Vendo-se com outros olhos
I do not think that I can wait.
To go over and to talk to you;
I do not know what I should say.
O esperado primeiro de setembro.
A velocidade do trem não era tão alta como Sirius esperava que fosse. Ele não via a hora de ver aquele enorme castelo, de sentir aquele ar tão puro e calmante penetrar suas narinas. Não via a hora de poder usar a varinha para as aulas e é claro, para outros casos. Sorriu levemente ao lembrar-se das peças de último dia de aula que ele e seus amigos fizeram alguns meses atrás, nesse mesmo castelo.
Sirius Black estava com a testa apoiada na janela fria do vagão onde estava, olhando para um algo que se chamava passado, que se encontrava em um certo ponto perdido num nada fora do expresso de Hogwarts. James Potter estava sentado na sua frente, tocando uma guitarra imaginária, ao som de uma música que os fones de um iPod levavam para apenas seus ouvidos. Hã, um iPod... “Criativos, esse trouxa!”, costuma dizer James.
- Aí, galera! – Remus Lupin e Peter Petigrew entraram correndo e respirando fundo, suados. Sirius virou-se para os amigos enquanto James tirava os fones a orelha e os jogava envolta do pescoço. Remus, ao perceber que a atenção do vagão estava nele, continuou: - As Barbie’s já começaram a parada deles de zoar com os anões e usar os amarelões como balas de canhão. A gente vai pagar de sungas de náilon esse ano de novo ou não?
Sirius não pode deixar de sorrir. Ele achava o jeito de falar de seu amigo peludo hilário. Era autenticamente dele, e ele interpretava tudo com “gestos italianos”, como ele mesmo diz. Bom, traduzindo a frase que com certeza, apenas um daqueles quatro entenderia: “Os sonserinos já começaram a espancar os novatos usando os lufas como armas. A gente vai bancar os heróis esse ano ou não?”.
Sirius e James se levantaram ao mesmo tempo, sorrindo marotos.
- Nós não vamos “pagar” uma de cuecas de náilon, meus caros. – falou James, pegando sua varinha. Sirius pegou a dele.
- Nós somos heróis. – ele completou, no que os quatro saíram da cabine, exibindo sorrisos idênticos.
Ah, os Marauders. O quarteto mais popular e querido do colégio de Magia e Bruxaria de Hogwarts. Remus Lupin, Peter Petigrew, James Potter e Sirius Black. Todos do 7° Ano, Grifinória. Remus com seu jeito CDF e ao mesmo tempo descolado e charmoso. Peter era conhecido por ser mestre no “Leviocorpus”, sendo esse seu passatempo favorito. James era o mais engraçado de todos, sempre animado, de bom humor. Sirius era provavelmente o cara mais galinha que aquele colégio já vira em toda sua existência.
E enquanto os quatro andavam pelo corredor do trem, um ao lado do outro, percebeu-se isso; a maioria (para não falar todos) dos olhares se fixaram neles, por pelo menos uns momentos. E eles se sentiam extremamente bem sim em saberem que são o centro das atenções.
Perceberam então um amontoado de alunos. Os quatro abriram espaço por entre a multidão e quando chegaram ao espetáculo que era praticamente anual, reviraram os olhos quase que ao mesmo tempo.
- Merlim, eles são tão sem criatividade... – suspirou James, e Sirius, assim como os outros dois e alguns que estavam a sua volta tiveram que concordar rapidamente. Era todo o ano a mesmo coisa: os sonserinos mais velhos (quase todos fazendo parte do sétimo ano, e alguns do sexto e do quinto) faziam uma grande roda e no meio dela encontravam-se vários novatos; os sonserinos pegavam todos os lufas que estavam por perto e os jogavam nos amedrontados calouros, como se fossem um tipo de objeto.
- Hey, Ranhoso! – neste momento, a atenção das “Barbie’s” passou para Sirius, que sorria divertido. Enfim, diversão e magia no mesmo ato! – Por que você não mexe com alguém do seu tamanho, e não do tamanho do seu nariz?
A multidão caiu na risada, em especial os grifinórios.
- Cale a boca, Black! – gritou Snape, apontando a sua varinha, outrora apontada para os novatos, para Sirius.
- Uh! Essa varinha estava apontada para uma criança de inocentes 11 anos, e agora para Sirius. – James soltou uma sonora risada de deboche. – Aposto que está morrendo de medo, Padfoot.
- Com certeza. – disse Sirius ironicamente, enquanto ria com todos. – Hey, caras, por que não damos uma lição nesses sonsos malvados?
- Ótima idéia, meu chapa! – falou Remus sorrindo, para no outro momento os quatro Marauders apontarem a varinha para um sonserino e gritarem “CARA DE LESMA!”. Segundos depois, quatro sonserinos vomitavam lesmas corpulentas e verdes, que quando tocavam no chão, se arrastavam para os outros sonserinos intactos formando um caminho de um líquido gosmento. As gargalhadas encheram todo o trem, especialmente as dos Marauders e dos novatos.
Porém ocorreu uma explosão e no outro segundo, Sirius via o mundo de cabeça para baixo. Alguém lançou o Leviocorpus.
- Tá bem, quem foi o palhaço?!- gritou James, que estava na mesma situação de Sirius, assim como Remus, Peter, e todos os sonserinos que participavam da brincadeira. James tinha um que de irritação na voz. Um que muito grande. Ninguém nunca havia impedido uma brincadeira dos Marauders fazendo uma brincadeira nos Marauders, e essa primeira vez deixou James realmente irritado.
- Fui eu.
E Sirius caiu na risada, assim como Remus e Peter ao verem James, que há um segundo atrás tentava tirar o sobretudo do uniforme da cara, ficar extremamente vermelho e tirar o casaco, jogando-o no chão, para ver se a dona da voz era realmente quem ele pesasse que fosse. Ao ver que estava certo, abriu e fechou a boca várias vezes, ao confirmar que o “palhaço” era na verdade, Lily Evans.
-Li... Li... Li... Li...
- Evans, Potter. Evans. Quantos anos vocês, caras, vão esperar para crescer? Hã? – ela começou o discurso que também era praticamente anual, mas Sirius não podia vê-la, pois seu sobretudo cobria seu rosto. Começou a imaginar quantas meninas não estavam olhando para sua bunda nesse momento e começou a rir.
- E do que diabos você está rindo, Black? – a voz de Evans o acordou, e ele tentou tirar o sobretudo da cara, mas a tentativa fora tão falha que a única coisa que fez foi as amigas de Lily, que provavelmente estavam atrás dela, soltarem risos divertidos.
- Não, Evans, não tem nada a ver com v...
- Ora, cale a boca.
Houve outro estalo, e Sirius sentiu-se cair. E logo depois uma dor forte nas costas, ele fez uma careta, enquanto tirava o sobretudo da cara. Abriu os olhos e viu uma cena engraçada, fazendo-o sorrir levemente, enquanto ainda massageava a cabeça.
Remus estava flertando umas três amigas de Lily Evans ao mesmo tempo, enquanto as outras várias atrás da ruiva olhavam diretamente para ele, comentando o quanto ele havia mudado para melhor, se é que isso era possível. (Sirius mandou uma piscadinha para elas e por um momento achou que uma ia ter um ataque cardíaco). Peter revirava os olhos para seu amigo, e dirigiu-se ao carrinho de doces, que estava ali perto. James, por outro lado, fazia o que faz de melhor (ou pior): convidava Evans para sair. Ele parecia passar a pior cantada o possível para a menina, e ainda assim exibia um sorriso maroto e uma sobrancelha arqueada, olhando diretamente para os olhos dela.
Mas foi nela que a atenção de Sirius ficou presa.
Ela mudara. Pelo que Sirius lembrara, ano passado ela era apenas uma baixinha com um pouco de bunda, um pouco de peito, uma cintura fininha e pernas finas, o estilo mignon que tantos homens gostam. Seus cabelos eram curtinhos, até um pouco abaixo dos ombros, e ela tinha uma franjinha lateral que caia na testa, combinando com os grandes olhos verdes que já eram bonitos sem maquiagem, que ganhavam contraste com e pele alva e lisa dela. Ela usava o uniforme com perfeição, até o último botão do sobretudo fechado.
Bem, isso mudou.
Lily Evans continuava com uma estatura baixa, com no máximo 1,65m, mas seu corpo... Auch, era um corpo definitivamente de mulher. Ela estava com mais curvas, nos seios, na bunda e nas coxas. Suas pernas estavam completamente bem torneadas, e a mostra, porque ela não usava mais o sobretudo. Usava apenas a blusa branca do uniforme, os dois primeiros botões abertos, a blusa bem justa, revelando sua cintura fina; a saia do uniforme estava um pouco mais curta que o costume. A gravata mais frouxa. Ela não usava mais um par de sapatos bonecas com meias três quartos, ela usava uma mini botinha preta com saltinho fino. Seus olhos eram expressivos e marcantes, o verde mais claro do que nunca, envoltos por delineador e sombra de cor clara. Seu cabelo era um ruivo bem forte, e estava mais comprido, até um pouco abaixo da metade das costas, liso, com uma comprida franja lateral. Era aquele típico cabelo que Sirius tanto gostava, o pós sexo. Ela estava bronzeada, e Sirius podia ver algumas sardinhas delicadas no nariz pequeno e delicado dela.
- Fala sério, Potter, quantos “não” você espera ouvir de mim antes de morrer? – ela disse, sorrindo para ele. Sorrindo. Isso era definitivamente novo, Lily Evans nunca sorri para James Potter. Sirius não soube por que, mas se chateou um pouco com isso. Mas James, por outro lado, pareceu extremamente animado. Ele deu de ombros, ainda sorrindo.
- Quantos forem necessários, ruivinha.
- Ah meu Deus, pobre você. – ela suspirou, revirando os olhos. Mas então seu olhar encontrou o de Sirius, que ainda dava uma bela estudada no mudado corpo da ruiva. Ela arqueou uma sobrancelha. – Perdeu alguma coisa aqui, Black? – ela falou num tom mais alto, fazendo Sirius acordar e James olhar para ele, divertido.
- O seu sobretudo, para ser honesto. – ele falou, finalmente se levantando. – Caríssima, não te falaram que mostrar o corpo da maneira que você está fazendo agora é algum tipo de pecado em algum país? – ele perguntou, sorrindo ironicamente e se postando do lado de James.
- É só você parar de olhar. – ela sussurrou, com a feição irritada, para depois arrebitar o nariz e dar as costas, entrando em uma cabine, sendo seguida por suas amigas.
- Merlim, Prongs, desde quando a sua ruivinha tem aquele corpo? – ele perguntou virando-se para James, que soltou uma gargalhada.
- Desde sempre, Padfoot, mas não se esqueça que eu vi primeiro. – ele disse brincando, para depois os dois gargalharem.
- Nem brinquem com isso, rapazes. Já imaginaram, do jeito que o Sirius é garanhão? – falou Peter, arrebentando um Sapo de Chocolate.
-Eu nunca trocaria vocês por uma mulher, e vocês sabem disso. – respondeu Sirius, bufando irritado pela falta de tato do amigo.
-Sim, mas você acabou e falar como uma. – disse Remus se aproximando deles, fazendo os quatro rirem gostosamente.
Nada nunca separaria aqueles amigos. Nunca.
Mas será que o nunca existe de verdade?
- E sobre tudo! – ah, Dumbledore havia finalmente chegado na parte que ele achava que ia transformar os grifinórios em santos da noite para o dia. E sim, ele olhou diretamente para a mesa dos Leões, e James jurou ter visto a sombra de um sorriso no canto direito dos lábios dele. – Nada de entrar na Floresta Negra. Nunca, jamais. E eu posso afirmar que pode parecer que algumas pessoas vão lá para provar que são machões e apenas isso - ele olhou diretamente para quatro alunos do sétimo ano, que fizeram cara de inocentes. -, mas parece que algumas outras pessoas andam amarrando uma corda no tronco do Salgueiro Lutador e pulando cordas lá. – ele continuou olhando para os quatro rapazes, que soltaram risinhos saudosos.
- Ainda bem que ele não sabe das corridas com os centauros. – sussurrou Remus, fazendo os outros três concordarem.
- Bom, e logo após essa deliciosa sobremesa que serviremos, os monitores deverão acompanhar os novos alunos para sua torre, e lá vocês saberão as regras e tudo o mais. E para agora, bom apetite!
No momento seguinte apareceram torres de sorvete, bolos das mais diversas cores, cremes, tortinhas, waffles nem um pouco congelados, pipoca, gelatinas... A maior variedade possível de doces que qualquer um dos novatos já havia visto.
Mas os Marauders, assim como todos os outros do segundo ano para cima, já estavam completamente acostumados. Em especial Peter, que praticamente ficava olhando para onde apareceria uma travessa de bolos de cenoura com calda de chocolate, seu doce favorito. Com calma, os outros três grifinórios serviram-se cada um de um doce em especial, jogando conversa fora, rindo as vezes, fazendo piadas uns dos outros, rindo mais ainda, e coisas do tipo.
Mas Sirius lançava olhares constantes para uma ruiva. Uma grifinória que estava mais para a sua direita, no exato meio da mesa, com seis amigas sentadas, todas as sete se abaixando e sussurrando algo, para no momento seguinte rirem divertidas. A risada de Lily era algo que Sirius achou extremamente doce. Seus branquíssimos dentes apareciam, e seu nariz franzia um pouco. Ele começou a sorrir levemente, olhando para aquela nova mulher, então a cabeça de seu melhor amigo apareceu na sua frente, tampando a visão de uma Lily Evans comentando algo para as meninas.
- O que você tanto olha, em idiota? – ele perguntou para Padfoot, olhando agora para o mesmo local onde Sirius olhava. Para a rodinha íntima de Lily Evans, a menina que James nutria um sentimento havia quase um ano. Sirius não iria gostar nada se James ficasse irritado com ele, cego de ciúmes, quando ele descobrisse que Sirius estava secando a ruivinha, a quase amor de seu irmão de consideração.
Mas para a sua surpresa, James soltou uma risada bem humorada e virou-se novamente para ele.
- Tudo bem que a McKinnon voltou com um baita corpaço, Padfoot, mas você não precisa simplesmente comê-la com os olhos. Seja mais discreto e por favor, por favor, não fique sorrindo enquanto olha para os peitos dela. – completou James, arqueando uma sobrancelha ironicamente, fazendo Remus e Peter gargalharem. Sirius sorriu e deu uma olhada em McKinnon.
Marlene McKinnon estava ao lado direito de Lily Evans, e por um milagre (ou burrice), James agora achava que ela era o que ele tanto olhava. Seus cabelos eram morenos e lisos no começo, mas acabando em grandes cachos que pareciam sedosos. A pele também bronzeada fazia um incrível contraste com seus olhos avelã, que morria num verde extremamente claro, envoltos por cílios compridos. Seus lábios eram vermelhos e agora estavam sorrindo para uma amiga, que estava do outro lado de Lily. Ela parecia ter um corpo maravilhoso, e Sirius viu que estava correto ao se levantar um pouco para ver todo o “pacote”. Sorriu maroto.
- Ela realmente está uma doçura. – ele soltou uma piscadela para James, que revirou os olhos. – Mas porque diabos aquelas sete ali estão tão bronzeadas? Aqui é a Inglaterra, pelo amor de Deus.
- Hm. – Peter terminou de engolir seu bolo de chocolate, e abaixou-se, ficando de frente a Sirius, no que os outros dois também se aproximaram para ouvir a conversa. – Parece que as sete fizeram juntas uma viagem pelo litoral de um país da zona tropical, se eu não me engano é o Brasil... Bom, não tenho certeza. Elas passaram pelas principais praias do litoral do país então... Bem, não tinha como não pegarem aquela cor maravilhosa.
Os outros concordaram com a cabeça.
- Mas essa não é a questão. A questão é: como elas mantêm o bronzeado? Porque como Padfoot disse, aqui é a Inglaterra. – ele continuou.
- Bom, elas são bruxas. Dãh. – falou Remus, comendo um waffles.
- Bom, eu não sei. Será que elas estão usando mágica ilegalmente? – perguntou James, olhando diretamente para Lily.
- Não, Lily não deixaria, ela é corretinha demais para isso. – falou Sirius, fazendo uma careta que chegava a ser de nojo ao perceber a verdade que havia dito.
- É verdade. – falou Remus, então a sobremesa sumiu e o som de bancos sendo arrastados para trás preencheu todo o Salão. Os quatro se levantaram e Remus soltou um gemido de dor.
- Droga, eu sou monitor. – ele sussurrou, fazendo os amigos rirem da verdade estúpida e óbvia que ele acabara de dizer. – Eu vou levar as crianças para a Torre e nos encontramos mais tarde no quarto, falou?
- Quem disse que ser monitor seria tão bom assim? – falou Peter, para depois Remus fingir pensar um pouco e depois sorrir maroto para James.
- Bom, pelo menos eu tenho uma oportunidade de agarrar a Lily sem você conseguir ver, Prongs. – James fez uma careta engraçada, fazendo os amigos rirem de seu desconforto.
- Coitado de você. – ele sussurrou, para depois os três se dirigirem para a porta, enquanto Remus ia para o outro lado, sorrindo para Lily que o esperava.
- Hã... – Sirius parou no meio do caminho, fazendo Peter e James olharem para ele, as sobrancelhas arqueadas. – Eu preciso resolver um... Um lance. A gente se encontra mais tarde. – ele então virou as costas antes mesmo de ouvir James falando “Okay”, e correu até onde Marlene McKinnon estava.
- Hey! – ele agarrou a morena, que estava a meio caminho de se levantar do banco. Lily já estava longe com Remus, conversando algo com os novatos da Grifinória. Marlene arregalou os olhos ao sentir grandes e fortes dedos segurado o pulso dela com tanta facilidade como se estivesse segurando um palito de dente. Ela ergueu os olhos e seus olhos, que hoje estavam mais verdes que castanhos, encontraram os olhos acinzentados de Sirius Black. – Marlene McKinnon, certo?
- Sim, eu mesma. – ela sorriu simpática. Mas Sirius percebeu que não era igual a nenhum outro sorriso que nenhuma outra mulher havia dirigido à ele quando ele a segura de surpresa. Era um sorriso apenas simpático mesmo.
- Será que você pode me faze um pequeno favor? – ele sussurrou, chegando mais perto dela para nenhuma das outras amigas daquele “circo íntimo” ouvissem a sua conversa, como elas tentavam fazer. Mas Marlene também não se abalou pela proximidade entre os dois, como as outras mulheres faziam. Muito ao contrário. Ela percebeu que era algum tipo de segredo e se aproximou mais ainda de Sirius, mas claramente sem nenhuma segunda intenção.
- Claro, manda ver. – ela sussurrou, concordando com um gesto de cabeça e com sinceridade nos olhos. Sirius pegou um guardanapo que ainda estava na mesa da Grifinória, conjurou uma pena e escreveu um pequeno recado lá, apoiando-se na tábua. Guardou a pena e virou-se para a morena, que olhava para ele com certa curiosidade agora, e exibia um sorriso divertido. Ele olhou dentro dos olhos dela e sussurrou, aproximando-se novamente. – Tem como você entregar esse bilhete para a sua amiga Evans? E eu agradeceria muito se você não lê-se, de verdade.
- Claro. – ela sorriu simpática novamente, dobrando o guardanapo em três e guardando no bolso da pequena jaqueta que havia acabado de colocar sobre o uniforme. Sirius não soube exatamente porque, mas ele confiava nela. E ela era, ironicamente, a única mulher com um corpo de tirar o fôlego de qualquer homem que Sirius via com olhos de amigo.
- Muito, MUITO obrigada, McKinnon. – ele disse, sorrindo simpático, e não maroto. Ela fez um aceno de cabeça e virou-se, andando normalmente até Lily, como se as pessoas pedissem para ela guardar um segredo com uma freqüência enorme. Isso só fez Sirius ter uma admiração ainda maior pela menina, mas uma admiração pessoa/pessoa, não homem/mulher.
Sirius virou-se de costas e foi apressado para onde James e Peter estavam segundos antes. Não queria voltar sozinho para a Torre, pois não estava a fim de ser agarrado por nenhuma garota num caminho solitário e longo.
- Eu to falando sério, Lil. – falou Remus, pela terceira vez. – James realmente mudou. Para melhor, eu digo.
- Hunft. Eu sei lá, Remie, ele ainda me parece o mesmo idiota que faz brincadeiras com qualquer ser humano que apareça na frente dele e pareça fraco o suficiente para não conseguir se defender. – ela retrucou, fazendo Remus revirar os olhos, mas sem deixar de sorrir divertido.
Os dois monitores estavam lado a lado, caminhando por um largo corredor, com os alunos do primeiro ano, que não pareciam ser tão medrosos e assustados quanto os outros das outras casas.
Remus e Lily tinham sim uma amizade. Não chegava a ser aquela amizade de contar tudo um para o outro, mas eles conversavam com bastante freqüência e eram uma companhia agradável para o outro.
-LILY! – uma voz feminina se fez presente no corredor que parecia estar vazio sem contar os monitores e os novatos. Lily, assim como todos ali, virou-se para trás e encontraram uma bela morena andando apressada, tentando alcançar a amiga.
-Oh, oi Lene. – falou Lily sorrindo, virando-se completamente para a amiga, que agora estava na sua frente. – O que foi?
- Há... – Marlene olhou para Remus, que parecia interessado na conversa que as duas estavam para ter. Mas ao perceber que era algo particular, Remus piscou os olhos e sussurrou.
- Eu os tiro daqui, pode conversar. Ola, McKinnon. – ele completou, sorrindo maroto dando uma secada muito “direta” para a menina, que revirou os olhos e sorriu divertida, sussurrando um “Olá, Lupin”, ao tempo em que este riu e virou-se de costas, levando os novatos para dentro da Torre, após falar a senha para a Mulher Gorda (“sonserinos malditos”, afinal era a vez de o monitor masculino escolher a senha).
- Pode falar. – falou Lily, virando-se novamente para a amiga.
-Hm... Eu tenho um bilhete para você que eu acho que qualquer, qualquer menina deste castelo gostaria de receber, minha petite amie. – ela disse, sorrindo animada e sapeca, balançando o bilhete bem dobrado e intocável na frente do rosto da amiga, que revirou os olhos e bufou, mas ainda manteve um sorriso na face.
- Não me diga que é mais um do seu querido amigo Potter, Marlene. Sacré bleu.
Marlene McKinnon passou sua inteira infância na França, sabendo assim falar a linguagem fluentemente e ensinando para suas amigas, menos para Lily, que fizera aulas de francês em sua infância com sua irmã. As duas (Lily e Lene) divertiam-se falando em francês juntas, e quando queriam compartilhar um segredo quando as pessoas se recusavam a sair da sala, o segredo era dito na maior cara dura, na linguagem estrangeira que não era conhecida por mais ninguém no castelo.
- Au contraire,mon amour, é de Sirius Black. – Lene soltou uma risada divertida. – Você sabe o quanto as meninas vão odiar a menina que conquistou os dois maiores gatos do colégio, não é mesmo?
- Sirius Black? – perguntou Lily, com os olhos arregalados, mergulhados de surpresa. É claro que ela havia reparado nos olhares que o garoto dirigia para ela, mas ao ponto de mandar um bilhete para ela?
- Exactamondo.
- Você tem certeza absoluta que é dele?
- Mais oui.
- Ah, magnifique. – ela disse, ironicamente, suspirando. – O que diz? – ela disse pegando o bilhete estendido e começando a desdobrar o guardanapo.
- Eu não sei, ele pediu para a mademoseille aqui não ler o que está escrito. – ela disse, mas já estava com a cabeça por cima do ombro da amiga, preparando-se para o que estava escrito ali. Um dos cantos dos lábios de Lily curvou-se para cima.
- E você simplesmente ignorez essa pequena regra, não é mesmo, “Mademoseille”?
- Cale a boca e abra, eu sou très amusant demais para não ler o que está escrito ai. – ela disse, fazendo Lil rir. Ela voltou sua atenção no guardanapo, que já estava todo aberto. A fina e descuidada, mas nem um pouco feia letra de Sirius Black estava ali, não usando nem poucas nem muitas palavras, mas que mexeriam com qualquer garota. E bem, Lily Evans pode ser durona, mas definitivamente não é de ferro.
“Lily, Lily... Você realmente tirou completamente toda a minha atenção hoje, eu ainda estou me sentindo meio bobo. O que você acha de se encontrar comigo às três da manhã na frente da lareira do salão da Torre da Grifinória? E não se preocupe, eu não vou falar nenhuma das “minhas besteiras”, porque “falar” é a última coisa que eu vou querer fazer.
Sirius.”
Lene soltou uma risada divertida e olhou para Lily, que não pode conter um sorriso.
- Sacré droga bleu e mon Dieu também! – falou Marlene, ainda rindo. – Dona Evans, tá podendo hein? E logo no primeiro dia de aula! Você vai, não é mesmo?
Lily virou-se para a amiga como se ela fosse algum tipo de extraterrestre.
- Zut alors! – ela exclamou, rindo. – Você tá o que, drogada?
- Ah, não comece com aquele discurso de Irresponsabilidade Marota, eu já sei de cor. – falou Marlene, revirando os olhos.
- É só que não seria justo com Potter eu não sair com ele por ele ser um idiota e sair com Black mesmo ele sendo... Bem, um idiota. – ela disse, dando de ombros. Lene estreitou os olhos e sorriu marota.
- E desde quando você se importa com James Potter, Evans?
- Eu não me importo, porcaria. É só que eu já disse, não é justo.
- D’accord, d’accord. – falou Marlene, suspirando. – Mas o que você vai responder para ele? “Ah, fica pra próxima, Six, apesar de seus músculos e do seu olhar maravilhoso, além de sua boca louca, e das suas grandes mãos que devem ter A pegada, obrigada” ? Te garanto que ele não vai deixar barato uma resposta dessa, e aliás, ele é Sirius Black. Provavelmente nunca levou um fora na vida, e você sabe como os homens correm atrás daquilo que não podem ter. – depois sorriu marota e completou: - Aliás, você sabe muito bem o que é um homem insistente, não é, futura senhora Potter?
- Até parece... – comentou Lily, sorrindo. Ela não queria se dar por vencida por ninguém, mas sim, ela percebera a incrível (e benéfica) mudança que ocorrera em James Potter. E não apenas mentalmente (ele mostrou-se muito maduro no período da tarde, defendendo um aluno do primeiro ano da Corvinal de um sonserino do sétimo ano, sem azará-lo nenhuma vez), como fisicamente também. Antes, James não era tão alto como seu amigo Sirius Black, nem tão forte, mas isso havia mudado. Ele agora estava com praticamente 1.90m, um porte extremamente forte, e braços enormes. E na biblioteca, quando Lily tentava pegar um livro numa prateleira muito alta para ela, ele apareceu correndo, e quando ergueu o braço para pegar o livro, na maior boa vontade, a camisa levantou, e mostrou a incrível barriga tanquinho de que aquele garoto era dono. – Mas não se preocupe, a resposta que eu vou dar para o Black vai ser à altura. – ela então suspirou e começou a andar lado – a – lado à amiga, em direção a Mulher Gorda, que agora fingia não ter ouvido a conversa toda. – O que será que esses dois estão fazendo? Tentando pregar uma peça em mim?
- Este, minha amiga – falou Lene, passando um braço pelos ombros da menina. - , é lê grand mystère de les Marauders, que nem eu, nem você sabe. Mas a minha querida Mulher-Nem-Tão-Gorda pode descobrir para suas amigas, não é mesmo? – as duas então pararam à frente da Mulher Gorda, com sorrisos cúmplices, e esta sorriu para as duas e disse:
- Não tenham a menor dúvida sobre isso, mà chere.
Já tinha uma hora que seus amigos haviam ido dormir, mas Sirius continuava deitado, ou melhor, estirado num sofá da sala da Torre da Grifinória. Agora faltavam dez minutos para três da manhã, e ele olhava para a lareira, pensativo.
Ele não sabia se o que estava prestes a fazer era certo, e nem iria descobrir tão cedo. Quer dizer... O que James fez por ele, ninguém fez, e ninguém nem ao menos poderia ter feito, porque James é a pessoa mais bondosa, fiel e companheira que Sirius já conheceu. Ele lhe deu uma casa quando ele não tinha uma, lhe deu sua família quando ele não tinha uma, lhe deu sem ombro amigo quando ele não tinha nada. E sempre com palavras de bom humor e incentivo, que não podem ser ditas tão bem por outra pessoa se não James.
E agora ele estava dando em cima da menina que parecia estar final e realmente conquistando, aos poucos, o coração de James. Mas... Bem, James não ama ela nem nada. É só uma atração, ele mesmo diz, afirma isso!
Ah, a quem Sirius estava tentando enganar? É óbvio que James estava começando a cair de amores por aquela ruiva, ele só era orgulhoso demais para acreditar nisso, e confessar. E Sirius não estava louco por Lily nem nada, mesmo. Era só mais uma atração física que ele sentiu, assim como em todas as outras vezes.
Lily era esperta. Ela não ficaria triste depois de Sirius lhe dar o fora. Ela ficaria forte, James provavelmente iria consolá-la, e ela ia ver quem James realmente é, e dará a ele a sua tão esperada chance.
Viu? No final, todo mundo sai ganhando. Lily acha um homem que se importa de verdade com ela, James finalmente fica com Lily e Sirius mata a sua vontade.
Nesse instante então, algo engraçado aconteceu.
O relógio de parede da sala deu três badaladas rápidas. Eram três horas da madrugada. Sirius olhou para a porta que estava no topo das escadas que levavam ao dormitório feminino, esperando ver Lily toda maravilhosa, descalça, numa camisola de seda transparente, os cabelos soltos com grandes cachos feitos para a ocasião.
Mas bem, não foi isso que desceu da escada. Na realidade, o que desceu da escada estava longe de ser a Lily que Sirius estava imaginando. Era uma ave feita de pergaminho, que voava graciosamente até Sirius.
Padfoot soltou uma risada por chegar a pensar que “matar a sua vontade” seria tão fácil assim. Ele pegou habilmente a ave com dois dedos e começou a abrir o bilhete, sorrindo ansioso.
Eu preferiria comer cacos de vidro à me encontrar às três da manhã na sala da Torre da Grifinória, Black. Comer cacos de vidro..
That’s when I star to realize.
What you bring to my life:
Damn this guy can make me cry!
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