- Pedro, Juliet e Walburga -

- Pedro, Juliet e Walburga -



- Sirius! – uma voz estridente e com má vontade chamava. – Se arrume para acabar logo com isso! – a voz começava a se tornar impaciente.
- Acabar com isso? – Sirius estava ironizando um pouco a fala. – Ontem você estava feliz com a carta!
- Eu não quero demorar naquele lugar... Eu espero chegar cedo para não ter que me misturar com aquela escória – e fazia cara de desgosto.
Realmente Walburga queria comprar o mais rápido o possível o material escolar do filho. Não queria encontrar com nenhum, segundo ela mesma, bruxo inferior. Para ela, pensar nessas pessoas era motivo de náuseas. Ela já estava arrumada ao pé da escada berrando pelo nome do filho que respondia aos berros vindos de seu quarto.
O quarto de Sirius estava todo bagunçado. Ele havia tirado várias roupas e largado-as em cima da cama, embora algumas estivessem jogadas no chão. E ele não parava de tirar roupas daquele armário. Sempre foi uma difícil decisão a roupa a qual sairia.
- SIRIUS! – cada vez a voz da mãe soava mais impaciente.
O garoto pegou uma veste azul-marinho quando escutou os passos da mãe vindos do corredor. Atropelou-se pelo caminho e se meteu entre ela e o quarto dizendo que já estava arrumado, se ela visse o estado do quarto iria ter um ataque. Quando a mãe retornou para o primeiro andar, ele fechou cautelosamente a porta sem arrumar a bagunça e desceu para o saguão.
O olhar da mãe que caía sobre Sirius era de inconfundível impaciência. Ela caminhou para a sala debaixo da escadaria e acenou para Sirius segui-la. Por um instante parou encarando a fogueira sem chamas. Logo depois apontou a varinha para aquele vazio e várias chamas começaram a crepitar. Ela retirou discretamente um saquinho do bolso de trás da veste e o abriu.
- Toma... Pegue um pouco!
Sirius encarou aquele pó que era chamado de Pó de Floo. Havia usado algumas vezes, mas nunca se acostumara com a sensação de desaparecer em uma lareira e reaparecer em outra a quilômetros de distância. Segurou o suficiente daquele pó e o jogou dentro do fogo que ainda crepitava vivamente na lareira. Com um estalido, o fogo mudou sua coloração para um verde esmeralda que subia até o alto da lareira, e várias brasas pulavam para fora. Sirius inspirou fundo e prendeu a respiração ao colocar o corpo ali dentro. Disse alto e claramente: “Beco Diagonal!” Uma sensação de calor o tomou. Acabou inspirando ainda um pouco de cinzas fumegantes que fizeram suas narinas arderem como fogo. Ele fechou os olhos e uma sensação de rodopio foi suficiente para fazê-lo ficar um pouco enjoado. Sentiu-se flutuar por instantes. A sensação era horrível, o quanto antes aquilo acabasse, melhor. Ele abriu devagarinho os olhos para ver algo, porém a imagem era de incansável escuridão, e de vez em quando era visível uma lareira que passava tão rapidamente quanto uma brisa gélida que sentiu ao aterrissar em terra firme novamente. Quando o fogo esmeralda abaixou sentiu um alívio.
Ele saiu de uma lareira qual faltava muitos tijolos e olhou para todos os lados. Que lugar deveria ser aquele? Incrível como ele nunca fora, ou tivera curiosidade de conhecer o Beco Diagonal... Mas aquele lugar possuía uma das piores aparências que poderiam existir. Olhou para várias mesinhas onde havia pessoas ao redor, a maioria conversava. Um bruxo muito velho segurava o Profeta Diário bem perto do rosto, estava muito absorto em sua leitura. Outra bruxa estava usando um esfregão para limpar um chão sujo de algo que lembrava a Sirius vômito. Ninguém parecia tê-lo percebido, portanto caminhou para um lugar que com certeza seria a entrada, e de fronte para a porta estava um balcão, onde um senhor atendia ao pedido de um bruxo. Sirius sentou-se em uma cadeira de uma mesa vazia, esperava sua mãe chegar logo para poder sair daquele lugar. Então sentiu um forte cheiro de rum e escutou um baque surdo. Um dos bruxos que estava em pé discutindo com os amigos havia bebido tanto que tombara no chão.
- Olá, jovem rapaz. Deseja alguma coisa? – disse uma voz melodramática ao seu ouvido.
- Ah! Não, muito obrigado, senhora. – notara então a presença de uma das garçonetes que estava muito curvada, por causa da altura, para falar com o garoto.
Ao ouvir a recusa, retirou-se devagarzinho de volta para o balcão, onde comentou algo com o barman. Logo outro estalido soou do lugar onde se encontrava a lareira e sua mãe aparecia com aquele ar de importância que nunca perdera na vida. Ela usava outro sapato de salto alto, só que este a deixara muito mais alta. Ela até parecia elegante, se não fosse pelo sorriso malicioso que tomava sua face, como se quisesse intimidar os bruxos maltrapilhos ali presentes. Ela encostou a mão no ombro de Sirius o empurrando para uma porta no final de um curto corredor à esquerda. O garoto só teve tempo de ver o barman e a mesma garçonete que o oferecera ajudarem a levantar o bruxo caído.
Walburga abriu a porta e logo estavam em um pequeno beco feito de tijolos muito bem colocados. A bruxa retirou a varinha do bolso, apontou os tijolos de modo que parecia estar contando quantos havia, até bater em um, depois outro e mais um. Abriu-se um buraquinho no meio daquele muro maciço. O buraquinho foi se alargando, empurrando os demais tijolos para outras posições assim formando um arco, a entrada de uma grande rua onde havia alguns bruxos andando pelas várias lojas que ali estavam presentes.
Por incrível que pareça, Sirius não demonstrou muito espanto. Só ficou encantado com os anúncios nas lojas. Walburga fechou a cara para uma bruxa que arrumava suas várias bolsas no lugar. Era bem cedo. A senhora apontou para uma enorme construção de mármore no final com várias pilastras que, apesar de tortas, davam firmeza e um aspecto luxuoso ao lugar.
- Vamos primeiro a Gringotes... Tenho que pegar mais dinheiro... – disse checando uma pequena bolsa de couro nobre que carregava. – Acho que não trouxe o suficiente... Eu ainda vou comprar algumas coisas na loja de roupas para mim...
Então partiram em direção a aquela gigantesca construção. Sirius ainda parou para ver uma linda ave, parecia ser a maior de todas no mostruário de uma loja que vendia corujas, sapos, morcegos, dentre outros. Era uma linda harpia, porém não era nenhuma harpia da mitologia, era a real rainha das aves.
Chegando bem perto era possível ver alguns duendes com uniforme vermelho e dourado guardando a grande porta de bronze que se destacava daquela construção branca. O ser era baixo, se fosse comparar a altura dele à de Walburga poder-se-ia empilhar três daqueles duendes. Eles possuíam uma cara escura e inteligente, era possível notar as mãos e pés muito compridos e uma barba em ponta. Eles tinham um aspecto de astutos, seus olhos viravam para todas as direções, pareciam vigiar toda a larga rua de ladrilhos. O duende fez uma breve reverência e eles entraram.
Sirius nunca tinha visto um ser como aquele, ele lembrava alguém muito inteligente que, contudo, carregava um enorme rancor na cara fechada. Depararam-se com outro portão, só que desta vez era de prata. Ao se aproximarem, foi possível ler algo gravado:

Entrem, estranhos, mas prestem atenção
Ao que se espera o pecado da ambição,
Porque os que tiram o que não ganharam
Terão é que pagar muito caro,
Assim, se procuram sob o nosso chão
Um tesouro que nunca enterraram,
Ladrão, você foi avisado, cuidado,
pois vai encontrar mais do que procurou.


Dois duendes se curvaram aos dois passarem e acabarem desembocando em um imenso salão de mármore. Tudo parecia muito bem polido para trabalho humano. A maioria dos presentes eram duendes que andavam para lá e para cá levando pilhas de folhas, dentre outros.
Um dos duendes que carregava uma pilha de formulários maior que seu tamanho acabou tropeçando em Sirius e caiu espalhando tudo pelo chão brilhante. Ele estava todo esparramado no chão, logo o garoto foi ajudar o pequeno duende. Ele estava distraído com o trabalho deles e não olhava por onde andava. O duende virou-se púrpura para ele e começou a berrar com ele.
- Vê se olha por onde anda seu moleque! Tem gente trabalhando aqui se você não sabe! Não atrapalhe o caminho de novo! – quando viu a cara de espanto do garoto disse: - O que é? Vai ficar parado aí? Não vai me ajudar não? Causa a bagunça e não quer arrumá-la... – ficou resmungando para si.
Sirius não teve outra escolha, mas de qualquer modo ajudaria o duende parecia prestes a explodir.
Walburga nem se importou, dirigiu-se para o final do grande salão para falar com um duende de cabelos compridos e grisalhos que possuía um nariz comprido com uns oclinhos que estavam quase na ponta. A bruxa enfiou as mãos na bolsa e retirou uma chave de bronze a entregando ao duende.
- Quero retirar dinheiro do cofre trezentos e sessenta e dois!
- Muito bem... – respondeu o duende colocando a chave bem diante dos óculos, por fim concluiu. – Pode entrar... – e chamou um dos duendes que veio correndo, levou Walburga e Sirius para uma passagem que levava a um lugar escuro e cavernoso.
Entrou em um carrinho bem diferente dos que Sirius havia visto. Sentaram-se e logo ele estava em movimento. A sensação era estranha, subia uma pressão no peito do rapaz, porém ele estava gostando da sensação. Ao lado via várias pilastras passando muito rápido. O carrinho parou então com um tranco, e a voz do duende anunciou:
- Cofre trezentos e sessenta e dois! – saiu do carrinho, e pediu a chave que logo colocava em uma fechadura que ficava mais ou menos em sua altura de uma grande porta maciça de metal.
O cofre tinha pilhas e pilhas de moedas de ouro, chamadas de galeões, e algumas de prata e outras de bronze (sicles e nuques). Não foi muita surpresa para Sirius, ele pegou algumas moedas para si, enquanto a mãe colocava as dela na bolsa. E depois já estavam de volta ao carrinho e então ao imenso salão de mármore.
Sirius saiu com os bolsos contendo poucos galeões. Era a parte de sua economia que ficava naquele cofre, porém nunca havia ido lá, normalmente eram os pais que pegavam o dinheiro necessário para a família. Walburga contava o dinheiro desesperada.
- Está certo... É o suficiente, mesmo!
Entrou na primeira loja que viu pela frente. Uma loja de caldeirões. Não era muito grande, havia um mostruário com vários caldeirões de todos os tamanhos, espessuras e matérias-primas. Ela se dirigiu ao balcão ao final da loja e pediu um caldeirão de estanho de tamanho padrão dois e uma balança de latão. E logo retornava com um embrulho grande.
- Não há nenhum carrinho para carregar? – perguntou Sirius desesperado ao sentir o peso do caldeirão.
Logo Walburga brandiu a varinha e um carrinho simples apareceu diante do garoto, que pôs ali sem demoras o caldeirão. Estavam caminhando novamente, desta vez em direção a uma grande livraria chamada Floreios e Borrões. Quem achasse grande por fora, iria se surpreender ao entrar. Havia pilhas e pilhas de livros em vários cantos do lugar, sendo que algumas flutuavam. Sirius parou para ler o título de um livro: “Os mistérios do futuro”. Quase que o abriu se não tivesse sido chamado pela mãe.
Havia ainda uma escadaria à esquerda que levava para um andar superior onde ficava o estoque de livros. As paredes eram repletas de estantes com livros de títulos tão diferentes e diversos que seria impossível alguém contar quantos livros ali estavam expostos em menos de uma semana.
Os segredos do além, Aprenda feitiços com o guia Millbert, Como cuidar de pragas mágicas em seu jardim, dentre outros eram os títulos que mais se destacavam. Sirius estava realmente encantado, apesar de não gostar muito de ler, alguns livros despertaram uma curiosidade nele.
Estava na ponta dos pés para puxar um livro intitulado “Desavenças familiares...”, porém, quando encostou, este caiu com um baque no chão. Ficou realmente sem graça, sorte que a pessoa que cuidava da loja estava atendendo sua mãe e não notou quando Sirius tentou por o livro de volta, em vão. Algo fez a estante estremecer. Abaixou-se para ver um livro que parecia se debater, era a causa do tremor. Ele estava esmagado em um espaço abaixo da estante, tentou tirá-lo de lá, porém ele se recusara e retornara a fazer a estante balançar. Uns dois livros caíram na cabeça de Sirius. Ele estava começando a ficar nervoso.
- EI! Garoto! Não mecha aÍ! – disse o velho bruxo que atendia sua mãe chegando de varinha em mãos.
Ele brandiu a varinha contra a estante e esta parou em um instante.
- Este livro... – disse tentando tirá-lo do espaço. – Ele já conseguiu derrubar esta instante ontem... Não sei que o pôs aí! – e conseguiu, ele continuava se debatendo. – Acho que vou colocá-lo em um lugar mais seguro...
E levando-o com o total cuidado, subiu as escadas e foi então possível ler o nome daquele livro: As Maldições o Esperam. Ele ainda subiu até o pé da escada para ver o senhor desaparecer por um pequeno portal. Depois de alguns minutos ele retornava com livros.
- Estão aqui, senhora Black! – disse carregando a pequena pilha de livros com um pouco de esforço. – Livro Padrão de Feitiços da primeira série, Mil Ervas e Fungos Mágicos, História da Magia e Teoria da Magia... O resto eu tenho aí embaixo... – completou descarregando os livros em cima de uma escrivaninha no final da sala.
Walburga continuava com a mesma expressão de indiferença. Olhou em volta por um tempo e apontou um livro no alto de uma estante.
- Pegue aquele também...
Ela queria aquele livro, mas para Sirius, ela queria que o senhor tivesse que se esforçar para pegar o livro, esquecendo-se de que ele poderia usar magia. E assim foi feito, apontou a varinha para o livro, e este saiu da estante direto para sua mão. Ele puxou um caderninho e anotou o nome de todos os livros que a bruxa iria comprar.
- Certo...
Saiu caro, Walburga retorceu o nariz, era contra vontade comprar aquilo tudo, mas pensava no futuro de Sirius, ou melhor, no futuro que queria para o rapaz. Saiu da loja ainda empertigada, ela odiava gastar dinheiro em algo que seria usado por outra pessoa. Sirius saiu logo atrás dela.
Agora só faltava comprar a varinha, o animal e suas vestes. Porém o Beco já havia começado a encher de gente. Walburga tentava andar bem longe de alguns. Pararam na entrada de uma estreita e feiosa. Letras de ouro destacadas na porta diziam Olivaras: Artesão de Varinhas de Qualidade desde 382 a.C. A bruxa parou na porta e disse para Sirius.
- Entre e compre sua varinha... – e entregou um dinheiro para o filho, que o guardou no bolso. – Me recuso a por os pés nesta espelunca!
“Como uma pessoa pode ser tão metida?” - pensou Sirius depois de lançar um olhar de desprezo à sua mãe.
Entrou sem demoras. Era uma sala escura com várias estantes que iam, ao comprido, até o fim de uma longa terminação da sala. Todas elas estavam repletas de caixinhas empoeiradas. Tudo parecia muito sujo e foi possível sentir um cheiro de mofo vindo do fundo da sala. Havia algumas peças delicadas de vidro sobre uma mesinha muito gasta que ficava na entrada. Havia uma lareira antes das estantes que estava repleta de teias de aranhas, cujas donas estavam tecendo em um canto da sala.
Do fundo veio um senhor muito magro que possuía um sorriso no rosto. Ele se encaminhou mancando um pouco. Bem de perto foi possível ver uma grande costeleta de cabelos brancos, um rosto muito magro e dois olhos grandes e brilhantes que fizeram Sirius recuar um pouco com desdém.
- Bom dia! – soou uma voz suave e calma que deixou Sirius mais tranqüilo. – Sou Olivaras, pois não?
- Vim comprar uma varinha...
Porém o senhor já havia retirado uma longa fita métrica com números prateados e perguntou qual era o braço da varinha, a resposta foi a mais usual: “Destro...” Olivaras pediu o garoto para esticar o braço e começou a medir: do ombro ao dedo, do pulso ao cotovelo, do ombro ao chão, do joelho à axila e ao redor da cabeça.
- O senhor já sabe de quais materiais usamos para fazer as varinhas, não?
- Pêlo de Unicórnio, cordas... Cordas de que mesmo?
- Cordas de coração de Dragão e miolo da pena de Fênix... – e deixou a fita métrica medir por si só. – Muito bem...
Ele caminhou até uma das estantes, que iam até o teto, e ficou analisando as caixinhas. Por um tempo Sirius se viu em uma situação um pouco constrangedora de ter que se esticar todo para a fita métrica poder medir sozinha até ouvir a voz de Olivaras para parar e ela caiu no chão. Ele puxou uma caixinha no final da sala e voltou-se para Sirius.
- Experimente esta... Ébano e pêlo de unicórnio. Vinte e cinco centímetros, boa e rígida. Tome! – entregou uma varinha ao rapaz.
Ele brandiu a varinha, nada aconteceu. Logo Olivaras voltava com outra.
- Experimente logo esta... Mogno e cordas de coração de dragão. Vinte e oito centímetros, boa e flexível! Tenho certeza que esta vai funcionar...
Sentiu um calor emanado da varinha desta vez ao segurá-la. E sem muitos esforços faíscas vermelho vivo saíram da ponta. O senhor sorriu para o menino.
- Sabe senhor, Black. Lembro-me de cada varinha e bruxo que veio aqui comprar-las. A do seu pai também foi de mogno e cordas de coração de dragão... Isso demonstra uma ligação entre você e ele, a varinha que escolhe o dono, pois, de alguma forma, sabe quem você na realidade é... Bem... – retirou a varinha de Sirius e a repôs na caixinha, embrulhou-a e a entregou.
Cada palavra que aquele senhor dizia o fez se sentir melhor. Enfiou a mão no bolso e pagou com várias daquelas moedas de ouro cintilantes. Saiu de lá com o pacotinho na mão e o deixou com cuidado em cima do pacote do caldeirão. Sua mãe estava com a mesma expressão.
- Por que demorou tanto? Eu quase desisti de esperar! Vamos logo naquela loja onde vendem aqueles animais desprezíveis... – por incrível que pareça agora ela tratava de animais mesmo.
Em poucos minutos já estavam dentro da loja, e Sirius ainda admirava a Harpia. Nunca vira ave tão bela quanto aquela.
- Rato, sapo, morcego, coruja ou... Essa daí é uma das raras, garoto! – a moça que atendia outra bruxa notara a presença de Sirius e foi até ele. – Ela é nomeada a rainha das aves por ter a maior envergadura de todas... Simpatizou com ela, garoto?
- Sim... – Sirius sorriu bondosamente. – Só acho que minha mãe não me deixaria ter uma harpia dentro de casa...
- Hum... Veremos... – disse a bruxa pensando. Voltou-se ao balcão, e enquanto atendia a alguns bruxos consultava uma lista.
- Ah não! – Walburga percebera. – Você pode até levar uma coruja! Mas isto não! – ela tomou logo a frente do garoto que estava meio decepcionado, apontou uma coruja castanho-escura e disse. – Essa... Quanto custa? – disse abrindo a bolsa.
Já estava de volta com a coruja em uma gaiola para a tristeza de Sirius.
- Deve ser fêmea... Segundo o que aquela balconista disse... – e empurrando a gaiola para os braços do garoto, que estava sentado na elevação da entrada da loja olhando o nada, saiu sem mais demoras. – Agora... Faltam as vestes! Argh! Isso já está muito cheio!
- O que posso fazer? Nem sempre é como a gente quer... Né? – ignorou a mãe, estava falando com a coruja, porém sabia que ela não responderia. – Que nome quer? Hum... Walburga é que não! Que tal... Que tal Alyssa? – a coruja parecia não ter escutado e mesmo assim seria difícil para ela entender. – Juliet? – ouviu-se um pio alto, por incrível que pareça a coruja parecia ter respondido ao chamado. A cara de espanto de Sirius se abriu em um largo sorriso.
Conseguiu alcançar a mãe. E disse a ela o nome que dera a sua coruja, porém houve o pior: a mãe, distraída olhando a nova coruja, esbarrara com outra bruxa e acabara caindo de cara no chão. A bruxa muito sem graça foi ampará-la com afeto.
- AH DESCULPA! Não queria machucá-la! – a bruxa falava com temor na voz, porém parecia doce e bondosa, e Walburga estava com o nariz sangrando e olhava para a bruxa com puro ódio. – Eu te ajud...
- SAIDA DAQUI! – berrou. – Não me toque ou eu te amaldiçôo... E não vai ser algo muito agradável! – algumas salivas saíram de sua boca.
Em um instante a bruxa havia desaparecido levada pela multidão. Foi apenas possível ver a expressão de puro terror que empalidecera por completo, tremia da cabeça aos pés. Walburga se levantou de um salto, estancou o sangue do nariz com um feitiço e berrou para Sirius.
- Entre na Folius Vestes agora!
O garoto já havia se adiantado e uma fita métrica já tirava suas medidas. Ele encarou a mãe, cujos olhos não eram mais os mesmos, estavam frios e emitiam uma terrível sensação. Sirius engoliu fundo e perguntou.
- Por que fez isso com aquela pobre bruxa? Ela pediu desculpas... Queria te ajudar.
- POBRE BRUXA? REPETE ISSO! – mirou a varinha em seu próprio filho descontrolada. Aquelas palavras foram suficientes para Walburga explodir. – SE VOCÊ QUER SE MISTURAR COM ESTES... ESTES... – ela poderia xingá-los de qualquer forma, porém desta vez não achava palavrão o suficiente para suprir sua raiva. – VOCÊ ME ENTENDEU! SE QUISER SE MISTURAR COM ELES! MUITO BEM! – e aparatou no mesmo instante.
Sirius fechou os olhos e o abriu para ter certeza do que vira. Sua mãe aparatara e o deixara sozinho. Respirou fundo. Aquilo não era verdade! Aquilo não podia ser real! Mas era... Sirius se enrolou na fita métrica ao tentar se mover e espiar para ver se não a via andando pela rua. Ela não estava lá, se fora. Ele sentou-se no chão abismado. A coruja piou e começou a se debater dentro da gaiola que estava em cima do caldeirão.
- Senhor! Temos que ver as medidas! SENHOR?! – uma voz chamava por ele, só que ele estava distante, estava confuso.
- AH! Desculpe-me... É que minha mãe parece ter aparatado... Acho que foi apenas imaginação... – disse levantando-se e retornando para a moça que tocou na fita métrica e esta voltou a medir sozinha.
- Eu escutei um estalo real de aparatação, menino...
- Vários bruxos aparatam aqui... Deve ter sido outra pessoa. – ele não queria acreditar.
Depois de tirar as medidas ela subiu uma escada no final do salão dizendo para Sirius esperar. Sirius ainda se beliscou, e finalmente se deu conta que estava sozinho. Era algo inacreditável. Sentou-se em um banco e passou a fitar o chão de madeira em tábuas.
- Não se preocupe, Pedro. Nós o apoiaremos, seja qual casa cair... – disse uma voz masculina vindo da entrada da loja. – Exceto Sonserina! Aí nós te mataríamos, rapaz! – disse com uma risada.
O garoto chamado Pedro, sorridente, se encaminhou para o balcão no final e logo outra mulher colocava outra fita que começara a tirar as medidas de suas vestes. Ele era mais baixo que Sirius e um pouco gordinho para a idade. Possuía um cabelo curto e ralo, com certeza no futuro iria ter calvície. Possuía dois dos dentes da frente um pouco grandes. Seus olhos eram pequeninos e lembravam muito os de um bebê que costumava chorar demais. O senhor que via logo atrás dele era muito parecido com o filho, só que um pouco mais alto. Depois dele vinha uma moça que, particularmente, não se parecia muito com o filho era um pouco mais alta que o marido, porém um pouco gordinha também.
O garoto esticava e abaixava os braços muito curtos com dedinhos rechonchudos. Ele lembrou a Sirius um dos duendes que vira, só que uma versão mais humana. Quando a fita métrica terminou com as medidas, a bruxa pegou-a e subiu pela mesma escada, dizendo para o garoto esperar sentado em um dos bancos. E ele sentou bem ao lado de Sirius.
- Ah, olá! – disse.
- Oi... – respondeu Sirius com desânimo.
- Parece triste! Ou aborrecido! Aconteceu alguma coisa? – perguntou arregalando os olhos, ele pareceu um rato gigantesco.
- Nada... Nada não... – sorriu. – Vai ser seu primeiro ano em Hogwarts também?
- Ah sim! Mal espero para chegar o dia... Meus pais já até enviaram a coruja com a resposta! – hesitou. – Já sabe em que casa vai cair?
- Não... Nem sei, há ainda essas histórias de seguir tradições de família!
- Meus pais disseram para mim que eles me apoiariam em qualquer casa. – e sorriu. – Eu espero que seja a Grifinória, sabe? Meus pais foram de lá, os dois! E os seus... Er... Qual o seu nome?
- Sirius... Sirius Black... – respondeu com um breve sorriso. – E minha família tem uma tradição... Sangue sonserino... Eu sou meio contra... Gostaria de ter a liberdade de escolha! – disse por fim.
- Hum... AH! Meu nome é Pedro Pettigrew! – lembrou-se então de se apresentar. – Sonserina... – dizia para si.
- Já comprou o material? – Sirius queria mudar de assunto.
- Bem... Ainda falta ir à livraria e... Bem, minhas vestes! E você?
- Só faltam as vestes...
- Você já praticou Quadribol? – perguntou ansioso.
- Não... Eu já vi os jogos, mas não sou tanto fã assim não... Gosto, mas se eu perdesse os jogos ficaria na mesma.
- Eu gosto de ver... Acho um jogo muito legal! É inteligente também! Eu torço muito pelo meu time! – dizia agitado. – Mas não sei montar em vassouras! E também, gente do primeiro ano não pode comprar suas próprias vassouras... – um resquício de tristeza transpareceu por sua voz.
Sirius sorriu. Já estava quase se esquecendo do que acabara de acontecer, mas ao tentar relaxar na cadeira, Pedro logo perguntou mais:
- Você já leu livros sobre Hogwarts?
- Não... Mas escuto as histórias das minhas primas, que já estudam lá...
- Hum... Eu sei pelos meus pais... Eles ficaram felizes ao saber que Dumbledore se tornou diretor de Hogwarts... Dupet já estava velhinho demais...
- Armando Dippet? – perguntou Sirius, corrigindo o garoto.
- É! Isso mesmo! Ele estava cansado...
- Hum... Eu acho que já ouvi, ou devo ter lido em algum lugar este nome... Dumbledore...
- Dumbledore é um bruxo famoso! Ganhou vários prêmios juvenis! – e completou: - Eu acho...
- Não foi o bruxo que derrotou Grindelwald?
- Quem?
- Um antigo bruxo das trevas... – parecia a primeira vez que Sirius dizia algo que Pedro não sabia. – Minha mãe me contou a história dele... Ele também era um excelente aluno, só que foi expulso de Durmstrang...
- Durmstrang?
- Outra escola de magia! Como Hogwarts!
- Ah é... Devem existir várias...
- Minha mãe até um dia pensou em me colocar lá... Mas como a família já tinha estudado em Hogwarts me deixou aqui mesmo... Dizem que Durmstrang enfatiza as Artes das Trevas! – e ao dizer isso, Pedro pulou na cadeira como se tivesse levado um beliscão e soltou algo que lembrava um grunhido.
- Já experimentou o sorvete de Florean Fortescue? – perguntou depois de alguns minutos em silêncio.
- Não...
- HÁ VÁRIOS SABORES! Você nem pode imaginar! Eu e meus pais comemos o sorvete com dez sabores diferentes! Muito bom... – disse alisando levemente a barriga. – Morango, baunilha, pistache...
A conversa ainda durou por mais uns dez minutos, quando as duas moças que havia levado as medidas para fazer a roupa já estavam de volta, e os garotos pagavam com os sicles e alguns galeões. Pagaram as vestes, luvas de couro de dragão, cachecóis e outras vestes só que para tempo mais frio. Sirius ainda se perguntava como voltaria para casa, porém aproveitou para fazer amizade com aquele garoto, que o levou para experimentar o tal sorvete. E logo retornava com uma casquinha em formato de vassoura e um sorvete.
- Ah! As passagens para o Expresso de Hogwarts!O expresso deve ser incrível!
- Dizem que a entrada para lá é em uma pilastra entre as plataformas nove e dez, não? – perguntou Sirius interessado.
- Eu não sei... Mas deve ser! Afinal, é magia! – Pedro estava tão empolgado que poderia passar dias contando as histórias que ouviu de seus pais.
- Eu moro em uma cidadezinha aqui perto – continuou ainda alegre.
- Hum...
- Onde seu pai trabalha?
- Ministério da Magia... No departamento de execução das leis da magia... Seção de controle do uso indevido da magia... – respondeu. – Orion Black... – e olhou o embrulho pequenino que estava sobre seu caldeirão sobre seu carrinho.
Ele caminhava se desvencilhando dos outros bruxos que vinham ao seu encontro. Evitou muitas trombadas. Pedro parecia saltitante, e logo eles chegavam a Floreios e Borrões. O menino se adiantou entregando a lista de material escolar para o bruxo sentado em uma escrivaninha ao final da sala, o mesmo senhor que atendera Sirius.
- Hoje já vieram muitos novatos de Hogwarts comprar seus livros... – comentou o bruxo subindo a escadaria e retornando com a varinha no alto e os livros flutuando.
Logo estavam saindo em direção ao Caldeirão Furado que estava mais cheio e estava com um terrível cheiro de rum e alho.
- Sirius... – comentou o pai de Pedro.
- Fale, tio.
- Você não veio acompanhado? – pareciam que havia acabado de notar que o garoto andava sozinho.
- Não... Me largaram aqui...
- Você tem idéia de como voltará para sua casa? – o senhor já começava a ficar preocupado.
- Como chegou aqui, Sirius? – perguntou a senhora, mãe de Pedro.
- Usando pó de floo...
- Eu acho que tenho o suficiente para nós quatro! O que acha, Wilck? – disse a senhora.
- Dá sim, Sareen... Sirius – disse voltando-se para Sirius. – É melhor você ir logo, mas caso queira nos visitar é só dizer: Elephant Parken Vinte e dois.
Sareen entregou um pouco do pó para o garoto e rumou para a lareira que logo estava acesa em chamas vivas e muitos vermelhas. Ao jogar o pó dentro da lareira as chamas ficaram verde esmeralda. Sirius foi na frente, entrou lá e murmurou:
- Largo Grimmauld Doze!
Tudo começou a girar em escuridão total, e logo aterrissara na lareira da sala de sua casa. Saiu cuidadosamente, retirou o carrinho da lareira, ficara muito apertado ter que fazer aquela viagem com o carrinho. Abriu a porta e... deparou-se com sua mãe o encarando com um olhar alucinado, pela primeira vez ela estava toda despenteada.
- Que bom que chegou... Se divertiu muito com seus amigos sangue-ruins? – apesar da aparência, sua voz ainda possuía uma ironia inconfundível.
Ela parecia que ficara esperando o filho retornar, e havia um pouco de raiva em vê-lo de novo. Por sua vez, o garoto estava boquiaberto. A mãe bufava de raiva. Aqueles mesmos olhos frios e sem vida.
- Suba para o seu quarto... – a frieza em sua voz fez Sirius estremecer.
Ela o agarrou e foi arrastando-o escada acima. Fora outra surpresa ao abrir a porta do quarto e encontrar todas aquelas roupas largadas no chão. Os olhos de Walburga se arregalaram ao ver aquilo, talvez tivesse até esquecido a fala. Ela encarou tudo aquilo espantada, mas logo o espanto se transformou em um sorriso maldoso. Ela brandiu a varinha uma vez e seu material veio flutuando para dentro do quarto, e fora largado pelo chão. Ela fechou a porta e logo esta estava trancada.
Sirius estava ali dentro com toda a bagunça e trancado. Sentou-se em sua cama e pôs as mãos no rosto. Ainda levantou-se para procurar a chave reserva, porém ela não estava lá. Tentou arrombar a porta. Ela estava realmente trancada...



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Notas do autor:

Não há qualquer modificação neste capítulo.

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