Cinco sentidos



Olho o céu escuro através da janela. Vejo a neve cair no gramado, e trouxas fazendo guerras de bolas de neve.

Olhando a neve, lembro-me de Hermione. Ela sempre adorou o inverno, adorava o tom com que o branco contrastava com o verde do gramado de Hogwarts. Pelo frio, muitos ficavam dentro do castelo sendo esquentados pela lareira dos salões comunais, e o castelo ficava num silêncio que Hermione adorava. Ninguém correndo, suando feito porcos, nem rindo de piadas idiotas como acontecia no verão. Tudo é tão calmo e tão bonito que ninguém consegue ver.

Fecho os olhos e a imagem dela aparece na minha cabeça. A partir daquele dia, não consegui mais desgrudar de Hermione.

Tudo que fazia, era para estar perto dela. Até dividia a mesa da biblioteca com a garota.
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-Bom dia, Malfoy. – Disse a garota sorrindo para mim. Me perdi no sorriso da garota. – Posso sentar?

-Em pé que não vai querer ficar, né? – Vi a garota sorrir mais ainda, puxar uma cadeira em minha frente e sentar.

Aquela era uma cena curiosa. Hermione e Draco Malfoy sentados na mesma mesa na biblioteca de Hogwarts conversando animadamente como se fossem amigos da infância.

É, depois daquela conversa há algumas semanas, Hermione e eu havíamos dado uma trégua e tentamos ser amigos. Afinal, ela precisava de um agora que Potter havia praticamente esquecido a garota e eu, bom, eu nunca tive um amigo. Então acho que isso fez nos aproximar.

Nos aproximamos! Hermione me contava as conversas com Potter e Weasley, as trapalhadas de Longbottom e fazia os deveres comigo. Eu contava o que fazia com Crabbe e Goyle, as brincadeiras de Zambini, as festas que tínhamos escondido no salão comunal, as bebedeiras da Parkinson. Hermione não precisava de ajuda em deveres, então, só trocávamos idéia. Escrevíamos o que era mais prudente e quando terminávamos cada um ia pro seu canto.

Além de estarmos juntos nos intervalos das aulas, nos encontrávamos pelos corredores á noite graças ao trabalho de Monitor-Chefe. O que nos aproximava mais.

Não posso negar que era divertido ficar com ela. Ouvir suas historias, ver seu sorriso...me deixava vivo.

-Os N.I.E.M’s vão me deixar doida. – Ouvi dizer em um de nossos encontros na biblioteca. Faltava nove meses para os N.I.E.M.’s, mas vocês conhecem Hermione Granger.

-Vai se sair bem, Granger. É a melhor aluna da escola. – Disse escrevendo no pergaminho desgastado um artigo sobre hipogrifos.

-Ah Malfoy, mas esses exames não são fáceis. E Você sabe disso. – Disse contrariada.

-Vai fazer pra quê Granger? – Perguntei ainda escrevendo que os hipogrifos são orgulhosos.

-Vou ser Auror. – Parei de escrever. Auror? Hermione Granger iria ser Auror?

-Não está fazendo isso pelo Potter, está? – Perguntei desconfiado.

-Não...claro que não. –Respondeu desviando o olhar. Voltei a escrever no pergaminho. – Mas acho que não vou conseguir. Não sou muito boa em Defesa Contra as Artes das Trevas.

-Ah Granger, por favor, você é boa em tudo. – Aquilo era verdade. Ela era.

-Ah, obrigada Malfoy. Também não é pra tanto. – Disse corada, sorri de novo. – E você vai ser o quê?

Aquela pergunta era a única que não queria que ela fizesse. O que vou ser? O que posso ser? Um Comensal! Era a única profissão que teria.

-Não decidi ainda. – Menti.

Num instante me vi lutando com Hermione e Potter em luta de Aurors e Comensais. Aquilo me acordara...não podia ser Comensal. Não podia.

-Então é melhor decidir logo, porque daqui a pouco os exames chegam e você não vai ter decidido ainda. – Tive a impressão que ela sabia que seria Comensal e só fez aquele comentário para me fazer mudar de idéia. Aprendi a conhecer Hermione Granger.

Acho que o que eu conheci da garota em um mês, não se compara ao que Potter demorou a descobrir em seis anos.

-É, tem razão. – Disse ainda evitando os olhos cor de mel de Hermione.

Ela sempre tem razão. O tempo foi passando, e não havia decidido o que queria ser. Bom, na verdade, eu era pra ser Comensal. Nasci pra ser um, e até estava decidido servir ao Lorde, mas conhecer aquela garota me fez nunca querer ser Comensal.

Senti que a cada dia a marca em meu braço esquerdo ardia como um chamado do Lorde. Evitava, não podia, mas evitava. O mais importante pra mim era Hermione naquela hora, não um semimorto que queria voltar à vida e continuar a segunda guerra.

Ouvir seus planos para depois de Hogwarts me faziam pensar nisso também. E me amedrontava afinal, não é fácil ser Comensal.

Depois de meses conversando, tornamo-nos mais íntimos que qualquer um naquela escola. Passávamos o tempo todo juntos. Claro que sempre escondidos, pois ninguém podia nos ver.

‘Ninguém podia nos ver!’ Sabe, é incrível como depois tudo piora. Estávamos tao bem, mas sempre existem os idiotas para atrapalhar.

Lembro do dia que parecia que voltávamos no tempo. Não o tempo ruim.

Costumo dizer que minha vida se resuma a duas metades. Uma até o dia que encontrei Hermione Granger chorando perto da bruxa corcunda de um olho só. E a outra a partir daí.

A segunda posso dizer que foi a mais feliz possível. Mas também a mais triste. Porque aqui estou eu, sozinho, em minha casa, cuidando sozinho de Bichento, passando o Natal mais triste que podia passar em toda minha vida.

É...as pessoas não gostam de mim! E noto isso. Se gostasse, estaria feliz agora. Mas não posso negar que não fui.

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Estamos na biblioteca sentados um do lado do outro numa poltrona de couro preto que continha espaço para três pessoas. Ao nosso lado algumas estantes que continham todos os tipos de livros.

Á frente uma lareira acesa. Na parede ao lado uma janela que através dela era possível ver a cabana de Hagrid e a floresta proibida. Ao centro da sala estão mesas redondas um do lado da outra com livros grossos e empoeirados em cima.

O teto acima, mostrava um céu escuro com poucas estrelas. Em cima da lareira, grudado na parede, estava um quadro com o símbolo de Hogwarts.

Era uma bonita sala, mas era somente para os Monitores-Chefes. E era nessa sala que Hermione e eu nos encontrávamos todos os dias.

A sala era dentro da biblioteca podendo ser usada somente por mim e Hermione.

Ela estava lendo um livro sobre animagos enquanto eu fingia ler um livro sobre dragões.

Não conseguia ler uma linha com Hermione ao meu lado. Sentia que todo o meu espírito ia embora do meu corpo com ela ao meu lado. E perdia os sentidos, ao mesmo tempo em que sentia todos aguçarem bizarramente.

Visão.

É...enquanto fingia ler o livro estava cego pela beleza da garota. Olhava os pés da menina se moverem no chão como fossem começar a sapatear em instantes. Subindo o olhar, encontro as pernas da garota cruzadas. A saia do uniforme um pouco levantada deixando a vista as coxas da garota.

Vejo as mãos da garota moverem-se rapidamente para mudar a pagina, e olho os seios contornados da garota subirem e descerem enquanto respirava calmamente. A garota tinha as bochechas vermelhas, os lábios entreabertos e os olhos moverem-se animadamente seguindo a linha de cada frase do livro.

Os cabelos castanhos claros estavam um pouco menos cheios, mas ainda mantinha o volume dos anos anteriores. Os cachos caiam sobre os ombros e a franja às vezes a incomodava, e tentava furiosamente coloca-la atrás da orelha.

Audição.

Escuto cada som, ruído, vindo dela. Consigo escutar a sua respiração calma enquanto escuto meu coração bater como se estivesse dançando. Escuto ela mudar de pagina outra vez. Ela lê rápido.

Escuto um suspiro vindo dela. Um ‘nossa’ soltado pela garota me fez entender que o livro era mesmo muito interessante.

Escuto os pés das garotas baterem no chão e levantarem repetidamente fazendo um ritmo musical bem ensaiado.

Tato.

Sinto os pêlos de todo o meu corpo se arrepiarem quando ela estar perto de mim. Sinto todos os meus músculos se enrijecerem e gotas de suor formarem na minha testa.

Engulo em seco com dificuldade, como se algo estivesse em minha garganta. Enquanto o suor é formado na minha testa, minhas mãos tremem ligeiramente fazendo o suor se formar ali também.

Sinto o calor do corpo dela alcançar o meu, me acalmar e me desesperar. Fingindo que estou lendo o livro mudo de pagina. Sem querer, ao levantar a mão, toco no braço dela fazendo meu corpo queimar por dentro.

Disse um ‘foi mal’ e tentei lê o livro enquanto ela murmurava um ‘tudo bem’.

Olfato.

Sinto o cheiro de canela dela misturar com o pó do livro. E incrivelmente consigo distinguir entres os dois aromas.

Sinto o cheiro de canela da garota me entorpecer e se fazer presente na sala. Suspirando, olho para o quadro de Hogwarts e encaro o famoso leão da Grifinória.

Voltando a atenção para o livro, sinto o cheiro do perfume da garota encher minhas narinas e formar um sorriso nos meus lábios.

Sinto o suor mais presente no meu corpo, principalmente nas mãos. Tentando não demonstrar-me tenso, começo a mover os pés pra cima e pra baixo como se estivesse acompanhando sua musica.

Paladar.

Sinto minha saliva descer goela abaixo. Mais parecia um bolo do que saliva. Porque era incrível como tinha dificuldade de engolir em seco.

Fecho os olhos tentando pensar em outra coisa, mas o cheiro de canela impedia que raciocinasse.

Abro os olhos de novo e a escuto suspirar ao meu lado, vejo tirar a franja de novo de cima dos olhos, sinto o cheiro dela, engulo em seco e volto minha falsa atenção ao livro sobre dragões.

Mas ela notou.

-Que você tem Malfoy? Ta tenso!

-Eu?! Que nada. – Disse parecendo idiota. – Só que...to com calor. Você não? – Isso não era de segundas intenções.

-Um pouco. Vou abrir a janela. – Disse levantando-se do sofá de couro e indo até a janela. – Vem aqui Malfoy.

Me levantei e fui até ela. –O que foi Granger?

-As folhas estão caindo, daqui a algumas semanas começam o inverno. Eu adoro inverno! – Comentou contente vendo as folhas secas pelo gramado verde de Hogwarts. Não consigo olhar para a paisagem, mas só para a garota ali na minha frente. Como se tivesse hipnotizado.

-É..eu também gosto muito. – Respondi sem saber exatamente do que ela estava dizendo. Sinto meu estomago embrulhar e minhas mão tremerem mais nitidamente.

Ela virou e encontrei os olhos cor de mel da garota. Jamais vi olhos mais bonitos e expressivos em minha vida. Anote: São os olhos da sangue-ruim, Hermione Granger!

Não me contive e sorri como nunca havia feito isso. Anote: O primeiro sorriso sincero que dei em toda minha vida!

Sem saber o que estava fazendo, meu corpo foi se aproximando mais da garota. Minhas mãos instintivamente se posaram na cintura da garota. E com o coração prestes a pular de bunge-jumping pra fora do meu corpo, pressionei meus lábios contra os dela.

É...foi a melhor sensação da minha vida.

Sinto o vento entrar na sala e embora tentasse refrescar o aposento, não conseguia. Minhas mãos suadas em torno da sua cintura enquanto sinto ela me puxar pra mais perto dela. A mão direita em minha nuca enquanto deixava o beijo se aprofundar mais e mais.
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É...aquele dia foi o dia que descobri o que é estar apaixonado. Por isso repito, nunca diga nunca!

Escuto uma musica natalina muito alta vir da casa a direita da minha. Uma musica em um idioma estranho. São os vizinhos mexicanos.

É..o bairro em que moro são compostos por todas as raças de sangues-ruins. Á direita mexicanos, á esquerda brasileiros, á frente alemães, a ultima casa a contar da direita para a esquerda, franceses.

Mais os vizinhos mexicanos e brasileiros eram os piores. Alem de terem festas todos os dias e churrascos ainda colocam musicas trouxas ridículas no volume mais alto. Eles convidavam todos do bairro para o churrasco, alguns vão, outros não.

Escuto um ‘Belém, campanas de Belém, que los angeles toquem que nuevas me traes!’

Respiro fundo

Sabe quando tudo está certo, e quando você espera para que aconteça o provável, pois o provável é o lógico que aconteça, incrivelmente acontece o improvável? Pois é, foi o que aconteceu.

O provável eram três coisas. Primeira: Ela me empurrar me chamar de baitola, dar um tapa na minha cara e ir embora. Segunda: Deixar que o beijo continue e tomada pelo desejo transarmos ali mesmo. Terceira: Eu me dar conta do que estou fazendo e ir embora.

Mas o que aconteceu foi o improvável: Potter apareceu!!!
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-Hermione! – Ela me empurra e olha o garoto que estava na porta da sala. Maldito! Maldito! Maldito! Nunca odiei tanto um garoto como aquele na minha frente.

-Harry... – Mas ela não conseguia dizer nada. Acho que também não precisava.

-Que ta fazendo aqui Potter? Essa sala é somente para os monitores-chefes. – Disse na mais profunda calma. Anote: Quando digo calma digo raiva. Estou na mais profunda raiva.

É, aprendi a canalizar a raiva que sinto dentro de mim em tranqüilidade e seriedade.

-Não sabia que os monitores-chefes usavam essa sala para se comerem! – É...parece que Potter foi atingido. Vi Hermione corar-se de vergonha pelo que o garoto havia dito. Potter não sabia dos sentimentos de Hermione, não como eu sabia.

-O que você tem a ver com o que acontece na biblioteca entre os monitores?

-Sou amigo de Hermione. Não gosto de vê-la com mocorongos ricos, filhinhos de papai.

-Mas você parece que gosta de vê-la chorar pelos cantos por causa da beterraba ambulante. – Ouvi um suspiro vindo da garota. Iria chorar de novo...sem querer fiz Hermione lembrar o que a deixava mal. E ainda a deixa.

-Como sabe que estou namorando a Gina? – Vi ele olhar para Hermione como se acusasse ela de dedo-duro.

-É só virar o corredor para vê você e aquela nojenta grudados como aranhas pronto pro acasalamento. – Parece que Potter ainda não entendia o que eu estava querendo dizer porque franziu o cenho como se estivesse confuso.

-Não é verdade e não chame a Gina de nojenta nem de beterraba!

-Ah, então posso chamá-la de quê? Espiga de milho?Ah, quem sabe beterraba carnívora! Por que você é o único que falta para ela comer Potter. – Vi ele me olhar com raiva e sorri. Estava conseguindo o que queria.

-Não vou perder meu tempo com você Malfoy, vim procurar Hermione!

-Já achou agora cai fora! – É acho que todos os sentimentos que tinha sentido desapareceram naquela hora, pela profunda raiva que sinto pelo Potter.

Compreende meu ódio por este garoto? É algo insuportável que mesmo tentando fazer tudo para me acalmar interiormente não consigo.

-Não vou cair fora! Vem Hermione. - Rezei internamente que ela não fosse, pois daria tudo a perder. Tudo que conversávamos, tudo que tentei fazer pra garota esquecer o Potter ia por água a baixo.

Mas vi ela pegar os livros de cima da mesa e o que estava no sofá. Não acredito que ela iria.

-Não vai Hermione. – Disse calmo. Ela parou e me encarou estranhamente.

-Não a chame de Hermione, Malfoy. É Granger pra você! – Quem disse isso foi Potter, mas não liguei porque estava hipnotizado pelos olhos cor de mel de Hermione que há muito tempo não brilhava daquela forma.

-Até mais, Malfoy! – Vi ela abaixar a cabeça e acompanhar Potter.

Mas porque cargas d’água ela vai? Será que ela não percebe que está se machucando ainda mais. Não sou de me preocupar com pessoas, mas Hermione foi a única que conseguiu me fazer olhar as coisas por um outro modo.

Fecho os olhos tentando me acalmar, mas não consigo. Minhas mãos se fecham instintivamente deixando marcas das minhas unhas, aperto os dentes e com passos pesados saio da biblioteca.

Queria tanto ir atrás dela e faze-la esquecer Potter. Mas Hermione ainda amava Harry Potter e eu nada podia fazer.

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