Apenas um pedido (1ª parte)
Apenas um pedido
‘’Me lembro de que certa noite ela subiu até o meu quarto para me trazer, como sempre, uma xícara de chá e, para a minha surpresa, me levou até a janela. Olhou para a bela lua cheia que iluminava o céu estrelado e me disse:
-Quer ouvir uma história, Teddy?
E ela baixou o olhar e passou a me observar com aqueles lindos olhos esperando a resposta. Em geral, eu nunca demorava a responder se queria ouvir uma história. Dizia logo um animado sim e corria para minha cama esperando por ela. Mas naquele dia, ou melhor, naquela noite, eu sentia que não seria um historinha boba. Eu achava que seria um bela de uma história.
-E então Teddy, quer ouvir a história? –perguntou ela novamente.
Respondi positivamente com a cabeça e ela segurou minha mão e me conduziu até a poltrona que ficava no canto do quarto. Deixou a xícara com o chá no criado-mudo ao lado da poltrona e sentou-se lá.
-Não vai pegar o livro, vovó? –perguntei inocentemente.
-Não vou precisar de livro para isso, querido. –respondeu ela me puxando para cima da poltrona e colocando-me sentado em seu colo.
Ela ainda permaneceu um tempo olhando para o nada, provavelmente pensando por onde começar.
-Você não se lembra de seus pais, Teddy. Isso é óbvio. –ela falou passando a mão em meus cabelos. -Mas você os conhece por fotografia e pelo que todos dizem a respeito deles. –ela deu um suspiro. –Acho que já é a hora de lhe contar o que acontece quando as pessoas... vão embora.
Eu estava sentado ali, olhando para ela, que parecia buscar as palavras certas a dizer. Depois de mais um tempo em silêncio, ela retornou a história:
-Bem, você já está mais grandinho, tem seis anos e já entende o que acontece quando alguém morre. –falou ela me admirando.
-Quem morre vira uma estrelinha e fica lá no céu. –eu disse olhando para ela.
-Como sabe disso? –perguntou ela parecendo ligeiramente preocupada.
-O tio Harry. Ele me contou que os pais dele também viraram estrelinhas e que estão lá no céu. –respondi a ela. –E ele disse que todos nós viramos estrelinhas quando morremos.
-E eu fiquei toda preocupada, sem saber o que dizer pra você. –falou ela pegando a xícara de chá e bebendo um pouco. Parecia mais relaxada.
-O que tem de errado em morrer? –perguntei me encostando nela.
-Nada. Por isso mesmo que é ruim. Porque todos nós vivemos nossas vidas sabendo que vamos morrer um dia. –respondeu ela largando a xícara de lado e me retirando de seu colo. –Mas agora é hora de dormir.
-Não quero dormir, vovó! –protestei logo que fui depositado no chão.
-Já são dez horas, mocinho. –disse ela com o ar decidido.
-Você não me contou a história. –pedi com cara de cão sem dono.
-Você me disse que Harry já lhe contou. –falou ela se ajoelhando para poder olhar diretamente nos meus olhos.
-Mas queria ouvir do seu jeito. Por favor, vovó!
-Tá bom! –disse ela desistindo e me pegando novamente no colo. –Você é ainda mais teimoso que a sua mãe foi quando era pequena.
Ela me deitou na cama e cobriu-me até a altura dos ombros. Diminuiu a luz do abajur na esperança de me fazer adormecer, mas eu estava curioso demais para pensar em dormir. Ela se sentou ao pé da cama e ficou parada observando meu cobertor, provavelmente ela deve ter achado algo bem curioso lá.
-Não quer me contar a historinha, vovó? –perguntei me sentando.
-Claro que eu quero. –respondeu ela com lágrimas nos olhos. –Desde que eu decidi contar isso pra você, todas as vezes que eu olho para seus olhos penso no dia que contei isso para sua mãe. E não sabe o quanto foi difícil falar pra ela. E quando seu vovô morreu eu tive de contar essa história a ela novamente. –ela olhou para a janela e pareceu se lembrar do por que de estar ali. -Bem, todo mundo morre um dia. Mas como nós somos egoístas, a gente deseja que esse dia nunca chegue.
-Por quê? –perguntei me aproximando dela.
-Porquê não queremos que as pessoas que amamos nos deixem. E todos erram em achar isso, querido. Quando nós morremos, apenas deixamos para trás nosso corpo.
-Como assim, vovó? –perguntei ficando cara a cara com ela.
-Harry não tinha lhe explicado tudo? –indagou ela parecendo irritada com o meu bombardeio de perguntas.
-Ele não contou tudo isso que você tá me explicando agora. Pode continuar? –perguntei me ajeitando novamente em seu colo.
-As pessoas que nós amamos nunca nos abandonam. Elas sempre estão aqui. –e ela depositou sua mão direita sobre o meu peito, no lugar do coração.
-Mas se elas estão aqui, -e coloquei minha mão sobre a dela. –como é que elas podem estar lá no céu também?
-No seu coração só está o amor delas. As lembranças. –disse ela retirando a mão do meu peito e colocando ela sobre a minha cabeça. –É de lá do céu que elas olham a gente aqui em baixo.
-Então não posso aprontar mais sem o papai e a mamãe saberem? –perguntei olhando preocupado para o céu.
-Pode continuar aprontando, Teddy. Mas papai não vai gostar muito. –ela parou e ficou pensativa. -Já a mamãe e o vovô eu não posso dizer o mesmo.
-Então morrer não é tão ruim assim, não é vovó? A gente não deve precisar escovar os dentes...
-Se temos ou não que escovar os dentes eu não sei. –disse ela rindo. –Só sei que mesmo depois das pessoas morrerem, quem as realmente amava continua amando elas. Existe o amor depois da morte.
-Então você continua amando eles? Mesmo depois deles terem partido daqui? –perguntei começando a me sentir com sono.
-Claro que eu amo eles. Tanto quanto eu amo você. –respondeu ela me dando um beijinho na testa. –Agora já passou da hora de dormir.
-Não quero ir dormir! Quero saber mais sobre as estrelinhas lá do céu e...
-Já disse que é hora de dormir! –falou ela me interrompendo.
Ela se levantou da cama e me pegou no colo. Como era a noite das surpresas, ela me carregou de novo até a janela e apontou para o céu, dizendo:
-Está vendo aquelas duas ali que estão perto da lua? –e as duas estrelinhas brilharam mais forte. –Aquelas duas são mamãe e papai. E aquela um pouco mais embaixo é o seu vovô. Sabia que se uma estrela cadente...
-Aqueles que passam rapidinho? –perguntei a ela.
-Sim, exatamente essas. Sabia que se ver uma daquelas pode fazer um pedido? –disse ela me olhando.
-Um pedido? –perguntei novamente a ela.
-Só um. –ela me respondeu, levantando seu olhar para o céu e logo em seguida o baixando para mim. –O que você iria pedir?
-Eu ia pedir pra ela trazer de volta o papai, a mamãe e o vovô. Será que ela iria atender o meu pedido? –e olhei para ela cheio de esperança.
-Não faço idéia Teddy. –falou ela. –Mas eu pediria o mesmo.
Apesar de eu estar com sono e do quarto estar pouco iluminado, pude ver um belo sorriso nascer no rosto da vovó. Ela me levou até a cama e deitou-me lá. Passou a mão pelos meus cabelos e me deu mais um beijinho na testa.
-Boa noite, Teddy. –disse ela da porta.
-Pra você também vovó. -disse para ela dando um longo bocejo.
Acho que adormeci. Por poucas horas, mas adormeci. Quando acordei, vi que horas eram. Se vovó me descobrisse acordado aquela hora da madrugada, nem queira saber! Por isso, me levantei com cuidado da cama e caminhei até a janela.
Como eu não era grande o suficiente, arrastei uma cadeira silenciosamente até lá e subi em cima dela, de forma que eu me senti gente grande por poder observar o céu de lá da janela sem precisar estar no colo da vovó. Vi papai e mamãe piscando lá em cima e me lembrei das palavras de vovó: ‘’É de lá do céu que elas olham a gente aqui em baixo.’’. Então eles estavam me vendo ali na janela, olhando cheio de esperança para o céu, a procura de uma estrela cadente.
E eis que de repente surgiu uma estrela diferente no céu. Ela começou a piscar cada vez mais forte e foi se aproximando, de forma que eu já podia enxergar uma bela cauda nela.
Meu coração bateu mais forte. Essa era a hora. Era ela. Uma estrela cadente.
-Se você estiver me ouvindo, Dona Estrela Cadente, podia realizar meu desejo, por favor? –pedi por favor porque vovó me explicou que era educado. –Será que a senhora poderia trazer me papai e minha mamãe de volta? E o meu vovô também? Eles estão bem ali... –e apontei para as estrelas que vovó tinha me indicado mais cedo. –Obrigado.
E quando fui descer da cadeira, simplesmente me desequilibrei e cai. Acho que com o barulho, vovó acordou e veio correndo até o meu quarto.
-O que houve, Teddy? –perguntou ela ao entrar no quarto e me ver já em pé.
-Eu vi ela vovó! Vi uma estrela cadente! –falei correndo em direção a ela e abraçando-a. –E pedi pra ela trazer eles de volta! Eles já vieram vovó? –perguntei alegremente.
-Ainda não, querido. –disse ela meio triste. –Mas um dia você vai encontrar eles.
E pela terceira vez aquela noite, vovó me conduziu até a cama. Quando ela chegou na porta, eu perguntei:
-Acha que eles vão demorar para chegar aqui? –perguntei vendo apenas o contorno de sua silhueta.
-Não sei, querido. –falou ela com lágrimas nos olhos. –Boa noite, Teddy.
E sem arranjar palavras melhores, simplesmente disse:
-Eu te amo, vovó.
Mesmo no escuro, ainda consegui ver lágrimas caírem de seus olhos e rolarem por seu rosto pouco antes dela fechar a porta e me deixar sozinho com minhas estrelinhas...''
****************************************************************************
N/A: E então, gostaram? Eu acho que nunca escreveram sobre isso. Se escreveram, I’m sorry! Se gostaram postem um comentariosinho, que seja! Sério mesmo! É de graça, queima calorias e você ainda faz uma autora mais feliz! Eu coloquei shipper Lupin/Tonks pelo fato deles serem os pais do Teddy e da fic ser + ou - sobre eles.
Adorei escrever ela e espero que vocês adorem lê-la. Se tiverem alguns comentários eu posto o resto dela...
Bem, acho que isso é só isso. Beijinhos.
Yaskara
Comentários (0)
Não há comentários. Seja o primeiro!