capítulo único



Os imperdoáveis





“Sangue novo se junta a esta terra
E rapidamente ele é subjugado
Atravessando constante e penante desgraça”




O céu estava escuro, como se nem mesmo ele queria ver a batalha que acontecia naquele lugar. Por todo lado havia corpos, por todo lado havia gritos de fúria, angústia e medo. Feitiços disparavam de todos os lados, alguns errando por centímetros seus alvos, outros os acertando; e havia alguns que erravam completamente e encontravam o corpo de inocentes. Tudo estava um caos. De um lado, a Ordem da Fênix liderada pelo garoto que sobreviveu, Harry Potter, do outro os comensais da morte e seu lorde; além de outras bestas como lobisomens e gigantes que ninguém usaria numa luta justa. Mas esta não era uma luta justa. Draco Malfoy sabia disto desde o início...

“O jovem garoto aprende suas regras...”

Flashback

Era um dos verões mais quentes que a pequena vila já havia suportado. Crianças brincavam em pequenas piscinas improvisadas de bacias. A pequena sorveteria nunca lucrou tanto. Apenas um garoto loiro que mantinha o rosto imprensado contra o vidro de uma janela parecia não se divertir. Aparentava ter seis anos, e diferente da maioria dos garotos de sua idade, não tinha aquela alegria de viver estampada no olhar. Não, seus olhos eram cinza e frios. Naquele momento aparentavam um pouco de inveja pelas crianças que se divertiam ao longe, longe da mansão dos Malfoy, que para os trouxas era amaldiçoada. Assim como seus habitantes, havia um homem alto e loiro que tinha olhos cinza como os do filho, mas os dele aparentavam apenas extrema crueldade. Havia também a mãe do garoto que parecia permanentemente doente e pálida. E, por fim, aquele garoto, o jovem Malfoy. Draco pensava de como a vida havia sido injusta com ele. Tinham dinheiro de sobra, mas ele se sentia tão só. Seu pai lhe daria mais uma das dolorosas surras se ele lhe falasse aquilo, mas Draco muitas vezes não queria ter nascido bruxo. Queria ser um garoto trouxa,brincar com aquelas crianças sem temer a reprovação dos pais. Deu um leve suspiro e se virou quando ouviu passos atrás de si. Era sua mãe, Narcisa.

-Olá meu querido, por que estás tão triste?-ela parecia tão frágil. Parecia que qualquer ação poderia quebrá-la ao meio. E ainda assim, sempre fora bondosa com ele.

-Eu queria estar lá fora, brincando também, mamãe. -devolveu seu filho, com um suspiro de frustração. Ela sorriu e colocou sua mão delicada em seu ombro.

-Você sabe que seu pai não iria gostar Draco.
-Eu sei, mas, ele não está aqui, está? Ele nunca iria saber se você não contasse. Por favor, mãe, apenas hoje. - ele sabia que ela deixaria se ele insistisse um pouco.Ela deu um pequeno sorriso e depois falou, cansada:

-Acho que permitirei, está um dia tão lindo lá fora... Se pudesse iria também, mas não posso...

-Por que não?- o garoto já montava uma cena em sua cabeça na qual ele e sua mãe faziam um divertido piquenique.

-Seu pai não iria gostar. -disse ela, com simplicidade. E acrescentou - agora, vá logo, antes que algum criado veja.

Draco não esperou das vezes, correu para fora da casa, para um bosque que havia na imensa propriedade. Adorava aquele lugar, sempre que conseguia escapulir de seu pai, ele iria para perto de um pequeno riacho que corria pelas árvores enormes. E era para lá que ele estava indo agora. Enquanto se aproximava do lugar, do seu lugar, a tranqüilidade se apossou dele, ele fechou os olhos durante um momento, podia ouvir os pássaros, o farfalhar das folhas, e os distantes gritos das crianças da vila. Quando reabriu os olhos, a supresa o invadiu. Na beira do riacho, estava uma garotinha, de seus cinco anos talvez, ela estava com um galho nas mãos e brincava com ele na água. Seus cabelos eram castanhos e longos, de modo que ela precisava colocá-lo sempre atrás das orelhas para não incomodá-la. Draco ficou ali, observando durante algum tempo, depois deu um largo passo a frente e gritou:

-Quem é você e o que está fazendo no meu riacho?- a garota nem se moveu para ver quem havia chegado de forma tão rude. Apenas falou em voz baixa:

-Eu sou Teresa Cooper, e você deve ser aquele garoto estranho, o Malfoy. Não haviam me dito que o riacho tinha dono.- sua voz era calma e baixa, demonstrava muita maturidade mesmo com a pouca idade da garota.Draco ficou assustado com a reação dela e chegou mais perto. Esperou ela falar algo, mas ela ficou sem silêncio. Depois de alguns minutos, Draco se sentou ao seu lado e ficou a observando mexendo com o galho no riacho. Enfim, ela falou:

-Acho que não teria problemas em colocar os pés nessas águas. -e com estas palavras, levantou seu vestido azul e mergulhou as pernas na água, refrescando-se. Draco fez o mesmo e instantes depois ela perguntou:

-É verdade que a sua mansão é amaldiçoada?- Draco levantou uma sobrancelha de modo inquisidor.

-Não, é isso que vocês trouxas pensam?- Teresa não se mostrou ofendida.

-Trouxas? Não entendi.

-Trouxa é quem não é bruxo. - explicou Draco de modo simples e claro. Podia jurar ter ouvido galhos se quebrarem atrás deles, mas se virou e não viu nada.

-Bruxo? Você quer dizer que você faz bruxarias?-ela estava curiosa.
-Por enquanto não, mas quando completar onze anos irei para a Escola de Magia e Bruxaria de Hogwats e aprenderei muita coisa lá.- Para sua supresa, Teresa ficou triste e o mirou com seus olhos verdes.

-Quer dizer que crianças bruxas vão para essa tal escola? Eles aceitam trouxas lá também?- Draco ficou sem ação, sua família odiava trouxas com todas as forças, seu pai iria acabar com ele caso ele descobrisse que seu filho de sangue puro havia se encontrado com uma trouxa. Mas aquela garota era diferente, parecia tão calma e dócil. Draco não pôde deixar de sorrir com aqueles olhos apreensivos nos seus.

-Eles aceitam trouxas lá também. - Teresa deu um sorriso.

-Você falaria de mim lá? Talvez eles me aceitassem se você falasse com eles.-Draco sorriu.Ele gostava dela.

-Sim, eu falarei de você, pode ter certeza Teresa. -novamente ele tinha a sensação de ser vigiado e olho para trás, novamente nada. Ele ficou nervoso e se levantou repentinamente.

-Eu, eu tenho que ir, meu pai não gosta que eu saia muito de casa, adeus Teresa.- ela o mirou com seus olhos grandes.

-Adeus... Qual seu nome?

-Draco. - ela se levantou também e deu um abraço nele.

-Prazer em conhecê-lo Draco. Podemos nos encontrar mais vezes aqui, o que acha?- o coração de Draco pulava de alegria, mas sua razão o chamou de volta ao mundo real. Deu um sorriso triste e falou:

-Nos encontraremos assim que der. Agora preciso ir. - e então ele foi embora correndo e ela assumiu sua posição inicial, sentada na beira do riacho como se nada tivesse acontecido. Draco estava feliz, finalmente encontrara uma amiga depois de tanto tempo só.

Sua alegria durou pouco. Quando entrou novamente na mansão Malfoy, ouviu gritos no porão. Um aperto se apossou de seu coração quando reconheceu a voz, era sua mãe. Ele correu o mais rápido que pôde até o porão velho, imundo e cheio de fungos. Quando entrou pela porta escancarada, encontrou sua mãe se contorcendo de dor no chão e seu pai com um sorriso maníaco nos lábios com a varinha apontada diretamente para ela. Uma raiva incontrolável subiu a sua cabeça. O pequeno garoto gritou a plenos pulmões.

-PARE! PARE DE MACHUCÁ-LA!- Lucius parou por um tempo, deixando Narcisa gemendo de dor e chorando no chão podre.

-Ora, se não é meu querido filho que anda se encontrando com trouxas por aí!- o coração de Draco parou; como ele sabia? Era por isso que sua mãe estava sendo punida?
Por ter o deixado sair de casa? Uma enorme culpa tomou conta dele. Baixou a cabeça já esperando que logo, logo, seria ele o punido. Lucius sorriu, o sorriso mais cruel possível:

-E é burro ainda por cima! Como não percebestes que havia um inútil de um elfo doméstico o espionando?!- Draco olhou para os lados, lá estava Dobby, o elfo doméstico em um canto do porão, o encarando com seus grandes olhos que estavam cheios de lágrimas. Se Draco pudesse, o havia matado naquele momento. Continuou em silêncio, esperando sua sentença. Seu pai parecia percebe-lo e deu uma sonora gargalhada:

-Achas que vou puni-lo? Não, já me cansei de bater em você, de sujar minhas mãos em você! Desta vez, creio que aprenderás a lição, Draco. - E com um grito de terror Draco viu seu pai levantar sua manga da blusa e exibir sua marca negra, a tocou com a varinha e falou lentamente e perigosamente:

-Pode vir Fenrir. - Não precisavam esperar muito, cinco minutos depois um homem enorme, feroz e peludo entrou pela porta, com um sorriso maníaco nos lábios.

-Tens uma vítima para mim Lucius?- Com um último olhar cruel para Draco, Lucius falou:

-Sim, creio que seja uma garota, uma garota trouxa, de seus cinco anos. Procure a e a mate, ou faça qualquer coisa antes, mas a mate. - o choro de horror de Draco nunca caiu de seus olhos, tamanho seu medo por Teresa. Fenrir Grayback deu uma sonora gargalhada.

-Bom gosto mais de garotas mesmo, quanto mais nova melhor. Mas me diga qual o seu nome senhor?- Lucio olhou para Dobby que já chorava descontroladamente.

-Qual o nome dela, elfo?- Draco olhou mais uma vez para Dobby e viu o medo estampado em seus olhos do tamanho de bolas de tênis.

-Teresa senhor, Teresa Cooper. -com um último sorriso Lucius disse.

-Muito bem elfo, podes ir. - com um sonoro “cracke” Dobby aparatou com um último gemido de lamento. Draco sabia que nunca iria conseguir odiar alguém mais, exceto talvez, seu pai. Este se virou para Grayback.

- Creio que já podes ir. A encontrará na beira de um riacho que existe no bosque. - Fenrir assentiu e deu um uivo sinistro antes de sair correndo meio de duas pernas, meio de quatro patas. Apenas agora Draco se deu conta da dimensão daquilo que se passava, Fenrir Grayback, um lobisomem, iria matar Teresa, Teresa, aquela garota tão dócil que ele conhecera apenas naquela tarde. Uma lágrima solitária caiu de seus olhos cinza. Correu para amparar a mãe que a esta altura tentava levantar. Lucius se virou uma última vez para Draco:

-Isto é para você aprender Draco, trouxas não servem para nada a não ser, para serem odiados por nós, entendeu?- Draco não respondeu, baixou a cabeça e mais uma lágrima caia de seus olhos. Seu pai lhe deu uma sonora tapa. Com a força ele se desequilibrou e quase caiu no chão. Seus olhos se encheram de lágrimas, desta vez de puro ódio.

-Entendeu?-perguntou Lucius como se ensinasse seu filho de que um mais um é igual a dois.
-S-sim.- Gaguejou Draco com todo ódio que ele conseguia colocar em suas palavras.

-Ótimo.- e com um ultimo sorriso irônico, saiu dali. O deixando sozinho com sua mãe, e sua dor.

Fim do flashback

Ninguém nunca mais ouviu falar de Teresa Cooper, alguns acreditavam que ela havia se perdido no bosque e por isso não retornara. Fizeram buscas e mais buscas, sua família estava desesperada, mas a única coisa que encontraram foi um pedaço do vestido que ela usava. Draco por sua vez, nunca mais voltou à beira do riacho, pois sabia que fora lá que a pequena Teresa encontrara sua morte. Na lembrança dele apenas ficou aquilo que seu pai falara, e ele passara a odiar todos os trouxas que ele encontrara daquele dia em diante; para tentar protege-los da fúria de seu pai, e também, para proteger a ele mesmo.

“Com o tempo a criança é enganada
Este rapaz subjugado fez errado”

Draco se desviava de um feitiço lançado por um dos membros da Ordem da Fênix, e o estuporou. Não queria matar ninguém nesta batalha. Pelo menos ninguém daquele lado do campo. Esquivou-se para o lado quando viu uma massa peluda passar por ele e se jogar por cima daquele que ele estuporara antes. Uma onda de fúria percorreu Draco e sem pensar duas vezes, ele invocou um arco e uma flecha de prata, mirou e com um sorriso nos lábios finos disparou. A massa peluda imediatamente ficou imóvel e tombou para o lado, com um empurrão a pessoa que estava abaixo dela se mexeu e mostrou sua identidade. Com o desgosto maior do mundo Draco percebera que acabara de salvar a vida de ninguém menos que Harry Potter, este o mirava com o mesmo interesse depois de alguns segundos, deu um aceno positivo para Draco e saiu correndo novamente pelo campo de batalha, se afastando dele. Deixando Draco sozinho com a pessoa ou o que quer que seja que ele havia acabado de matar. Com curiosidade, ele virou o corpo. Quando viu quem era, ele deu um sorriso de triunfo. Havia tirado a vida de Fenrir Grayback. Havia matado aquele que assassinara sua amiga, talvez sua única amiga. Não fez muito caso dessa morte, afinal Fenrir era imperdoável e isso tornava extremamente prazerosa a sensação de ter acabado com a vida que tirara tantas outras. Mas naquele momento novas lembranças se apossavam dele, lembranças de uma noite escura e sombria, como esta estava sendo, mas aquela noite ocorrera há muito tempo atrás.

Flashback

- Você dorme com trouxas! Achas que não percebo? Achas que sou estúpido por acaso?- o jovem loiro gritava a plenos pulmões na bem mobiliada sala de estar. Uma sonora tapa no rosto o fez cambalear, mas ele se recompôs e mirou o homem alto e também loiro á sua frente.

-Cale-se seu miserável! Eu juro que acabo com você se falar isso novamente!-Lucius estava lívido. Draco apenas deu um riso desdenhoso:

-É engraçado não é?! Fala tanto dos trouxas, de como eles não prestam, condena os bruxos que se juntam a eles, mas da realidade gosta delas, não é?- Lucius não fora tão equilibrado desta vez, acertou seu filho com uma bengala de prata que segurava, a batida abriu um corte na bochecha do jovem, mas ele não pareceu se importar.

-E ainda tem coragem de falar de mim, que apenas saiu algumas vezes com uma trouxa, o que foi pai? Gostou dela?- Draco sabia que seu pai estava descontrolado, mas ele, no auge de seus 15 anos não deixaria que ele se intrometesse em coisas que não lhe dizem a respeito. E através de suas palavras ofensivas, vieram também toda a mágoa que ele nutria pelo pai, o tanto sofrimento que ele fazia sua mãe passar.

-Crucio!- a resposta veio de imediato e de forma dolorosa para Draco. A dor se apossara de todo seu corpo, parecia que estava em chamas, mas ele não gritou, muito menos gemeu feito um daqueles comensais fracos. Não, Draco Malfoy ficou em silêncio enquanto a maldição se tornava cada vez mais fraca, e a dor, mais suportável até cessar completamente. Abriu os olhos novamente, seu pai já não estava mais lá, os fechou e fleches de sua mãe chorando em seus braços vieram imediatamente substituindo a fúria por compaixão.

Fim de flashback

Uma cabeleira loira o fez voltar á realidade, seu pai estava a poucos metros, torturando um membro da Ordem da Fênix e dando sonoras gargalhadas. Draco imediatamente murmurou um contra feitiço e Lucius se voltou rapidamente até que seus olhos se encontraram. Os olhos de Draco brilhavam com uma decisão selvagem, os do mais velho, mostravam apenas repugnância e sim, certo medo. Draco deu um passo á frente, a fim de iniciar um duelo, mas Lucius se refugiou na multidão e Draco o perdeu.
Mas isso também não importava, pois, aquela altura, ele ouviu uma voz. A única voz que o faria parar de se comportar como um fraco, a única voz que o confortava quando ele queria tomar suas próprias decisões, mas não podia por causa do seu pai, ou ás vezes, por causa do próprio Voldemort. O cabelo do loiro voava ao vento quando ele se virou bruscamente na direção da voz, e o que viu, causou nele a mesma sensação de estar levando um soco no estômago.

Flashback

Aquela tinha sido mais uma daquelas noites insuportáveis como monitor, ás vezes, Draco não queria exercer tal função, mesmo que ela lhe dava todo aquele prestígio que ele tanto gostava. Depois de tirar 30 pontos de duas garotinhas da Lufa-Lufa por quase o atropelarem com a pressa de chegar ao dormitório (ele não estava lá muito bem humorado naquela noite) e passar uma detenção para outras três garotas da Corvinal; (ele não suportava aqueles risinhos sem graça quando ele passava) afinal, ele era irresistível e não precisava de tal afirmação mil vezes ao dia, ele chegou a um dos corredores que estavam desertos.
Pelo menos deveriam estar deserto, pois de fato não estava,uma jovem de seus 14 anos estava encostada em uma das armaduras velhas e chorava de um modo que Draco nunca vira alguém chorar. Seus ombros tremiam de modo descontrolado. Seu longo cabelo cobria seu rosto e era iluminado pelo luar. Draco chegou perto, receoso, odiava ver pessoas chorando, o lembrava imediatamente no sofrimento de sua mãe. Os seus passos pareciam alarmar a jovem, pois ela levantou seu rosto e no momento seguinte dois olhos vermelhos, outrora castanhos o miraram com tanta tristeza que o ar escapou dos pulmões de Draco. A única coisa que ele conseguiu foi:

-Wealsey?!- a ruiva assentiu e sussurrou:

-Draco? Não é mais possível ter um momento de sossego nessa droga de castelo?!- Draco deu um meio sorriso.

-Calma lá que eu sou monitor e tenho permissão para controlar os corredores, e o estranho Wealsey, é que eu não sabia que você tinha sido escolhida como monitora também.- ela deu um pequeno sorriso:

-De fato, não sou- ela começou a se levantar e concluiu- desculpe por importunar a sua noite- parando na frente de Draco, fez uma reverência - sua majestade.- Com estas palavras ela se virou e começou a se afastar.

-Hey! Espere! Não dei permissão para você sair!-ela parou de andar, mas não se virou. -volte Wealsey ou terá de pagar com uma detenção!- agora sim a ruiva se virou, mas quando olhou para Draco seus olhos já estavam cheios de lágrimas novamente.

-Draco, por favor, sem detenção... Meus pais... Se é que meu pai sobreviver a esta noite, não vão gostar. - A curiosidade se apossou de Draco e ele se aproximou da ruiva que com sua aproximação lhe virou novamente as costas, ele sabia que ela queria que ele não a visse chorar. A dois metros de distância, ele perguntou:

-Por que seu pai não sobreviveria a esta noite?

-Porque ele foi atacado. Você, com os amiguinhos que tem, já deveria saber disso. Enfim, ele está muito mal e- a voz dela tremeu- e é isso. -suas costas começaram a tremer, um sinal de que ela teria outro acesso de choro. Draco se aproximou e queria colocar sua mão nos ombros da garota, mas parou, centímetros de distância, avaliando a situação. Se decidindo, pousou sua mão nos ombros delicados e murmurou:

-Eu sei como é ver alguém do qual se gosta muito sofrer Gina. - a garota deu um suspiro, se virou para encarar Draco e depois fez a ultima coisa que Draco poderia imaginar, ela o abraçou. E Draco reagiu de modo totalmente supreso, ele gostou daquele abraço, ele gostara do cheiro que aqueles cabelos de fogo emanavam em suas narinas. Apenas depois de um longo tempo eles se separaram. Draco limpou as lágrimas de Gina com seus dedos e sorriu:

-Você não é tão diferente de mim como eu pensava Weasley.

Fim do flashback

A ruiva se contorcia de dor a poucos metros dele, acima, estava Bellatriz Lestrange com a varinha erguida e lançando a cada momento uma nova maldição imperdoável que causava extrema dor e que ele havia sentido tantas vezes antes. Draco se aproximou e lançou um feitiço que deixou Bella momentaneamente paralisada. Aproximou-se de Gina e se ajoelhou ao seu lado. A ruiva parecia perceber que ele estava lá, e forçou um pequeno sorriso. Estava coberta de arranhões e logo abaixo de seu seio direito um corte profundo manchava sua roupa de vermelho escuro. Draco acariciou sua face e Gina fechou os olhos e sorriu para o toque. Ela parecia um anjo caído. O loiro a puxou para mais perto de si e falou em seu ouvido:

-Gina, eu preciso tirar você daqui... Você precisa de ajuda e...

-Não há mais tempo Draco... Você sabe disso. -as palavras pareciam causar enorme dor na ruiva, ela respirava com dificuldade. Levantou uma das mãos, e trêmula, a pousou no rosto do loiro. Era o que bastava, Draco sentiu lágrimas quentes inundarem seu rosto. E um medo crescente se formou dentro dele, iria perder a pessoa que mais amava. E não poderia fazer nada, ou podia?

-Gina, por favor, não me obrigue a ver você morrer sem poder fazer nada para impedir. -Gina deu um sorriso pequeno, ela estava pálida e fria. Pérolas de suor banhavam seu rosto agora.

-Você já o fez Draco, está comigo agora. Eu não sinto mais medo. - Um tremor percorreu seu corpo, e depois ele ficou imóvel. Os olhos castanhos de Gina estavam vidrados e uma última lágrima escapou deles antes de perderem a vida. Draco se desesperou, sacudiu de leve o corpo da ruiva, e vendo que não ia adiantar, o tomou nos braços e aproximou sua testa da dela. Lágrimas não paravam de cair de seus olhos cinza para o rosto da ruiva, sua voz saiu embaçada e desesperada:

-Não, não Gina, por favor... Eu... eu te amo.- ficou ali, a segurando desesperadamente, tentando em vão fazer com que voltasse a vida, seus olhos estavam inchados e vermelhos. Uma risada insana cortou o ar. Draco se levantou lentamente e mirou o rosto de Bellatriz Lestrange. Um segundo depois ela estava experimentando a sensação de ser cortada em mil pedaços pela maldição “cruciatus”. Uma pena pensava Draco, ela não era tão resistente e forte quanto Gina fora e apenas um minuto depois, estava morta. Draco sorriu sem demonstrar felicidade e voltou para o corpo da ruiva, ela parecia estar dormindo serenamente. Draco se abaixou, beijou a face gélida e deu adeus. Seu coração parecia se partir quando se afastou dela. Agora não restava mais ninguém. Era impressionante como as pessoas que ele amava morriam repentinamente. A última antes de Gina fora sua mãe. Lembrava-se como hoje de sua agonia.

Flashback

Draco nunca havia visto os comensais mais inquietos do que estavam naquela noite. Ansiosos eles formavam uma roda e no centro estava ele. Estava nervoso, mas sabia que havia feito a coisa certa. Só não sabia se o “certo” dele iria agradar a Voldemort que estava com cara de poucos amigos á sua frente andava de um lado pro outro seus pés batiam no chão empoeirado da velha mansão dos Malfoy, o mais novo esconderijo do lorde. Quando falou, sua voz se parecia como um sibilo mortalmente perigoso:

-Draco, eu já te perguntei inúmeras vezes, mas vou perguntar novamente, com quem está sua lealdade?- “mau começo” pensou Draco e se apressou a responder o óbvio:

-Com o senhor, meu lorde. - o rosto de Voldemort se contorceu de raiva.

-Então, devo entender que não gosta das missões que eu lhe peço para fazer.

-Não é isso, meu lorde. - Voldemort o olhou com curiosidade, e Nagini se aproximou lentamente e se posicionou ao seu lado, pronta para atacar se ele mandasse.

-Então posso perguntar, por que você não matou a Weasley como eu mandei?! Entende Draco, nunca conseguiremos enfraquecer Harry sem matá-la. - Um temor subiu por Draco e ele não olhou nos olhos de Voldemort quando respondeu:

-Tinha gente demais lá, se eu a matasse, seria descoberto. - O lorde das trevas parecia poder enxergar a mentira em seus olhos. Apenas acenou para um dos comensais e que se retirou:

-Sabe Draco, você é um bom garoto, pena que não seja obediente. É isso é uma pena. Suponho que tenha que ser mais agressivo dessa vez.- Draco já ia se preparando para a maldição que seria jogado sobre ele, mas depois, com um medo crescente ele viu sua mãe sendo trazida pelo comensal que havia saído. Ela estava como sempre magra e pálida, mas era bem tratada por ser dona da mansão, ou pelo menos fora bem tratada até então. Ela parecia estar confusa, mas quando viu Draco sozinho no centro do círculo, correu e ficou de joelhos á frente do Lorde das trevas e beijou sua capa.

-Meu lorde, por favor, não faça nada contra o meu filho... Por favor... -Voldemort pousou sua mão na cabeça de Narcisa. E falou com uma voz calma:

-Ah não Narcisa, não acontecerá nada com ele... Acontecerá com você. - e com estas palavras, Voldemort apontou a varinha para a mãe de Draco que não teve tempo para se proteger, e foi atingida diretamente pelo raio verde. Seu corpo delicado ficou imóvel e tombou com um baque surdo para o lado. Os comensais recuaram assustados, mas logo dois deles agarraram Draco que tentou avançar em Voldemort que apenas gargalhava imensamente. Lágrimas de raiva escorreram dos olhos frios de Draco e ele jurou matar o grande lorde algum dia. Este apenas o mirou com curiosidade:

- Draco, Draco isso é apenas um lembrete para você se lembrar a quem você deve lealdade. - e finalmente, ele lançou a maldição no jovem. Para Draco a dor nauseante que ele sentia, servia para diminuir a dor por ter perdido sua mãe.

Fim do Flashback

Draco percebeu que a quantidade de comensais e lobisomens no campo de batalha diminuía gradativamente. Em pouco tempo só sobrariam os melhores, bloqueou quase entediado um feitiço que a Granger tentara jogar sobre ele e mandou de volta um feitiço de pernas bambas que ela, sem maiores problemas bloqueou também, mas ela estava confusa, em seus olhos Draco podia ver a luz de uma revelação. Ela finalmente percebera que ele estava do lado deles, dos bons. Mas isso não importava mais, enquanto ouvia Hermione gritar para os outros aurores que não era necessário atingi-lo, ele tomou uma decisão. Iria se juntar a Gina, mas antes, havia algo para ser feito. Não demorou muito tempo até ele encontrar o que procurava.
Harry e Voldemort lutavam entre si e uma roda de aurores apenas assistia estupefados. Draco observou como Harry era habilidoso com a varinha e chegou á conclusão que era dez vezes melhor do que ele. Esperou o momento certo, e ele realmente veio. Voldemort desarmara Harry e se aproximava perigosamente do “menino-que-sobreviveu”. Draco olhou para os aurores, nenhum deles parecia reagir diante dessa cena. Draco balançou a cabeça murmurou um “covardes” e se aproximou da dupla. Á dez metros de distância de Voldemort ele já começara a murmurar um feitiço antigo e complexo para imobilizar o grande lorde. Quando chegou perto o bastante ergueu a varinha ao mesmo tempo em que Voldemort ergueu a dele para por fim á vida de Harry. Mas ele fora mais rápido, um raio laranja saiu de sua varinha e atingiu o lorde nas costas. Ele caiu de joelhos e ficou assim, imóvel. Draco se aproximara agora, e ciente de que o lorde podia ouvir tudo que ele falava, ele desdenhou:

-É bem verdade que eu não sou obediente oh, lorde!Mas acho que você não entendeu isso não é?! Bem, acho que terei que ser mais agressivo dessa vez. - terminou sua frase a poucos centímetros dos “ouvidos” de Voldemort. Draco contornou o corpo e olhou diretamente nos olhos do lorde das trevas. Havia uma confusão de sentimentos dentro dele, Draco sabia, mas os mais aparentes eram a fúria incontrolável e o medo. Sim, Voldemort estava com medo de morrer. Draco gargalhou friamente quando percebeu isto.

-Não tenha medo Voldemort, aposto que a morte será justa com você - ele parou e quando recomeçou a falar, sua voz tremia de ódio - assim como você foi justo com a minha mãe.

-Malfoy, o que- Harry começou confuso, mas o rosto de Draco se deformara em um sorriso maníaco de pura vingança. Segundos depois o grande lorde caiu morto aos pés do loiro que voltara a gargalhar. Todos em volta deles pareciam prender a respiração pelo ato que Draco acabara de cometer. Mas dentro do loiro uma onda de felicidade oprimida reinava completamente “se você pudesse estar aqui para ver isso Gina”. Logo depois, ele sentiu uma sensação familiar, sentiu um par de olhos cinza olhando em sua direção. E seguindo seu instinto Draco olhou na direção da floresta, lá estava seu pai. Encostado em uma árvore calmamente. Ele parecia dizer algo e Draco se esforçou para fazer uma leitura labial decente “eu vou acabar com você” seguido de um sorriso sarcástico que apenas os Malfoy sabiam fazer. Draco sorriu de volta e até acenou, concordando. “Mas longe daqui” e com um “craque” Draco aparatou.
Seus pés bateram na velha mansão dos Malfoy. Havia mofo e fungos por todo lugar, mas era sua casa, era o único lugar que ele podia chamar de casa. Fora ali que ele havia vivido boa parte de sua vida. E era ali que ele queria morrer. Olhou em volta e sentiu saudades de sua mãe. Segundos depois ele ouviu o barulho de outra pessoa aparatando no lugar. Respirou fundo “é agora”. Virou-se mesmo sabendo que não seria capaz de matar seu próprio pai. Lucius Malfoy estava pior que nunca, seus longos cabelos loiros estavam oleosos e sujos. Estava com um certo ar de maníaco quando se aproximou de seu filho, gargalhando:

-Desta vez você não escapa Draco, não há mais mãe, nem a maldita Weasley pode te salvar agora.- Draco assentiu e disse apenas:

-Você está péssimo, pai. Podemos chegar a um acordo, o que acha?- a resposta foi uma maldição cruciatos que o acertou em cheio na barriga. Mesmo com a dor, Draco não gritou. Na sua vida ele já havia sentido esse maldição na pele incontáveis vezes, e estava de certo modo imune a ela. Pensou em Gina, e como ela agüentara durante tanto tempo. Pensou em sua mãe, que fora morta por sua causa. E então ele soube. Ele também era imperdoável. Imperdoável por ver a mulher que amava morrer em seus braços e não fazer nada. Imperdoável por ter deixado sua mãe ser assassinada em sua frente e não fazer absolutamente nada para impedir. Ele não era melhor que Fenrir e Bellatriz. Não, ele não era nem ao menos melhor que seu pai que o assistia se contorcendo sem gritar com um sorriso no canto dos lábios. Finalmente a maldição começou a perder a força e Draco se levantou, antes de poder se defender, Lucius o bateu com seu bastão, um corte se abriu em sua bochecha esquerda. Ambos os loiros experimentaram a sensação de um “deja-vú” e se aproveitando disso, Draco se recompôs e gritou:

-Sectumsempra!- um corte se abriu no ombro de Lucius e desceu até a extremidade de sua barriga. O mais velho gritou de agonia e se agarrou a Draco, sujando sua face pálida de sangue.

-Meu... meu próprio filho...-Draco devolveu, irônico:

-Para você ver como são as coisas papai, hoje em dia não dá mais para confiar no próprio sangue. -Draco sentia que sua hora chegava cada vez mais rápida, mas não importava, ele estava preparado. Lucius empurrou Draco e com dificuldade conseguiu se manter de pé. Mirou a varinha, trêmulo para o peito de Draco que não fez nenhum movimento para tentar se defender. E momentos depois o raio fantasmagórico e verde atingiu Draco em cheio...

Lucius poderia jurar que vira um sorriso passar pelo rosto de Draco antes deste tombar para o lado, morto.

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Por favor gente, opinem, podem xingar, elogiar, façam o que quiserem ^^

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