Pacto com o demônio



Apesar de todo desgaste e a preocupação que era ter Lord Voldemort a solta e nos seus calcanhares, aquelas férias certamente estavam sendo muito boas para Hermione Granger. Na maioria dos dias estava na Toca com Harry, Rony e Gina e só não eram definitivamente perfeitas por conta das tragédias do último ano letivo, que tinham levado Sirius embora, assim como muitos outros. O Profeta Diário noticiava mortes e desaparecimentos o todo tempo.
Era exatamente depois de um desses momentos, em que os Weasley descobriam por Arthur que mais um de seus conhecidos – um tal de Philliphe Harley, do departamento de Cooperação Internacional em Magia- tinha desaparecido, que Hermione estava só. Momentos de solidão na Toca eram raros, mas Mione estava precisando daquele para pensar.
Havia três dias tinha recebido uma coruja, com uma mensagem misteriosa; “Encontre-me SOZINHA às 17 horas, no local indicado no mapa”. Era a milionésima vez, desde que recebera a coruja, que a garota tocava o pergaminho com a ponta da varinha, fazendo-o revelar um mapa simplificado, indicando um edifício localizado na Travessa do Tranco, no Beco Diagonal. Suspirou, cansada.
O dia tinha sido cheio. Passara a tarde toda sob a pressão do olhar de Gina, que parecia saber que ela escondia algo. Era óbvio que não tinha falado a respeito da coruja para ninguém. Os Weasley e Harry pirariam se soubessem que tinha recebido um bilhete sem assinatura, pedindo que ela fosse até a Travessa do Tranco! Mas na verdade, estava agitada justamente por considerar atender aquele bilhete. Não sabia porque, mas tinha uma sensação forte de perda cada vez que afirmava a si mesma que não apareceria ali. Além disso, o fato da família Weasley, Harry e ela fazerem uma visita ao Beco Diagonal no dia seguinte para a compra dos materiais escolares, tornava ainda mais tentador dar uma espiada na Travessa do Tranco, ainda que fosse só para saber quem havia mandando aquele bilhete.
Começou a se arrumar para deitar-se e agradeceu-se mentalmente minutos mais tarde por ter se antecipado. Gina entrava no quarto e ficava bons minutos encarando a cama de Mione, sem dizer nada, pensando que a amiga estivesse dormindo. E ela estava longe de pegar no sono ainda...
O dia seguinte começou cedo. E enquanto Harry repetia a dose, Hermione estava apenas conhecendo a experiência quer era ir para o Beco Diagonal pela rede de Flu. Dessa vez sem incidentes, saíram pela lareira da Floreios & Borrões, ótimo lugar para começar suas compras. Passaram um bom tempo na loja, particularmente por culpa de Hermione. Sempre que estavam prestes a sair, ela arranjava outro livro maravilhosamente interessante para babar. Tinha sido um alívio para o resto dos garotos quando ela finalmente conseguia sair da livraria, não sem um quebrar de pescoço para a vitrine. Depois disso, passaram em Madame Malkins, onde a Sra. Weasley entrou sozinha. Após esperarem um bom tempo por ela, se dispersaram, vagando pelas vitrines mais próximas.
Pararam diante da Artigos de Qualidade para Quadribol. A loja era uma verdadeira obsessão para Harry e Rony e entretinha Gina por tempo demais para a paciência de Hermione. Bufando, ela disse que voltaria até Madame Malkins para esperar a Sra. Weasley sob protestos dos amigos como “Nós esperamos você na Floreios e Borrões!”.
Hermione fingira não os ter ouvido, portanto caminhava de volta até a porta de Madame Malkins. Ficava ali por cerca de mais uns dez minutos, mas a Sra. Weasley ainda não tinha saído. A garota suspirava e se remexia, mas não tinha jeito; havia conseguido ficar sozinha finalmente e a idéia de ir até a Travessa do Tranco dá uma espiada estava se tornando irresistível.
Olhou para os lados e vendo que os amigos ainda estavam dentro da loja de quadribol, suspirou, recomeçando a andar com destino certo. Andava de rosto baixo, não querendo ser interceptada por conhecidos, afinal, não queria ninguém sabendo que alguém como ela estava andando para um lugar como a Travessa do Tranco. Já lá, deu uma última olhada no mapa, que trazia no bolso da veste. O mapa levava a um prédio muito velho e, aparentemente, não habitado. Os transeuntes pareciam ignorar estranhamente aquela habitação fúnebre. Provavelmente, devia ser efeito de algum feitiço. Na janela quebrada do último andar, Mione enxergou a sombra de alguém, embora não conseguisse vislumbrar direito quem era.
Ela pensou duas vezes antes de entrar no prédio. Mas era ele que o mapa indicava. Puxou a varinha e a apertou entre os dedos da mão direita, deixando-os brancos da força que exercia. Entrou cautelosa e uma vez lá dentro, ia andando devagar.
Se o lado de fora do prédio não tinha aparência nada agradável, dentro era péssimo. Não havia nenhuma fonte de luz, mas ela podia perceber que o chão era cheio de entulhos. As paredes eram encardidas e sujas, repletas de manchas avermelhadas que lembravam a Mione sangue coagulado. Havia alguns poucos móveis quebrados e entre uma peça e outra, ela podia ver inquilinos asquerosos como ratos, baratas, entre outros mais nojentos. A escada que levava ao último andar era feita de madeira apodrecida e tinha vários degraus faltando, mas foi por lá que ela subia, acendendo a ponta da varinha, afinal, quem quer que estivesse esperando, estava lá.
A escada dava para um corredor, tão mórbido quanto o resto da casa, com alguns quadros tortos de trouxas sendo torturadas por Comensais da Morte. Havia quatro portas, duas de cada lado do corredor, sendo que somente a última do canto direito estava aberta. Foi para lá que ela seguiu, agora abaixando a varinha na altura do peito, uma posição legítima de ataque. Dava passos cautelosos até a porta, espiando por ela.
Era um cômodo pequeno e escuro. Muito escuro. A única fonte de luz ali era a varinha de Mione, o que dava uma aparência ainda mais fúnebre e grotesca aquela sala. No meio, havia duas cadeiras velhas em volta de uma mesa que, provavelmente, deveriam ter sido concertadas por magia. No fundo da sala, de costas para a garota e olhando para a janela, estava o estranho anfitrião. Deveria ser um homem, a julgar pelas formas que a capa preta de viagem tomava ao cobrir o corpo dele.
- Seja bem vinda Granger. Fico feliz que não tenha trazido o Insuportável Cicatriz e seu escudeiro, o Ruivo Pobretão! - a estranha figura zombou com uma voz arrastada e arrogante que Hermione conhecia bem.
- Malfoy! - ela sussurrou entre dentes, arregalando os olhos, mal acreditando que era ele. Oh Deus quanta burrice! Teria caído em uma armadilha? - Deveria ter imaginado que só alguém como você viria parar num lugar como esse... - murmurava, sua voz expressava nojo.
- Ora, Granger... – ele dava uma risadinha cínica -...esse lugar combina muito com o sangue que corre em suas veias: completamente imundo! - continuou, virando-se para ela. Havia crescido bastante durante as férias, assim como Harry e Rony. A expressão de seu rosto adquirira feições mais adultas, deixando-o mais atraente. Apesar da postura arrogante e o olhar de desprezo que lançava, ele era dono de uma beleza bastante peculiar.
- O que quer de mim Malfoy? Por que mandou este bilhete ridículo? – Mione perguntou, entrando de fato na sala, sacudindo o pedaço de pergaminho em uma das mãos. Ela também tinham mudado ao longo dos anos. Mudança que talvez não fizessem diferença aos olhos de quem convivia diariamente a seu lado, mudanças que começavam sutis, mas que agora eram inegáveis. Ela já não era uma garotinha e estava caminhando graciosamente para tornar-se uma mulher bonita. Parecia ter mudado velhos hábitos, preocupando-se um pouco mais, talvez, com sua aparência. Os cabelos antes rebeldes estavam sob controle e soltos, cobrindo-lhe até o meio das costas. O corpo de feições curvilíneas e volumosas, o rosto afinalado.
- Queria convidá-la para dar uma volta comigo em um hipogrifo! - ele respondeu, sarcástico, se aproximando da cadeira com classe - É óbvio que tenho coisas importantes a discutir com você, Granger. Coisas importantes que devem ser mantidas em segredo ou eu nunca escolheria essa espelunca para o encontro - disse, por fim, sentando-se altivo na cadeira. Seus olhos cinza analisaram a garota de alto a baixo. Sim, Draco havia notados as mudanças no corpo e atitudes dela, embora fingisse manter-se indiferente.
- Pois então fale logo... - ela continuava naquele tom impertinente, parando ao lado da cadeira frente à dele, embora não se sentasse. Parecia conter um certo orgulho na voz, uma certa altivez. Eram os Malfoy quem estavam na lama. Podia fazer todas as piadinhas do mundo a respeito disso, mas como uma típica grifinoriana digna, não o fazia. Seus olhos castanhos estavam fixos nele, apenas esperando que ele começasse a falar.
- Creio que você, ao contrário do analfabeto do “Eleito” e o miolo mole ruivo, lê o jornal e está por dentro dos hãããã... acontecimentos fatídicos da minha família... - Draco se referia ao misterioso fato de seu pai, Lúcio Malfoy, ter sido condenado a 30 anos de prisão, embora a família Malfoy tivesse contratado Peticus Perius, o melhor advogado bruxo que nunca tinha perdido um caso. Para completar o infortúnio dos Malfoys, Narcissa supostamente enlouquecera quando soube da condenação e tentou resgatar seu marido de Azkaban, sendo condenada também. Novamente Peticus havia falhado na defesa, embora possuísse provas verídicas de que Narcissa teve suas faculdades mentais alterada.
Era a vez de Mione sorrir. Talvez tivesse pensado melhor sobre a postura digna de típica grifinoriana.
- Ora Malfoy, nem eu, nem Harry muito menos Rony precisamos ler os jornais para saber o que aconteceu a sua família... - começava enchendo os lábios para pronunciar "sua família" com nojo - ... fomos nós que a deixamos como está, lembra-se? - provocava-o. Sabia que estava brincando com fogo, mas aquilo era, por um segundo, prazeroso. Mexer com o ego de Malfoy e destruí-lo era uma coisa que Hermione Granger faria com prazer.
- Ah, é...- ele comentou, como se tivesse esquecido daquilo. Como se fosse algo insignificante o que ela e seus amigos tinham feito - Tinha me esquecido desse pequeno detalhe... Também, não é para menos. O seu “Trio Ternura”...- e ele fazia questão de pronuncia o “trio ternura” com mesmo nojo que ela usara para falar “sua família”- ... sempre se envolve com coisas tão inúteis que até me esqueço da única vez que fizeram algo de útil como prender meu pai... - e ele olhou para Mione, nem um pouco afetado com as palavras dela.
Hermione frisava o cenho, obviamente afetada com aquele tipo de pronunciamento de Malfoy a respeito dos próprios pais. Onde estava o garoto você-sabe-quem-é-meu-pai que ela conhecia, e que ele interpretava com tanto orgulho? Não deixou seu abalo vir à tona, pelo menos, tentou.
- Muito bem, Malfoy. Vejo que está evoluindo para algo bem pior do que você já é. Juro que achava não ser possível, mas não é que estava enganada? – ela dizia irônica, resolvendo sentar-se por fim, cruzando as pernas. Adotava uma postura séria e atenta, como se o estivesse monitorando - Sugiro que me diga logo o que quer de mim. Não tolero a companhia de pessoas como você por muito tempo...
Novamente Malfoy deu um daqueles detestáveis sorrisos cínicos. Ele parecia sentir um prazer inestimável ao vê-la assim, completamente incomodada em sua companhia.
- Ora, Granger, tenha calma. Um império não é construído em apenas um dia. É preciso arte, inteligência e, principalmente, métodos vis para eliminar adversários indigestos... - seus olhos cinza a fitavam agora, brilhando de malícia - Como eu ia dizendo, você Santa dos Elfos Domésticos e a dupla dinâmica fizeram um excelente trabalho com meu pai. Podia até agradecê-los por isso, se não tivesse o menor orgulho da minha linhagem superior. Com meu pai preso, as coisas facilitaram muito. O único obstáculo que restaram entre eu e os negócios da minha família era minha mãe que acabou com um “trágico destino"! - e ele sorria agora, contente consigo mesmo.
Mione, sem conseguir se controlar, entreabria os lábios, completamente pasma. Piscou repetidas vezes as pálpebras contra os olhos castanhos, olhando-o com a mais pura perplexidade.
- Isso, Granger! - ele prosseguiu contente em perceber que não estava lidando com nenhum bruxo que teve seu cérebro derretido por causa de uma maldita cicatriz de raio na testa. - Vejo que você está percebendo perfeitamente meu plano de resgatar o poderio da minha família..
Sim, ela tinha ligado tudo; já percebera que ele, não só foi responsável por alterar a sanidade da mãe com poções, como subornou o melhor advogado do país para perder de propósito duas causas consecutivas. Assim, todos pensariam que Draco, como um bom filho, tinha feito de tudo para tirar os pais da cadeia. Embora, ela tivesse facilidade de compreender o quê ele tramara, seu cérebro não conseguia achar alguma explicação de como ele podia ser tão indigesto, tão...doente. É doente... aquilo só podia ser doença. E sua expressão, por mais que não quisesse, demonstrava horror diante disso, mesmo que os pais de Malfoy fossem tão ruins quanto ele.
- E, é com um certo prazer que venho lhe informar que você se tornou uma peça sine qua non no meu plano!- Draco finalizou, com olhar frio e maligno demais para um garoto de 16 anos.
- Sinceramente não espera que eu o ajude, ou espera? Achei que não restasse nenhum resquício de ingenuidade em você, Malfoy... e você não está sendo nada além de ingênuo, acreditando que eu seja capaz de ajudá-lo num plano tão nefasto...
- “Nefasto”? Ora, Granger, tome cuidado então! O mesmo sangue nefasto que circula nas minhas veias circula na sua também. O mesmo sangue Black...- ele falou, sorrindo desagradavelmente. Havia soltado esta frase de propósito.
- O... que? – Hermione perguntou, toda a compostura veio a baixo, empalidecendo quase que instantaneamente. Devia saber, que Draco para chamá-la ali, tendo alguma certeza de que teria respostas positivas, traria um trunfo na mão... e aquele trunfo era nada mais nada menos que o maior segredo de sua vida - ... Como...?
- Como? Ora, “prima”... - e ele deu uma ênfase maléfica naquela palavra. - ... por que acha que lhe contei essa pequena história? Certamente que não foi para tê-la como confidente, não? - e ele riu, novamente, aquele sorriso frio e sem emoção – Contei tudo para que você saiba com QUEM está lidando. Não sou mais garotinho que depende dos pais, Granger, eu cresci e me tornei um sonserino capaz de fazer tudo para atingir meu objetivo... TUDO como afetar a racionalidade da mãe com poções e subornar o melhor advogado para defender precariamente os próprios pais! - confessou, seus olhos faiscando perigosamente- Descobrir quem realmente eram seus pais de verdade, foi como tirar doce de uma criança, para mim...
Mione entreabriu os lábios; queria dizer algo. Queria insultá-lo, queria ferí-lo... mas ele realmente tinha atado as suas mãos.
- Malfoy... você... você... - ela disse entre dentes, obviamente morrendo de ódio. Então se levantou. Não precisava suportar aquilo. Não deixaria que ele a manipulasse - ... Eu não preciso ficar aqui... - dizia com nojo, talvez com certo asco de si mesma. Como podiam ter o mesmo sangue, ela e ele?
- Vamos, “prima”... - ele repetiu de novo a palavra, provavelmente para irritá-la mais ainda -... eu esperava mais de você. Uma vez que temos o mesmo sangue, imaginava que você não fosse tão sentimental quanto o Potter e o Weasley!!
- JÁ CHEGA, MALFOY! - ela dizia, elevando o tom da voz - Chega! Eu estou indo embora... e espero que não me procure de novo. Não o quero no meu encalço. Não sou nada sua... Não faço parte desse seu círculo social. Não sou como você... - dizia em palavras firmes, embora estivesse desmoronando por dentro. Queria sair correndo dali. Queria poder contar a Harry e Rony, como seu segredo estava em perigo agora...
- Receio, “prima”... - ele novamente falou e Mione podia sentir que dessa vez essa palavra soava com prazer. Draco parecia fazer questão de deixar evidente que se divertia em vê-la naquele estado - ... que as coisas não serão exatamente como você deseja. Como eu lhe disse antes, meu plano precisa de você para ser concluído e eu sou capaz de fazer qualquer coisa para conseguir isso... - seus olhos novamente brilhavam com maldade - Condenei meus pais e ando doando dinheiro para caridade. Mas, pelo visto, isso não é o bastante para convencer a maioria dos bruxos que os Malfoy têm um novo lema agora... e isso afeta meus negócios, sabe? - ele continuava, calmamente, sem se importar que o maior desejo de Mione era estar bem longe daquele local imundo e dele, principalmente - O que significa que eu preciso de algo mais “chocante” como... namorar uma sangue ruim! - ele falou, sem evitar que uma expressão de asco se formasse no seu rosto - E é aí que você entra...
Ela levava uma mão ao espaldar da cadeira, segurando-se lá com força, como se pudesse cair a qualquer momento. Desistia de frisar o cenho, aquele ato já não exprimia a incredulidade que sentia. Seus lábios escancaravam-se dessa vez, ao ouvir o objetivo final daquela conversa.
- ... O que...? - foi a vez dela rir, um riso afetado, incrédulo, descrente...- Você realmente não espera que eu namore com você, não é? - chegava a ser uma pergunta que não tinha nada de ironia. Rezava para que viesse uma confirmação negativa. Queria que ele estivesse fazendo uma brincadeira de muito, muito mau gosto, e sua expressão denunciava essa agonia.
- Não, Granger! Eu não estou tão necessitado a ponto de namorar realmente você. Quero dizer, verdade que você tem metade do meu sangue, mas ainda sim você possui outra metade imprestável! - ele desdenhou– Nós vamos FINGIR que estamos namorando. Afinal de contas, eu sou um Malfoy. Jamais me envolveria com alguém de sangue ruim realmente. Preciso apenas manter as aparências, sabe? E entre todos os sangues ruins, você é a melhor. Porque tem metade do sangue similar com o meu e... - Draco parou. Procurou finta-la nos olhos antes de concluir, com a cara mais cínica do mundo- ... e possui coisas que posso usar como suborno.
Aquele parecia ser outro ponto fraco. Hermione arregalou os olhos, mas dessa vez não de fragilidade nem de surpresa... mas de ódio.
- Eu não sou como um de seus objetos, que você paga o quanto quer. Eu não estou a venda, Malfoy, perdoe-me... - sua respiração ofegante, obviamente saindo de controle - ... Minha ajuda você não vai ter... - dizia, e sem mais fazia menção de sair do aposento, e da casa o mais breve possível. Não queria ouvir mais nenhuma palavra.
- Tsc! Grifinorianos são criaturas tão previsíveis! - Draco disse, revirando os olhos para cima - Granger, minha querida prima, quem disse que você não está a venda? Ou melhor, quem disse que você tem escolha? Você é totalmente minha, um brinquedinho em minhas mãos, enquanto eu tiver isso! - então ele jogou em cima da mesa um livro de capa preta escrito “Spina etiam grata est, ex qua exspectatur rosa” em cor roxa, com uma letra que Mione reconhecia imediatamente pertencer a de sua mãe biológica - O diário de sua mamãe!
Mione virava o corpo para ver o que ele tinha jogado contra a mesa e seus olhos reconheciam então aquela verdade única das palavras dele, diante do que via. O diário!!! Aquela relíquia viva de sua mãe, que queria tanto conhecer! Ficou inerte um momento. Paralisada. Sufocada talvez, com a idéia de que sim, ele tinha razão. Ela era um brinquedinho nas mãos dele, enquanto tivesse aquele diário. Aquele tesouro o qual nem tinha noção do que dizia e que estava sendo maculado pelas mãos imundas dele.
Draco sorriu observando Mione encarar o diário da mãe. Então, levantou-se e aproximou-se discretamente até deixar alguns centímetros separarem seu rosto da garota.
- Viu só? - ele murmurou, de forma bem desagradável - Você é meu novo brinquedinho agora, Granger. Um brinquedinho que me custou apenas 5 sicles...
Hermione continuou fascinada diante da visão daquele diário por segundos, muitos segundos, antes de erguer os olhos para ele, completamente contrariada.
- Malfoy eu... - ela piscava repetidamente os olhos, confusa diante da grandeza que aquilo representava para ela. Estava literalmente hipnotizada, sem ter para onde correr. O cérebro paralisava e ela não conseguia pensar em nenhuma saída para aquela situação, a menos que ignorasse o fato de que a vida da sua mãe estivesse diante de seus olhos, implorando para ser explorada.
- É isso, prima...- continuou, tocando o rosto dela e acariciando -... se quiser saber como sua mamãe era, como ela se envolveu com seu papai e, principalmente, como ela morreu... - ele continuava em um tom baixo, aproximando ainda mais os rosto deles - Vai ter que ser uma boa namorada... - acrescentou, deixando os lábios deles se roçarem ao pronunciar a palavra “namorada”.
Hermione permanecia imóvel, pensativa, e só voltou à vida quando seus rostos estavam praticamente unidos, sem ter reflexo suficiente para impedir que os lábios de Draco roçassem nos seus. Estremecia, sentindo um frio horroroso lhe infligir o estômago, quando se esquivava dele, desviando o rosto de suas mãos e de seus lábios, procurando refúgio atrás da cadeira, mantendo-a entre eles.
- Está... bem... - sussurrava, sentindo as palavras pesarem em seus lábios.
E mais uma vez, Draco sorriu. Mas, dessa vez, não era um sorriso sabido Era um sorriso de vitória. Era o sorriso de prazer de quem presencia seu plano concretizando sem nenhum problema.
- Que bom que estamos de acordo, prima. Não se importa de eu garantir que nenhum de nós dois quebrará a promessa, não é? - indagou, retirando de trás de seu cinto uma pequena faca que tinha um cabo em forma de uma serpente de prata, toda incrustada por pequenas gemas verdes. Depois, cortou a palma da sua própria mão. Hermione já tinha lido a respeito daquilo, é claro. Era uma forma antiga que os bruxos de família puro sangue costumavam fechar seus acordos. A diferença daquele feitiço para o Voto Perpétuo era que, além de não necessitar de um Avalista, ao invés da morte, a conseqüência para quem não cumprisse o acordo, era uma vida amaldiçoada na mais repleta agonia - Sua vez, prima... - murmurou, passando a faca para ela.
Mione se amaldiçoou por não conseguir sair daquela situação sem jeito. E foi com mais ódio de si mesma, que estendeu a mão para apanhar a faca, e percebeu estar trêmula. Estava certamente diante da situação mais caótica e infeliz de sua vida. Seu coração batia acelerado no peito. Mas ao alcançar as pontas dos dedos no objeto, firmava-se, trazendo-o para perto. Espalmava a mão para cima, olhando-a longamente antes de concluir a ação, levando o gume da faca até ela e cortando-a horizontalmente. Fazia tudo em um silêncio doloroso, sem questionamentos... cega de sua única recompensa.
- Ora, vejam só... - Draco falou, pondo a palma da mão dele esticada ao lado da de Hermione - Não é que nossos sangues são realmente parecidos? - ele brincou maldosamente, fintando os sangues vermelhos que brotavam dos cortes, escorriam e caiam naquele chão imundo.
Ela guiou os olhos escuros até o dele, sem o mínimo sinal de achar aquilo engraçado, ou digno de brincadeiras. Suspirou, abaixando o olhar até a palma de suas mãos, os corte idênticos
- Está feito, Malfoy... - sussurrou, com um pesar indiscutível na voz - ... O diário...
- Nossa, Granger! Como você é apressada! Deveria saborear os momentos com seu namorado! - ele ironizou, retirando a varinha e fechando o corte da sua mão - O Diário está em cima da mesa e é seu. Fique a vontade para usá-lo e explora-lo como achar melhor. Considere meu primeiro presente de namoro...
Ela não deu atenção às provocações dele, cortando a sala em passos rápidos até a mesa e apanhando o diário, alisando sua lombada. Apertou-o contra os braços e regressou até sua posição original; ergueu o olhar até ele, abatida. Era só então que pegava a própria varinha, cicatrizando seu corte também.
- Estou indo agora...
- Claro, só mais uma coisa, “amor” - ele falou, com sorriso irônico nos lábios - Volte para sua casa, sim? Fica estranho de um dia para outro eu aparecer na casa dos Weasley para ver minha namorada.
Hermione iria protestar. Não deixaria A Toca! Não agora, que estava começando a superar um bocado de tantos traumas e dificuldades ao lado dos amigos. Mas ele mais uma vez tinha razão. Tentaria esconder esse pacto vergonhoso com Malfoy o quanto pudesse. "Pacto"... meneou o rosto. Harry, Rony e Gina nunca saberiam que se tratava de um pacto. Frisou o cenho.
- Está bem... – ela murmurou apenas, não agüentando mais um segundo naquele local. Não esperou por mais uma única palavra dele, para sair daquele lugar, sentindo-se mais imunda do que a criatura mais nojenta que achava conhecer: Malfoy. Certamente ela era bem pior do que ele, aceitando aquele tipo de coisa.

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