All about lovin' you
I – Ver
Os olhos são traiçoeiros, disso não há dúvidas.
Seus olhares não se encontraram logo de início. Ela estava desatenta; ele evitava qualquer tipo de contato íntimo, mesmo que tão fugaz.
Nisso, podia-se chegar à conclusão de que o Amor é distraído.
Mas no final, foi ele quem a notou primeiro. A Ninfa, a fada dos bosques.
Como um cego que viveu muito tempo no escuro e que, finalmente, tivera os seus olhos desvendados e a luz da aurora revelara todas as nuances de um mundo novo, ele enxergou nela muito mais do que gostaria.
Viu cores, viu vida.
Era amor.
II – Degustar
Lábios, língua e saliva.
O gosto dele em sua boca. Mesclando-se, fundindo-se ao seu próprio ser. Absorvendo ao máximo o que podia dele.
Indissolúvel.
Ela nunca achou que o beijo de uma pessoa pudesse ser tão saboroso. Era denso como chocolate derretendo sobre a língua, suave como um suculento pêssego maduro, intenso como firewhisky alterando os sentidos.
Ele negou, mas estava igualmente dependente do sabor dela, do beijo dela.
Era viciante.
E ela queria mais.
Era o pecado da carne, o desejo do corpo. Gula. Ou talvez fosse apenas o sabor do primeiro beijo.
Inesquecível.
Como seriam todos os outros.
III – Escutar
“Eu te amo”
As palavras proibidas saíram dos lábios dele, que sempre se negara a admitir o sentimento. Ouvir a si próprio dizer aquilo era aterrador.
Havia assinado a sua condenação.
Era decisivo.
Porque as palavras são definitivas.
Sentimentos vêm e vão, mas o verbo é eternizado.
Ela não ouviu quando ele disse pela primeira vez.
Era apenas o sussurro cálido de uma promessa não concretizada. Ele estava abrindo o seu coração, enquanto a observava adormecida.
Esperava que as palavras penetrassem no sonho dela.
O que de alguma forma aconteceu, porque ela também segredara as palavras mágicas, entrelaçando sua vida à dele para sempre.
IV – Aspirar
O instinto da fera estava mais apurado do que nunca.
Era o odor da luxúria, da coisa mais repugnante que existia nele.
Além da ansiedade pela chegada da outra amante, havia também o medo que sempre percorria o seu corpo maltratado.
A fera sentiu cheiro de sangue; mas o homem reconheceu o hálito perfumado dela resvalar em seus lábios. Purificando-o.
“Tá tudo bem, foi só um sonho ruim”, o murmúrio dela o acalmou novamente, sentindo aquele tão conhecido aroma exorcizar as trevas que habitavam o seu interior.
“Fica aqui comigo?”, aninhou-se no abraço dela, enredando-se mais e mais naquela doce entrega.
“Sempre”
V – Tocar
“O futuro está na palma da nossa mão, eles dizem”, ela sorriu matreira, tomando a mão dele e traçando uma linha imaginária em sua palma.
Ele sentiu um ligeiro arrepio.
Aquilo era bom.
Ele disse que não acreditava em predições, mas que também queria fazer uma tentativa.
O toque suave da mão dela entre as suas, o calor que emanava da pele macia. Era real, naquilo ele acreditava.
As linhas desenhadas ali não lhe mostravam nada, ele disse muito sério.
Ela pareceu levemente desapontada, quando o roçar carinhoso dos lábios dele na palma da sua mão indicou que o futuro estava sendo escrito naquele momento.
“Casa comigo?”
VI - Sentir
Ela nunca pensou que pudesse amar outro alguém daquela forma tão intensa.
Mas tudo mudara.
Não era uma terceira pessoa que se interpunha entre eles; era um pequeno ser que reunia o que havia de melhor em ambos.
No princípio ele teve medo.
Ela também o sentiu, mas era mais um frêmito de excitação do que qualquer outra coisa. Sentir todas as transformações, até então desconhecidas, moldarem o seu corpo era algo que ia além do imaginável.
Era a alegria suprema.
Ela sorriu deliciada quando as mãozinhas pequenas e bem feitas tocaram o seu seio, enquanto sugavam avidamente o alimento necessário.
Não se cansava de observá-lo assim, tocar o seu rostinho perfeito, sentir aquele cheirinho tão bom de criança.
Ele também partilhava daquele estado de êxtase, era a concretização do inimaginável. Como se toda a sua vida finalmente começasse a fazer sentido.
Era a perpetuação daquele amor infinito.
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