à sua volta pareciam entorpecê-lo. Fechou os olhos por um instante, abrindo-os logo em seguida, um pouco constrangido. Por que é que sempre que fechava os seus olhos o que via era a imagem de Hermione? Essa era uma pergunta da qual ele já sabia a resposta. Mas isso não era o bastante. Ela também precisava saber a resposta.
Rony fechou seus olhos novamente, imaginando como seria contar a Hermione o que sentia por ela. Talvez pudesse contar numa tarde ensolarada, embaixo da sombra de uma árvore exatamente como aquela. Ela estaria vindo em direção a ele... e estaria sorrindo, sim, ela precisava estar sorrindo para que ele se sentisse encorajado. Então ele diria a ela aquelas palavras e... “Não, isso não é nada bom!” pensou assim que a imagem de uma Hermione parando de sorrir e socando o seu nariz, apareceu. Não era fácil nem mesmo imaginar dizer aquelas palavras.
Respirou fundo e resolveu tentar de novo. Um novo cenário, era disso que precisava. Algo mais romântico... Flores... sim, flores era uma boa idéia! Garotas gostam de flores... mas será que Hermione gostava? Não lembrava de tê-la ouvido falar sobre isso. Talvez ela não gostasse.
Rony ouviu risos perto dele. Abriu seus olhos e viu Parvati e Lilá passando ao seu lado, indo em direção a Dino e Simas. Parvati e Lilá gostariam de flores, disso ele tinha certeza... Mas Hermione não era como elas. Fechou seus olhos novamente ao lembrar que Gina gostava flores, então Hermione também devia gostar. Elas eram um pouco parecidas... ”Pelo menos no gênio” pensou Rony.
Sorriu ao imaginar um campo cheio de flores. De todas as espécies, cores e formas (já que não sabia quais seriam as preferidas de Hermione). Ele diria a Hermione que tinha algo para lhe mostrar e a levaria até aquele lugar, tapando os olhos dela com suas mãos. Pôde sentir suas orelhas ficarem vermelhas só de pensar em ficar tão próximo a ela. Tiraria as mãos de seus olhos para que ela pudesse contemplar a cena. Ficaria feliz em vê-la surpresa. Talvez ela dissesse algo como “Oh, Rony, é maravilhoso!” ou talvez o abraçaria (o que - se permitiu pensar - seria muito melhor). Ele a abraçaria também e depois olharia nos seus olhos antes de beijá-la... Beijar Hermione... Como seria beijar Hermione Granger? Isso era algo que ele não queria imaginar, preferia sentir... Então teria que dizer o que sentia depois que se afastassem... Teria que dizer que a... que ele a... “Arg! Por que é que eu não consigo nem pensar nessas palavras?!”
Rony abriu seus olhos frustrado. Como poderia contar a ela o que sentia se não conseguia nem ao menos pensar no que sentia em forma de palavras? Ajeitou as costas na árvore e resolveu eliminar a cena das flores de sua mente. Era melhor pensar em outra coisa. Precisava de um lugar real em que pudesse estar com ela a qualquer momento. Mais uma vez fechou seus olhos e a imagem da sala comunal da grifinória apareceu. Estavam lá, ele e Hermione. Estudando sozinhos. Sorriu ao imaginá-la irritada, tomando a pena de sua mão e passando a fazer ela mesma o dever de casa dele.
- Rony por que é que você tá rindo sozinho? – uma voz interrompeu seus pensamentos.
- O que é que você quer, Gina? – Perguntou bravo ao ver a irmã parada em sua frente com uma expressão divertida no rosto. Ela estava acompanhada de Luna Lovegood.
- Quero saber se vamos ter que te internar no St. Mungus logo, ou se você só age como louco quando pensa que ninguém está vendo.
Teve que esperar os risos das duas cessarem para então reclamar e espantá-las da sua frente.
Concentrou-se na imagem que fora arrancada de seus pensamentos com a interrupção da irmã: ele e Hermione na sala comunal. Ela estaria fazendo o seu dever de casa, mas não estaria irritada. Terminaria de escrever e Rony lhe agradeceria, um pouco constrangido por estarem sozinhos. Para estarem sozinhos precisava ser noite... e bem tarde. Somente com a luz da lareira e a da lua que viria pela janela. Eles ficariam se olhando, não se dando conta do tempo que passava. Então ela lhe diria que... “Não! Eu! Sou eu quem precisa dizer alguma coisa agora!” pensou perdendo a concentração. Pensar que Hermione lhe diria as palavras que ele mesmo queria dizer a ela era um pouco demais. Não esperava que ela sentisse o mesmo por ele. Só esperava que ela aceitasse os seus sentimentos por ela.
Ou ao menos que não o socasse.
Fechando os olhos pensou no que sentia por ela. Era algo que nem Rony podia entender direito. Não sabia como aquilo começara, só sabia que estava ali. Cada vez que a via era como se uma mão invisível sacudisse o seu estômago e seu coração quisesse sair pela boca em forma de protesto. Então quando pensava que não conseguiria fazer sua boca se mover para falar com ela, Hermione falava e fazia todos aqueles sintomas se abrandarem. Não pôde deixar de sorrir ao lembrar que não importava o que ela dissesse, ele sempre conseguia achar alguma coisa para contradizê-la. Na maioria das vezes isso não era de propósito. Era algo que vinha e... ele não conseguia conter. Principalmente quando estava com ciúmes. Ele não gostava de brigar com Hermione. De discutir sim, brigar não. Abriu mais ainda o sorriso ao lembrar a cara de Harry todas as vezes que aquelas discussões entre ele e Hermione aconteciam. Era como se o amigo quisesse se esconder. Não o culpava por isso.
Enquanto pensava no que sentia quando estava com Hermione, não pôde deixar de sentir um pouco de medo. Medo de contar a ela. E se ela o rejeitasse? Se risse dele? Se dissesse que só o via como um amigo... Isso seria horrível! Só de pensar o estômago de Rony afundou e o seu coração começou a bater de uma forma dolorosa e pesada.
- Rony, você tá bem? – era Gina novamente.
- Mas o que é que você quer agora, Gina? – perguntou irritado, não olhando para ela, na tentativa de disfarçar o aperto que estava em seu coração que certamente seu rosto estava deixando transparecer.
- Nada... só me pareceu que você estava passando mal... tá com uma cara estranha – disse segurando o rosto do irmão e virando-o para um lado e depois para o outro.
Rony afastou o rosto das mãos de Gina rapidamente.
- Estou ótimo. Vá brincar com a Di-Lua!
- Tem certeza de que está bem, Rony? – disse ela, tentando disfarçar a irritação que sentia por ter ouvido as palavras “vá brincar”.
- Sim, sim, agora vá logo! – disse Rony abanando uma das mãos para ela, como se estivesse espantando uma mosca.
Gina o deixou sozinho novamente.
Voltou a recostar a cabeça na árvore. Rony tentou lembrar-se de quando ser amigo de Hermione se tornara tão doloroso. Preferiu afastar esse pensamento meneando a cabeça. Já era doloroso o suficiente sentir, não precisava ficar pensando sobre isso...
“Certo. Contar a ela... como eu vou contar a ela...?” Pensou.
Primeiro iria dizer-lhe que tinha algo importante para falar, então a levaria para algum lugar aonde não pudessem ser incomodados... algum lugar como... Ah sim! A Sala Precisa era um bom lugar para isso! No que a sala se transformaria? Ele não tinha idéia. Só sabia que iria ser num lugar bem reservado. Quando estivessem lá dentro ele tomaria coragem e diria a ela que... que...
Apertou os olhos. ”Concentre-se, Rony. É só você se concentrar”.
Mas não adiantou. Não conseguia dizer... Por que dizer isso era tão difícil?!
Rony passou o resto da maravilhosa tarde imaginando mil maneiras de revelar seus sentimentos a Hermione. Uma mais fantástica que a outra; Mas todas elas eram interrompidas na hora em que ele precisava dizer as palavras mágicas - como as chamou.
O sol começara a se pôr e os alunos que antes faziam muito barulho a sua volta começaram a retornar ao castelo. Gina passou por ele lançando-lhe um olhar preocupado, mas não disse nada. Rony continuou sentado embaixo da mesma árvore, decidido a não sair dali até ter coragem o suficiente para dizer o que sentia.
Estava com fome, mas isso não iria impedi-lo! De olhos fechados ele imaginou Hermione parada em sua frente naquele momento. Respirou fundo várias vezes. O coração batia descompassado e o estômago dava voltas por causa da fome e do nervosismo. Ela estava ali. Podia vê-la com clareza em sua mente. Era só dizer... só precisava dizer e estaria tudo acabado. Tomou ar mais algumas vezes. Sentia como se tivesse corrido quilômetros. Apertou os olhos. Concentrou-se o máximo que pôde na imagem de Hermione sorrindo para ele. Engoliu em seco e disse o mais alto e o mais rápido que seus lábios puderam se mover:
- EU TE AMO, HERMIONE!
Soltou o ar que estava trancado nos pulmões com um suspiro de alívio. Ele dissera. Finalmente conseguira dizer o que queria. Sentiu o coração mais leve e cheio de coragem, para logo depois sentir como se ele fosse feito de ferro e descesse até o seu estômago.
- Rony...? – havia perguntado uma voz tímida à sua frente.
- Rony você acha que isso vai levar muito tem... – Hermione Granger interrompeu a frase ao notar que o amigo não estava mais ao seu lado. – Droga, Rony Weasley! Você me paga! – e continuou o caminho até a sala da professora McGonnagal.
A Reunião durou horas. A professora e os monitores discutiram sobre as tarefas e etc, mas Hermione só conseguia pensar em tudo o que diria a Rony quando o encontrasse. Se ele pensava que ela iria contar a ele o que havia sido falado na reunião, ele estava muito enganado! Na certa ele devia estar se divertindo nos jardins naquela tarde de sol. Enquanto isso ela tinha que estar na reunião. ”Idiota, irresponsável!” Pensou com raiva.
Saiu bufando pelo corredor. Desceu as escadas até se encontrar no grande salão. Estava escurecendo. Passou por Gina e a segurou pelo braço.
- Onde está o idiota do Rony?
- Lá fora, mas Hermione eu não acho que seja...
Não ouviu o que Gina disse, só continuou a andar, decidida, até que avistou alguém de cabelos vermelhos e olhos fechados embaixo de uma árvore. ”Enquanto eu fico na reunião ele dorme!” Pensou com mais raiva ainda.
Apressou os passos. Estava arfante pelo longo caminho que havia percorrido desde a sala da professora McGonnagal até ali, mas não diminuiu a velocidade dos passos até ficar em frente ao garoto. Respirou fundo e se preparou para dar um de seus melhores sermões sobre responsabilidade. Abriu a boca e ouviu algo que nunca imaginou que ouviria de Rony. Ficou parada por alguns instantes, sem conseguir se mexer ou falar. ”Não posso acreditar” Pensou. ”Será que foi isso mesmo o que eu ouvi...?”
- EU TE AMO, HERMIONE!
- Rony...?
Rony abriu os olhos lentamente e seus temores se confirmaram. Não era mais a sua imaginação. Hermione estava mesmo ali na sua frente agora. Estava olhando para ele com a mesma expressão de surpresa com que ele a olhava.
”O que é que eu vou fazer?” Perguntou a si mesmo enquanto o silêncio perdurava já há alguns segundos. Nem Rony, nem Hermione olhavam um para o outro. Eles ainda estavam parados no mesmo lugar.
Rony respirava com muita dificuldade. Não era dessa maneira que ele imaginou contar a Hermione que a amava. Pensou em toda a tarde gasta com as cenas mais românticas e malucas que a sua mente pôde criar e suspirou, cansado. Não sabia se seu coração batia ou não. Simplesmente não o sentia mais. Nem o seu estômago. Levantou os olhos e a encarou. Hermione olhava para o chão com uma expressão de confusão no rosto. ”O que será que ela tá pensando?” Era o que ele gostaria de saber...
Rony se levantou, sem saber ao certo o que fazer. Só sabia que precisava fazer algo. Aquele silêncio não podia continuar, ou nunca mais poderia falar com Hermione novamente. Deu alguns passos em direção a ela.
*
Hermione virou o rosto para encará-lo. O que é que devia fazer? Rony estava parado em sua frente e acabara de dizer que a amava! Seu primeiro pensamento foi o de sair correndo e fugir daquela situação constrangedora. Mas algo a impedia. Seu coração batia muito rápido e suas pernas estavam paralisadas. Não conseguia sequer olhar para Rony. O que devia fazer?!
*
- Mione...
- Rony...
Falaram ao mesmo tempo. Viraram os rostos novamente, sem coragem de se encarar.
Rony respirou fundo. Ele já havia dito e ela ouvira. A parte mais difícil já havia sido feita, então por que é que ele não conseguia chegar perto dela? Por que ele não perguntava logo para ela qual seria a sua resposta?
Reuniu toda a coragem de que dispunha no momento e se aproximou um pouco mais. O bastante para ficarem frente a frente, há dois palmos de distância. Hermione não se moveu.
- Eu... er... você... – começou Rony, nem um pouco certo sobre o que dizer – Você... hã... me... me ouviu?
*
Rony dissera as duas últimas palavras de forma quase inaudível, mas Hermione ouvira bem. E mesmo que ele não tivesse pronunciado som algum, Hermione teria sabido o que ele perguntara. Era óbvio que ele queria que ela dissesse algo. Ela precisava dizer algo. E rápido...
Ao invés de falar, Hermione conseguiu fazer um gesto afirmativo com a cabeça. Rony não pareceu muito satisfeito, mas não disse nada também. Para onde foi toda a coragem grifinória que ela possuía? Por que tivera que abandoná-la justo agora quando Hermione mais precisava dela?! Vamos Hermione Granger, o que está pensando? Esta não é a hora de pensar e sim a de agir!
- Rony... – Ele pareceu acordar de um transe ao ouvir seu nome, mesmo que tenha saído num sussurro. Hermione não sabia por que sua voz estava falhando – Sobre isso.... você... realmente quis dizer o que disse?
Era a hora da verdade. Será que ela havia mesmo ouvido o que pensara que ouvira? Talvez tivesse imaginado aquela frase. Talvez Rony fosse soltar uma gargalhada e dizer a ela que fora só uma brincadeira para importuná-la.
Mas talvez Rony dissesse que era verdade... E se isso acontecesse? O que ela deveria fazer? Deveria dizer a ele o que sentia? Abrir o seu coração e ficar totalmente à mercê dele? Ela precisava pensar... e bem rápido!
*
Vamos logo. Fale logo. Você só precisa dizer a ela. Só algumas palavras, Rony! Ela vai acabar desistindo se você a fizer esperar mais! Pensava Rony.
- É! – disse – O que eu disse... sobre eu... digo, sobre você... o que eu disse era verdade – fechou os olhos e disse num só fôlego – eu realmente amo você, Hermione!
*
Dane-se o pensamento! Pensou Hermione.
*
Antes que Rony pudesse sequer imaginar o que aconteceria a seguir, Hermione havia fechado a distância que os separava e aproximado seus lábios o suficiente para que ele pudesse sentir como era beijá-la. Ela passou seus braços sobre os ombros de Rony e ele envolveu a cintura dela com os seus.
Rony pôs toda a urgência que tinha em demonstrar o que sentia por Hermione no beijo e ela correspondeu da mesma forma. Os corpos estavam tão próximos quanto era possível, os lábios de ambos procuravam um ao outro incessantemente.
Não havia mais preocupações. Não havia mais alunos reclamando pela tarde ter acabado rápido demais. Não havia mais compromissos ou deveres de casa empilhados na sala comunal. Só havia Rony e Hermione, e eles estavam mais felizes do que jamais estiveram.
Vagarosamente eles separaram os lábios mas continuaram abraçados, olhando um para o outro. Não mais com vergonha, e sim com carinho.
- Eu... – arfou Hermione – também amo você, Rony.
Ele sorriu sentindo a felicidade percorrer as suas veias.
- Desculpe por demorar tanto para te contar isso... – disse Rony – Mas eu tinha medo que você fosse rir de mim ou algo do tipo...
- Nesse caso, devo me desculpar também. Eu sentia o mesmo medo.
Os dois sorriram e coraram ao notarem que ainda estavam abraçados.
Andaram de mãos dadas em direção ao castelo, não se importando com os comentários dos colegas ou com o fato de estarem com cara de “bobos apaixonados”.
- O que você acha que o Harry vai dizer sobre isso? – perguntou Hermione.
- E quem se importa? – respondeu Rony sorrindo e roubando um beijo da garota – Ele vai ter que entender que tudo pode acontecer numa tarde-ensoladara-de-início-de-primavera.
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