O Grande Chá das Cinco



CAPÍTULO DEZENOVE – O Grande Chá das Cinco





No dia seguinte, Harry acordou um tanto quanto tonto. Seus sonhos pareciam borrões de cor em sua memória. Ele só se lembrava de uma enorme pirâmide roxa. Sabia que nem todos os sonhos são explicáveis, mas da última vez que um sonho ficou martelando em sua cabeça ele perdeu o que mais prezava na vida, seu padrinho. Apenas Neville ainda dormia. Dino estava de pé e rapidamente correu para a janela para poder abrir as pesadas cortinas de veludo vermelho. Quando a janela foi descoberta, o sol inundou o dormitório e Neville deu guinchos de desaprovação que fizeram todos rirem. Rony já estava arrumado e junto com Dino e Simas, ele desceu para o salão comunal. Enquanto Harry terminava de se trocar, ele ouviu o barulho de algo sólido cair no assoalho, virou-se para ver e viu que Neville havia caído da cama.


– Vamos Neville, ou vai ficar sem o café da manhã! – Harry abriu a porta – Te vejo na aula do Snape!



Quando chegou ao salão comunal, Simas e Dino já haviam ido para o Salão Principal. Rony e Hermione estavam sentados em um sofá vermelho próximo á lareira. Eles se levantaram e atravessaram o retrato da mulher gorda. Harry contou aos amigos o que realmente havia ocorrido na noite anterior. O canto, o silvo e o fogo da fênix.


– Realmente! Isso não faz sentido algum! – Hermione começou impetuosa – Aquela medalha é uma forma de comunicação sua para com eles! Por que então a mensagem chegou à você?


– Hermione, é exatamente isso que ele estava perguntando. – afirmou Rony.


– Eu entendi muito bem o que o Harry perguntou! – retorquiu Hermione.


– Vocês não resistem a uma discussão? Resistem? – perguntou Harry enquanto começavam a descer os degraus de mármore para que pudessem tomar café no Salão Principal. O silencio permaneceu entre os dois por alguns instantes, até que antes que atingissem a mesa de Grifinória, Gina os assaltou de surpresa.


– Vocês já viram isso? – emplacou Gina erguendo o profeta Diário à altura de seus olhos. Harry correu os olhos pelas letras garrafais da manchete. VILAREJO DE WILTSHIRE TEM O MAIOR INCÊNDIO DA HISTÓRIA.


– Wiltshire? Eu conheço esse lugar... – comentou Rony disperso.


– É obvio que você o conhece, pelo menos de nome. Wiltshire é o vilarejo onde os Malfoy moram! – exclamou Gina feliz.


– Me dá isso aqui! – pediu Hermione á Gina arrancando-lhe o jornal da mão. – É, e agora parece que a mãe dele também está em apuros. – narrou Hermione conforme lia a notícia. – Aqui diz que Narcisa Malfoy, esposa do Comensal preso Lúcio Malfoy, foi vista sobrevoando as áreas queimadas ontem á noite. – Harry chegou perto de Hermione e leu também.


– E diz mais, testemunhas trouxas, disseram que uma mulher loura corria os ares e lançava fogo sobre as casas. Por tais evidências, está sendo intimada para comparecer ao quartel de Aurores na semana que vem. Caso ela não apareça, será tida como fugitiva do Ministério.


– Malfoy deve estar adorando! – comentou Rony sarcástico. – Quem sabe ele passe as férias com os pais na ilha de Azkaban? Seriam realmente, férias perfeitas.


– Eu não acho isso perfeito. – afirmou Harry com seriedade.


– O quê? – exasperou-se Rony – Como assim?


– Você não estava no cemitério. – Harry pela primeira vez pensou que o passado poderia lhe ajudar na jornada contra as Trevas. – Voldemort, ele preza por Lúcio, e também por Narcisa. – já sentado á mesa da grifinória, eles estremeceram ao ouvir o nome daquele bruxo. – Com Narcisa presa, Voldemort pode se enfurecer, e as conseqüências de sua fúria seriam catastróficas para todos.


Hermione ficou parada admirando Harry como se dele desprendesse uma onda da esperança e conforto. Embora conseguisse dominar feitiços com rapidez, Harry se sentiu sábio pela primeira vez na vida. Harry sentiu uma massa de ar passar pelas suas pernas e teve certeza que era a capa de Rony chutando Hermione por debaixo da mesa. A garota parou de olhar fixamente para Harry.


– Você tem razão, Harry. – disse Gina com calma. – Dumbledore também parece estar muito apreensivo. – Harry virou o olhar para a mesa dos professores e com isso percebeu que no olhar de Dumbledore era possível enxergar, a fúria e o desespero, a esperança e a força. De alguma forma Harry sentiu que estava mais ligado a Dumbledore do que jamais havia imaginado. Sentiu medo de perdê-lo.


– Olha essa foto! – exclamou Hermione contente. – É uma fênix não? – Harry olhou para a foto ao lado da reportagem e viu que a Marca Negra havia sido encoberta por uma nuvem dourada no formato de uma enorme fênix. A fênix do jornal era muitíssimo parecida com a medalha que ele tinha guardada em seu malão. Harry folheou o jornal e leu o restante da notícia.




Embora o atual ministro, Fudge, tenha começado a agir no sentido de proteger a comunidade bruxa, o ataque ao vilarejo acima citado, foi combatido por apenas dois aurores do ministério. O auror Quim Shacklebolt disse ao Profeta que se não fosse pela presença de um grupo de bruxos desconhecidos, o fogo teria atingido mais casas e a única suspeita não teria sido vista. Shacklebolt afirmou que os bruxos desconhecidos invocaram a fênix que encobriu a marca negra e logo após isso todos desaparataram. O ministro Cornélio fez uma declaração em agradecimento esta manhã. “Ficamos agradecidos que a comunidade bruxa tenha se envolvido com a causa pública, embora tenham nos ajudado, uma premiação como uma Ordem de Merlin, está fora de questão.”



– Ele é muito prepotente... – disse Gina com a raiva na voz. – Ele realmente acha que a Or...


– Shh! – impediu Rony.


– Vocês sabem! Ele acha que queríamos uma premiação! Ele realmente acha que estamos nos preocupando com a Or...


– Shh! – impediu Harry.


– Shh nada! Ordem de Merlin! Merlin era o que eu iria falar!


– Está bom Gina. Se acalme. – disse Hermione.


– Eu vou para minha aula! – e levantando-se saiu como um cavalo feroz.


– Nós devíamos fazer o mesmo.


Na aula de poções, Snape estava chato e pessimista como sempre. Ele entrou na masmorra onde Poções Avançadas era lecionada e sem dizer nada sacou a varinha e conjurou sete quadros-negros cheios de parágrafos escritos á giz.


– Esse são os Doze Usos do Sangue de Dragão! Todos vocês, sem exceção, foram péssimos em seus ensaios sobre o sangue de Dragão. – Snape andava de um lado para o outro, sua capa preta enfunava ás suas costas. Só era possível escutar a voz metálica de Snape e o titilar das goteiras subterrâneas. – Vocês dois, Weasley e Neville! Não tenho idéia de como atingiram um nível N.O.M.’s, mas só tenho certeza de que vocês não combinam com um caldeirão! O único aluno que descreveu nove usos corretos foi o aluno Draco Malfoy e a... – Snape engoliu seco – Srta. Granger. Trinta pontos para cada um. Copiem a matéria!


A aula de História da Magia não foi chata. Ela foi insuportável. Duas horas escutando um fantasma, velho e ranzinza, contar sobre a Confederação Internacional dos Bruxos e o destinos das criaturas mágicas. De vez em quando Harry era acordado por um momento de empolgação do professor ou por nome que pareciam palavras rudes, como o senhor Nerda, e a família McCaucus, que respectivamente contribuíram na votação para a criação da Divisão dos Seres, da Divisão dos Espíritos e por fim da Divisão das Feras.


Na hora do almoço, enquanto Rony contava indignado à irmão sobre o fiasco que havia sido a aula de poções, e Hermione lia entretida “O Sangue de Dragão: os Doze Usos e Dicas Úteis” , Edwiges adentrou o Salão Principal. Suas compridas asas brancas batiam suaves e aos poucos a coruja de Harry foi perdendo altura até pousar com classe no ombro do dono. A bela coruja-das-neves esticou a pata para que Harry pudesse retirar sua correspondência. Harry puxou um rolinho de pergaminho e leu os garranchos. Era obviamente de Hagrid.



Harry,
Grope está com saudade de Arry e Hermy. Por favor, ele insiste em convidar vocês para tomarem chá com ele e seus amigos. Conto com você! Te espero em minha cabana depois das aulas, perto das cinco horas.
Hagrid



Harry releu o bilhete três vezes, não sabia o que pensar. Esticou o braço e deu para Hermione. – Leia isso. – Foram necessários menos de cinco segundos para que Hermione gritasse.


– Um chá?! Ele não sabe o que está fazendo. – disse desconcertada.


– Ele quem? – perguntou Rony.


– Hagrid.


– Algo relacionado ao Grupe?


– É isso mesmo. – disse Hermione triste. – E não é Grupe, é Grope.







No fim da tarde, após uma cansativa aula de Transfiguração onde tiveram de transformar um caixote de madeira maciça em uma perfeita esfera lisa, os três, Harry, Rony e Hermione se encontraram com Gina no Saguão de entrada e foram caminhando na direção da cabana de Hagrid. Todos estavam muito quietos. Ninguém parecia muito certo do que se passaria no grande chá das cinco, apenas sabiam que embora Grope pudesse ter sido um pouco educado, os outros talvez ainda fossem um tanto quanto brutos. Por um outro lado, havia o sentimento de culpa, caso eles se recusassem a ir, Hagrid ficaria muitíssimo chateado com eles, já que em parte Hagrid também era mestiço, meio homem, meio gigante. Quando chegaram à cabana do amigo, puderam escutar os latidos de Canino. Hagrid abriu a porta e o cachorro começou a lamber os sapatos dos garotos.


– Canino! – gritou Hagrid – Pare com isso!


– Ele não incomoda... – disse Rony feliz.


– Bem, podemos ir? – pediu Hagrid aos quatro.


– Ah! Sim, claro. – mentiu Hermione.


Os quatro, além de Hagrid saíram da cabana do guarda-caça pela porta dos fundos e logo já saíram na orla da floresta proibida. Hagrid trazia nos braços seu antigo arpão. Era uma espécie de proteção. Canino rodeava o dono. Escutaram o barulho de cascos e Hermione perguntou incisiva á Hagrid.


– E os centauros?


– Eles estão mais calmos. Dumbledore conversou com eles em julho passado.


As copas frondosas das árvores cobriam toda a floresta fazendo com que os últimos raios de sol do dia fossem banidos dali. A floresta estava escura e tinha um aspecto sombrio. Harry e os demais retiraram as varinhas de dentro das vestes e exclamaram.


Lumos! – quatro finos feixes de luz iluminaram a floresta que escurecia a cada passo na direção do centro da floresta. Em alguns momentos, eles escutavam alguns barulhos estranhos, enxergavam vultos brancos, escutavam o canto irritante de algum Agoureiro e tropeçavam nas raízes nodosas das árvores centenárias. Por alguns instantes puderam sentir a terra tremer. Harry sabia que era um deles.


Andaram mais alguns minutos até que começaram a escutar vozes. Eram vozes grossas e ruminantes que enchiam o ar obscuro da floresta. Caminharam um pouco mais e todos puderam ver uma imensa clareira. As árvores à volta haviam sido, em sua maioria, arrancadas pela força. No entanto, para espanto de Hermione e Harry, algumas das árvores haviam sido cortadas, e formavam um grande círculo de troncos cortados, como bancos rústicos no centro da clareira.


Harry se adiantou e levou um susto quando viu que na clareira havia não só o pequeno Grope, mas mais cinco gigantes adultos, que passavam dos seis metros de altura. A pele dos gigantes parecia dura e seca como as rochas de um deserto e seus olhos eram úmidos como os de um rato. Antes que entrassem na arena de árvores arrancadas, Hagrid entrou na clareira para que pudesse fazer as apresentações. Quando o guardião-das-chaves apareceu, todos os gigantes se agitaram e exclamaram.


– AGRID! AGID! HAGD!


Os gigantes, que tinham uma fúria seca nos olhos, agora pareciam crianças correndo atrás de um amigo. A presença de Hagrid parecia que era sempre um momento de alegria para todos da clareira. O amigo meio-gigante tratava á todos com a igualdade de um nobre, porém, quando o amigo assoviou chamando-os para que juntos entrassem na clareira. A reação dos enormes seres humanóides mudou drasticamente. Apenas Grope ficou contente. Os outros olhavam para o interior da floresta, desconfiados. Antes que o sol os iluminasse, Harry recomendou aos outros três que guardassem as varinhas, gigantes eram criaturas que mais que qualquer outra, odiavam o poder de uma varinha. Com alguns passos à frente eles entraram na clareira.


Foi um choque. A maioria dos gigantes olhou com medo para os quatro jovens. Embora não estivessem sendo agressivos, tampouco estavam sendo simpáticos como eram com Hagrid. Não foi á toa, que quando Grope se levantou de um salto na direção dos garotos, o restante do grupo olhou com desprezo para o irmão.


– HERMY! ARRY! GROPE FALTA! – O gigante veio na direção dos quatro e pegou Harry e Hermione na palma de sua mão e os pôs sobre seu ombro. – GROPE FELI! GROPE DECI AGRID!


Aos poucos, todos os gigantes começaram a se tornaram mais simpáticos, óbvio dentro dos padrões dos gigantes. De montanhas mudas, passaram a coisas muito grandes que tentavam falar algo em inglês, mas só saiam palavras desconexas e sem sentido. Apenas Hermione e Gina tomaram o chá de uma chaleira que pelo tamanho caberia um homem adulto dentro. Grope as serviu com xícaras do tamanho de pratos e Hermione ia tirando a varinha para que pudesse encolher sua xícara, Gina a interrompeu. Hagrid fez a troca, retirou de dentro de seu enorme casaco de pele de toupeira, duas xícaras de metal e deu às garotas.


Quando a noite já dava sinais que queria cobrir o céu, e sol não mais emanava a luz e calor do dia, Harry achou melhor que deveriam ir embora. Ele não gostava da idéia de atravessar a floresta proibida pela noite. Havia muito mais do que imaginavam dentro daquela floresta, ou além dela. Os quatro se despediram dos gigantes, agradeceram e juntos com Hagrid adentraram na escuridão de árvores, galhos e folhas para que chegassem nos jardins do colégio. Quando já avistavam a cabana de Hagrid, o amigo parou.


– Vocês conseguem ir até lá sozinhos. Tenho que voltar para passar a noite na clareira. – Hagrid armou o arpão com um estalido opaco. – Obrigado por terem vindo. Grope ficou muito feliz, e eu também.


– Hagrid, você sabe que pode contar conosco! – disse Harry sinceramente.


– Obrigado Harry! Vocês também contem comigo! – e com um sorriso virou-se e começou a caminhar, mas antes que deles, muito se afastasse, Hermione o chamou.


– Hagrid! – a amigo meio gigante virou-se. Hermione continuou. – Dumbledore já sabe dos gigantes? – Hagrid deu um sorriso bobo, acenou para os quatro e continuou caminhando até a escuridão lhe engolir completamente.


– Que houve com ele? – perguntou Rony desconfiado.


– Não entendi por que ele não respondeu... – comentou Gina inconformada, enquanto atravessavam o gramado na direção do castelo.


– Pois a resposta está á sua frente. – disse Mione incisiva. À frente dos quatro, Dumbledore, McGonnagal e Snape caminhavam na direção da cabana de Hagrid.


– Potter! Weasley! – exclamou Snape. – o que fez perambulando nos jardins? Não seria mais conveniente estudar os Doze Usos do Sangue de Dragão?


– Severo! – advertiu McGonnagal. – Assuntos sobre o desempenho escolar não nos diz respeitam! No entanto, Harry, Ronald, Hermione e Ginevra o que vocês fazem aqui à essa hora, quando deveriam estar no salão principal jantando?


– Minerva, – disse Dumbledore com calma – creio que vieram atrás do mesmo problema que o nosso. É realmente um grande problema.


– Nós... – começou Hermione na defensiva.


– Não se explique srta. Granger, eu sei onde foram e por que foram, só não entendo por que Hagrid não quis me contar. Penso que talvez também seja oportuno para que a aliança entre a sua AD...


– Dumbledore! – impediu Snape – Você nos disse que ainda abriria o assunto na próxima reunião.


– Severo, existem coisas na vida em que você não deve aguardar, você deve agir. Você sabe do que estou falando. – Dumbledore limpou a garganta e se dirigiu novamente a Harry. – Como ia dizendo, a aliança entra a AD e a Ordem, se torne mais forte através de seu ingresso na Ordem. Estou-lhe convidando, apenas um convite. Você não tem obrigação nenhuma de entrar. Me procure quando tiver certeza.

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