O Fantasma nos Olhos



Depois de exata uma semana, Malfoy ainda não melhorara de seu terrível estado. Estava cada vez pior. Então, Harry, Hermione, Rony e Gina resolveram visita-lo na Ala Hospitalar, mesmo não sendo nada amigos, apenas para tirar uma pequena curiosidade sobre o mistério que envolvia toda a escola.
Chegando ali, Madame Pomfrey dissera que não demorassem muito.
- É hoje.... é hoje... é...
- Malfoy?
- Não. É hoje....
- Quê?
- É hoje...
Era o que o garoto dizia. Hermione olhou para os outros três amigos, depois tornou a olhar para Draco.
- Mas... o que é hoje?
- Ela está voltando... é hoje.
- Hein? Quem é ela? – perguntou Hermione, tentando ser paciente.
- A menina. Aquela de cabelos negros... se lembra dela?
Malfoy parecia mais um garoto demente. Não dizia nada com nada. Seu estado era lamentável. Olhava para o teto o tempo todo, com o rosto lívido de terror, parecendo ter acabado de ver um fantasma horripilante.
- Cabelos negros? – disse Hermione, olhando-o com os olhos saltados. – Eu não...
- É hoje... ela vai vim me buscar... ela vai te buscar! – terminou em um berro, e apontando o dedo extremamente pálido na direção de Rony.
- Eu?!
- É hoje...
- Ahn... vamos embora. – cochichou Gina para os amigos, saindo da enfermaria, altamente confusos.
- É mais terrível que eu imaginava. – falou Hermione, aparentemente mais assustada que todos os outros.
- Que coisa mais maluca! – disse Harry, parando na porta a Ala Hospitalar com eles. – Que ele quis dizer com aquilo tudo?
- Isso eu não sei. Mas que ele ficou pirado, eu sei que ficou. – proferiu Hermione, olhando de beira para a porta às costas.


Mais tarde, enquanto todos já haviam subido aos dormitórios na Torre da Grifinória, o trio de amigos havia ficado na Sala Comunal, para terminar os estudos para um exame no dia seguinte.
Da porta veio a garota Gina, vindo apressada, dando um sobressalto nos três com sua ruidosa entrada.
- Vocês não vão acreditar! – falou ela, sem se importar com seu tom de voz.
- Que foi? O que aconteceu? – perguntou Hermione, que antes não saíra de trás do livro por nada.
- O Malfoy... o M-malfoy...
- O que tem ele? – disse Harry ficando nervoso.
- Encontraram o M-malfoy...
Gina olhou um pouco, com lágrimas nos olhos, tentando não entrar em pânico. Assim ela respirou, e terminou a frase:
- Morto.
Num súbito instante, Harry achou ter ouvido errado, mas Hermione repetiu o que Gina dissera, entre soluços de susto:
- M-morto?!
A ruiva confirmou, olhando para Rony, que ficara mais espantado do que se imaginara dele, mas sem dizer nada.
Agora tudo que Draco falara mais cedo, parecia muito mais assustador. Amedrontado, Harry disse:
- Precisamos ir... lá ver.
Rony, Hermione e Gina afirmaram, correndo para fora da Sala Comunal, tomando cuidado para que ninguém os ouvisse.
- Espero que o Filch esteja dormindo – falou Rony.
Eles alcançaram a Enfermaria, que se mantinha a porta fechada. Os quatro colocaram a cabeça na vidraça, olhando de espreita o lado de dentro, onde havia muitas pessoas em volta de uma cama.
- Como vamos ouvir o que estão dizendo? – perguntou Gina, olhando para eles.
- Não há problema. – disse Rony, enfiando as mãos nos bolsos, tirando um objeto: - Orelhas Extensíveis. Acho que se lembram como elas são úteis...
- Passa isso!
Então Hermione pegou a peça nas mãos, colocando aquela pequena orelha de borracha por debaixo da porta da Ala Hospitalar. Demorou apenas uns segundos, e do fino fio cor de carne saiu a voz de Dumbledore:
- Não posso imaginar o que tenha causado isso com o garoto. É algo muito estranho.
- Será que há invasores dentro do castelo, Alvo?
– disse McGonagall, com uma voz aguda de receio.
- Invasores? Não, não. Seria impossível...
- Mas... e se isso se tornar perigoso para os alunos?

Ninguém falou nada, nem dentro, muito menos fora da sala. Então a voz demorada de Snape rompeu o silêncio:
- Não há possibilidade de isso tornar-se um surto, há?
- Anseio não tornar-se, Severo. Se há algo que possa ser feito... alguma investigação de como seu aluno veio a falecer sem circunstância concreta.

- Com toda a certeza, senhor diretor. – disse Snape, com baixo, quase não foi possível ouvir.– Posso me encarregar de um inquérito.
- Espero que possa mesmo, Severo – falou McGonagall, que seu tom de voz demonstrou desafio.
O homem não disse nada, mas pelo que puderam notar, ele se encaminhava rapidamente para a porta, onde havia quatro adolescentes fora da cama depois da hora. Sem ter tempo de correr, Harry puxou os outros para longe da entrada, e no instante certo: Snape bateu a mão na porta, abrindo-a com força, e saiu apressado, arrastando a longa capa preta pelo corredor, sem percebê-los.
Assim, a porta tornou a fechar-se sozinha. Os amigos voltaram na posição que estavam antes, recolocando a Orelha Extensível por debaixo da porta.
Não demorou tanto para a voz de Madame Pomfrey surgir de dentro do fiozinho:
- Ah, diretor, o que faremos agora?
- Devo... refletir um pouco quanto ao que fazer. Não sei se devemos avisar os pais nesse momento, em meio à boca da noite. Aguardaremos o amanhecer.

Então os passos lentos e vacilantes de Dumbledore foram chegando mais perto da porta, avisando que os quatro adolescentes deviam permanecer quietos atrás da mesma.
Assim, Dumbledore abriu a porta devagar, parando na entrada. Enquanto eles ficavam quase sem respirar atrás da porta, o diretor olhou pelo corredor. Harry temeu que ele desconfiasse dos infratores acordados. Mas logo Dumbledore dirigiu-se na mesa direção que minutos antes, Snape desaparecera. McGonagall o acompanhou.
A porta tornou a fechar e tudo silenciar.
- Vocês acham que o Snape tem algo a ver com o que aconteceu com o Malfoy? – perguntou Hermione.
- Não, acho que não. – cochichou Rony, se levantando do chão. - Quero dizer... um aluno da própria casa... sangue puro... que o lambia por todo canto... seria uma coisa impossível!
- Do Snape a gente se espera tudo. – sussurrou Harry.
- Devíamos entrar e ver – disse Hermione, olhando para os dois lados do corredor escuro. – Sei lá... pelo jeito que falavam dele...
- Se pegarem-nos fora da cama, estamos numa encrenca...!
- É por um bom motivo – retrucou Hermione, abrindo a porta da enfermaria silenciosamente.
Estava tudo no mais absoluto escuro. Somente a luz tímida da lua iluminava o chão árduo de pedra, atravessada das cortinas. Entrando com atenção, os quatro curiosos invadiram a sala, procurando algo que se informasse um corpo inerte.
Jazia ali, no fundo da sala. Nenhum brilho o iluminava, mas seu rosto pálido, mais pálido que o comum, dava a sensação de lucidez. Porém algo parecia bem mais diferente no rosto de Malfoy.
- Minha nossa – murmurou Gina, com as mãos na frente da boca.
Seus olhos, antes cinzentos, agora estavam limpos e cegos, olhando perseverante para o teto. Pareciam ser feitos de vidro; imóveis e frios. Sua expressão também mudara, a julgar que antes era de medo; agora se mostrava o terror perpétuo.
Harry chegou mais próximo; olhou diretamente em seus olhos vidrados. Onde deveriam se encontrar pupilas negras, ele notou algo se mover. Uma pessoa, o que pôde perceber, observando seus braços acenando por ajuda. Realmente parecia haver um fantasma nos olhos do garoto.

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