O Reencontro



CAPÍTULO TRINTA E SEIS – O Reencontro







– Bem, acho que essa reunião está encerrada! – anunciou Dumbledore. – É importante que vocês prestem atenção ao Fogo da Fênix, ela irá queimar no dia em que precisarmos de vocês.



Os integrantes Ordem começaram a esvair pela porta oposta àquela que haviam entrado e apenas alguns utilizaram a porta atrás do diretor. Entre eles, os professores de Defesa Contra as Artes das Trevas, Ninfadora Tonks, o mestre de poções, Severo Snape e a professora de Transfiguração Minerva McGonnagal.



Dumbledore ergueu as mãos apoiadas da mesa e virou-se para os seis. Ainda sorria. – Vocês são um grande time, disso não há dúvida. Podem voltar, mas lembrem-se! Não hão de contar nada à ninguém? – Todos concordaram com a cabeça e um vento frio e cortante fez com que os pelos de suas nucas se eriçassem. Hermione teve a irrequieta sensação de que havia acabado de assinar um laço contratual mágico.



Eles já atravessavam o portal para o escritório do diretor, quando Harry sentiu o peso da mão de Dumbledore em seu ombro. Ele chamou pelo seu nom com a voz baixa.



– Harry. – O garoto se virou e encarou o diretor e seus olhos profundamente azuis.



– Sim.



– Acho que você ainda não sabe de tudo. – disse ele conduzindo-o para dentro do escritório. Havia um cheiro podre de sangue. Seus amigos não mais estavam ali e postados de pé encontravam-se McGonnagal e Snape. Os principais aliados de Dumbledore. Sobre a escrivaninha do diretor um pequeno caldeirão com uma substância vermelho vivo, não se cansava em girar, para todos os lados e sentidos. Chamas azuis aqueciam o caldeirão e as chamas dançavam de fora atrativa. – Harry, tenho certeza de que isso é ilegal, mas garanto que vai te ajudar. – Harry notou que ao lado do caldeirão, havia um livro. Era velho e desgastado; a brochura lateral estava descolada das páginas que estavam amarelas; o titulo escrito em cinza metálico era desgastado e havia perdido a beleza original, letras grossas intitulavam o volume: Poções Muito Avançadas.



– Me ajudar com o quê? E como assim ilegal?



Os olhos de Harry saltavam de Dumbledore para McGonnagal e dela para Snape. Os três o observavam com olhares oblíquos e duvidosos. Pareciam ter certeza de que ele era o menino-que-sobreviveu, mas não supunham necessário tamanho desespero. Na verdade suas expressões desaprovavam o que estava para acontecer. McGonnagal principalmente franzia a testa em discordância.



– Com o lapidar de sua força, Potter. – explicou Snape com muita seriedade na voz. Não parecia, portanto, com raiva de Harry.



– Não sei se seria necessário. Acho muito arriscado. – advertiu McGonnagal.



– Minerva, não fique aflita. – acalmou Dumbledore. – Severo, você, por favor, nos explique como proceder.



– Potter – chamou Snape –, você vai utilizar a Poção do Barqueiro. Ela é uma poção que o Ministério considera, das Trevas, mas Dumbledore acha que em casos como o seu, as regras não se aplicam. – Snape abriu um sorriso largo e desdenhoso. – Eu cozinhei esta poção por meses, e ela já está a sua espera por alguns dias. Você vai atravessar o mundo dos mortos. Você vai se encontrar com seus pais, em especial sua mãe. Mas para isso você deverá encontrá-los. Pense neles e não os tire da cabeça. Cuidado com os outros eles tentarão te puxar, creio que o cuidado extremo não é desnecessário.



– Eu não vou usar nada que seja das Trevas!



– Harry! Eu mesmo já utilizei no passado... – conciliou Dumbledore.



– Alvo! – pediu Minerva. – Deixe que o garoto decida. Você sabe tão bem quanto eu que magia como esta só funciona se for da vontade expressa da pessoa que a utiliza.



– Eu realmente acho que seria interessante a você conversar com eles pelo menos uma vez. – afirmou Dumbledore com a voz seca virando-se para Harry e não dando ouvidos à Minerva. – Afinal sua mãe fez coisas grandes que ainda não obtivemos conhecimento. Nem mesmo você.



Tudo parecia muito estranho. Dumbledore e Snape haviam feito, juntos, uma poção das Trevas para que pudessem descobrir quais eram as proteções que sua mãe o havia deixado. Fazendo isso uma renovação das proteções que provavelmente já estavam perdendo seus efeitos. Dumbledore já tinha nas mãos uma taça de prata, com diversos detalhes em alto relevo que lembravam o desenho geométrico de círculos e triângulos, cheia do líquido do caldeirão. Pela janela, Harry viu a lua iluminar os gramados do castelo. Uma brisa suave fazia com que folhas caídas e o gramado alto ondulassem e descrevessem círculos belos e simétricos. O salgueiro lutador balançava os longos braços galhudos na direção em que o vento determinava, e suas folhas verdes estavam prateadas, refletindo a enorme lua que, cheia, escondia-se atrás de nuvens opacas.



– Vamos, Harry! Você sabe que é preciso. – Ele ergueu a taça à altura de seus olhos e entregou ao garoto. Harry tocou a taça e ficou espantado ao sentir o metal quente. Era como fogo vivo, o calor queimava-lhe a palma das mãos, e os entalhes da taça marcaram-lhe como ferro recém-fundido. Ele ergueu a taça e bebericou o cálice. Um líquido viscoso tocou-lhe os lábios e penetrou-lhe a garganta. Era amargo, forte e quente. Harry sentiu-se tonto, dentro de seu corpo sentiu uma reviravolta lancinante e cruel. Sua última visão antes de cair de joelhos foram os lábios crispados de Minerva McGonnagal.



Seu corpo parecia estar preso ao chão, mas tudo ao seu redor movimentava-se. Um frio pior que qualquer outro invadiu-lhe as narinas, era o frio da morte. Harry parecia flutuar por entre rostos desconhecidos e vultos de pessoas que não sabia quem poderiam ser. Ele escutava gritos lamurias e choros. Ele estava entre os mortos. Os vultos lambiam as mãos em suas vestes negras e por vezes impediam o avanço até o local que pudesse encontrar com seus pais. Sabia que estavam ali, só não sabia se iria achá-los. Lembrou das palavras de Snape e pensou nele. Não tardou muito e gritou por eles.



– PAI! MÃE! – O que Harry ouviu não foi sua voz, mas apenas um grito ensurdecedor que não era possível ser humano. Após isso o silêncio se instaurou e nada mais era escutado. Uma profusão de vultos veio lhe perpassando o rosto como se esperassem que fossem escolhidos. Harry estava muito nervoso, sentia o suor frio descer-lhe a cicatriz. Quando abaixou as pálpebras e as reergueu, Harry viu uma mulher de cabelos acajus e olhos muito verdes; ao seu lado um homem alto, de cabelos negros todos despenteados e olhos negros, profundos como um desfiladeiro.



O suor que lhe descia o rosto misturou-se as lágrimas.



A expressão de Tiago Potter não parecia satisfeita.



– Quem o trouxe aqui? – perguntou nervoso. – Não digas que Voldemort ainda continua vivo?



– Pai...Mãe... – mais uma vez Harry chorava. – Não... Eu vim porque...



– Meu filho me escute... – era a voz de sua mãe. Ela parecia triste de ver o filho desse jeito. – Como você veio até aqui?



– Dum - Dumbledore. – Harry respirou fundo e enxugou as lágrimas remanescentes. – Ele disse que precisava conhecer as proteções...



– Sempre confiei nele. – afirmou satisfeito seu pai.



– Eu e Amanda desenvolvemos um feitiço – começou sua mãe falando depressa –, baseado no amor, grave esta fórmula mágica “Blasonum Maximus”. – ao dizer isso um clarão de luz branca eclodiu atrás de sua mãe. Ela continuava ali, mas seus contornos estavam ficando desbotados. – Você deve se lembrar da fórmula.



– Mas como? – perguntou Harry.



– Vá ao cemitério onde eu, e sua mãe, estamos. – começou seu pai, ele parecia estar com pressa como se o tempo estivesse se esgotando –, Pegue atrás da lápide as instruções de sua mãe.

– Estaremos sempre com você meu filho. – disse a voz tenra de sua mãe. – Vá e livre-se de uma vez por todas daquela coisa vil e asquerosa. – Ela fechou os olhos, mas antes que obtivesse a resposta ou pudesse vislumbrar seus pais por uma última vez ele foi tomado por uma lufada de vento que o obrigou fazer o caminho de volta. Rever os mesmos vultos e rostos, escutar os mesmos gritos e choros. E sentir os joelhos doer no chão de pedra fria no escritório do diretor.



Harry ainda de joelhos, sentou no chão. Não queria conversar, falar ou explicar o que havia ocorrido. Fora tudo tão rápido... E tão bom... Como sentia flat de seus pais, como eles eram fundamentais e mesmo assim não estavam ali. Harry Potter permaneceu por alguns minutos sentado no chão de pedra. Meio abobalhado com tudo aquilo, inexpressivo. Ficou minutos pensando em seus pais. Na perda e na falta. Ele escutou o som da voz de sua mãe, mas ela não gritava desesperada por misericórdia, mas falava de um modo doce e agradável que conquistava a todos; seu pai tinha uma voz grave que enchia uma sala inteira e convencia multidões. Eram as vozes do Reencontro. Vozes que ecoavam de forma diferente. Ele havia conversado de verdade com eles. Não era uma lembrança ou uma visão antiga, era apenas real.



– Harry – chamou Dumbledore com sua voz presente –, sua mãe lhe disse quais as proteções?



– Sim. – afirmou ainda no chão.



– Levante-se! – disse McGonnagal aflita ajudando o garoto com as mãos, embora fosse mais velha e dona de cabelos grisalhos, ela teve força suficiente para erguer o garoto de pé. Ele deu uma sacudidela na varinha e Harry sentiu algo invisível lhe abraçar, sentiu-se mais confortável e apto para conversar. Havia uma cadeira conjurada por Dumbledore atrás do garoto como se estivesse a esperar que se sentasse.



– Eu os encontrei logo no início. – começou Harry ainda abalado – Minha mãe me disse uma fórmula mágica. – Harry fechou os olhos e escutou a voz da mãe lhe dizer. – Blasonum Maximus. Ela disse que Amanda também havia desenvolvido o Blasonum Maximus.



– É a mãe da Srta. Lovegood? – perguntou Minerva à Dumbledore.



– Sim, creio que sim. – Dumbledore baixou seus oclinhos de meia-lua e lhe disse – Continue Harry.



– Bem, ela pediu que gravasse essa fórmula. Meu pai me disse que eu deveria procurar na lápide de minha mãe. Eu não entendi. – Harry olhou para Dumbledore, mas esse tinha olhar fixo em sua penseira onde não parava de depositar pensamentos. – Nunca me disseram que meus pais foram enterrados... – disse Harry com o rancor na voz. Odiava descobrir coisas que todos lhe escondiam debaixo do nariz.



– Harry – Dumbledore sorria logicamente para o garoto como se aquilo tivesse uma óbvia resposta. –, caso eu lhe dissesse isso antes, talvez você já não estivesse aqui. A Floresta Proibida do colégio é proibida por dois grandes motivos: em seu interior seres poderosos e perigosos correm e vivem. Mesmo os mais mansos são capazes de rebeliões, não se esqueça dos centauros no ano anterior. Firenze quando voltou quase foi morto, mas as estrelas pareceram lhes contar mais do que sabemos e nosso amigo foi aceito novamente. E o outro motivo que é oculto de vocês. Além da mais profunda clareira se encontra o cemitério de Hogwarts.



– Mas qual o problema? – disse Harry rebelando-se.



– Caso você soubesse desse fato, tentaria a qualquer custo atravessar os perigos da floresta para que pudesse ver o local onde seus pais estão. Isso seria muito arriscado, pois a floresta além de muito densa, também é mágica, e sempre no prega armadilhas que acabam nos fazendo perdidos em seus limites extensos. – Dumbledore pôs a varinha dentro das vestes e guardou a penseira no armário ao lado. – Mas agora é o dia certo para chegarmos até lá. Vamos, não podemos perder tempo.



Dumbledore caminhou para fora da sala e todos o seguiram. Atravessaram os corredores e desceram as escadarias de pedra para no Saguão de Entrada saírem até os jardins. Eles formaram um pequeno cortejo que cortava a calmaria dos gramados noturnos. Uma bruma fina e gélida invadia as vestes dos quatro e Minerva puxou a capa para mais perto de si. Eles chegaram a orla da Floresta Proibida. Estavam exatamente entre o Salgueiro Lutador e a cabana de Hagrid. Os imponentes pinheiros erguiam-se altos e pontudos contra o céu, formando uma muralha vegetal que impedia qualquer passagem de luz. Harry sentiu como se estivessem olhos que o vigiassem. Dumbledore exclamou.



Lumos! – um feixe de luz saiu da ponta da varinha do diretor e iluminou o gramado e os troncos retorcidos que se projetavam à frente do grupo. Todos os outros três também acenderam suas varinhas e entraram. Harry foi à frente com Dumbledore enquanto Minerva e Snape ficaram atrás dando cobertura. Quando já haviam atravessado um bom pedaço da floresta eles escutaram um grito.



AAARRREEEEE! – disse uma voz fina e imponente. Harry se virou assustado e apontou sua varinha para todos os lados e viu ninguém menos que Gina como o pé preso em uma raiz, Neville caído no chão e Luna, Hermione e Rony atrás com varinhas em punhos.



– O que fazem aqui? – perguntou Snape desgostoso.



– Esperando você liberar nosso amigo. – disse Hermione. – O jeito como nos enxotou do escritório do diretor não foi nada cortês.



– Resolvemos esperar você sair do escritório com ele. – explicou Rony.



– Seguimos vocês até aqui, e então eu tropecei e vocês nos descobriram.



– Não foi culpa dele. – interferiu Dumbledore. – Eu precisava do amigo de vocês por alguns minutos, mas parece que esses minutos estão se alongando. Bem, vocês devem nos seguir, voltarem sozinhos seria muito arriscado. – todos escutaram o barulho de cascos.



– O que fazem aqui? – inquiriu um centauro imponente e musculoso. Seus cabelos negros eram espessos e sua penugem era marrom malte escocês e brilhava na luza de suas varinha. Uma lança estava próxima à garganta de Dumbledore. As varinhas de Minerva e Snape estavam apontadas para o centauro.



– Estamos indo visitar o cemitério de Hogwarts. Não desejamos perturbar os centauros. – Disse Dumbledore muito humilde.



– Podem passar. – disse o centauro retirando a lança do pescoço do diretor e sumindo na escuridão; o trote do galope foi escutado por longos minutos, o centauro os acompanhava como se desconfiasse da afirmação de Dumbledore.



– Não gosto desses... – mas antes que Rony terminasse a frase Hermione levou a mão à boca do garoto que calou-se.



O cortejo caminhou por mais uma metade de hora e não deixaram de escutar os cascos do vigilante centauro. Embora fora do alcance da visão todos sabiam que ele estava ali. Quando começaram a caminhar sobre uma íngreme descida, Harry pôde vislumbrar uma clareira logo à frente. Não havia árvores, e o gramado parecia não ser aparado havia anos. A bruma noturna tomava conta da paisagem. Ao terminarem de descer, eles encontraram uma cerca velha e podre. Quebrada em vários pontos. À frente diversas lápides jaziam, eram no mínimo umas trezentas, tamanha era a clareira. Harry não acreditava no que via. Aquele era o cemitério de Hogwarts. Seus pais haviam sido enterrados ali.



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