Veraneio



Veraneio


Era um dia quente de verão, daqueles que te fazem sentir como uma espécie de líquido ambulante que fica escorrendo. Um saco.

Ron odiava aquele calor, porque mesmo uma simples partida de quadribol se tornava algo árduo. E não ventava. Porcaria, custava ventar? Fechou os olhos e imaginou que uma brisa morna percorria seu rosto, afastava o suor e levantava levemente seus cabelos. Mas o que recebeu na verdade foi uma baforada que raspou de leve seu rosto quando Harry se sentou ao lado dele de baixo da árvore.

“Tá quente.” disse de forma ranzinza, bufando novamente enquanto cruzava as pernas.

“Parece que não importa para onde fujamos, essa bosta de calor não dá descanso.” respondeu igualmente mal humorado. Olhou para o céu pensando ainda naquela brisa que cairia tão bem.

“Como eu queria uma cerveja amanteigada...” a voz de Harry soou quase triste, suspirante.

“Acabaram todas não é?”

“Sim, desde ontem.” afastou os cabelos bagunçados da testa molhada, deixou exposta a cicatriz em forma de raio.

“Sabe o que cai bem com um tempo desses...?”

“Chuva?” perguntou Harry tolamente.

“Não.” e antes de responder Ron olhou de esguelha para Harry, um sorrisinho maroto se formando em seus lábios. “Sexo, meu caro.”

“O quê? Eu com você?” perguntou Harry levemente surpreso com o olhar aparentemente predador que viu no rosto de Ron, que escorregou de seu encosto no tronco da árvore e caiu direto com a cabeça na grama.

“Eu estava falando de mim e da Mione e de você e da.... da.... na verdade, estava falando mais de mim mesmo.” respondeu zangado voltando a se sentar enquanto limpava a grama dos cabelo molhados de suor.

Harry riu.

“Sei lá, da forma como você falou, por um momento pareceu quase como um convite.” as pontas das orelhas de Ron ficaram vermelhas, ele murmurou algo ininteligível que soou como 'Mas que idéia!' ou 'Como se eu fosse fazer um convite desses...'.

Voltaram a ficar lado a lado, em silêncio, cada um perdido em seus pensamentos.

Ron voltou a pensar na brisa. Na doce e maravilhosa brisa que poderia soprar a qualquer instante. Ele quase sentia, uma hora ela teria de soprar e, quando soprasse, estaria pronto. Receberia-a diretamente no rosto, deixaria arrepiar seus cabelos e por fim sorriria em uma espécie d...

“Já pensou como seria experimentar com outro cara?” perguntou Harry despertando o amigo de seu maravilhoso torpor veraneio.

“Experimentar o quê?” perguntou Ron ainda confuso, perdido que estava nas conjecturas sobre a brisa.

“Experimentar.... experimentar o.... o mesmo que eu experimento com a Ginny e você com a Mione.”

“Ein?” perguntou encarando novamente o amigo.

“Eu só estou, estou apenas... supondo.” disse Harry tentado parecer indiferente. Ron podia ser um pouco desligado, mas viu claramente o amigo corar, ele não era idiota. Supondo, sei...

“E por que você está supondo esse tipo de coisa?” perguntou desconfiado. Realmente, o verão não fazia bem às pessoas.

“Sei lá.” deu de ombros, pareceu tentar esquecer o assunto.

E Ron ficou muito feliz com isso. Tanto que voltou a se recostar na árvore e a observar o céu. Maldito sol, não havia nem uma mísera nuvem para tampá-lo um pouco.

“Mas assim... você realmente nunca pensou em experimentar?”

Dessa vez Ron de fato se sentou ereto, não poderia relaxar enquanto seu melhor amigo ficasse puxando tal tipo de assunto.

“Caramba Harry. Não! Eu nunca pensei, qual o problema? Você está com um surto de personalidade e agora quer me dar uns amaços ou algo do tipo?” perguntou enfezado. “Eu não sou a Ginny para você ficar querendo agarrar por aí, nós dois só temos a mesma cor de cabelo, entendeu?”

Harry riu novamente. Uma daquelas gargalhadas leves e soltas, que se tornaram tão comuns depois que a batalha final havia acontecido.

“Você é muito feio para ser a Ginny.” disse ainda entre os risos.

“Que bom que você acha isso.” respondeu Ron com um resmungo.

“Mas é que você falou sobre sexo, e eu me lembrei disso.”

“Disso o quê?”

“De nunca ter experimentado muitas coisas desse gênero até hoje.”

“Sexo?”

“Sexo com homens, Ron. Pelo amor de Deus, você está mais lerdo que o normal hoje!”

“Você é que está puxando esses assuntos estranhos. Eu não tenho que acompanhar a sua linha de raciocínio desvirtuada.”

“Ah!” suspirou Harry com estafa. “Tá muito quente hoje. E não temos nada para fazer. Saco.” jogou-se na grama desleixadamente, apoiou as mãos atrás da cabeça.

“E por isso você pensou que fosse uma boa sair por aí dando uns amaços em um cara?”

Harry suspirou, parecia cansado.

“É, Ron, foi isso sim.” respondeu com uma voz resignada. Não estava para discussões, discutir no calor era cansativo. Então que Ron pensasse o que quisesse.

“E a Ginny, onde fica nisso? Sempre que você está entediado pensa em sair por aí pegando os outros? Quer dizer, se um dia você estiver entediado no trabalho vai pensar em beijar a McKinggon ou então o Ministro Shacklebolt, ou ainda, vai estar andado na rua e dar uma parada ali para agarrar uma menina que apareceu na sua frente só porque você estava sem nada para faz....”

“Ron... Ron!” exclamou Harry tentando acalmar o amigo que falava rápido e de forma exaltada. “Eu não estava falando de qualquer um, estava falando de você! E foi só uma suposição, um momento, um estalo. Caramba, não precisa dar um ataque. Se não quer beijar, não beija, pronto.”

“Você continua falando nessas estranhezas!” exclamou Ron acusadoramente.

“Merda Ron!” disse Harry já perdendo a paciência.

Passaram-se um ou dois minutos de silêncio, Harry continuou estirado na grama, mau humorado. Ron o observava desconfiado, ainda sentado meio reto, no rosto uma expressão entre o sério e o pensativo.

“Se é para o bem da minha irmã e para fazer você parar de pensar em besteiras, então eu aceito te ajudar a experimentar.” disse por fim, e Harry se apoiou nos cotovelos para ver o amigo melhor.

“Quê? Você não está falando sério...” perguntou completamente surpreso e chocado.

“Não é o que você queria? Se for só para experimentar, que seja logo comigo do que chifrando a minha irmã com qualquer um.”

“Que? Eu não.... a Ginny.... você bebeu?” Harry se sentou de uma vez. “Cara, acho que o verão realmente não te faz bem.”

“Anda, vem.” disse Ron inesperadamente segurando Harry pelos ombros, que tentou se soltar, fugir, correr, evitar, qualquer coisa.

Mas será que havia tentado mesmo?

“Eu não gosto disso nem um pouco. Mas se é para passar o tempo no seu tédio, que seja assim. Mas já vou avisando, eu não vou largar a Mione nem me casar com você, nem.... nem..... segurar a sua mão ou....”

“Do que você está falando Ron?!” perguntou Harry com o corpo levemente inclinado para trás, evitando o colega que ainda o segurava pelos ombros.

“Estou falando que é só para experimentar, não é um compromisso ou...”

“Não seja ridículo!” exclamou Harry zangado.

“No três então.”

“Eu não vou....”

“Um...”

“Ron!”

“Dois...”

“Será que você po...”

Harry fechou os olhos com força, tinha medo do que viria com o três.

“Três...” disse por fim numa voz falhosa, engoliu em seco, viu o rosto de Harry contraído e de olhos fechados, no entanto a boca entreaberta, sem aparente resistência.

Primeiro os lábios apenas se encontraram sem jeito. Harry recuou por instinto, mas Ron ainda o segurava pelos ombros. Uma língua incauta molhou os lábios dos dois, e logo encontrou uma companheira. Ofegaram juntos, aproximaram os corpos, uniram mais os lábios, suas línguas realizavam uma dança escorregadia e sincronizada dentro de suas bocas. Harry relaxou os ombros, se deixou levar, correspondeu à altura o beijo. O calor era insuportável, tão quente que o suor, de alguma forma estranha, dava a eles vontade de unirem seus corpos. Completamente sem querer na opinião de Ron, ele se inclinou sobre Harry, que começou a inclinar o corpo para trás em um arco, suas coxas ficando muito próximas. Por algum motivo estranho e desconhecido a mão de Ron desceu até a cintura do companheiro, segurando-o mas próximo. De repente, o calor não pareceu mais tão alarmante assim, e eles não se lembravam que estavam suando horrores há instantes atrás. Apenas e unicamente para ganhar melhor apoio, Harry esticou os braços e segurou Ron pelo pescoço, o beijo se intensificou, o nariz dos dois roçaram levemente, Harry sentiu um frio subindo pela espinha, sua mão enveredou pelo cabelo d...

“Hey, pessoal! Onde vocês estão?”

“Ron?”

Duas vozes femininas vieram de dentro da casa.

Nessas horas podiam se dar conta de como foi idiota dar uma cópia da chave de casa para as namoradas.

Soltaram-se sem nem pensar duas vezes e foram para mais longe do outro que os meros segundos que antecederam a chegada de Ginny e Hermione permitiram.

Quando as duas apareceram na porta que dava para o quintal, eles ainda trocaram um breve olhar cúmplice e assustado.

“Ah, ótima idéia! Aqui embaixo da árvore parece bem melhor.” comentou Hermione enquanto ia dar uma selinho no namorado para cumprimentá-lo.

“Nossa, não agüento mais esse calor!” disse Ginny jogando-se ao lado de Harry, que pigarreou sem jeito e tentou sorrir descontraído.

Ok, o beijo não havia sido tão bom assim, ambos haviam de concordar. Foi interessante, mas não gostoso, nem algo inesquecível ou delirante. O calor do verão os subira à cabeça, só isso. Poderiam até confessar que tiveram algum início de excitação, mas nada de mais, não algo que valesse todos os riscos que correriam. Experimentaram, e Ron imaginou que Harry ficara tão satisfeito como ele e sua curiosidade veraneia.

Mas, a bem da verdade, naquela noite, enquanto beijava Ginny, se perguntava se os lábios de um certo Malfoy não seriam mais macios. A curiosidade de Harry acabava apenas de tomar forma. Esse não é o fim da história, é o início.


N/A: Obg por chegar até aqui, espero que tenha sido do seu agrado, e se ao sair puder deixar um comentário, adorarei ^^


Para ter acesso a continuação, siga este link: http://fanfic.potterish.com/menufic.php?id=26117

Compartilhe!

anúncio

Comentários (0)

Não há comentários. Seja o primeiro!
Você precisa estar logado para comentar. Faça Login.