Advinha quem vem para o jantar
Adivinha Quem Vem para o Jantar
Gina estava de pé na cozinha mexendo nas panelas enquanto as facas que ela havia enfeitiçado estavam cortando os vegetais. As crianças haviam finalmente saído de seus pés e agora estavam assistindo um vídeo na televisão da sala de jogos. Ela olhou para os relógios na parede, o da esquerda lhe disse que eram 16h57, o da direita tinha um braço para cada um da família, cada um com uma foto. O braço que correspondia a Harry havia acabado de se mover de "No Trabalho" para "Viajando" e então, com um barulhento crack vindo do jardim, se moveu até "Em Casa". Ela sorriu enquanto ele entrava pela porta da cozinha e largava sua capa e bolsa. Ele caminhou até ela e colocou seus braços ao redor de sua cintura lhe dando um breve beijo na bochecha. Olhou por sobre o ombro dela para ver o que havia na panela e respirou fundo.
"Hummmm... O cheiro está maravilhoso", ele murmurou no ouvido dela.
"Obrigada. Poderias arrumar a mesa? Vai estar pronto logo, logo. Como foi teu dia?"
"Normal. Ron e eu passamos algum tempo na Travessa do Tranco hoje, fazendo umas pesquisas sobre um caso novo", Harry respondeu enquanto acenava a varinha para o balcão onde Gina já havia colocado os pratos. Ele assumiu uma expressão de confusão quando notou que haviam seis pratos ao invés dos costumeiros cinco.
"Hum, Gina... Por que temos seis pratos hoje?"
"Ah, sim, eu encontrei uma pessoa hoje no mercado e o convidei para jantar", Gina olhou para o marido, "Espero que ele não esteja muito bravo comigo", ela pensou consigo mesma.
"Trazendo teu namorado para casa pra conhecer teu marido, é... É um ato de coragem", ele piscou para ela.
Gina riu, "Bem, ele parece bem forte. Eu não acho que tu conseguirias ganhar uma briga com ele", ela brincou também.
Ao terminar de preparar a mesa, Harry acenou mais uma vez com a varinha para trazer uma cadeira para o convidado.
"Então, é alguém que eu conheça, ou algum velho amigo seu?"
"Tu conheces ele... conhece bem até, pelo menos costumava conhecer. Nós encontramos teu primo no mercado hoje, ele me ouviu chamando os nomes de Tiago e Lílian, e então ele viu Al e, bem, não se pode negar que ele se parece contigo naquela idade, e ele, bem, chegou à conclusão de que eles deviam ser teus filhos e veio falar comigo", Gina falou tudo de uma só vez.
"Meu primo? Duda?", Gina concordou com a cabeça e olhou para ele para ver qual seria a reação. Num primeiro momento teve uma expressão de medo, misturada com confusão, e então... poderia ser... ansiedade?
"Ele me pareceu genuinamente interessado em saber como tu estavas. Eles sabiam sobre a derrota de Voldemort. Ele disse que eles ficaram contentes em saber que tu sobreviveste a tudo".
Harry pareceu um tanto surpreso, "Eu duvido que Valter tenha ficado muito contente, provavelmente só ficou alegre que toda a confusão tivesse acabado e que ele poderia ter sua vida 'livre de mágica' de volta".
"Duda disse algo mais ou menos neste sentido quanto ao pai, mas disse que ele e a mão ficaram muito contentes", Gina caminhou até Harry para olhar nos seus olhos. Ela colocou as mãos no peito dele e disse, "Não ficaste bravo que eu o convidei, não é? É que me pareceu a coisa certa a se fazer e eu já o havia convidado antes de realmente pensar no assunto".
"Não estou bravo... surpreso, mas não bravo. Não sei se fico mais surpreso por vocês terem se encontrado ou por ele admitir que me conheça pra falar a verdade".
Antes que ela pudesse responder, eles ouviram o barulho de um carro estacionando na frente de casa.
"Pelo menos ele é pontual", disse Gina ao dar um leve aperto nas mãos do marido.
Eles caminharam pela casa até a porta da frente, passando pelas crianças que ainda estavam com os olhos fixos no filme, já que era raro Gina deixá-los assistir. Eles alcançaram a porta no momento em que Duda tocou a campainha. Harry olhou para Gina, ele parecia um pouco nervoso. Ela piscou para ele.
"Tu consegues... Ele é o teu primo, não Voldemort", ela murmurou no ouvido dele. Ele revirou os olhos e então abriu a porta.
Duda estava parado ali com uma garrafa de vinho, a qual ele entregou para Gina ao dizer, "Obrigado por me convidar... Eu não sabia o que trazer, espero que vinho agrade".
"Vinho está perfeito, obrigada".
Duda se virou e olhou para Harry, ele havia crescido e não era mais aquele garoto magricela que ele conhecia. Harry também olhou para o primo. Ele ainda era um tanto grande, mas parece que a maior parte da gordura havia virado músculo. Harry estendeu a mão para o primo.
"Duda, já faz um bom tempo. É bom te ver de novo".
"Você parece bem, Harry", respondeu Duda ao apertar a mão de Harry. Gina observava os dois homens parados atrapalhadamente na porta.
"Bem, não queres entrar e se sentar, Duda? Eu vou levar o vinho para a cozinha e cuidar do jantar", Gina disse e Harry entrou com Duda. Eles passaram perto das crianças que tiraram os olhos do filme para vê-los.
"Esse é o moço que vimos na loja hoje", disse Tiago, "O que ele tá fazendo aqui, papai?"
"Bem, Tiago, ele é o meu primo Duda", disse Harry para o filho.
"Eu achava que a única família que tu tinhas eram aqueles Trouxas que te tratavam mal", disse Alvo. Harry enrubesceu levemente. "Pelo menos foi o que o tio Ron disse".
"Bem, eu não vou mentir e dizer que nós tratávamos Harry do jeito que ele merecia ser tratado, mas eu espero que possamos deixar o passado para trás agora", disse Duda ao olhar para a miniatura de Harry na sua frente, com muito mais saúde e amor que o Harry na idade dele. Ele sentiu uma pontada de culpa ao voltar o olhar para Harry.
"Harry, eu... eu preciso pedir desculpas. Não quero tentar justificar o que eu fiz quando garoto, eu era terrível contigo. Mas tudo que eu ouvia dos meus pais era o quanto a magia era perigosa, e má, e que tu eras uma aberração e eu, bem, isso era só o que eu sabia. Não é para me justificar, mas é a verdade. Desde aquele dia, quando aquelas coisas vieram atrás de mim... Tu foste incrível naquela noite. Tu os espantaste e ainda me carregaste pra casa... um feito e tanto", Duda riu ao lembrar o quão gordo era quando menino, "Eu nunca tive realmente a chance de te agradecer por aquele dia, e tu realmente tinha todos os motivos para ter me abandonado lá".
"Não precisas falar sobre isso. E tu me agradeceste... naquele dia que saímos da Rua dos Alfeneiros".
"Não acho que aquilo conte. E realmente não tem jeito de concertar o passado. Eu fico feliz de ver a linda casa e família que tens hoje. A ruiva... Acho que ainda não sei o nome".
"Gina".
"Gina... Ela deve ser daquela família de quem eras tão próximo".
"Os Weasley... sim, ela é a mais nova, a única garota dos sete. O irmão dela, Ron, ainda é meu melhor amigo. Eu trabalho com ele no Ministério, somos aurores... nós procuramos bruxos das trevas", ele disse ao notar o olhar confuso do primo, "Ele e a esposa, Hermione, moram no fim da rua com seus dois filhos".
"Eu lembro do dia em que eles chegaram pela lareira", ele empalideceu levemente ao lembrar que havia comido o doce que caiu do bolso de um dos gemes de cabelos vermelhos, e do tamanho que sua língua havia ficado, a ponto de nem mais caber dentro da boca.
Harry, entendendo o que havia causado a expressão de Duda, disse sorrindo, "Sim, bem, Fred e Jorge adoravam aprontar com todo mundo. Ainda bem que Arthur sabia o que fazer pra voltares ao normal, hein?"
"Hum... aqueles dois não moram no fim da rua, moram?", Duda perguntou cautelosamente.
Harry suspirou, "Não, Jorge mora em Hogsmeade perto de uma das filiais da loja. Fred... nós perdemos Fred na batalha final", Harry olhou para as fotos da família que decoravam a parede da sala de estar e viu Fred com um grande sorriso e acenando para ele enquanto colava algo nas costas de Jorge.
Duda viu a dor que passou brevemente pelo rosto de Harry. "Desculpe. Teve realmente uma batalha então? Eu ouvi Dedalus e Hestia comentando. Só que pareceu tão... irreal... Não sei se eu realmente algum dia cheguei a acreditar nela".
Harry conduziu Duda para fora da sala de estar, para longe dos olhares curiosos das crianças. "Foi muito real, bastante apavorante e muito mortal... Eu perdi muitos amigos na guerra contra Voldemort. Só agradeço pelas perdas não terem sido tantas quanto poderia ter acontecido", ele disse ao olhar novamente para a esposa que estava acabando de arrumar a mesa, agradecendo a todos aqueles anos com ela. Ela olhou para ele e sorriu, sabendo o que estava passando pela mente do marido.
Ela caminhou até ele e lhe beijou a bochecha, "Sim, as coisas poderiam ter sido muito piores", ela o abraçou com força, o próprio agradecimento por ele estar ali com ela estampado no rosto. Eles dificilmente falavam sobre a batalha agora, tinha sido a muito tempo atrás já, e eles já haviam tido essa conversa dezenas de vezes, mas às vezes o passado reaparece, especialmente quando alguém que não se vê a muito tempo reaparece em sua porta.
Duda os observou, dificilmente acreditando que aquele era o mesmo garoto que dormia no armário em baixo da escada, o mesmo garoto que ele atormentou por tantos anos apenas por ser diferente. Ele sentiu novamente uma pontada de culpa ao pensar na sua esposa e filhas. Ele nunca havia contado a elas como ele havia tratado mal o primo. Sua esposa sabia de Harry, claro, mas não o quão mal ele e os pais o haviam tratado. Suas filhas nunca nem haviam ouvido o nome de Harry. Ele pensou na sua filha mais velha, ele tinha tanta vergonha... Como ele poderia compensar todos os erros do passado? Será que ela seria obrigada a pagar por todos eles?
Gina se desenlaçou de Harry e chamou, "O jantar está pronto. Crianças, venham comer", então ela ofereceu a Duda um lugar à mesa, e, com um aceno da varinha, ela serviu o vinho que Duda havia trazido, "Espero que gostes".
*** N/A: Eu comecei esta pequena história para ter um só capítulo, mas ela parece ter criado uma vida própria. Eu acabei de escrevê-la e agora ela tem 5 capítulos. Obrigada por terem lido e comentado, vocês me fazem sorrir.
*** N/T: Nada como esquecer o passado e reunir a família, não é mesmo? Bem, temos emoções a caminho, mas por enquanto espero os comentários! Beijos!
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