Capítulo Oito
Os roncos altos dos trovões deixavam claro sobre a tempestade que estava se aproximando, ele constatou mal humorado quando olhou para o céu tingido de um cinza escuro e feio. Abaixou o rosto e socou as mãos para dentro da jaqueta surrada que estava usando e caminhou em passos apressados até um antigo pub, na Londres Trouxa.
Ele teve a sorte do temporal começar no momento exato em que colocara os pés para dentro do pub e chegou até mesmo olhar momentaneamente para fora, observando os grossos pingos de chuva bater contra a calçada. Suspirou. Uma pequena amostra de que ainda poderia existir sorte em sua vida, pensou sarcástico.
Cumprimentando casualmente o barman, ele se dirigiu ao segundo andar da instalação e caminhou até a última mesa, mais afastada de todas as outras, onde um homem estava bebendo um café absurdamente quente, olhando para um jornal. Ele percebeu que as figuras nas fotos se mexiam.
- Imaginei que não viesse. – Harry comentou casualmente enquanto continuava de pé e o homem continuava sentado.
Ron Weasley ergueu os olhos do jornal e olhou ligeiramente para os lados, como se procurasse alguém os espionando.
- Eu estava tentado a cumprir minha palavra, se quer saber.
Abraçaram-se como irmãos. Ron mediu Harry, que se sentava à sua frente e ergueu uma sobrancelha.
- Você parece cada vez mais detonado. – ele comentou a respeito da aparência do melhor amigo: cabelos mais compridos do que o usual, barba por fazer, roupas incrivelmente gastas. Ron parou de olhá-lo nos olhos (um olhar vazio) e reparou em uma fina linha branca em seu pescoço; um leve indicio de um corte que outrora fora profundo.
- Ossos do oficio. -Harry respondeu com simplicidade, coçando o queixo , parecendo incomodado com a barba rala. – Você disse que tinha algo de importante para me dizer. – ele abaixou o tom de voz, antes de uma atendente aparecer e perguntar o que ele gostaria de beber. Harry não pensou ao escolher uísque com gelo.
Ron dobrou o jornal sobre a mesa quando a atendente se afastou e olhou para os lados, ainda parecendo preocupado de que alguém os pudesse ver.
- Você sabe que eu nem deveria estar fazendo isso após você ter simplesmente evaporado dois anos atrás. – disse com um tom acusatório em sua voz. Harry não pareceu nem um pouco culpado.
- Fiz o que achei melhor, e não me arrependo. Não com tudo que tenho presenciado.
- Hermione está furiosa com você ainda.
- Ela vai aprender a me perdoar. – Ele pareceu impaciente. – Se era só isso -.
- Não! – Ron balançou a cabeça e inclinou-se na mesa, abaixando ainda mais o tom de voz: - Há suspeitas de que Vol... Você-Sabe-Quem está tentando controlar o Ministério.
Harry pareceu pensativo um breve momento, antes de soltar um claro suspiro de exasperação.
- Que ótimo. – resmungou, balançando a cabeça. – Como se eu já não tivesse trabalho o suficiente. Como sabe disso?
- Papai. – Ron respondeu com simplicidade. – Parece que já há varias pessoas controladas indiretamente por Comensais da Morte que ainda estão no Ministério sobre o falso pretexto de terem se arrependido.
Eles pararam de conversar quando a atendente voltou com o uísque de Harry. Ele praticamente sorveu quase todo o conteúdo do copo, antes de olhar para o melhor amigo.
- Bem, não posso dizer que isso não faz sentido. Controle o Ministério, controle o Mundo Mágico. Estupidamente simples e eficiente. – Harry girou os olhos. – Eu não esperaria nada mais sofisticado vindo de Voldemort.
Ron estremeceu, mas Harry pareceu ignorá-lo.
- Mais alguma coisa?
- Bem, sobre esses assuntos é a única informação que eu teria para você. Mas tem mais algumas coisas também... – Ron pareceu meio incerto. Harry apenas o encarou, esperando.
O melhor amigo de Harry pigarreou.
- Você sabe como tenho me sentido usado. Harry, você some por dois anos, depois me manda uma carta pedindo que a gente se encontre seis meses atrás, e agora de novo. Pede por informações, pede que Hermione não saiba de nada sobre essas reuniõezinhas, não conta o que tem feito. Há rumores rolando, apenas rumores. Uns dizem que você está fazendo coisas extraordinárias, que vez ou outra o encontram em algum lugar, outros acham até que você fugiu, ou morreu. Foi embora, apenas nos deixando cartas... Cara...
Harry encarou o melhor amigo em silêncio por um tempo, antes de suspirar.
- Você tem razão, eu sou um cretino. – ele retrucou com suavidade. – Mas eu não mudaria nada do que estou fazendo. Voldemort sempre quis a mim, Ron, e ele não se importaria em matar mais pessoas apenas porque elas estão ao meu lado.
- Eu odeio esse seu papo de herói. – Ron retrucou áspero. – Você sabe que os Comensais vivem nos vigiando. Quase seqüestraram Hermione uma vez, até hoje não sei como ela conseguiu escapar... – Sua voz morreu quando ele viu um brilho nas íris verdes de Harry. – Foi você.
Ele não negou ou afirmou o pensamento do amigo sobre o resgate de Hermione.
- Eu fico no anonimato por dois motivos, mas ambos resumem-se a vantagem. Talvez um dia eu consiga explicar melhor.
- Mas... Você está atrás daquilo, não está?
Aquilo. Harry sabia do que ele estava falando, e limitou-se a sacudir a cabeça.
- Estou.
Ele fez menção de se levantar da cadeira, mas tomou o resto do uísque e olhou para Ron com um olhar quase de súplica. Como se toda aquela postura de super-homem fosse destruída apenas com a simples pergunta:
- Como está a Ginny?
Ron ficou um tempo encarando Harry, como quem decidia as palavras que iria usar. Por fim, apenas respondeu:
- Ela está bem. Passou as férias de Natal conosco e voltou para o Canadá prestar as provas de aptidão para Auror. Há alguns comentários entre pessoas de dentro do Ministério – entenda-se a Hermione – em montar um grupo de elite de Aurores, e o nome de Ginny vem sendo constantemente citado.
Harry assentiu, e Ron percebeu o brilho de alivio nos olhos do amigo.
- Eu... – ele começou, mas apenas balançou a cabeça e se levantou. – Preciso ir. Obrigada pelas noticias, Ron.
Apertaram as mãos, Ron um tanto desanimado com o comportamento de silencio do melhor amigo, mas Harry apenas deu de ombros.
- A propósito, apostei com um bruxo semana passada que os Chudley Cannons ganhariam o jogo de sábado contra o Puddlemere. Não me decepcione, apostei cinqüenta galeões.
Aquela fora a ultima vez que vira Harry.
Sarah Madison era boa em julgar as pessoas, e a primeira coisa que pensara quando seus olhos encontraram pela primeira vez Draco Malfoy foram: não vou gostar dele nem ganhando na loteria do Gringots.
Ela provou a si mesma que não estava errada; assim que ele abrira a boca pela primeira vez, Sarah sentiu vontade de transformá-lo em uma doninha. Ela não entendera exatamente por que em doninha, mas achou que seria um animal suficientemente parecido com ele.
Não podia negar que ele era bonito, entretanto; ela não era idiota o suficiente para não reconhecer um homem bonito quando via um, e Draco Malfoy era um belo pedaço de mau caminho. Ele se pareceria muito com os alunos californianos que estudava com ela no tradicional Instituto das Bruxas de Salem (que passara a aceitar bruxos há cinqüenta e sete anos) se não fosse pálido.
Mas... Bem, isso não mudava o fato de que ele era um saco.
Ela estava perdida nesses pensamentos quando Draco Malfoy apareceu com um jornal em mãos e olho para ela e para Ginny, que estava sentada ao seu lado na sala de espera do St. Mungus. Suspirou exasperada quando Malfoy deixou escapar um brilho sarcástico em seus olhos dirigidos especialmente para ela.
- E Rita Skeeter ataca. – Anunciou assim que parou de frente para as duas mulheres. Ginny, que estava de cabeça abaixada, ergueu o rosto com uma sobrancelha erguida.
- O que quer dizer com isso?
Malfoy lhe estendeu o jornal.
“O Escolhido elege sua Escolhida”
Ginny afastou o jornal como se fosse algo venenoso; havia repugnância em seus olhos.
- Não quero ler isso.
- Ah, você estará perdendo a diversão. Skeeter a elogiou. – ele disse com ironia enquanto Sarah pegava o jornal e lia apenas algumas frases soltas. – Sem contar que parece que seu chefe montou uma linda e falsa historia de amor a respeito de você e do Cicatriz.
- O que quer dizer? – ela perguntou rispidamente.
Sarah respondeu por ele.
- Potter sempre foi apaixonado por você, mas “renunciou ao amor para garantir sua segurança”– ela repetiu as palavras que leu no jornal e abriu um sorriso, sem se segurar ao comentar com a maior cara dura: - olha só, Gin, seu namorado é romântico.
Sarah se perguntou se o olhar de Ginny seria capaz de matar.
- O que mais diz? – ela perguntou com a voz falsamente controlada. Sarah deu mais uma olhada no jornal.
- Você acabou de dizer que não queria ler o jornal. – Draco pontuou sarcástico. Ginny o encarou com um ar sombrio, mas nada disse.
- Diz que “A encantadora jornalista Rita Skeeter descobriu tais informações de uma fonte muito confiável, de uma Auror amiga íntima de Ginny Weasley e Harry Potter”e que “Obviamente a separação de Ginny Weasley tem a ver com a volta de seu grande amor”.
Ginny franziu o cenho.
- Hermione. – respondeu zangada. Malfoy encarou Ginny com surpresa.
- Granger? Granger é uma Auror? – havia deboche evidente em seu olhar.
- Uma Auror melhor do que você. – Sarah replicou aborrecida antes de se voltar para Ginny. – Provavelmente isso foi idéia de Mike, você sabe.
Ginny assentiu, parecendo transtornada, mas ela mal podia imaginar que as bombas não acabavam por ali.
- Huh. – Sarah grunhiu ao ler a informação. Ginny fechou os olhos, controlando-se.
- O que, dessa vez?
- Potter vai ficar na sua casa. Aqui diz que você disse que moraria com você até ele conseguir comprar uma casa para ele.
- O sonho realizado! – Malfoy retrucou com deboche.
- Você não pode calar essa sua maldita boca pelo menos uma vez na vida? – Sarah perguntou aborrecida, mas Ginny já havia se levantado. - Aonde você vai? – ela a chamou.
- Entrar no quarto de Harry, chamar Mike para um lugar que ninguém nos ache e cometer um assassinato premeditado. – respondeu enquanto sumia pelo corredor.
- Provavelmente Hermione já espalhou a mentira do romance, era o que eu havia dito para ela fazer. – Michael respondeu calmamente enquanto observava Harry Potter colocar o tênis.
- Então está tudo planejado? – ele perguntou indiferente quando desviou o olhar do tênis e se dirigiu para o chefe do DICAT. Michael assentiu.
- Sim, Skeeter já deve ter mordido a isca, a probabilidade de que isso tenha acontecido é -.
A porta se abriu num estrondo. Michael se sobressaltou, mas Harry apenas olhou para a porta com um ar que beirava a indiferença.
Ginny estava com o cenho franzido, um punho fechado e o pescoço vermelho. Harry, que a conhecia desde os onze anos, sabia o que o vermelho em seu pescoço significava, mas limitou-se a dar as costas a ela e Michael e terminar de arrumar o pouco de roupas que tinha – graças a Hermione - em uma mochila.
Michael pareceu ter recuperado seu ar de superior frente a Auror e abriu um sorriso profissional para ela. Ginny não o retribuiu, apenas cruzou os braços e encostou-se ao batente da porta, com uma falsa calma.
- Ginny! Foi muito bom você ter chegado. – ela franziu o cenho em direção a ele, mas ele se manteve forte. – Potter já está pronto.
- É mesmo? – Harry segurou um sorriso ao escutar o tom sarcástico, continuando a arrumar suas coisas. – É uma pena que eu não esteja.
Chefe e Auror se analisaram.
- O que quer dizer com isso? – Michael perguntou, franzindo o cenho. Ginny o fuzilou com um olhar.
- Quero dizer que preciso conversar com você, e agora.
Não a frase, mas a forma como falara fizera Michael estremecer. Harry virou-se e encarou Ginny, encolhendo os ombros.
- Fico à sua disposição, Ginny.
- Obrigada. – ela obrigou-se a sorrir para Harry. Afinal, não era culpa dele de seu chefe ser um bastardo. Com um olhar inquisidor, obrigou Michael a sair do leito de Harry e, quando estava longe o bastante de serem ouvidos, ela deu um cutucão em seu peito e disparou com ferocidade: - Eu vou chutar o seu traseiro até que você não consiga se sentar por uma semana!
- Ginny, calma -.
-Calma? Você praticamente me deixou alheia de todo seu magnífico plano, me usou e me jogou nas mãos dos jornalistas. Pior! De Rita Skeeter! – ela o cutucou mais uma vez. –Tudo bem, você é meu chefe, mas nunca esteve no contrato que você iria me jogar em situações ridículas sem meu consentimento. – Ginny fechou o punho e Michael imaginou se ela iria dar-lhe um soco dessa vez, mas ela inspirou profundamente e passou a mão pelos cabelos ruivos. – Você é uma bicha, Stuart.
- Eu deixei sua situação clara, Ginny. – ele cruzou os braços. – Eu disse que você ia proteger Harry Potter, que iam fingir ser um casal e -.
- Ah sim, mas que maldita história foi essa de dizer que minha separação foi por causa de Potter?
- Eu disse a você que ia ser assim. Deixar Skeeter achar que estava certa -.
- Sim, você disse, mas não me deixou acompanhar a situação! Simplesmente bombas e mais bombas vêm caindo no meu colo e eu não posso fazer nada senão colocar as mãos na cabeça e deixar que tudo se exploda, porque você não me deixa tudo nos mínimos detalhes! Será que, pelo menos uma vez, você pode me deixar a par de tudo que está acontecendo? Eu não tenho um contrato eterno, se você não sabia disso.
- Você está ameaçando se demitir? – ele sussurrou perigosamente. Ginny franziu o cenho.
- Sim, e deveria ter feito isso a partir do momento que soube que você se intrometeu na minha vida pessoal, amaldiçoando Daniel.
- Você queria se ver livre dele, pelo amor de Deus. – Michael girou os olhos.
- Ah, claro, então por causa disso você acha que tem o direito de se intrometer na minha vida? Nem meus irmãos fazem isso! – ela explodiu. – Você é um filho da puta bastardo, Stuart. Um grandessíssimo filho da -.
- Tudo bem, eu sou um cretino. – ele a interrompeu, passando a mão pelos cabelos. – Me desculpe Ginny, mas eu precisava fazer isso para que Skeeter não achasse um furo e descobrisse que na realidade você está protegendo Potter.
Ginny percebeu que seus olhos estavam ficando marejados, e apressou-se para limpá-los.
- Mike, eu estou cansada. Sinto-me sendo jogada no inferno toda vez que escuto alguma coisa. Eu não agüento mais ficar escutando coisas da boca de todo mundo. Por favor, se me quer inteira para esse caso, me deixe a par de tudo, okay?
Michael se sentiu péssimo ao escutar aquelas palavras vindas de Ginny. Bem, ele não poderia contar tudo, exatamente, como fato de que a historia do jornal sobre Potter era realmente verdade. Imaginou que aquilo seria o ápice para Ginny jogar tudo para o alto e sumir.
Por fim, suspirou.
- Tudo bem, você está certa. – ele olhou para o lado antes de responder. – Mas você já acabou sabendo de tudo, de qualquer modo. Vamos fazer com que Skeeter acredite que está certa, que seu divórcio foi causado por causa de Potter. Ele supostamente foi apaixonado por você mesmo antes de ter fugido e agora você quer que ele more em sua casa até conseguir uma casa temporária. Daniel assinou os papéis do divórcio sob a Maldição Imperius. Sarah e Malfoy vão ajudá-la no esquema de proteção, e conseqüentemente também Hermione. Por enquanto, é tudo que tenho para lhe contar. Mais alguma coisa?
- Sim. – ela retrucou suavemente. – Reze para que eu consiga manter a calma.
Ele soltou um sorriso fraco.
- Agora na saída, saiam em silêncio. Não respondam nada para os jornalistas, saia de cabeça baixa. Vamos cuidar para que saiam em segurança.
Ela notou o uso do “nós” e ergueu uma sobrancelha. Michael apressou-se ao explicar:
- Eu, Sarah, Hermione e Malfoy. Já está tudo acertado entre eles, e você vai continuar trabalhando normalmente, e Potter a acompanhará. Dei uma suposta dica aos jornais de que ele entraria em breve para o DICAT.
- Não acho que ele vá aceitar ficar sentado como um cãozinho obediente enquanto trabalho.
Michael sorriu.
- Oh, não. Ele vai trabalhar, também. Por enquanto, na parte estratégica e dando dicas do que sabe para capturarmos o resto dos Comensais.
Ginny suspirou.
- Bem, estou pronta. Que o show comece.
Se Ginny não soubesse que Harry estava debilitado – no caso mágico -, ela sinceramente acreditaria que ele estaria totalmente recuperado. O andar seguro, o queixo erguido e a áurea que ele transmitia simplesmente passavam essa imagem. A imagem de um homem inatingível.
Agora, Michael passava as mesmas precauções para Harry que antes passara para Ginny.
- Não é como se eu quisesse bater um papinho amigável com os jornalistas. – Harry comentou com sarcasmo, encolhendo os ombros. Quando eles chegaram ao saguão de entrada do Hospital, Sarah e Draco Malfoy vieram ao seu encontro. Atrás deles, Hermione, parecendo desgostosa com a presença de Malfoy.
Harry e Draco Malfoy imediatamente se encaram, e Ginny imaginou que os dois fossem armar uma briga. Para sua surpresa, os dois homens apenas acenaram um para o outro, num cumprimento pouco hostil.
É claro, ela pensou. Harry seguiu todos os passos dos Comensais, é obvio que soubesse que Draco era um Auror. Xingou-se mentalmente por sua demora para chegar nessa conclusão.
Sarah, por sua vez, parecia surpresa com Harry. Quando ele lhe deu as costas para conversar com Michael, Sarah fez uma imitação exagerada de surpresa para Ginny e fingiu assoviar, erguendo o polegar para ela. Ginny quase riu, e Malfoy a observou com desprezo ante àquela situação.
- Bem, estamos prontos. – disse Malfoy, cruzando os braços e olhando para Michael, que assentiu.
- Então vamos.
Imediatamente a comitiva se colocou ao redor de Harry e Ginny, como se tivesse sido ensaiados para tal. Ela se sentiu estranha naquela situação de proteção, uma vez que arriscava sua vida com uma facilidade que chegava a ser ridícula, e com freqüência. Sarah olhou para Harry e Ginny e piscou, antes de dizer com a voz carregava de deboche:
- Mike precisa aprender a apresentar as pessoas.
Ginny sorriu e Harry pareceu ter gostado do comentário dela, mas foram interrompidos por Michael, que respondeu:
- Teremos tempo para isso mais tarde. Há uma chave do Portal nos esperando, nas mãos de Connor.
- David Connor? – Sarah perguntou incrédula. – Mas que ótimo.
- Qual é o problema? – Malfoy perguntou, posicionado logo atrás de Sarah.
- É um antigo caso mal resolvido de Sarah. – Ginny respondeu por ela. Malfoy sorriu sarcástico.
- Existem loucos que a querem?
- Não pode chamar de loucos os que conseguem algo que você nunca vai conseguir Malfoy, isso acaba deixando evidente sua inveja. – Sarah retrucou com desdém. Ginny notou que Harry sorrira com aquela resposta.
- Fiquem quietos. – Michael respondeu exasperado. – É hora do show.
Ele abriu a porta principal do Hospital e imediatamente Ginny sentiu-se cegada pelo número de flashs que vinham em sua direção. Piscou aborrecida, tentando enxergar e manter-se forte. Sua primeira vontade foi xingar os infelizes, obrigando-os a desligar suas câmeras.
Sentiu-se repentinamente arrastada por algum dos companheiros que a rodeavam, e, quando pensou que fosse cair no chão e ser pisoteada por algum deles, sentiu um braço rodear sua cintura e apertá-la de uma forma gentil, e até mesmo carinhosa, e começou a conduzi-la até o local em que se encontrava a Chave do Portal.
- Eu guio você até lá. – a voz rouca e decidida de Harry preencheu seus ouvidos, e ela sentiu-se estremecer ao escutá-la tão ridiculamente próxima, o suficiente para que a respiração tranqüila dele batesse contra sua orelha.
Aquele gesto obviamente atraiu mais a atenção dos repórteres, porque a saraivada de flashs aumentou. Escutou um barulho surdo e a voz de Sarah sobressair-se à chuva de perguntas e de pessoas que tentavam tirar os outros Aurores para atingir Harry e Ginny:
- Quem quer ser o próximo? Afastem-se antes que eu crie furúnculos na cara de alguém!
Não demorou muito para que eles parassem. Ginny já era capaz de enxergar o suficiente para avistar os cabelos castanhos e bagunçados graças ao vento de David Connor. As íris profundamente azuis, mas num tom diferente dos de Sarah, estavam dirigidas para a mesma.
- Já está tudo pronto? – Michael perguntou à Connor, que assentiu, sem tirar os olhos da Auror, que parecia fazer de tudo para evitar encará-lo.
- Sim, está. Por favor, todos coloquem a mão na Chave.
A Chave do Portal era uma garrafa vazia e velha de vinho. Connor estendeu para que todos a pegassem, ainda olhando para Sarah. Ginny se surpreendeu quando Draco Malfoy enlaçou Sarah pela cintura e lançou um olhar de desafio para Connor.
Sarah pareceu tão surpresa quanto Ginny, mas tudo o que Draco lhe fizera fora presenteá-la com um irresistível sorriso malicioso, e sussurrar algo em seu ouvido, que fez a morena ficar corada, mas não de uma maneira positiva. Àquela altura, Connor desviara o olhar.
- Três... Dois... Um!
O barulho infernal de jornalistas gritando suas perguntas pareceu sumir, e Ginny sentiu o habitual puxão pelo umbigo, os transportando em velocidade descontrolada até seus pés tocassem o chão.
Quando abriu os olhos, fora presenteada com a visão de sua casa.
- Lar, doce lar. – ela murmurou com sarcasmo e Harry sorriu para ela. Ginny percebeu que ele ainda a segurava. – Bem, obrigada por ter me guiado. – disse num tom obviamente defensivo. Tudo o que Harry fizera fora abrir um sorriso ainda maior.
Hermione já abria a porta da casa de Ginny sem sua permissão, e Connor havia aparatado para o DICAT. Michael seguiu Hermione, enquanto Sarah se afastava de Malfoy o máximo que podia.
- Hermione foi revistar a casa para ver se estava OK para vocês. – Ela explicou ao ver o olhar revoltado na parceira. Voltou-se então para Harry. – Acho que agora podemos nos apresentar corretamente. – Ela estendeu a mão e o presenteou com um sorriso. – Sarah Madison, parceira da sua namorada. – ela piscou para Harry, que sorriu, enquanto Ginny a fuzilava com o olhar.
Ele apertou a mão da Auror com um divertido pelo estresse de Ginny. Sarah não pareceu se importar de deixar a amiga em maus lençóis, mas seu humor foi destruído assim que Malfoy apareceu ao lado deles.
- Bom, a operação foi um sucesso. – ele comentou sarcástico. – Chegaram até mesmo prestar mais atenção em mim do que em Potter.
- Claro, já vejo até nas manchetes de amanhã: “Comensal renegado e desaparecido como Auror protegendo Potter”. – Sarah cruzou os braços e ergueu uma sobrancelha em sua direção, desdenhosa.
- Isso é uma bela forma de agradecer o fato de ter te livrado de seus rolos, querida? – ele balançou a cabeça e um sorriso malicioso cortou seus lábios. – Bem, não estou surpreso. Não esperaria nada mais sofisticado vindo de -.
- HERMIONE, JÁ REVISTOU TUDO? – Sarah perguntou aos berros, obviamente na tentativa de ignorá-lo. Dando às costas a Malfoy, Harry e Ginny, ela rumou como um soldado em direção a casa da amiga. Ginny viu o sorriso de Malfoy a acompanhando, assim como o olhar de predador. Em silêncio, a seguiu.
Ginny se soltou de Harry e o encarou nos olhos.
- Bem, espero que se sinta à vontade em casa. – ela disse enquanto ambos caminhavam seguindo o resto do grupo.
Ela não percebeu o olhar nem o sorriso que Harry lhe direcionou.
- Pode apostar que irei.
Continua...
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