Bride.



Bride

"Os olhos dela estão abertos como um livro
Meus dedos tiraram seu cabelo para poder olhar
Por um momento eu me senti deslocado
Porque eu vou ser substituído por desgraça"

A escuridão seria total, não fosse pela fraca iluminação vinda de uma vela acesa em algum canto do cômodo, e pela luz das estrelas, que entrava pela janela aberta.

Cada traço, cada pó e cada coisa fora do lugar demonstrava o fato de que há muito tempo ninguém passava por ali. Se a Mansão Black em si já era um lugar assustador, o sótão era ainda pior. Havia um baú de madeira encostado à parede, a poeira formando uma grossa camada de sujeira sobre ele, e dando a impressão de que milhares de insetos sairiam por ali.

A bagunça e sujeira reinava no sótão de Grimmauld Place, mas o que mais denunciava tal desordem não era o pó ou as coisas fora do lugar. O que mais poderia mostrar o caos do local era o véu jogado no chão, os sapatos de salto caídos, o terno largado; o pesado vestido de noiva esquecido.

Sirius, que estava sentado no chão, com as costas apoiadas na madeira velha, respirou pesadamente, fechando os olhos e desejando nunca mais abri-los. Bellatrix, que encontrava-se deitada sobre o peito do rapaz, acompanhou o ritmo da sua respiração.

Ambos sem emoções em seus rostos, olhando fixamente para pontos distintos do local. Ele passava as mãos distraidamente no topo da cabeça dela, acariciando os seus longos cabelos negros.

O casal formava um cenário digno de ser pintado pelo mais detalhista dos pintores, para assim ser eternizado. O rapaz apenas com calças sociais de um tom tão negro como os seus cabelos, largado no chão, uma das mãos pendendo ao lado do corpo e formando desenhos imaginários no chão empoeirado. E, grudada no seu corpo de forma que parecia fisicamente impossível, encontrava-se a figura dela. Os braços finos e alvos contornando todo o tronco dele, abraçando-o firmemente; uma das pernas posta propositalmente entre as deles, e o rosto quase escondido debaixo dos longos cabelos negros.

Vestia apenas um corpete branco e aparentando ser largo demais para o seu corpo, uma calcinha e cinta liga, ambas brancas. Parecia absorta demais em pensamentos e sensações para querer vestir alguma coisa a mais.

Abriu a boca, mas permaneceu algum tempo sem dizer nada, até decidiu falar.

- Devem estar te procurando.

Ficou um tempo quieta, apenas deixando com que as suas palavras entrassem pelos seus ouvidos e ela pudesse analisar a sonoridade delas.

- É uma festa, eles não se importam em não ter a minha presença. – Murmurou, com a voz mais rouca que o habitual.
- Você é o centro das atenções dessa porcaria de festa, Bellatrix. – Cortou rapidamente, postando as suas mãos sobre as dela, fazendo com que ela o soltasse. – É a festa do seu casamento.

Não deixou com que ele tirasse as suas mãos do seu abdômen, e apertou-o ainda mais contra o seu corpo. Abraçava-o com força, ao mesmo tempo em que deixava com que as suas unhas arranhassem delicadamente a pele dele.

- Você reclama demais. Você não tem motivos para reclamar. – Resmungou.

Sirius aplicou mais força, e conseguiu com que ela o soltasse, no que Bellatrix voltou o rosto para o dele, o encarando aborrecida.

- Você está se casando com um idiota, e vai ir embora dessa casa para sempre. Claro, Bellatrix, eu não tenho nada do que reclamar.

Afastou um pouco o corpo do dela, melhorando a postura. Encarou-o por alguns instantes, até que um riso provocador surgiu nos seus lábios.

- Eu estou passando a minha noite de núpcias com você! – Exclamou no meio dos risos.
- E daqui algumas horas fará o mesmo com o seu marido. – Cuspiu as palavras.

Bellatrix também sentou-se, ereta, e passou a olhá-lo irritadamente.

- Como se você não soubesse que nunca será igual a isso. – Disse em tom zombeteiro.

Também sorriu de leve, apesar de que o sorriso não seguiu até o seu olhar, que continuava frio.

- Disso eu tenho certeza. – Gabou-se.

Sorriram cumplicimente, o que de certa forma quebrou o clima pesado por alguns instantes. Pequenos e quase insignificantes segundos, que foram embora logo que ela se levantou, para pegar o seu vestido.

- Já vai? – Perguntou em voz baixa, quase em um pedido para que ela ficasse.

"Não quero esperar ou abandonar isto ou desaparecer
Eu quero apenas te assistir toda a noite, gritando"

- Você acabou de dizer que eu deveria ir! – Colocou uma mão na cintura, enquanto a outra segurava o seu vestido. – Decida-se!

Imitou-a, também se levantando, e parou na sua frente.

- Quem decide as coisas aqui é você. – Falou, seriamente.

Tirou a mão da cintura e depositou-a sobre o rosto do jovem na sua frente. Acariciou lentamente a sua face, permanecendo daquela forma por algum tempo, até que ele a puxasse rapidamente pela cintura. Procurou pelos seus lábios de forma instintiva, enquanto as mãos dela foram para o seu pescoço, o que ele entendeu como um encorajamento, e então a beijou com selvageria.

Correspondeu, já que sabia ser impossível fazer o contrário, mas após algum tempo separou os seus lábios num ato brusco. Evitou o seu olhar, e falou em tom de voz frio:

- Exato. Eu que decido. – Tirou as mãos do seu pescoço. – Eu já fiz a minha escolha, Sirius. Não torne as coisas mais difíceis.

Ela tentou se afastar, mas dessa vez quem impediu que o contato entre os seus corpos fosse cortado foi ele, que a segurava firmemente pela cintura.

- Tornar as coisas difíceis sempre foi a minha função nesta família. – Sorriu. – E tornar as coisas mais difíceis para você é ainda mais prazeroso.

"‘Não sejam tolos, meus amigos’, eu disse
porque eu não vejo nada naqueles olhos
tudo que eu disse e fiz, isso não terá graça
não cometam erros, porque aqueles sorrisos são falsos"

Ignorou o que ele havia dito e encarou o vestido longamente, como se quisesse decifrá-lo. Era bonito, afinal. Não tinha nada a ver com ela, e ao contrário do que todos disseram, não a deixava parecida com um anjo; nada conseguiria tal efeito. Nem mesmo quando estava deitada na cama de Sirius, com o corpo do garoto colado no seu, nem mesmo nesses momentos de paz conseguiria ter a calma dos anjos.

Sirius olhou-a, percebendo o olhar perdido que ela lançava para o vestido. Ele também nunca a veria como um anjo. Recuou alguns passos até que suas costas encostassem-se à parede de madeira e se apoiou lá.

- Você sabe onde encontramos os maiores anjos? – Perguntou, mesmo achando que ela não se importava com aquilo.

Balançou os ombros e virou lentamente a cabeça para ele.

- No inferno.

Apreciou o olhar confuso dela, sentindo uma enorme satisfação crescer dentro de si.

"E então você vai lá
Não me acorde, eu não quero que este sonho acabe"

Podiam dizer qualquer coisa que quisessem, até mesmo que ele era apenas mais um dos vários passatempos de Bellatrix. Quem falasse tais coisas não estaria de todo errado, já que na perspectiva de qualquer um, aquela era a verdade mais pura. Mas ali nada era puro.

Não era o seu passatempo, pois passatempos não machucam; também não era a sua paixão, pois paixões não matam. E, principalmente, não era o seu amante, pelo simples motivo de amantes não ensinarem.

Era uma espécie de portal para ela, um ritual de passagem. Precisava dele para deixar de ser Bellatrix Black, e necessitava deixá-lo para dessa forma se transformar em uma Lestrange. Havia aceitado muito bem aquela tarefa até o momento em que a prima não aprendia.

Mas, no fim, ela começou a aprender.

Sorriu para ele, e pôs-se a colocar o vestido. Quando já estava pronta, virou-se de costas para ele, colocando suas mãos magras nos cabelos e os puxando para um lado. Caminhou rapidamente até ela, tocando em suas costas seminuas quando se aproximou.

Amarrou as fitas que fechavam o vestido o mais lentamente possível, fazendo questão de deixar com que suas mãos esbarrassem na sua pele alva sempre que possível.

Quando acabou curvou-se para frente, os seus lábios roçando levemente no pescoço dela.

- Já está perfeita novamente, senhorita. – Murmurou em seu ouvido, em tom irônico.

Os lábios dele continuaram roçando na sua pele por algum tempo, até que ela virou-se e dessa forma pôde encará-lo.

Aproximou o rosto do dele, sem nunca cortar o contato visual. Selou os seus lábios ainda de olhos abertos, o olhando tão intensamente quanto poderia e sendo correspondida com o olhar dele, que beirava o satisfeito.

Afastaram os lábios, o dela se curvando em um sorriso quase sincero.

- Obrigada. – Sussurrou, sem nem um pouco do sarcasmo que ele esperava.

Virou o rosto e tentou inutilmente dizer alguma coisa. Acabou simplesmente acenando a cabeça, tentando falar um “De nada” ao mesmo tempo em que proferia declarações doentias.

Se afastou um pouco dele e impulsionou o seu corpo, dando um giro. A saia do vestido acompanhou todo movimento, transformando-se em um borrão branco de seda. Olhou-o divertida, apesar de os seus olhos continuarem a fitá-lo da mesma forma de antes.

- Como estou? Pronta para viver na Mansão dos Lestrange? – Perguntou enquanto suas mãos passeavam pelos seus longos cabelos, tentando arrumar qualquer imperfeição.
- Você sempre esteve pronta. – Fez uma pausa. – Vá, seja uma Lestrange e nunca mais volte.

Olhou-o por alguns instantes e encaminhou-se para a porta. Tocou a maçaneta e olhou-o uma última vez. Fechou a porta com lentidão, como se quisesse que ele se destruísse ainda mais a cada segundo que ela demorava em seu ato.

A porta foi fechada com um baque seco, enquanto ela caminhava pelo corredor com elegância, rumando para a mais nova vida que ele havia a ensinado a suportar.

"Todas as vezes que nós sofremos por isso antes
Nunca fizeram você fechar a porta
Toda a maquiagem não pode esconder o fato
De que você está indo e que nunca mais voltará"





(N/A):

Essa fic já tava no meu pc há tipo assim, muito tempo. Mas ela é tão idiotinha, tão sem graça e sem nada que a deixa diferente das outras, que eu nem lembrei de postar. Mas, okay, tá postada, cheia de erros e nenhum pouco betada, mas tá.. Comentem, bla bla bla
Beijos,
Lisi Black.

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