- A família Black -
Sirius desembarcou do trem, em meio a uma confusão de pessoas, e deparou-se com seu pai, sozinho, à sua espera. Pegou seus próprios malões e rumou ao encontro dele. Esperançoso de que este o recebesse com um abraço, contudo, enganou-se.
O pai o encarava como nunca o fizera antes, parecia constrangido com alguma coisa. Indicou para segui-lo e Sirius o fez. Estava assustado com aquela atitude do pai, estava imaginando o tipo de lavagem cerebral que sua mãe deveria ter feito com ele, porém, isso nunca ocorreu antes.
Mal havia se despedido de Tiago ou qualquer outro colega. Atravessou a barreira em silêncio e continuou seguindo o pai. Queria ter a oportunidade de saber o porquê de o pai estar o tratando assim. Então, veio uma resposta imediata em sua mente: Grifinória; apesar de nunca achar que o pai fosse se irritar tanto assim por algo que ele nem tinha culpa.
- Sabe, Sirius – começou a falar –, estou decepcionado com você. Muito decepcionado! Eu acreditei que você um dia iria virar um verdadeiro Black, te protegi das tribulações de Walburga e até engoli alguns acontecimentos. Segundo Narcisa, você tem andado constantemente ao lado de grifinórios, os traidores, certo? – e Sirius assentiu com a cabeça. – Sei que não é sua culpa ter caído na Grifinória, só achei que fosse ter senso de saber com quem andar! Por Merlin! Você vai acabar com a reputação da nossa família!
- Pai, pensei que você me entenderia... Mas, já vi que não. Só queria saber: qual o problema de eu ter traidores do sangue como amigos? – e sorriu ironicamente.
Não houve resposta, o Black nem sequer encarou o filho. Saíam de King’s Cross e rumavam pelas ruas movimentadas de Londres.
Sirius estava abismado com a reação do pai. Não acreditava que uma das pessoas da sua família em que mais confiou acabara de decepcioná-lo. Chutava as pedrinhas do caminho, enraivecido por tudo que aquela família estava o causando. Queria poder escolher seus pais, contudo, não passava de um sonho.
O tempo estava fechando. Ameaçava chover. Os sons dos trovões quebravam o silêncio. Sirius cruzou a rua principal que levava ao largo Grimmauld e quando chegavam perto da casa de número treze, Orion interrompeu o silêncio, até antes apenas rompido por sons da natureza.
- Não venha falar mais comigo até seu aniversário, entendeu? Deixe-me em paz dessa vez! Você não está de castigo por incrível que pareça, mas já perdeu parte de minha confiança. Mais uma e terei de tomar medidas mais drásticas.
Ele olhou para uma pequena brecha entre as casas de número onze e treze e murmurou algo. As duas casas foram empurradas para os lados, enquanto uma de número doze surgia entre elas. Porém, os trouxas não pareciam perceber o repentino surgimento daquela casa. Consideravam que aqueles números foram colocados de forma errada, esquecendo o número doze. Contudo, era a magia que escondia aquela casa.
A porta que foi aberta revelou um longo corredor escuro. Sirius hesitou antes de entrar, sabia que a antiga tormenta iria retornar. Entrou naquela casa. Cruzou o corredor até entrar na sua habitual sala, e nos vários objetos e adornos de prata havia uma serpente encravada. As cortinas eram de cor verde-musgo. Apesar de conhecer bem aquela casa, Sirius não estava se sentindo tão bem-vindo.
Deu alguns passos em direção às escadas que levavam aos andares superiores e descarregar a mala, e já escutou uma voz grave que possuía certo ar de superioridade. Sua mãe entrou na sala.
- Orion, que bom que voltou... Quem é este? – perguntou referindo-se a Sirius.
Não houve resposta, Orion subiu para seu quarto e encostou a porta. Walburga virou as costas para Sirius e retornou à cozinha.
Sirius estava certo... Não seria tão bem-vindo naquela casa...
Subiu os degraus com dificuldade, tendo que puxar o seu malão, depois que já havia deixado a gaiola com Juliet em seu quarto. E logo estava retirando tudo que antes estava arrumando na mala e guardava em seu armário, ou simplesmente deixava em cima da cama ou jogado pelo chão.
Antes que qualquer coisa, entrou debaixo na cama e procurou a tábua que revelava seu cofre. Foi um alívio ao ver que suas revistas ainda estavam lá. Voltou então sua atenção para o malão, saindo de debaixo da cama.
Contudo, Régulo abrira a porta antes encostada e entrara no quarto. Encarou o irmão por um tempo e sorriu de leve.
- E aí? Como é Hogwarts? – Régulo não parecia ter mudado nada, ainda continuava com seu jeito ingênuo de ser, pelo menos, era o que aparentava.
- Incrível! – respondeu o outro com um sorriso. – E não se preocupe, ainda faltam dois meses para você ir para lá! Garanto de que você gostará!
- Mas quero que você acabe com os mistérios e conte o que mais gostou no castelo – disse o irmão e riu.
- Bem... Não faço idéia! É tão incrível que não há como dizer o que mais gostou.
- Hum... E o que menos gostou.
- Do professor de história da magia.
- Por quê? Ele é algum ser maligno que entope vocês com dever de casa?
- Se ele fizesse isso ele seria pior do que eu imaginei! Mas não é por isso... É porque eu não consigo agüentar as aulas dele. Até conversar com os outros se torna tedioso quando se refere à aula com este professor. Sabe... Ele é um fantasma.
- Maneiro!
- Sim, dizem que um dia ele adormeceu em uma poltrona na sala dos professores, e quando se levantou para dar aula, deixou o corpo para trás. – ambos riram. – Mas, enfim, o professor do próximo ano letivo não será o mesmo do que o passado, pelo menos eu espero que o substituto não continue.
- Por quê? Substituto? E o professor mesmo?
- Está doente à beira da morte. E o substituto é um imbecil incompetente. Impossível ficar sem xingá-lo por causa da quantidade de deveres de casa e a forma com que se refere aos alunos.
- Então... É bom que ele contraia uma doença do mesmo tipo da que o outro teve pra não ter que nos dar aula.
- Hum... Mas o castelo é incrível. Possui escadas que mudam e... Ah! Vou acabar contando tudo! Você que terá que provar um pouco do que é Hogwarts! – e olhou pela janela. - E... Como foi seu ano? – perguntou mudando de assunto.
- O mesmo de sempre e... – levantou-se e foi em direção à porta, trancando-a. – Mamãe e papai já começaram a discutir desde o segundo dia após sua saída. Pois, receberam a carta de Narcisa e enfureceram-se... É verdade, então, que você foi para a Grifinória, não?
- Sim, é verdade...
- Por que fez isso?
- Por que eu o fiz? Não há como o fazer, a pessoa é selecionada em um teste. O teste é botar um chapéu na cabeça e esperar até que ele fale em que casa você está. Eles fazem essa palhaçada à toa! Sou grifinório e não há nada que possam fazer! – e riu.
- Não fale mal dos nossos pais – disse Régulo com calma.
- Como é? Pelo menos eu não menti!
- Sirius, você acha agora que tudo é brincadeira? Não! O que você fez não foi legal.
- Eu matei alguém por acaso?
- Antes matasse do que andar com aquela escória! – respondeu frio, assustando um pouco Sirius. Nunca imaginou que o irmão pudesse fazer isso.
- Régulo... Você está ficando louco igual o resto dos nossos parentes... Por favor, não fique assim...
- Ficar como? Eu sou como um Black tem que ser! Não sou um conspirador... Ou pior, um traidor!
- O que nossos pais fizeram com você? Você era meu irmão! Agora é isso!
- Isso? Desculpe-me, irmão, você é o errado nesta história... Até... – e saiu do quarto sem mais demoras.
Sirius esmurrou a parede, depois recolheu a mão agora dolorida. Até seu irmão estava irreversível. Cada vez ele ficava com mais ódio daquela família.
Um suspiro irritado saiu involuntariamente de sua boca. Sentou-se na cama, massageando a mão que agora doía um pouco. Como podiam colocar Régulo contra ele? Como? E porque o irmão deixava-se influenciar?
Claro... Walburga. Apostava quantos galeões fosse necessário que fora ela quem contara diversas mentiras à Régulo, enfatizando o quanto ele, Sirius, era um traidor ingrato.
Não esperava exatamente uma recepção melhor que aquela, mas, no fundo, sempre morava a esperança. A esperança de poderem ser uma família normal, a esperança de que seus pais não se importassem com o fato de cair em outra casa e recebessem-no com sorrisos e abraços. Mas então, não seriam os Black, os quais se gabavam pelas várias gerações sangue-puras. Eles eram frios o bastante para não se deixarem afetar por sentimentos tão mundanos... Eles não conheciam o perdão. E no momento, pouco importava se lhe perdoassem ou não. Não iria se martirizar. Mas, com certeza, boas férias não iriam ser.
Levantou-se, tentando esquecer por um momento a confusão de sentimentos que lhe surgiam no peito. Dirigiu-se ao banheiro, mas bastou fechar os olhos, para lavar o rosto, que o olhar de Orion – um olhar tão frio, mas tão decepcionado e ferido – voltou novamente à sua mente. Na realidade, ele estava vendo seu próprio reflexo com as feições de Orion, e este o encarava do mesmo modo como encarou alguns minutos atrás. Outras que atormentava sua mente eram as palavras proferidas por sua própria mãe: “Quem é este?”. Sua raiva estava se extravasando. Uma vontade imensa de berrar: “Sou seu filho e terá de aceitar isso, mesmo que seja contra sua vontade!”; o dominou, porém ele foi mais forte e resistiu, voltando seu olhar para o espelho. Não valia a pena se irritar. Dar este gostinho a eles de que estava sendo ferido, magoado. Estava disposto a travar uma guerra contra eles, por mais dolorida que fosse.
Despiu-se, tirando aquela roupa que lhe grudava no corpo por causa do suor. O dia estava quente, e o calor era insuportável, principalmente dentro daquela casa. Viajara o dia inteiro. Estava cansado. Entrou no chuveiro e deixou que a água quente tirasse-lhe as dores. Demorou um bom tempo ali. Logo após se secou e procurou uma roupa qualquer.
Assim que acabava de vestir a blusa, Walburga irrompeu pelo cômodo, sem nem ao menos ter a delicadeza de bater na porta. Ela tinha a face furiosa, era impossível que escondesse isso. Sirius olhou para a mãe, num ar arrogante, superior. Não era difícil para ele. Já estava no sangue, não era? Algo natural. Se eles podiam, porque ele não?
- Ora, ora, ora... Pensei que não fosse mais nem ter a honra de vê-la aqui em meus aposentos, mamãe – disse Sirius, surpreendido com seu próprio tom tão frio e irônico. O sorriso cínico, com um pingo de triunfo, apareceu no rosto do garoto sem muito esforço.
- Sinto nojo em ter você como filho... É terrível ter que agüentar esta vergonha. Só vim lhe avisar que suas primas chegarão no início de agosto e dormi aqui alguns dias, ficarão até o seu aniversário. Não irei admitir nenhuma gracinha, ou você pagará. Ambos estamos ansiosos para que essas férias acabem, espero, mas não deixarei que você volte para lá, caso não se comportar, traidorzinho imundo. Vejo agora que o melhor modo de te fazer pagar pelo que fez é o proibindo de fazer o que mais gosta – a mãe sorriu maliciosamente antes de sair batendo a porta. Nem ao menos deu tempo para Sirius responder.
Ele continuou mirando a porta com o olhar. Como se mais alguém fosse entrar em seu quarto novamente. Enterrou a cara nas mãos, ele queria um descanso. Faria o que pudesse para ficar com aquele momento só para ele... Deitou-se, e o sono o levou...
Acordou quando o sol havia começado a se por. Não havia nem ao menos almoçado, contudo, para ele isso não fazia a menor diferença. Sentiu-se em sua cama e passou a contemplar os próprios pés. Não queria descer e encarar seus infelizes parentes. Não queria discutir com mais ninguém... Não naquele dia...
O dia seguinte também não foi dos melhores, muito menos o outro e o outro. Não desceu para tomar o café da manhã, só foi ver os pais na hora do almoço. Todos não falaram nada durante a refeição. Mastigavam compenetrados no que faziam, ansiosos para que aquele momento acabasse o mais rápido o possível. De tarde recebeu uma coruja de Hogwarts com a lista de material do segundo ano.
Gostaria que aquilo tudo fosse um pesadelo, um terrível pesadelo que estava chegando ao fim... Contudo, era a aterradora realidade de sua vida. Sirius olhava a comida desanimado. Não estava com tanta fome apesar de ter comido muito pouco até então. E não comeu tanto assim até largar o prato ainda cheio em cima da mesa e subir para seu quarto.
Não conseguia se imaginar vivendo confinado dentro de um quarto antigo como aquele. Sem ter ânimo nem ao mesmo para comer. Situação deplorável a dele...
Estava deitado em sua cama, absorto em pensamentos de olhos fechados. Não havia possibilidade de ele conseguir sair dali em boas condições. Sua esperança de que seu pai e seu irmão o defendessem de sua mãe estava se desfazendo... morrendo... em vão...
Sirius encarava aquela parede com rachaduras... Não tinha o que fazer para passar o tempo... Observou sua coruja castanho-escura piar dentro de sua gaiola, como se quisesse um pouco de liberdade. E Sirius a deu este sabor. Abriu a gaiola para deixá-la dar um passeio ao ar livre, caçar algo para comer, pelo menos ela iria se divertir. Isso já levantava um pouco seu ânimo. Juliet sobrevoou a cabeça de seu dono antes de sair pela janela e desaparecer como um pontinho negro no céu no horizonte.
A coruja só retornou na manhã do dia seguinte. Sirius mal havia acordado e deparou-se com a silueta de sua coruja, bicando a vidraça da janela. O garoto se apressou para abri-la e deixar sua coruja entrar, contudo, esta entrou piando e Sirius sabia que isso chamaria atenção de seus parentes.
O garoto procurou fazer de tudo para a coruja parar de piar, apesar de serem pios de alegria. Demorou até conseguir enfim manter silêncio naquele local e, para seu espanto, nada aconteceu. Ninguém entrou no quarto. O garoto estranhou.
Deixou alguma comida para Juliet em um potinho e abriu a porta de seu quarto, espiando o corredor para ver se havia alguém lá. E não havia ninguém.
Saiu de seu quarto e caminhou pelo corredor, não escutava vozes algumas. Talvez tivessem o deixado sozinho naquela casa para fazer o que bem quiser. E, se isso realmente tivesse acontecido, rezava para que não voltassem tão cedo.
Desceu as escadas que levavam para o primeiro andar e não havia ninguém. Era praticamente impossível o silêncio reinar naquela casa quando pelo menos um de seus pais estava presente. Estava certo: o deixaram sozinho lá. Entrou no quarto de seus pais e, sem saber exatamente o porquê, retirou da estante de sua mãe um dos livros preferidos dela e rasgou uma de suas folhas. Foi uma atitude realmente inconseqüente, todavia, ele não mais estava preocupado. Deixou aquele pedaço de papel crepitando do fogo da lareira.
Passou pelo quarto de seu irmão, que, por sinal, era muito mais arrumado do que o dele. Os olhos cinzentos passearam pelo local. A cama perfeitamente feita, os pergaminhos arrumados na escrivaninha, juntamente com as penas. E o quarto tinha inúmeros detalhes verdes, muitas vezes com símbolos de serpente. Como haviam conseguido fazer-lhe uma completa lavagem cerebral em tão pouco tempo?
Abaixou a cabeça, mordendo o lábio inferior, com uma expressão triste. Tinham tirado-lhe seu irmão. Aquele com quem brincava quando criança, que não se importava com sangue-puro e tinha suas próprias idéias, convicções, mesmo que fosse apenas uma criança. E agora... estava sozinho, naquela casa de pessoas que lhe pareciam estranhas, mesmo que fossem do mesmo sangue. Doía-lhe lembrar das palavras que trocara com Régulo dias atrás. Não era o mesmo de sempre...
Com um suspiro, pensou em descer e comer algo já que estava com fome. O corredor estava tão vazio que se sentia até um pouco mal. Solidão... talvez precisasse dela. Caminhou lentamente e seus ouvidos captaram um barulho... Eram passos... passos leves. E então se lembrou: Monstro! Com certeza estava por ali.
Os passos tornaram-se cada vez mais próximos. E ao virar um corredor, deu de cara com o elfo doméstico, que limpava um dos inúmeros objetos de prata da Mansão Black. Os olhares se cruzaram. Os olhos grandes e redondos do elfo exibiam algum sentimento ruim, era desprezo. Ele sempre apoiou Walburga, a qual devia ter dito ao elfo que Sirius era um ingrato, que não dava importância à família e a confrontava sem piedade. O elfo devia tê-la consolado quando recebeu a notícia de Narcisa.
Mas, por que ele se rebaixaria a ponto de ter medo de um elfo doméstico? Não era Monstro quem tinha de cumprir suas ordens? Um sorriso discreto formou-se nos lábios do garoto e ele continha certa malícia. Depois de tanto tempo preso dentro do quarto, recebendo olhares e palavras nada agradáveis, ele merecia uma diversão.
Pisava com leveza. Era como se pisasse descalço em seda, tão silenciosos eram seus passos. Passadas estratégicas, como as de uma fera, que decide qual o melhor modo de atacar sua presa. Era única coisa que se podia ouvir no corredor, além do paninho que Monstro usava para lustrar as peças caras da estante. E, de alguma forma, o quase absoluto silêncio causou em Monstro uma reação ainda melhor do que a que ele esperava. O elfo estremeceu, ainda que discretamente, e não ousou levantar o olhar, continuando a limpar uma peça de prata, com mais rapidez.
Um poder estranho tomou conta do garoto. Algo que raras vezes ele sentia,mas conseguia ver facilmente no pai. Orion tinha poder, influência, sangue-puro, respeito e a pose elegante, o queixo erguido, sempre tentando mostrar que era superior. Tinha um poder tão grande sobre as outras pessoas, que chegava a dar-lhe até medo. Mas também se via fascinado. E por diversas vezes pensara se um dia seria como Orion. A todo lugar que iam, paravam-no para cumprimentá-lo e havia exatamente aquele mesmo medo e fascínio nos olhos das pessoas quando essas apertavam a mão de Orion.
Monstro nunca fora muito simpático com Sirius. Não como era com Régulo ou Walburga. Mas Sirius sempre tratara o elfo com indiferença como se aquela preferência visível pelo caçula não importasse muito. E realmente não importava. Mas de uma hora para outra, Monstro parecia achar-se no direito de confrontá-lo. Incomodava-lhe mais o fato de todos quererem deixá-lo mal – inclusive um elfo doméstico, que apesar de ter certa inteligência, era ser inferior aos bruxos –, do que realmente a atitude da criatura. E ele novamente voltava a pensar no pai. Monstro nunca lhe lançaria aquele mesmo olhar, porque embora não se afeiçoasse muito a Orion, o respeitava.
O olhar de Sirius foi até a parede em que sua tia, Eladora, havia começado a tradição de pendurar as cabeças empalhadas de elfos velhos o suficiente para não conseguirem carregar uma bandeja, e uma idéia surgiu em sua mente para atazanar o elfo.
Pegou uma das peças na estante e passou o dedo por ela. Uma pequena camada de poeira ficou retida em seu dedo. Nenhuma quantidade da qual fosse sensata reclamar. Mas era o suficiente, para o que ele queria fazer. E essa idéia não era nada boa. Não para o elfo.
- Tsk, tsk, tsk... Do que adianta ter um elfo doméstico se ele faz o seu serviço tão mal que seria exatamente a mesma coisa que não fazer? – perguntou Sirius numa voz calma, pausada, mas que exibia um inconfundível tom de ameaça.
- Monstro tenta fazer o melhor que pode, meu senhor. – murmurou o elfo com aquela usual voz arrastada.
- Você também está ficando velho... – provocou mais ainda.
O elfo não respondeu, muito menos ousou encarar seu dono, tratou de acelerar sua limpeza.
- Sabe, Monstro, eu estava pensando aqui... Estou com sede. Pega um suco de abóbora pra mim lá na cozinha? – perguntou maliciosamente. – Ah, e eu gostaria que ele estivesse bem fresco, sabe, feito do momento.
- Sim, senhor... Monstro vive para servir a família Black... – largou o pano ali mesmo e retirou-se quase que se arrastando pelo chão.
Sirius esperou o tempo necessário, ouvia barulhos e tinidos vindos da cozinha. Logo, Monstro retornava com um copo com seu suco de abóbora em uma bandeja particularmente suja. O garoto então provou o suco e sentiu um gosto desagradável, nada que parecia com abóbora.
- O que é isso?
- O que o senhor pediu.
- Não, eu pedi suco de abóbora e não água barrenta!
- Não temos abóboras em casa, Sr. Black.
- Então trate de comprar... Isto está digno de ser bebido por você! – e jogou o copo no chão na frente de Monstro e este se espatifou derramando líquido pelo chão. – E limpe esta sujeira, logo!
Monstro abaixou-se de má vontade para limpar o chão sob olhar atento de Sirius. Este sentia desprezo por Monstro. Como um elfo doméstico poderia desobedecê-lo desta maneira? Era seu dono ou não era? Esperou o servo terminar a limpeza mal-feita para dizer:
- Você é desprezível...
- Como o mestre Black quiser – respondeu o elfo com um sarcasmo espontâneo, algo que irritou profundamente Sirius.
- Você vai acabar sendo colocado na rua se continuar com este seu jeito arrogante... – enfim encontrara um argumento que jurava assustar Monstro, o qual parou o que estava fazendo e não tornou a responder, como se não soubesse o que responder.
- Vivo para servir a família Black – disse depois de bastante tempo de silêncio.
- Serve sim, quando faz as coisas direito... Mas... Do jeito que as coisas andam por aqui... Essa poeira... O suco... Acho que... – e parou por aí, deixou a mensagem incompleta, mas dava claramente para entender que ele iria falar da caduquice e imprestabilidade de Monstro e, para completar, lançou um olhar para as cabeças empalhadas dos elfos domésticos. – Tia Eladora realmente se diverte – e terminou com um sorriso malicioso, apesar de ele odiar seus parentes, usou aquilo como um modo de intimidar o elfo.
- Vivo para servir a família Black – repetiu Monstro, parecia ter ignorado o que Sirius havia dito, apesar de que, no fundo, não esqueceria tão cedo.
- Você vive para nos servir até que acharmos que não esteja mais fazendo seu trabalho direito.
Monstro não respondeu, foi se arrastando para longe.
- Não me ignore quando estou falando!
- Monstro não ignorou senhor Black, Monstro não ignorou senhor Black, só está se retirando para terminar a tarefa que patroa mandou Monstro fazer – e virou novamente as costas para Sirius, se distanciando pelo corredor.
Sirius se adiantou para empurrar Monstro e este bateu com o rosto no chão. Ele gemeu de dor e ouviu-se um barulho vindo do andar de baixo. Algo parecido como o estrondo de uma péssima aterrissagem no andar de baixo o qual ecoou pela casa.
O som de passos foi possível ser ouvido no andar de baixo e se aproximaram das escadas. Ao Sirius virar para trás, deparou-se com sua mãe arrumada, no entanto, séria. Ela olhava de Sirius para Monstro e enfim falou em um tom entre desprezo e raiva:
- Tome seus livros! – e jogou uma sacola no peito de Sirius que ofegou com o impacto e recuou alguns passos que depois a olhou com os olhos flamejando de fúria. – Foram comprados a segunda mão! Eles são dignos de você!
- Agora, Monstro levante-se e vá preparar algo para mim! Estou com fome e sede! – completou voltando o olhar para o elfo no chão. – E traga um suco de abóbora para Régulo!
- Sim, minha senhora Black. Monstro irá preparar um suco de abóbora para o jovem Black e algo para a senhora, como quiser – disse fazendo reverência exagerada a ponto de arrastar seu nariz adunco no chão e se retirou.
Walburga passou por Sirius sem dar mais nenhuma palavra e entrou em seu quarto, trancando a porta.
O garoto pegou seus livros e entrou em seu quarto também. Sentou-se e analisou o primeiro, era um livro antigo com a capa cheia de remendos, aquilo o enojou. Ele teve vontade de xingar sua família com qualquer palavra que viesse a sua cabeça, e a que veio foi: canalhas!
- Eles... Eles... passaram... dos... limites... – murmurou para si.
Ele nunca pensara que seus pais iriam se rebaixar tanto a ponto de dar para ele livros velhos e remendados, meros livros de segunda mão. Jogou os livros no chão de seu quarto e tentou descontar sua frustração em seu travesseiro, mas aquilo não adiantava. Deitou-se enfurecido, tentando relaxar. Primeiro Monstro depois ela.
Ultimamente, Sirius estava se referindo a mãe como ela, como alguém sem muita importância que bloqueava seu caminho. Um grande obstáculo, uma muralha, para seu futuro. Ele queria se ver livre daquilo.
- Bom dia, Sirius – cumprimentou cordialmente seu irmão a porta de seu quarto, com um copo de suco de abóbora em cada uma das mãos.
- Bom... dia... – as palavras saíram por entre seus dentes.
- Quer um pouco de suco, parece estressado?
- Adoraria – falava lentamente ainda com a voz pastosa de raiva.
O irmão estendeu o copo e Sirius o pegou para beber. Mal percebera de que era um real suco de abóbora, e não igual à água barrenta que Monstro o dera para beber há pouco tempo. Esvaziou o copo em um gole apenas. Aquela bebida refrescante o fez acalmar um pouco, contudo continuava bufando de raiva.
- Foram os livros, não? – perguntou Régulo olhando os livros no chão.
- Não são os livros... É... É ela! Ela! E todos os outros que a apóiam!
- Então... Creio que estou incluído... – disse seu irmão sereno.
- Creio que sim! Entretanto, eu não gostaria que fosse assim! – as palavras saíam de sua boca de modo grosseiro, não era algo no todo intencional, contudo, eram palavras que continham verdade até demais.
- Então, creio que não serei mais bem vindo ao seu quarto... Passar bem, irmão – disse antes de sair de seu quarto. Não fez objeção nenhuma ao que Sirius disse, parecia realmente não se importar com o que Sirius disse.
Ficou encarando a parede com rachaduras de seu quarto...
Os dias passavam e ele contava os dias na esperança de que amanhecesse no do retorno a Hogwarts, mais ainda faltava. Passou os dias sozinho, mal falava com seus pais e muito menos com seu irmão, apesar de ainda se arrepender de não estar tentando fazer nada para mudá-lo. Também não queria rever suas primas tão cedo, a exceção de Andrômeda, contudo, no dia primeiro de agosto a campainha tocou bem mais cedo do que o esperado.
Sirius estava em seu quarto e escutou vozes e uma delas foi muito fácil decifrar de quem era pela frieza.
- Vamos, Monstro, leve logo minhas malas para o quarto! – ordenou a voz de Belatriz e ouviu-se um baque surdo. Com certeza, ela deveria ter empurrado o elfo e este caíra no chão derrubando as malas que carregava. – Cuidado com minhas malas!
- Sim, senhora Black... – resmungava o outro.
- Orion! – bradou uma voz forte e masculina, era seu tio Cygnus.
Sirius levantou-se ao ouvir passos vindos do corredor e a porta se abriu. Andrômeda estava ali com um meio sorriso no rosto.
- Tudo bem, Sirius? – perguntou gentilmente.
- Claro... Er... Quer que eu a ajude com a bagagem?
- Ah! Muito obrigada, mas, na realidade, não precisa. Locomotor malas! – ela brandiu a varinha e suas malas ficaram suspensas no ar, seguindo-a para aonde fosse.
Andrômeda era uma garota realmente simpática, contudo, ela ainda possuía algumas características da Sonserina, como parte de egocentrismo, arrogância, e sempre quando tinha uma ambição, nada mais importava para ela. Sua semelhança a Belatriz era bastante, contudo, seus olhos não possuíam tal frieza, eram maiores e mais bondosos, e seus cabelos eram castanho-claros e suaves caindo em forma de cascata pelas costas.
Sirius seguiu Andrômeda, na esperança de que ela pelo menos o ouvisse quando tivessem tempo para conversarem a sós.
Monstro logo passou ao seu lado arrastando os malões de Belatriz. A bruxa parecia não querer enfeitiçar os malões só para ver a reação do elfo.
Sirius foi empurrado para o lado quando Belatriz passou, ela o lançou um olhar de desprezo com sempre o fazia. O garoto sempre a achara a mais bonita das três irmãs, sempre a achara a mais sensual. Contudo, parecia a que menos se importava com ele. Sempre ficava encantado quando passava com seu rebolar, admirava-se com o escuro estonteante de seus cabelos e suas feições finas.
Seguiu Andrômeda até o quarto em que iria ficar ligeiramente acima do seu. Ela o olhou bondosamente e disse, por fim:
- Sei que está tendo alguns desentendimentos, não? – e fechou a porta para ninguém mais os ouvir.
- Sim... Até Régulo está do lado deles...
- Normal. Até hoje o que eu vi nos nossos parentes é que são muito controladores. Claro que não iriam gostar do que aconteceu com você... Eu realmente não me importo – completou. – Como eu disse, quero arranjar rapidamente um emprego para fazer minha vida... Longe deles.
- E pretende fazer o que?
- Ainda não sei, Sirius...
- Você já não fez os N.I.E.M.s?
Ela não respondeu, apenas sorriu.
- Na vida, tudo está e não certo...
A porta se abriu e Narcisa entrou no quarto com as malas suspensas no ar. Brandiu a varinha e as malas caíram com estrépito no canto do quarto. Agora Sirius havia percebido que este quarto era maior que o seu, atrás dele havia mais uma cama.
- Vou dividir o quarto com você, Drômeda – disse a irmã um tanto prepotente. – Bela ficará aqui do lado. – Ah... Sirius. – sua voz saiu diferente de quando se referiu a Andrômeda, mas agora parecera perceber a presença de seu primo naquele cômodo.
- Algum problema? – perguntou a desafiando, com um sorriso provocador no rosto.
A prima franziu a sobrancelha desdenhosa. Ela era também bonita, era magra e mais alta que Sirius, possuía cabelos loiros e belos olhos azuis.
- Não... nenhum... – respondeu insolentemente.
Saiu daquele quarto antes que começasse a discutir com Narcisa. Ele passou pelo quarto onde provavelmente ficaria Belatriz.
Ele esperava que pelo menos seu tio Alfardo viesse em seu aniversário. E ainda acreditava que ele não iria desapontá-lo, de que iria continuar do jeito que sempre foi.
Sua mãe sempre discutia com Alfardo, talvez nem pelo fato de serem irmãos, mas pelo fato de que Alfardo sempre gostou de Sirius e sempre o mimou como Walburga nunca o fez e nunca pretendera fazer. Alfardo costumava dar incentivos a Sirius e sempre acreditou nele, nunca se importou com o jeito que ele era.
Desta vez ele teve que jantar junto da família, pois estava com muita fome.
Já de noite, desceu para a cozinha e a encontrou bem arrumada. Orion estava sentado na ponta da longa mesa ao centro da cozinha, conversava normalmente com Cygnus, sentado ao seu lado esquerdo. Os dois tinham a mesma idade e provavelmente haviam cursado no mesmo ano em Hogwarts, era uma amizade antiga que até hoje durava, e ainda eram parentes.
Walburga estava sentada do outro lado de Orion e conversava com Druella, sua cunhada, contudo, mesmo em família, sempre mantinha aquele ar de superioridade e arrogância.
- Walburga, você ainda tem notícias de Marius? – indagou Druella, ela sorriu com malícia na face.
- Nunca! Nunca mais falaria com aquele indigno! Ele não é mais da nossa família! – respondeu a outra fazendo uma careta de desgosto.
Sirius sabia muito bem o porquê daquilo. Seu tio-avô Marius não nascera com habilidades algumas em magia: era um aborto. Seu nascimento fora total decepção para a família toda. Os avos de Sirius por parte de mãe tentaram o afastar da família, na chance de eliminar aquela “má influência”. Sirius lembrou-se, quando ainda pequeno, de ter visto sua mãe queimar a foto de Marius da árvore genealógica de sua família, com um ar de loucura, nunca esqueceu aquela imagem de sua mãe. Fora a época em que ele havia retornado, procurando refazer os laços de amizade com a família, porém, foi totalmente ignorado.
Belatriz e Narcisa conversavam calmamente, uma ao lado da outra. Andrômeda não se encontrava no salão, ainda não deveria ter descido.
Monstro cantarolava no fogão, com certeza estava feliz, pois estava entre os Black que mais gostava.
Andrômeda passou por Sirius e sentou-se ao lado de Cygnus, o garoto se apressou para se sentar ao lado da prima, e esta sorriu para ele quando já estava acomodado. Então, Monstro começou a colocar as bandejas com comida em cima da mesa e todos se serviram em grandes porções de comidas.
Houve então um momento em que só ouvia-se o tilintar de garfos com pratos, o resto era silêncio. Então, Sirius ouviu Cygnus comentar com Orion:
- Nossa querida Bela está saindo com um bom rapaz, sabe? Sangue-puro, sinto orgulho dela!
- É mesmo? E qual o nome dele? – perguntou Orion curioso, parando por um instante de comer.
- Rodolfo Lestrange! Ele tem a mesma idade de Bela. É alto, robusto e também pertence a uma família conservadora como a nossa – apesar da felicidade em Cygnus, sua voz continuava saindo naquele tom arrastado e arrogante, muito parecido ao de sua mãe.
- Parabéns, Belatriz! – disse Orion virando-se para sua sobrinha.
Contudo, Belatriz não sorriu nem nada, ela apenas virou seu olhar frio para Orion e acenou com a cabeça. Ela não parecia realmente feliz com aquele assunto. Sirius interpretou como se ela definitivamente não estivesse feliz com o seu “namoro” com Rodolfo.
- Enfim, Orion, você soube daqueles ataques em sangues-ruins? – perguntou Cygnus voltando a atenção a Orion, ele expressava um sorriso maldoso no rosto.
Sirius sabia muito bem o que “sangue-ruim” significava, convivera a vida inteira ouvindo, suportando, esta palavra. Era designada para aqueles que haviam nascido de pais que não possuíam poderes mágicos, nascidos-trouxas.
- Sei sim, Cygnus. Não se esqueça de que sou o encarregado nesta parte do Ministério, sou chefe da seção do Uso Indevido da Magia.
- Acha mesmo que isso foi um uso indevido da magia, Orion? – perguntou o outro desdenhoso em tom de desafio.
- Pelas barbas de Merlin, não! Não se for em relação a sangues-ruins... Entrementes, nós, bruxos, precisamos proteger nossa espécie! A cautela ao máximo! Apesar daqueles imbecis daqueles trouxas merecerem ser torturados também! OH escória insuportável! Mas, enfim, magia diante deles é jogar fora a nossa tradição bruxa... – sua expressão saiu daquele sorriso para algo mais sério. – A não ser... a não ser que todos os trouxas sejam eliminados por alguém, ou um grupo de bruxos! Aí eu os apoiaria!
- Orion... Já passou pela sua mente que isso pode já ter se iniciado?
- Não posso demonstrar nada em público que de fato os apoio, estou quase conseguindo o cargo de chefe do departamento de Execução das Leis da Magia – parecia escolher cada palavra antes de pronunciá-las.
- Orion, ainda acho que estas atitudes que você toma são repugnantes – comentou Walburga se intrometendo na conversa.
- Desculpe-me se a irritou, Walburga. Mas, eu tenho meus motivos! Entendo bem o seu ponto de vista, mas é minha e apenas minha decisão que vou primeiro ser chefe do departamento de Execução das Leis da Magia antes de qualquer coisa!
Sirius riu com seus botões, achara engraçado o fato de seu pai não parecer mais suportar sua mãe e suas manias. Contudo, ainda estavam do mesmo lado da moeda.
- Não foi Araminta Melíflua que propôs a legalização a caça aos trouxas? – perguntou Druella também entrando na conversa.
- Sim – confirmou Cygnus. – Ela foi até a ministra e esta propôs uma reunião. Você não estava na reunião, estava, Orion?
- Estava, fui chamado junto do chefe do departamento de Execução das Leis da Magia e outros bruxos da Suprema Corte... Enfim, ela tentou forçá-los a aceitar a idéia dela, mas no final acabaram negando. E Emília teve que a tirá-la a força do Ministério.
- Aquela Emília Bagnold... Mulher repugnante, ela apóia os sangues-ruins e uma relação pacífica com os trouxas... Eu gostaria muito de poder torturá-la! Nunca tivemos ministra pior... – comentou Cygnus contrariado.
Depois de algum tempo de silêncio, Orion tornou a falar:
- Sabe, Cygnus, você poderia me ajudar amanhã a lançar mais alguns encantamentos a esta casa? Ela está quase indetectável! E creio que podemos torná-la mais segura e imune a trouxas do que está.
- Certo – confirmou o outro, retornando sua atenção para o prato cheio de comida.
Sirius viu que Andrômeda estava concentrada demais em sua comida. Não fez comentário algum. Belatriz havia retornado a conversar com Narcisa.
Depois que todos haviam terminado a refeição, Monstro retirou a mesa obediente e recebeu um breve elogio de Orion, e retornou trazendo uma grande travessa com uma torta de abóbora com espinafre.
Sirius apenas escutava pequenos trechos da conversa de Belatriz e Narcisa, palavras como: “Sei que papai o apóia...” e “Mas... o que estão tramando?”.
Seu aniversário se aproximava, contudo, ele preferia esquecê-lo. Ter como lembrança seu aniversário junto à família, para ele era o fim. Mas não tinha o que fazer em relação a isso.
De repente, não sentiu mais vontade de comer, ficou apenas encarando aquele prato com um pedaço de torta. Levantou-se, largando o prato na pia e subiu para seu quarto. Estava pensando em enviar uma carta para Tiago, se ao menos sua coruja estivesse em seu poleiro. E mesmo procurando no céu, seria impossível de vê-la, sendo que seria apenas um borrãozinho se locomovendo na escuridão daquele céu com pouquíssimas estrelas.
Sentou-se perto da janela e encostou a cabeça na vidraça. Estava com sono, mas não queria se entregar a ele tão cedo. Suas pálpebras começaram a ficar pesadas e ele começou a piscar com mais freqüência, até que acabou adormecendo, aos roncos. Sua respiração embaçava a vidraça resfriada por causa da noite gélida.
Um ponto disforme da escuridão veio se aproximando e se aproximando, até que foi possível ver a grandiosa coruja castanho-escura pousar sobre o peitoril da janela e bicar o vidro inúmeras vezes, na esperança de que seu dono acordasse. Mas este já estava no mundo dos sonhos...
Ele estava em sua casa, em seu quarto mesmo. A coruja bicava ainda a janela de seu quarto. Do andar de baixo vinham gritos e estrondos. Sirius atropelou-se pelo seu quarto e escancarou a porta querendo saber o que estava acontecendo. Tropeçou e rolou as escadas ao tentar descê-las. Suas pernas agora estavam imóveis e muito juntas, ao levantar o olhar, viu a árvore genealógica dos Black. Ele não estava na lista, dos nomes Orion e Walburga saía apenas uma linha até o nome Régulo.
De repente, a árvore se transformou nas cabeças empalhadas de elfos domésticos. Só que, no meio delas, estava sua própria cabeça pendurada ou, pelo menos, uma cópia igual dela.
A porta da cozinha abriu de supetão e Walburga apareceu com um ar de loucura. Ela o encarou com os olhos desfocados e deu uma alta gargalhada. Orion apareceu ao seu lado, também rindo, junto com Belatriz, Narcisa, Cygnus e Druella. Todos apontavam para ele e davam tremendas gargalhadas.
Sentiu-se diminuído, sem vida, sem esperanças. Andrômeda estava estatelada ao chão a certa distância dele, parecia imóvel, talvez até morta.
Seu próprio uivo de raiva o fez acordar daquele terrível pesadelo. Bateu com a cabeça na vidraça da janela e caiu da cadeira.
Levantou-se esfregando o cocuruto e viu que Juliet bicava a janela. Ele deu passos para trás, desdenhoso de que ainda estivesse sonhando. Então, percebeu que se encontrava ali mesmo, era real.
Abriu a janela para Juliet entrar e ela pousou sobre sua própria gaiola, no outro canto do quarto.
- Juliet, você pode levar uma carta para mim? – perguntou o garoto, puxando um pedaço de pergaminho e começou a escrever nele após um pio da coruja, que entendeu como um sim.
Ao terminar, a carta ficara da seguinte forma:
Tiago,
Como estão indo suas férias? As minhas estão indo naturalmente péssimas, eu não esperava melhor delas. Minhas queridas primas vieram me fazer uma incrível visita, e deverão ficar até o meu aniversário aqui. QUE PRESENTÃO!
Mas, e aí? Você já tornou a encontrar com alguém da escola? Eu mal espero para voltar pra lá.
Sirius.
P.S: caso você queira enviar uma resposta, use Juliet, ela saberá que é para entrar pela janela do meu quarto e não qualquer uma e, se for usá-la, peço que dê algum lugar pra ela ficar e algo para ela comer, meus pais negaram comprar comida pra ela, ou seja, teve que caçar todas as vezes que estava com fome!
Amarrou a carta na perna da coruja e esperou que ela saísse noite afora para fechar a janela. Contudo, sua resposta não retornou tão cedo quanto esperava...
O dia sete de agosto amanheceu como um dia qualquer. Sirius não esperou que naquele dia, seu aniversário, seus pais iriam deixar seu presente aos pés de sua cama, se é que havia algum presente deles. Do jeito que estiveram tratando Sirius, estava claro que não iria perdoá-lo tão cedo.
Havia apenas um presente em cima de sua escrivaninha: era de Andrômeda. Sirius desembrulhou cuidadosamente o presente e encontrou um livro intitulado: “Aprenda azarações para pregar peças”.
A primeira pessoa em que pensou foi em Snape. Talvez fosse esse o motivo de sua prima ter lhe dado o livro: pregar peças. Sorriu e levou o livro até debaixo de sua cama, guardou o livro no buraco em que havia a falsa parede onde guardava suas revistas de trouxas.
Poucos minutos depois, quando retornava do banheiro após escovar os dentes. Viu que havia uma coruja diferente parada no peitoril de sua janela. Abriu-a para deixar a ave estrangeira entrar e ela deixou cair em cima de sua cama um pacote com uma carta antes de dar meia volta no ar e sair pela janela.
Sirius retirou a carta do pacote e leu:
Parabéns pelo dia de hoje, Sirius!
Espero que você seja muito feliz neste seu dia, que tenha muitos presentes e que se sinta livre para fazer o que puder neste dia, seu dia. Acho que você vai gostar do presente, eu mesmo que escolhi.
Espero que suas férias estejam sendo agradáveis.
Do seu amigo,
Remo Lupin
Sirius sorriu ao ver quem era o remetente. Mal sabia por que Lupin havia se dado trabalho de lhe dar um presente, sabia que não era de uma família muito rica ou com boa parte financeira. Abriu assim mesmo o presente, e este continha outro livro. A arte básica da Transfiguração era o título, mas embaixo havia uma frase com os dizeres: para você que um dia espera poder transfigurar o seu irmão em uma figurinha de sapo de chocolate.
Folheou o livro e viu que ele possuía grandes figuras com o resultado das transfigurações e parecia realmente interessante. Guardou-o junto ao livro que Andrômeda lhe dera e voltou a deitar em sua cama.
A porta se abriu devagarzinho e Andrômeda entrou no quarto, cautelosa. Ela sorria gentilmente e cumprimentou Sirius com um cordial ‘bom-dia’.
- Já viu o presente que te dei, não?
- Sim, já vi. Muito obrigado! – agradeceu com um sorriso bondoso também.
- Eu preferi deixar de noite, depois que você tinha dormido, do que entregá-lo na frente de todos, caso eu tivesse que fazer isso. Você deve imaginar o que seus pais, e os meus, iriam fazer. Bem... De qualquer forma, você deve estar pronto pra pregar uma peça, não?
- Ah, sim! Já tenho um alvo e... Se não se importar... O meu alvo é um sonserino.
- Problema algum. Grifinórios não são tão bonzinhos com sonserinos mesmo, só nós mesmos – e riu. – Faça bom uso, mas, cá para nós, use algo que funcione e não deixe suas pegadas.
Sirius sorriu com seus botões e desviou, então, sua atenção para Juliet encarrapitada em seu poleiro.
- Vai tomar o café da manhã? – perguntou Andrômeda.
- Não sei... Não queria receber isso de aniversário. Aquele gelo que sempre prevalece em relação à mim no café da manhã, almoço, jantar, ou qualquer outra refeição em que eu esteja presente.
- Vamos lá, ué. Ou vai ficar com fome?
- Só porque você pediu...
Levantou-se e seguiu a prima para fora de seu quarto. Não ocorreu diferente do que previra, ninguém citou nada sobre seu aniversário no café da manhã. Régulo e Narcisa foram os únicos a cumprimentarem Sirius. Sendo que a voz de sua prima estava carregada de arrogância ao pronunciar as palavras “Feliz aniversário”.
Walburga pareceu ignorá-lo. Orion pareceu tentar cumprimentá-lo pelo dia ao dizer “sirva-se” e um sorrisinho seguido de uma tossida quando o garoto se sentou à mesa. Belatriz o encarou com aqueles olhos frios por algum tempo, Sirius interpretou isso como um cumprimento.
Então, a campainha soou.
Orion se adiantou para atender a porta e saiu da cozinha como um foguete. Segundo depois, escutou a sua voz trovejante anunciar o recém-chegado, com um pouco de surpresa:
- Oooooooo... Alfardo! Quanto tempo!
- Orion, pois é, não? Eu acho que o tempo encurta os encontros familiares.
- Estamos almoçando, está servido?
- Ah, muito obrigado!
E os passos foram ecoando cada vez mais alto, anunciando a chegada dos dois na cozinha.
Alfardo entrou no cômodo com elegância. Possuía cabelos morenos e compridos até o ombro como os de Sirius. Ele era um pouco mais alto que Orion, com aspecto limpo e nobre. Havia deixado o bigode crescer, mas, ainda assim, tinha certo ar de juventude, apesar de não ser tão jovem.
Ao ver Sirius, Alfardo abriu um largo sorriso e retirou das vestes internas um pacote e o entregou, abraçando-o logo em seguida.
- Feliz aniversário, Sirius! Quanto tempo, hein? Não nos vemos! Terminou seu primeiro ano em Hogwarts, deve estar muito emocionado em conhecer a escola, não? Bom, de qualquer forma, poderemos conversar com mais calma mais tarde – disse a voz grossa de seu tio. – Espero que goste do presente – completou em um sussurro no ouvido do garoto.
Alfardo viu Walburga muito séria, o mirando com os olhos flamejantes. Ela não parecia ter gostado da animação dele em ver Sirius.
- Para que está sendo assim, tão calmo e bom com ele? – perguntou ríspida.
- Desde que eu saiba, em aniversários é costume parabenizar as pessoas. Ainda mais para a família. Caso você não queira fazer isso, o problema não é meu.
- Você me entendeu, Alfardo! Nada que ele tenha feito até agora tenha dado a ele o merecimento de receber um presente em seu aniversário.
- Ele é meu sobrinho e me acho no direito de tomar as minhas decisões. Muito bem... – disse retirando sua capa e descansando-a no encosto da cadeira. – Andrômeda, você também merece os parabéns, ótimos N.I.E.M.s! E a Narcisa também, pelos N.O.M.s... mas como o tempo passa rápido...
Depois de ter cumprimentado todos, sentou-se ao lado de Sirius, que havia deixado o presente para abrir em seu quarto, quando estivesse sozinho e em paz, e se serviu com o que tinha na mesa.
Sempre fora isso que Sirius gostava em Alfardo: este modo como pouco se preocupava com a opinião de Walburga, sua própria irmã, em relação aos outros e, ainda assim, conseguia se contrapor à ela. Sua mãe permaneceu muito calada durante toda a refeição e não quis a sobremesa.
Após que todos haviam terminado a refeição, foram saindo da cozinha, e Sirius subiu para seu quarto, carregando seu presente. Só o abriu quando estava seguro em seu quarto, fosse o que fosse, poderia ser algo contra o gosto de sua mãe e, se isso acontecesse, ela iria fazer uma algazarra.
O pacote estava bem embrulhado, mas, Sirius se encantou com o que ele continha: um espelho de duas faces.
Ouviu novamente bicadinhas em sua janela, desta vez era Juliet, com um embrulho amarrado à perna. Sirius de adiantou para deixar a coruja entrar em seu quarto e retirou o embrulho de sua perna. Percebeu que a coruja estava com um ar mais saudável do que nunca: Tiago havia feito o que ele pedira. Anexada ao embrulho, tinha uma carta com a caligrafia do amigo.
Feliz aniversário!
Espero que a demora tenha compensado com o presente!
Então suas férias estão sendo ‘naturalmente péssimas’! As minhas estão ocorrendo bem, nada demais, nenhuma novidade, e não encontrei com ninguém.
Eu ainda tenho procurado sobre o problema de Lupin, mas não tenho encontrado nada nos livros do meu pai, ou estou procurando errado. De qualquer forma, tenha um feliz aniversário, pelo menos isso.
Caso esteja se perguntado, eu alimentei BEM sua coruja.
Até o dia primeiro de setembro,
Tiago.
Guardou a carta, junto à de Lupin, em uma gaveta e abriu o embrulho. Era uma caixa de bolos de caldeirão, a qual foi guardada debaixo de sua escrivaninha.
Ele sentou em sua cama, ainda pensando no que poderia fazer naquele dia. Sabia que não tinha muitas opções, por causa da limitação de seus pais. Mas estava feliz: de qualquer forma, seus amigos haviam se lembrado de seu aniversário. E estava com a companhia de Andrômeda e, agora, Alfardo. Portanto, nada importava mais naquele dia...
Adormeceu... Seu sonho pareceu curto demais, foi interrompido por um berro do andar de baixo. Sirius acordou assustado. A pessoa tornara a gritar, deduziu, então, que era a voz de sua mãe pela intensidade.
- Por que veio aqui?! Veio aqui prestigiar um traidor, é?
Os gritos pareciam vir da cozinha, contudo, as respostas pareciam ser em tom de voz normal, de modo que o garoto não conseguia escutar. Mesmo do corredor não dava para escutar a resposta do outro, e foi se aproximando da cozinha.
A porta estava fechada, e não havia ninguém por perto, então, encostou o ouvido para escutar melhor o que estava se passando na cozinha. A voz de sua mãe estava muito mais alta agora que estava perto. Parecia a Sirius que mais um daqueles berros e a garganta dela explodiria. Até que não seria tão mal se isso acontecesse, pensou para si mesmo.
- PARECE ATÉ QUE NÃO ACONTECEU NADA, NÃO É? FICA ALIMENTANDO ESSA VONTADE DE ACABAR COM A NOSSA FAMÍLIA!
- Não, Walburga. Como eu até já disse a você: tudo o que as pessoas fazem, normalmente, tem um motivo claro, mas, pelo motivo que seja, não há por que menosprezá-lo, Walburga – disse a voz calma de Alfardo.
- Sim, ele tem um motivo sim: ACABAR COM A NOSSA TRADIÇÃO FAMILIAR QUE TEM NOS MANTIDO NO TOPO DA CLASSE BRUXA! – parecia descontrolada.
- Não, você não entende os jovens...
- E VOCÊ ALIMENTA ELE! – continuou como se não tivesse escutado Alfardo. – AQUELE... – não conseguiu completar.
- Eu o alimento? Você está considerando o seu próprio filho como um animal?
- ELE ESTÁ ANDANDO COM SANGUE-RUINS!
- Creio que escolhas e opiniões sejam por conta da pessoa e não por...
- É ASSIM AGORA? ENTÃO VOCÊ ESTÁ DECLARANDO ESTAR DO LADO DELE?
-... conta de outras. Caso a escolha tenha te irritado, creio que seria mais fácil conversar com Sirius do que começar a berrar...
- ME RESPONDA!
- Está vendo? Só conversa berrando.
- EU FALO DO JEITO QUE QUISER!
- Até com visitas?
- NÃO FUJA DO ASSUNTO!
- Não fugi... De qualquer forma, acho grosseiro o modo como trata o menino, se for este modo.
- OS MÉTODOS QUE USO NÃO TE INTERESSA!
- Então não precisaremos continuar esta conversa...
- AHA! VOCÊ NÃO QUER ADMITIR QUE ESTÁ CONTRA A NOSSA PRÓPRIA FAMÍLIA! POUCO FALTA ENTÃO PARA SE TORNAR UM TRAIDOR SUJO!
- Traidor sujo? Se eu quero conversar da maneira certa com você eu sou um traidor sujo?
Sirius riu silencioso, ainda escutando cada palavra. Achava ótimo que Alfardo não se exaltava, e cada vez irritava mais Walburga. Por isso ele era seu tio preferido, sempre o apoiou e sempre manteve aquela postura.
- NÃO ME VENHA COM ESSA! EU QUERO SABER POR QUE VOCÊ NÃO APOIA A FAMÍLIA!
- Eu apoio a voz da razão – cortou ríspido.
- Ah... E, em sua concepção, qual seria? – vociferou Walburga com sarcasmo.
- Seria conversar com Sirius. Tratá-lo do jeito que deve ser tratado. O direito dele é o mesmo de todos. Todos têm o direito de se rebelar quando acham que algo está errado, ou algo está preso na garganta.
Walburga soltou uma gargalhada alta e sarcástica.
- E, estou saindo.
- Vai aonde?
- Vou levar Sirius para passear por aí...
- COMO É QUE É?!
Contudo, a porta da cozinha se abriu de supetão interrompendo a discussão. Os dois que estavam lá dentro olharam assustados para Sirius, agachado na entrada da cozinha. Sirius ficou lívido.
- Espionando... tsk-tsk – zombou uma voz fria atrás dele: era Belatriz.
Sua prima estava com a varinha empunhada, deveria ter sido ela a culpada por revelá-lo. Contudo, Alfardo logo se recuperou.
- Ah, Sirius – disse abrindo um sorriso – eu estava pensando... Que tal dar uma volta aí pelo Largo Grimmauld? Talvez um pulo à Londres.
Sirius assentiu com a cabeça exageradamente e, sem consultar a Walburga, Alfardo saiu da cozinha, seguido do garoto. Passaram por Belatriz e caminharam em direção à porta da frente. O tio retirou ligeiramente algo do bolso que lembrava um relógio e tornou a guardá-lo. Abriu, então, a porta e saíram naquela rua deserta, enquanto a casa, atrás dos dois, se estreitava até desaparecer.
- Alfardo... Como você sabia que não haveria nenhum trouxa por aqui?
Seu tio riu e retirou novamente das vestes um relógio de bolso que, diferente do comum, não possuía ponteiros ou qualquer coisa que indicasse horas, e sim uma espécie de radar, que detectou um ponto quando passaram por uma pessoa. Sirius gostou daquele detectador de trouxas.
- Alfardo, eu não estarei em encrenca quando retornar em casa? – perguntou Sirius, só agora refletindo o que acabara de acontecer.
- Sua mãe nunca mudará o modo de ser tão facilmente. Ela só se encontrará mais irritada quando chegar em casa – disse calmamente. – Bem... Qualquer problema, você sabe que pode me chamar – e sorriu. – Vamos dar um volta em Londres. Você merece sair um pouco daquela casa.
Os dois foram caminhando naturalmente, jogando conversa fora. Estavam caminhando por uma rua estreita quando Alfardo, Sirius tocou em um assunto que há muito queria discutir com seu tio: a família Black.
- Alfardo... O senhor deve conhecer todas as histórias da nossa família, não?
- Sim, creio que conheço o suficiente.
- E, por que há está obsessão por sangue-puro?
- Neste caso, não começa apenas com os Black. Mas são famílias conservadoras, a tradição vai passando pelas gerações. Sinceramente, eu não gosto de trouxas, nem nunca me simpatizei com eles... pelo menos não com os que conheci – completou. – Mas, se uma pessoa da minha família tem relação com um deles e é feliz, para mim não faz diferença. O mesmo com nascido-trouxas.
- Hum... Certo... Mas... Houve alguém da nossa família que teve relações com trouxas?
- AH, minha irmã, sua mãe, deve ter excluído estes integrantes da família... Ela considera-os indignos, sabe? Andou queimando alguns da árvore genealógica da última vez que vi – e esfregou o queixo de leve. – Mas, sim. Uma das primeiras foi Isla Black, irmã de Fineus Nigellus, seu trisavô.
- Como?!
- Sim, Walburga nunca o contou sobre ela. Como também não deve ter contado de Sirius... Sim, seu nome é em homenagem a ele, era outro irmão de Fineus – disse com um sorriso. – Sirius morreu cedo, tinha apenas oito anos, saúde frágil, sabe?
“Outro que também foi excluído da árvore foi Fineus Black, filho de Fineus Nigellus. Segundo o que disseram, ele foi viver junto aos trouxas, como se fosse um deles. Trabalhando como um trouxa, ele suportava as leis dos trouxas.”
- Hum... Eu não vejo nada de mais nisso.
- Nem eu – e riu. – Nossa família é assim mesmo... Meu tio Marius era um aborto...
- Ah! Desse eu sei – disse Sirius.
- Cedrella Black também foi excluída da tapeçaria. Era neta de Fineus. Se casou a pouco tempo com Septimo Weasley. Ele era puro-sangue, contudo, diziam que traía o sangue nobre que possuía... – disse o outro.
Entraram em outra rua.
- Sabia que Fineus foi o diretor mais odiado de Hogwarts? – perguntou Alfardo e, ao ver a cara de espanto de Sirius, completou: – Sim, ele foi. Era muito conservador, utilizava regras que acabavam tirando direitos de nascido-trouxas e favorecendo puro-sangues. Também aprovou algumas torturas a alunos indisciplinados.
- Caramba! Sorte que não é mais diretor de lá! – disse Sirius.
Após algum tempo andando pela rua, já em uma calçada, algo despertou em sua mente:
- Tio, o senhor e a mamãe se odeiam?
- O QUE?! Não! Somos irmãos, discutimos como qualquer um. Eu apenas não apóio os métodos de sua mãe para... para tudo! Sempre divergi com ela. – e sorriu naturalmente. – Ah! Veja! Estamos chegando.
E Alfardo começou a falar de Londres, enquanto entravam na cidade, mudando o assunto anterior.
Levou-o até uma sorveteria para provar os sabores dos sorvetes dos trouxas. Sirius gostou do sabor de pistache. Alfardo ainda o levou para conhecer alguns pontos importantes do mundo trouxa.
- Sabe... A cidade é realmente muito bonita. Mal acredito que foi construída por trouxas – comentou. – Sirius... Você já pensou em passar uma de suas férias na minha casa? Deve saber onde fica, não? É um pouco longe daqui.
- Claro! Seria um prazer!
- Precisamos apenas de que sua mãe deixe e...
- Ah não! Se for assim ela nunca deixará!
Alfardo apenas sorriu, como se imaginasse a cena...
Estava escurecendo quando os dois retornaram ao Largo Grimmauld. O tio de Sirius conferiu novamente o relógio antes de sussurrar algo e a casa de número doze foi surgindo entre as outras duas.
Entraram silenciosamente. Alfardo tomou a frente de Sirius. Apenas Belatriz estava na sala, mas ela nada disse, pareceu ignorá-los. Walburga se encontrava no segundo andar, e sua expressão não era das mais satisfeitas e, como algo esperado, ela descontou sua raiva através de berros:
- Então! VOCÊS AINDA TÊM CORAGEM DE VOLTAR AQUI EM CASA!
- Sim, Walburga. Estou com um pouco de fome? Poderia me oferecer um vinho, não é mesmo?
- Oh-ho! Não acha que está abusando demais?! Mas, acho que Sirius pode ir se despedindo de você, pois ele ficará trancado em seu quarto e... – abriu um sorriso desafiador, para, enfim, de gritar –... acho que também não ira conversar com seus amigos. Sua coruja foi trancada em uma gaiola e colocada no sótão, e queimei aqueles bolos de caldeirão que estavam debaixo de sua mesa.
- JULIET NÃO! ELA VAI MORRER SE FICAR SEM COMIDA! – exclamou Sirius indignado.
- Ah, não se preocupe, Sirius. Ela não ficará trancada. Eu vou a levar para a minha casa. Injustiça com animais é um dos piores modos de vingança... – e passou por Sirius.
Walburga agarrou o braço de Alfardo e o puxou com toda a força de volta.
- Você NÃO vai fazer isso!
- Ah, eu vou. Mas, antes, acho que você primeiro deveria conversar com Orion sobre as decisões que tomou... Se você tivesse conversado com ele, creio que a história mudaria um pouco de rumo – e subiu as escadas que levavam aos andares superiores.
Walburga agarrou Sirius, como alvo para descontar a raiva e o arrastou até o quarto dele. Régulo havia saído do próprio quarto para saber o que estava acontecendo e viu quando sua mãe empurrou o irmão para dentro do quarto e trancou a porta com magia.
O garoto ainda escutou os passos de alguém se aproximando e a voz de Walburga ressoou grave novamente: “não levará esta coruja!”
- Sirius é o dono dela e ele concordou que eu cuidasse dela. Portanto, espero que você tenha um bom dia.
Poucos minutos depois, a porta da frente bateu e um som metálico alto e ressoante soou por toda a casa. Um som de alguma relíquia rara se espatifando: Walburga deveria ter quebrado um de seus próprios pertencer para descontar sua raiva.
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