Há um espião entre nós.



Eram problemas demais.

Se algum dia, alguém lhe dissesse que estaria numa situação como essa ele não acreditaria. E nunca, nunca foi de acreditar em contos de fada, aquela em que o vilão era destruído pelo herói e eles viveriam felizes para sempre. Mas por Merlin, isso podia acontecer na sua vida também! Estava cansado de tanta coisa acontecendo ao mesmo tempo!

Primeiro era o problema de Sarah, que ele não sabia se estava conseguindo ajudá-la. Na verdade, achava que não. Depois vinham os ataques que continuavam. Vez ou outra apareciam vítimas na vila, que eles não sabiam como curar. Ainda tinha Lucius Malfoy cujo paradeiro era desconhecido e mesmo assim continuava a aprontar... E agora, como se tudo isso não fosse suficiente, a suspeita de um espião dentro do próprio grupo! Um espião inteligente, diga-se de passagem, já que estava fazendo tudo sem que ninguém desconfiasse de nada! Quer dizer, desconfiar que havia algo errado eles desconfiavam, mas a questão era... quem?

Ah... E isso não era tudo... Não! Como seria? Ele era Harry Potter! Tinha que se desdobrar em cinco, seis, sete, oito! para ajudar os outros que sempre procuravam-no para resolver seus problemas! Mal conseguia resover seus próprios!

Ele coçou a cabeça e ergueu os olhos para a morena que tinha o rosto repleto de lágrimas.

- Olha... - tentou ser cauteloso. Essa foi a gota d'água! Ele matara Voldemort, o que poderia fazer por alguém com problemas no coração? - Clark está preocupado demais! Há muitos problemas e tudo está caindo em cima dele - e de mim, ele pensou egoístamente. - Dê um tempo pra ele. Ele logo vai voltar e pedir perdão por ter sido tão estúpido com você. Verá se não.

Marisa enxugou um nova lágrima. Harry olhou para os lados, desejando poder escapar. Porque elas tinham que chorar sempre? Ele nunca sabia o que fazer na presença de uma mulher quando esta chorava.

- Não sei não, Harry... Ele anda tão estranho... Não liga mais pra mim... Mal fala comigo... E não tem dormido em casa também...

Ai, ai, ai... Harry estava desesperado já com seus próprios problemas. Entedia - de certa forma - os problemas da colega de trabalho, mas não sabia o que dizer! Se não pensasse direito seria capaz de falar que ela estava numa fria e que não queria estar na pele dela. Suspeitava que esse não seria um bom conselho.

Das duas, uma: Ou Harry saia correndo, ou começaria a chorar com a Auror, talvez assim se sentiria mais útil.

Mas Merlim dessa vez atendeu suas preces. A porta da sala se abriu e um rapaz de cabelos louros escuros, porte atlético e uma autura avantajada entrou. Harry já o conhecia de vista, comentários e fotos, mas era o suficiente para suspirar agradecido.

- Marisa! Porque está chorando?

Ele foi até a mulher e a abraçou. Olhou confuso para Harry que deu de ombros.

- É o Clark, Edu... Seu irmão está tão... Tão estranho... Tão distante...

O irmão de Edilaine e Clark Forrester chegado recentemente ao país compreendeu depressa. Lançou um olhar envergonhado para Harry e fez com que a cunhada se levantasse.

- Vamos, Marisa... Você sabe como meu irmão é... Acho que você deve tomar alguma coisa para se acalmar, quer que eu te leve até a enfermaria?

- N-ão precisa... Harry - Ela olhou para o homem que pensara ter escapado da situação. Ele engoliu em seco. - Você pode me fazer um favor?

Sem alternativas Harry respondeu que sim.

- Claro.

- Você me promete que tenta conversar com Clark... Talvez... Ver o que há de errado com ele...

- Posso... Posso tentar...

- Marisa, não meta Potter nisso...

- Não! Tudo bem! - Harry exclamou, isso era uma coisa que ele podia fazer. - Eu posso conversar com ele, sim. Não se preocupe.

Com a expressão bem menos infeliz Marisa seguiu os coselhos do cunhado e foi até a enfermaria. Eduardo ficou para conversar com Harry.

- Obrigado por ouvi-la, foi bondade sua. Marisa costuma ser muito emotiva...

- Não se preocupe, de qualquer forma eu não sabia mais como acalmá-la, foi bom você ter aparecido.

Eduardo estendeu a mão.

- Acho que ainda não nos apresentamos adequedamente. É um prazer conhecê-lo, Harry Potter.

- Ah... - Harry apertou a mão que lhe era estendida. - O prazer é meu. Veio nos ajudar a descobrir o espião, não é? Clark o recrutou?

O homem não respondeu por um momento.

- Não exatamente. Estou com uma suspeita... E gostaria de compartilhá-la com o senhor, por isso o procurei hoje.

A expressão de Harry se iluminou.

- Uma suspeita? Bom, isso é ótimo, vamos conversar em outro l...

- Tio Harry, tá todo mundo querendo saber se a visita à Hogsmeade do dia dos namorados vai ser liberada depois do último ataque.

Sarah nem pareceu notar que Harry estava acompanhado quando entrou de repente, por isso envergonhou-se ao perceber uma segunda presença.

- Sarah, este é Eduardo Forrester - Harry apresentou com uma expressão de riso. - Eduardo, esta é Sarah Malfoy, filha de Draco e Ammy Malfoy. Isso que dar aparecer sem bater, Sarah.

- Muito... OH!

A garota deu um pulo pra trás e tapou a boca com as mãos ao olhar melhor para o outro homem. Ele pareceu corar quando ela abriu um sorriso.

Harry que não notara nada de diferente, falou:

- Diga aos seus amigos que a visita ainda acontecerá, mas o limite de horário será mais rígido. Logo os monitores que estão em reunião agora avisaram vocês e explicaram certinho. Sr. Forrester, vamos conversar no escritório dos fundos. É melhor.

- Espera aí! - Sarah exclamou alto, quando os dois estavam virando as costas para ela. - Como o chamou, tio Harry? Forrester? É parente da enfermeira namorada do tio Zabini?

Harry franziu o cenho.

- Irmão dela. E, perdão por isso Sarah, mas você não está sendo muito educada.

- Desculpe - ela murmurou, mas não parecia envergonhada. - Irmão...

Ela lançou um olhar estranho para para o homem, indecifrável, e aparentemente nada agradável. Depois, deu meia volta e saiu da sala.

Harry olhou interrogativo para Eduardo.

- Por Deus, o que foi isso?

Confuso, Eduardo deu de ombros.

- Não faço idéia.

Houve um minuto de silêncio.

- Sr. Potter... O assunto é de extrema importância.

- Ah, claro - Harry balançou a cabeça, eliminando as suposições malucas que estavam ali. - Por aqui, por favor.

♥_______________________________♥

No dia seguinte, os alunos do terceiro ano em diante caminhavam despreocupados e indiferentes às notícias dos últimos ataques em Hogsmeade. Poucos entendiam a gravidade daquilo; alguns pensavam sobre o assunto e tomavam pequenas providências de segurança; muitos eram os que acreditavam ser uma realidade que não os atingiriam. Tendo isso em mente, maior trabalho para os aurores em missão. Harry, Clark, Draco e Blaize juntamente com Marisa Forrester e Marco Treachers foram fazer uma ronda para proteger os adolescentes eufóricos. O que era difícil, tendo em vista que era dia dos namorados e muitos casais desapareciam de repente para comemorar.

- Dylan, se o Wesley saber como você e a filha dele estavam se agarrando aqui, vai mandar castrá-lo. Tenha juízo.

Rosier corou enquanto Dylan dava um risadinha para o pai, que os encontrara, sem querer, pelo caminho.

- Ok, desculpe.

Quando os dois passaram por ele, Draco não perdeu a oportunidade de piscar para o filho.

- Vá para um lugar mais escondido - cochichou.

Satisfeito, o garoto pareceu que iria obedecer ao pai.

Ao dar mais alguns passos para a frente, observando tudo ao seu redor, Draco fechou a cara.

- Até onde eu saiba você deveria estar rondando as lojas, essa direção é minha.

- Quando eu confiar em um Malfoy para fazer um serviço, pode me mandar para Azcaban porque sem dúvida não serei eu em meu próprio corpo.

Draco pôs as mãos no bolso e observou com indiferença o homem subir, mancando e com muita dificuldade, as pedras que levavam até o pequeno morro.

- Então você não confia em um Malfoy, não é? Que pena. Deve ser muito difícil pra você trabalhar com um à sua frente então, não é?

Marco olhou sarcástico para Draco.

- Você ainda tem muito chão para ficar à minha frente, sr. Malfoy. Muito chão.

- Ah, perdão, eu me expressei mal. Não me referi a mim quando disse que havia um Malfoy a sua frente - embora você seja bem menos digno do que eu para o cargo que tem. Eu me referia ao outro Malfoy, aquele que anda lhe dando ordens e a quem você tem sido fiel em informações.

A expressão de Treachers pareceu confusa por um momento. Então, a compreenção e a raiva tomaram conta dele.

- O que está insinuando? Que eu estou trabalhando para pessoas como seu pai, é isso?

- Não para pessoas como ele, mas diretamente para ele! Por mim já havia mandado prendê-lo há muito e tenha certeza de que muitos lá dentro concordam comigo! Se está aí ainda é por causa de pessoas como Harry Potter que ainda lhe dão um voto de confiança! Mas eu sei que é você o espião entre nós! E eu vou provar isso em breve!

Treacher abaixou o tom de voz.

- Está cometendo um erro, Sr. Malfoy. Não pode simplesmente me considerar um espião apenas por causa do nosso problema pessoal. Pelo amor de Merlin abra seus olhos!

- Meus olhos estão abertos. - Draco riu de maneira estridente, nervosa. - Pra que continuar mentindo? Eu já sei! Não tente me enganar! Qual o motivo de fazer tanta questão da mansão Malfoy assim? Agora que todos sabem que Lucius reunia seu comparsas lá dentro, não há dúvidas! Você praticametne se entregou! Não sei porque mais ninguém percebeu, mas eu vou provar que estou certo! Você é o espião que há entre nós. Quer facilidade maior? Você está a frente do grupo de aurores com Clark! Insistiu tanto para ocupar essa posição e eu não vejo outro motivo para isso! Você não queria que tivessemos nossa gente dentro de Hogwarts, tirou o nosso pessoal de Hogsmeade pouco antes de acontecer o primeiro ataque! Tenho motivos suficientes para manter minha crença, Treachers.

Marco deu um passo para trás, apoiando a bengala no chão com maior força do que a necessária.

- Isso que você está dizendo são suposições precipitadas sr. Malfoy. E são completamentes injustas. Mas eu não podia esperar menos de um Malfoy, não é? vocês são mesquinhos e insuportáveis. Acham que têem sempre razão e são donos do mundo. Sabe o que eu queria fazer com a mansão? Destrui-la. Teria orgulho de destruir cada pedacinho dela e fazer sabe o quê? Um centro de recuperação e apoio para os que tiveram grandes perdas na guerra. E sabe porquê? Porque a maior ambição da minha vida é ver o nome Malfoy no lixo. Ah, você já imaginou como seria se um lugar que era o lar de um dos maiores seguidores de Voldemort fosse reconstruído com uma causa totalmente contrária. Seria explêndido, não concorda?

Draco não respondeu àquilo. Se isso realmente acontecesse, ele sabia que o velho Lucius sofreria um enfarto.

Mesmo assim não deu o braço a torcer.

- Você não vai conseguir a mansão. Ela é minha. Seja lá o que for que você queira fazer lá, terá que esquecer. Agora, eu realmente quero impedir que algum aluno sofra um ataque, seja esse qual for. Portanto, voltarei para minha ronda. Deviera fazer o mesmo. Com licença.

O homem o observou se afastar por longos minutos, uma expressão profundamente pensativa. Então, desviando-se de sua obrigação, deu meia volta e pegou outro caminho.

♥__________________♥

- Sarah? Você está bem?

Com um pouco de sacrifício a garota conseguiu erguer a cabeça sem fazer seu estômago reagir mal outra vez.

- Não - respondeu, antes de uma nova âncea invadí-la.

Uma toalha molhada apareceu a sua frente e ela segurou-a na boca enquanto se controlava. Seus cabelos foram retirados de seu rosto e uma segunda toalha foi colocada em seu pescoço.

- Está melhor?

- Sim... Obrigada, COllin.

- Espere. É melhor não ficar se mexendo por enquanto.

Collin a segurou por alguns minutos naquela mesma posição. Cansada, sem forças para ficar discutindo, ela descansou a cabeça no ombro atrás de si.

- O que aconteceu? - ele perguntou.

- Acho que comi muita porcaria - assumiu a garota. - A Dedosdemel nunca esteve tão caprixada.

Collin riu, permitindo enfim que ela se movesse.

- Sente-se um pouco. Nosso organismo é muito traiçoeiro, melhor não provocá-lo.

Ainda sem forças, Sarah obedeceu e se sentou, enxugando os olhos lacrimejados. Collin sentou-se ao seu lado.

- Seus amigos, onde estão?

- Não faço idéia... Estava com Maggie na loja, mas me perdi dela.

Colli franziu as sobrancelhas.

- Sabe que não é uma boa idéia ficar andando sozinha por aí nestes tempos, não sabe, Sarah?

Ao invés de se sentir reprimida, Sarah sorriu.

- Você não combina nada com essa figura paterna de segurança exagerada, Collin. Não convenceria ninguém.

Com um olhar de censura, Collin tentou repreendê-la, mas não conseguiu segurar o riso depois.

- Tudo bem, Sarah. Você está certa. Mesmo assim, não é preciso ser muito inteligente para saber que não é nada seguro ficar andando por aí sozinha. Melhor tomar cuidado.

Sarah girou os olhos.

- Certo, papai. Obrigada pelo conselho, agora, se me permite perguntar, porque você está aqui hoje e porque tem permissão para visitar Hogwarts com tanta frequência assim?

- Não estou visitando Hogwarts. Estou lá a trabalho, mocinha.

- A trabalho? Como assim? Não era só em época de jogos?

O jornalista não respondeu por algum tempo. Por fim, ele soltou o ar ruidosamente e sua voz não passou de um sussurro.

- Você não pode contar isso pra ninguém. Todos estão desconfiados de um espião no próprio grupo de aurores, então Harry Potter e Clark Forrester me contrataram para descobrir quem é ele. Estou observando cada um que parecer suspeito e fazendo relátorios semanais para Clark. Ninguém além de nós três - quatro, agora com você - sabe disso, Sarah. Então, repito, você não pode contar isso pra ninguém, ouviu?

Sarah engatinhou até se aproximar mais e ficar de frente para o homem. Olhou-o com os grandes olhos cinzas arregalados.

- Um espião? Uau! Papai nunca me disse nada! E você já tem idéia de quem seja? Acho aqueles aurores tão idiotas. Não me parecem ter a capacidade para serem espiões.

- Mas têm para serem aurores. De qualquer forma... Sim, eu tenho um suspeito, mas não tenho nenhuma prova.

- Está falando de Zabini, não é? Eu sei que sim. Todo mundo desconfia dele. Eu já não, acho que ele é panaca demais para conseguir fazer algo assim, tem atitudes muito óbvias e não sabe disfarçar nada. Se fosse vocês me preocupava é com a namorada dele, aquela Edilaine.

- Edilaine? A enfermeira? Não acho, não. E você, Sarah, não esconde as coisas de mim. Sei que os dois têm te perseguido e de maneira óbvia e sem disfarce. Porque você dúvida mais dela do que dele, então?

- Ele tem motivos para me perseguir, ela não. Além disso, não vou com a cara dela.

Collin olhou extremamente desconfiado para Sarah.

- Zabini tem motivos? Motivos que a namorada não tem? Sarah, por acaso Blaize não... Não tem dado em cima de você, tem?

A garota apenas manteve o olhar interrogativo por um instante. Depois sorriu.

- E se tiver?

- Sarah, você não pode...!

- Porque?

- Ele é...

- Mais velho? E daí? Eu não me importo!

- Sarah...!

- Ou será que você está com ciúmes, então?

A boca de Collin abriu e se fechou. Depois ele balançou a cabeça.

- Está passando dos limites, Sarah. É melhor eu ir embora. Venha, vou te levar para a presença de alguém de confiança.

- Você não respondeu a minha pergunta.

Sarah cruzou os braços, Collin desviou o olhar e instintivamente se afastou.

- Não faça isso, Sarah. Você é jovem demais. Além disso, somos amigos, lembra?

- Isso não muda nada. Maggie é apaixonada por Lucas e ele por ela, e os dois são grandes amigos.

- Sarah... - o tom de Collin soou como alerta.

- Você está com ciúmes, eu sei. - ela afirmou, e um sorriso triunfante apareceu. Apagou-se, porém, quando os olhos dele voltaram e encontraram os dela.

- Sarah...

Impulsionada por um instinto que seus poderes não conseguiam controlar, Sarah se aproximou o suficiente até pousar seus lábios nos dele, num beijo casto que nenhum dos dois esperava que acontecesse.

Collin não correspondeu. Na verdade, ele sequer se moveu. Foi apenas quando percebeu que ela insistiria que ele pousou sua mão na face da garota e após um carinho suave, obrigou-a a se afastar.

- Desculpe, Sarah... Mas eu não posso...

- Porque?

- Se você pudesse entender... Seria muito errado, Sarah... Eu sou muito mais velho que você...

- Porque você se importa tanto com isso? Já disse que não ligo.

- Mas as pessoas ligariam. Seus pais ligariam. E você não gostaria de ver onde isso tudo nos levaria.

Desanimada, Sarah encarou o chão. Sonhava com este momento desde que resolvera esquecer Sírius, mas no sonho o desfecho era diferente.

- Sarah...

- ...

Collin suspirou e se levantou.

- Venha, vou te acompanhar até as lojas.

Ela ignorou a mão que ele havia estendido ao se levantar sozinha.

- Obrigada - agradeceu, e saiu andando na frente.

Suspirando novamente, ele a seguiu.

- Vai ficar nervosa mesmo? - Collin perguntou depois de alguns minutos caminhando.

- E não é pra ficar?

- Não! Eu não achei que você teria essa reação... Desculpe...

Sarah o olhou pelo canto dos olhos, sem deixar de caminhar.

- Teria feito diferente se soubesse?

- Eu... - Outra vez, a boca de Collin se fechou, sem palavras. Seus olhos brilharam quando ele, por fim, respondeu. - Não me pergunte duas vezes.

Sarah tropeçou, sentindo-se corar. Preferiu não comentar nada, mas abriu um sorriso tímido.

Já haviam chegado na parte mais aglomerada de adolescentes do povoado em finais de semana de passeio, quando alguém chamou por Sarah.

- O que? - Ela parou de andar.

- O que, o que?

- Quem está me chamando?

Collin piscou.

- Eu não ouvi nada. Tem alguém chamando por você?

- Sarah!

- Sim, tem!

Tendo que ignorar a expressão confusa do homem, Sarah começou a correr. Mais do que ter a certeza de que alguém a chamava, ela ainda acreditava que não era uma coisa boa.

- Droga, o que está acontecendo?

Ela derrubou duas pessoas e colidiu com incontáveis até chegar numa área onde se lembrava ter se separado de Maggie. Olhou ao redor e percebeu numa aglomeração maior o reflexo de um cabelo louro que não lhe era estranho.

Andou até lá.

- Com licença, com licença, com licença. Papai? O que está havendo aqui?

Draco pareceu demorar para captar a voz de Sarah. Quando o fez e seus olhos perdidos a encontraram, ele a segurou pelos braços e murmurou apressado:

- Onde você estava, Sarah? Você está bem?

- Eu... Eu estou... Mas porque...

- Você estava com Maggie, não estava? - Os dedos ao redor do braço de Sarah se apertaram mais.

- Ai... Sim, mas...

- Venha comigo.

Andando apressado, Draco tirou a garota do meio da multidão e a afastou. A expressão em seu rosto era de intensa preocupação, o que estava começando a amedrontá-la.

- Segure-se em mim, ok? Vamos aparatar até os jardins de Hogwartes para facilitar.

- Aparatar? Mais... Ir embora? Já? Não está cedo? E Maggie, Sírius?

- Estão todos lá. Não faça perguntas por enquanto, Sarah. Agora segure-se.

Foi tão rápido que ela quase ficou para trás. Num instante ela estava ainda em Hosgmeade, no instante seguinte em frente aos portões da escola. E no terceiro, já não estava mais, porque Draco praticamente a carregava para dentro, apressado.

Sarah não se atreveu a falar mais nada; seria inútil. O pai a mandaria calar novamente. E a âncea que a incomodara demais lá no povoado voltara a aborrecê-la. Para todos os efeitos, boca fechada resolveria muitos problemas.

- Draco! - Harry os interditou assim que chegaram ao Salgão de entrada. - Você a encontrou! Como você está, Sarah?

- Eu...

Sem se controlar, Sarah virou para o lado e Harry usou seu reflexo de apanhador para conjurar um balde de alumínio antes que a garota vomitasse no chão de mármore reluzente.

- É melhor você levá-la para a Ala Hospitalar, Draco. Ammy está lá ajundando as enfermeiras.

- E os outros?

Draco e Harry trocaram um olhar enigmático.

- Os que conseguimos trazer, também estão lá.

Mais uma vez, Sarah se sentiu sendo empurrada para algum lugar. Não teve conhecimento do caminho, apesar de saber que estava indo para a Ala Hospitalar. Não entendia o que estava havendo com seu estômago, nunca fora tão frágil por mais porcarias que comesse.


- Ah, não, Draco! Sarah também?

Sarah ouviu a voz da mãe e tentou encará-la, mas a visão estava turva.

- Mamãe, o que...

- Sente-se, Sarah.

Sarah obedeceu por um gesto automático, mal vendo o biombo que colocaram ao redor de sua cama logo depois. Sua cabeça foi virada para cima e um liquido pegajoso jogado em sua garganta. Ela engasgou com o gosto ruim.

- Vamos lá, está melhor?

Ela abriu melhor os olhos, não estava realmente bem, mas ao menos o estômago parara de reagir mal.

- Você precisa responder àlgumas perguntas, Sarah - Era Edilaine falando. - Você ficou com Maggie o tempo todo?

- Sim... Quer dizer, não na última hora...

- Nessa última hora você esteve onde?

- Eu... No começo da Floresa, aquele bosque...

Edilaine e Ammy se encararam.

- Sem chances. Você se lembra onde você e Maggie se separaram, Sarah?

A cada segundo Sarah ficava mais confusa. Não estava entendendo nada. Seu estômago doía, sua barriga doía, sua cabeça...

- Nós... não sei... Eu acho que... Acho que a deixei na Dedosdemel... Tínhamos ido lá comprar mais Alcaçuz¹ porque os nosso havim acabado.

- Vocês já haviam ido lá antes?

- Sim, de manhã cedo, nós...

- E você a deixou sozinha, ou havia algum com ela?

- Eu...

Sarah calou-se. Sua mente passou a trabalhar numa velocidade incrível visto a dor de cabeça que ainda tomava conta dela. Observou Edilaine anotando sem parar numa prancheta e a expressão preocupada das duas, inclusive da mãe. Repassou todas as perguntas na cabeça e chegou a uma conclusão:

O nome de Maggie estava em quase todas elas.

- O que houve com Maggie? - perguntou, lentamente.

As duas se encararam, sem resposta.

- Mamãe? - O tom de Sarah não permitia desculpas.

Ammy gaguejou um pouco, ainda tentou mudar de assunto, mas Sarah estava inflexível. Por fim, ela suspirou, cansada.

- Ao que tudo indica, Sarah, vocês foram vítimas de um ataque. Um tipo de envenenamento. A vistoria por Hogsmeade de nada valeu, os ataques aconteceram do mesmo jeito. Só estamos tentando descobrir o que o causou.

Sarah piscou uma, duas, três vezes, em silêncio. Um ataque? Envenenamento? Ótimo. Já não havia quase nenhuma desgraça na sua vida pra algo assim acontecer!

- Maggie? - perguntou, assistindo novamente a troca de olhares. - Eu estou bem, não estou? Ela está como eu, não está? Se nós duas fomos envenenadas, e eu apesar de tudo estou bem, ela também está, não é?

Foi realmente necessário os olhos de Ammy se inundarem de lágrimas para que Sarah entendesse que a coisa era mais séria do que pensava.

- Maggie... - sussurrou, e num gesto repentino que nenhuma das duas puderam impedir, Sarah rasgou a cortina que a circulava.

Uma exclamação morreu em sua garganta.

Era pior... Pior do que estava imaginando. Pior do que cair em um pesadelo, porque nos pesadelos se podia acordar e então o alívio de que nada era real cairia sobre si. Ali era real. Não havia como não ser. A enfermaria estava lotada por adolescentes passando mal como ela, ou camas com alguns deles estáticos, sem nenhum movimento a não ser as respirações que as vezes se acelerava, ou as cabeças que eram desordenadamente sacudidas em delírio. Numa das camas havia um cabelo vermelho inconfundível, sendo acariciado por alguém que ela também conhecia bem.

- Sarah, fique...

A garota fez um sinal para a mãe, ignorando-a. Caminhou até a cama da amiga como se qualquer barulho pudesse prejudicá-la.

- Tia Weasley?

Hermione ergueu os olhos da filha na cama e encarou Sarah. Tentou desfarçar as lágrimas que caminham e o rastro daquelas que já haviam caído.

- Oi Sarah... Você já está melhor?

- Ela não está? - perguntou, observando Maggie virar um pouco a cabeça, a face avermelhada pela febre.

Hermione fez um gesto negativo tão sutil que Sarah mal chegou a ver.

- Porque se eu... Se eu já estou...?

Parecia impossível para Sarah compreender. Tanto que Hermione deixou de encarar a face da filha novamente para olhar com carinho para a loira.

- O ataque é para nascidos trouxas, sarah. Você não tem nem um pouco de sangue trouxa em você.

Antes que Sarah pudesse assimilar aquilo, muito menos ter qualquer outra reação, Ronald Weasley entrava carregando magicamente dois primeiranistas já desacordados.

- Encontrei estes dois um pouco distantes do povoado, devem estar desacordados há pelo menos duas horas.

Sarah olhou para as crianças pequenas sendo colocadas numa cama e arrumadas por Madame Ponfrey. Depois olhou para Maggie e o restante de todos aqueles adolescentes, atingidos por uma guerra que não era deles. Uma guerra onde não tinham culpa alguma. Sua cabeça doeu. Doeu insuportavelmente. Doeu tanto que sua visão escureceu e a última coisa que ela sentiu foi o azulejo frio em contato com o seu corpo.

♥____________________________________________♥


As pessoas entravam apressadas na pequena sala, cumprimentavam-se apenas com um aceno de cabeça, sentavam-se e esperavam. Calados. Todos perdiam-se em seus pensamentos e não se atreviam a atrapalhar os do próximo.

Harry entrou, pegou o seu lugar ao lado de Gina e passou a batucar na superfície de madeira com as unhas mínimas.

Antes que qualquer pessoa pudesse se irritar, a porta se abriu novamente e Marco Treachers entrou. Sua expressão era terrivelmente desagradável. Tanto que muitos dos presentes se encolheram.

O som ensurdecedor de um punho fechado batendo na madeira fez Harry erguer os olhos para o homem.

- Cinquenta! - o velho exclamou. - [i]Cinquenta![/i] Cinquenta nascidos trouxas desta escola atacados! Cinquenta crianças se encontram neste momento imóveis naquela enfermaria, num estado que nós não sabemos se é de vida ou morte!

Ninguém disse nada. Gina tinha os olhos vermelhos e ainda se encontrava muito abalada pelo que acontecera com a sobrinha. Hermione e Rony não estavam presentes, o que era completamente compreencível.

- Nossa missão era impedir que isso acontecesse! Então eu pergunto: Onde estávamos? O que estávamos fazendo que não impedimos? Do que nos adiantou ir até lá se não fizemos absolutamente nada?!

Draco não aguentou segurar a boca por muito tempo. Seu dia não fora nada bom, primeiro com aquela discussão com Treachers, depois com os ataques frustantes e a filha quase sendo uma das vítimas. Agora aquele velho vinha culpá-los? Tudo bem que fora uma incopetência, mas ele também estava lá, por Deus! E não conseguiu fazer merda nenhuma!

Ficou de pé.

- Com licença, sr. Treachers, mas achei bom lembrá-lo de que estava conosco - ou ao menos [i]deveria[/i] estar - Então deve ter conciscência de que estávamos atentos e que nada incomum aconteceu lá. Nenhuma pessoa diferente, nenhuma situação estranha; nada. Como poderíamos ter impedido algo que não sabemos o que é ainda? Concordo que temos errado, mas não foi em Hogsmeade. Foi muito antes, desde que os ataques começaram e nós não cumprimos com nossa obrigação que era descobrir a origem do problema.

Com a face transfigurada por um ódio incontido, Treachers o lembrou, num tom sarcástico:

- A origem do problema, como você diz, Draco, nós já sabemos, não é? Mas infelizmente você não quer nos contar o paradeiro dela!

A pouca cor que Draco possuía se foi numa velocidade incrível. Felizmente, naquele momento a porta se abriu e Edilaine entrou com uma prancheta.

- Com licença. Resultados. Acabou de sair.

Todos se ajeitaram nas cadeiras, atentos.

- Absolutamente todas as crianças em estado de coma apresentam as mesmas características de envenenamento. Não estamos mais frente a um caso de contaminação. Vou pular a explicação científica e falar claramente. Todos ingeriram o mesmo veneno em quantidades balanceadas. Baseado nisso e nos poucos depoimentos que conseguimos de alguns antes que entrassem nesse mesmo estado de coma, podemos concluir algo interessante... Um lugar onde 99 por cento dos adolescentes frequentam e consomem algum tipo de produto, em Hogsmeade, é um só. O mesmo lugar onde algumas crianças de sangue puro que passaram mal disseram ter estado em algum momento daquele dia. - Ela olhou para Draco. - Sarah foi uma delas.

Draco fez um aceno, concordando.

- Esse lugar seria? - alguém perguntou.

- Não há dúvidas. Obviamente se trata da Dedosdemel.

A primeira reação de todos foi piscar e continuar a encarar Edilaine, como se nada tivesse sido dito.

- Espere, srta. Forrester - Marco olhou-a preocupado. - Está dizendo que o envenenamento veio diretamente de dentro da Dedosdemel? Isso não é possível...! Para alguém envenenar os produtos teria que...

- Trabalhar lá dentro - Harry, até o momento silencioso, interrompeu. - Não tínhamos um dos nossos lá dentro? Onde estão os relatórios dele? Talvez deixamos passar alguma informação importante, como o contrato de novos funcionários e etc.

- Veja, Harry - Draco falou, um sorriso estranho nos lábios. - Você tocou num ponto realmente interessante... Porque você agora não pergunta a Treachers porque ele mesmo não havia pensado nisso antes? Quem sabe não há alguma razão especial para isso.

Sem entender, Harry olhou para o homem que parecia mais velho do que nunca. Sem responder ao tom desafiador de Draco, ele suspirou cansado, um traço de arrependimento na voz, quando falou.

- Eu o tirei de lá, afim de colocá-lo num lugar onde pensava ser a maior fonte de risco, O Três Vassouras. Não temos um espião nosso lá dentro.

Harry abriu e fechou a boca várias vezes. Não conseguiu encontrar o que dizer. Draco sorria, aparentemente aquilo não era uma novidade pra ele. Já Treachers, as rugas em seu rosto agora pareciam mais visíveis que nunca quando ele puxou uma cadeira para se sentar. Harry chegou a sentir pena.

Malfoy, então, se levantou, uma expressão tão decidida que a maioria ali dentro já soube o que ele pretendia fazer.

- Draco... - Harry chamou em tom de aviso. Ele ignorou-o.

- Visto o que aconteceu aqui, Treachers, acho que falo por muitos quando demonstro o meu espanto por suas atitudes. Sabe o que me parece? Que fez de propósito. Isso mesmo - reafirmou quando o velho abriu a boca numa exclamação indignada. - Desde o começo você tem agido estranhamente, tomando atitudes muito suspeitas e pra mim. Depois dessa sua demonstração óbvia e cristalina, não me resta dúvidas de quem é o espião que tem estado no nosso meio... Sim, eu estou apontando você, Treachers, mas enquanto não tenho provas para incriminá-lo, gostaria de pedir a todos que votassem a favor do seu afastamento do grupo.

- Draco... - Harry chamou outra vez. Ninguém ouviu graças aos cochichos que invadiram toda a sala de repente. - Draco!

O chamado fora forte. Não apenas Draco o encarou como muitos pararam com a conversa paralela e prestaram atenção ao homem-que-matou-Voldemort.

- Está cometendo um engano, Draco. Treachers não é o espião.

- E como você pode ter a certeza disso, Potter?

Harry hesitou um minuto antes de dizer:

- Porque eu sei quem é.

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A princípio ninguém acreditou. O que explicava o grande silêncio e os olhares confusos na direção de Harry.

- Você não entendeu - Draco retomou com redobrada paciência. - Você se lembra de termos discutido a respeito de um espião? Um espião de verdade em nosso meio? Alguém que provavelmente participava de todas as nossas reuniões e estava por dentro de tudo o que havia aqui? Estou me referindo a esse espião! Use a lógica, quem mais além de Treacher pode ser?

Harry pretendia responder, mas nesse momento a porta se abriu e alguém entrou tropeçando nos próprios pés. Demoraram alguns segundos para perceberem de quem se tratava a pessoa alta e desgrenhada no meio deles, graças às roupas rasgadas, a sujeira da pele e aos cabelos bagunçados.

- Ei! - Draco deu um pulo para trás quando o ser caiu desmaiado aos seus pés, depois de tentar dizer algo sem sucesso. - Mas o que... significa...?

- Droga - Zabini exclamou. - É melhor levá-lo para a enfermaria! Ele parece mal!

Muitas cabeças concordaram com as palavras do ex sonserino.

Ninguém entendeu quando Harry, ao se aproximar e levantar o homem no chão, colocou-o na cadeira mais próxima e retirou sua varinha, ao invés de seguir os conselhos de todos.

- Harry? O que diabos está...

Ao olhá-lo, Treacher se calou, a ficha finalmente caindo. Aparentemente, a dele foi a única a cair. Pareceu espantado e não disse mais nada.

- Não precisei dar uma resposta - Harry falou, finalmente, fazendo um sinal para que Edilaine, com a varinha na mão, se aproximasse. - Temos aqui o seu espião, Draco.

O queixo de Draco caiu, assim como o de todos os presentes, ao mesmo tempo em que Edilaine fazia um aceno com a varinha e Clark Forrester, enfeitiçado, abria os olhos.

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