Biblioteca
Cap.4 - Biblioteca
A poção avançava com a rapidez esperada. E como a precisão de Hermione para qualquer coisa relacionada a mexer para a esquerda, deixar ferver durante tempo determinado e acrescentar ingredientes em momentos específicos, sempre foi ótima, era certo que a poção ficaria pronta na hora determinada, ao menos se dependesse dela.
A única criatura que não cooperava muito era Bicuço, que insistia em babar perto demais da poção, tendo por duas vezes apagado o fogo por baixo da mistura com cuspe. Sirius também não estava ajudando para tirar o animal babento de cima.
“Se você não sabe lidar com hipogrifos amestrados, então estou extremamente decepcionado com a Hermione Granger que conheço.”
O que, para a mulher, era a mesma coisa que dizer ‘te vira, eu pouco me importo’. Mas ela se calava e relevava. Lembrava até bem demais da estressante estada de Harry, tendo que lidar com o humor azedo do garoto durante um bom tempo, e das brigas de Sirius com a Molly Weasley. Aliás, devia ser ainda pior para ele, Sirius, que só queria ser livre e só podia ficar preso. É, ela não se importaria de ficar longe dessa época.
Além do que a vida era um tédio imprescindível. Pior que todas as férias sem sair de casa. Porque em vez de em uma casa, ela estava trancada numa suíte. A única mudança dos últimos dois dias era que agora Remus Lupin compartilhava seu segredo. Porém, não podia ser diferente. ‘Mione’ só não vira Hermione porque um forte Feitiço de Desilusão fora lançado na hora certa pelo lobisomem, para os olhos da adolescente distraída, fora a mesma coisa que deixar Hermione invisível.
Aliás, o único comentário de Remus sobre a história toda, era que a mulher de agora era tão igual à adolescente que seria impossível confundi-la com uma Comensal. Verdade seja dita, o comentário só serviu para fazer Hermione duvidar do feitiço para cabelos que ela passara a usar.
Mesmo estando totalmente grata por Remus tê-la ajudado, a mulher o culpava secretamente por um pensamento infeliz que vinha sendo recorrente em sua mente. Intimamente ela sabia que ele não tinha nada a ver com isso.
Tudo começou quando os três estavam no quarto de Sirius. Ela lia, eles dois estavam conversando. Então ela levantou os olhos por acaso e viu.
Não que antes ela fosse cega, claro. Mas somente desta vez ela percebeu o quanto Sirius Black era bonito. Não que Remus fosse feio, ele não era, e isso tornava tudo mais impressionante. Remus era lindo, porém o Black... era mais. Ombros largos, rosto marcado pela vida e impressionantemente charmoso. Um homem que qualquer uma gostaria de ter. Percebendo tudo isso, Hermione sorriu.
“Cara, ele é gostoso.”
E o pensamento seguinte:
“Gente, eu não posso achar isso. Como se minha vida já não estivesse complicada!”
Porém, uma vez feita a descoberta ela não podia se forçar a esquecer.
Infelizmente?
***
Ela acabara de sair do banheiro, já vestida. O cabelo ainda molhado manchava o vestido cinza, mas ela não estava se importando. Deveria ir para o quarto de Bicuço, preparar o amuleto que daria a Sirius, aproveitando enquanto ele estava lá em baixo fazendo alguma coisa. Essa era a intenção de Hermione, mas não foi exatamente o que aconteceu.
Mal saíra do quarto, e já dera de cara com o dono da casa.
- Você não deveria estar lá embaixo? – a morena massageava a testa.
- Você demorou demais no banho, então revolvi ir ao outro banheiro. - Hermione ia reclamar que não demorara muito, mas a frase parou ainda na garganta.
Fora totalmente hipnotizada por uma gota que escorreu do cabelo para o peitoral desnudo do homem, e agora escrevia uma linha de água ali. Ela não saberia quanto tempo ficou de boca entreaberta olhando aquilo, mas quando finalmente levantou os olhos, Sirius exibia um sorrisinho zombeteiro para si.
- Tenho toalha para me secar.
Ele entrou, e ela foi para a companhia de Bicuço, no quarto ao lado. Só lá, distante o suficiente, ela se pôs a pensar como ele era babaca.
*****
Já era tarde na noite, e a chuva não dava sinais de trégua. Não que fosse anormal chover e ventar em Londres, era normal até demais. Mas a chuva não a deixava dormir. O barulho das gotas na janela a deixavam nervosa e traziam lembranças que ela preferia esquecer.
A morena passara dias inteiros em uma barraca sendo perseguida com seus amigos por metade do mundo bruxo. Nos piores dias, chovia. No dia em que ela lançou um feitiço do esquecimento em seus pais, chovia. Quando ela descobriu que o feitiço lançado era forte demais e irreversível... Chovia torrencialmente.
“O pior disso tudo é a insônia.”
Sirius dormia calmamente no quarto, deitado no colchão providenciado para que não tivessem que dividir a mesma cama. Ela passou momentos admirando-o, até balançar a cabeça para dispersar os pensamentos.
“Não posso pensar em nada disso!”
Imprudente nunca foi um adjetivo que pudéssemos atribuir a Hermione Granger, pelo menos antes dela viajar no tempo. Ela não agüentava mais a tensão de todos aqueles dias. Não conseguia parar de pensar naquele cara adormecido. Era complicado pensar direito perto dele.
Então, como se fosse a coisa mais normal do mundo, ela jogou toda a precaução para o alto e resolveu ir até a biblioteca respirar ar puro.
O corredor estava consideravelmente mais frio que no quarto. Cada esquina trazia o medo e a perspectiva de alguém indesejado, seja bruxo ou elfo-doméstico.
“Não me admira que digam que a casa seja assombrada.”
Hermione chegou invicta a biblioteca.
O vento que passava pela janela aberta a deixava mais arrepiada que nunca. Todo seu corpo se eriçou, talvez ela devesse ter pegado um casaco de Sirius antes de sair com roupas tão finas.
Pegou um livro aleatoriamente na estante e se sentou na poltrona mais escondida que conseguiu. Não chegou a sair da segunda página, pois os pensamentos que a perturbavam lá em cima não pareciam querer deixá-la tão fácil.
Sirius, os pais, o barulho agora assustador de chuva... Tudo a deixava quase febril e um pouco cansada.
Depois de cabecear um pouco, seus olhos se fecharam, em súbita exaustão. Hermione estava exausta de todo aquele medo, toda aquela confusão, todos os segredos que tinha que guardar, todas aquelas... Memórias que vinham assombrá-la.
Quando ouviu um barulho na biblioteca silenciosa, ela abriu os olhos assustada. Um raio piscou no céu e ela percebeu a silhueta de alguém (ou algo) no cômodo.
Levantou de um pulo, olhando cuidadosamente a pessoa.
- Sou eu. – Ela deveria ter adivinhado.
- Ah. – ela voltou a sentar. Era Sirius, claro. – Como me descobriu tão rápido?
- Acordei e vi que você não estava lá. Só poderia estar aqui.
Ah, claro. Ele a conhecia muito bem.
O Black estendeu o braço para ela:
- Não devemos ficar aqui por mais tempo. – ele estendeu a mão. Ela olhou da mão para o rosto dele e de novo para a mão.
- Não quero subir. – aos seus próprios ouvidos, a voz soou como de uma criança birrenta, mas não se importou.
- Você sabe que não pode ficar aqui. – ele também parecia achar que falava com uma garotinha.
- Não quero ficar ali no quarto com você de novo. - Hermione sentiu que queria pegar a frase e colocar de volta na boca.
- Você deveria ter esse tipo de receio antes de aparecer aqui. Você já devia saber que não vou fazer nada. - o homem revirou os olhos.
“Pena” – E no segundo seguinte ficou horrorizada com seu pensamento, e corou um pouco. Ele percebeu.
- Certo, então o que você iria fazer aqui ?
- O que eu iria fazer lá?
Ele pensou um pouco. Ou pelo menos fingiu pensar. Pousou os olhos nos livros da biblioteca. Abriu um pequeno sorriso:
- Ler é que você não vai. - como Hermione não respondeu, Sirius continuou: -Qualquer um pode achar a gente aqui. Dá para dizer por que não quer subir para resolvermos logo a situação?
Hermione corou profundamente.
“Bem que eu queria te dizer tudo, mas nossa situação não chega nem a ser complicada. É muito mais que isso”.
Com esse pensamento desanimador, ela subiu as escadas sem dizer nada.
Ao acordar no meio da noite, a mulher pode ver Sirius sentado na cama com os olhos brilhando na fraca luz de fora, observando-a. Ela acreditou ser um sonho e escondeu a cabeça no meio das cobertas.
*****
Na noite seguinte, Hermione já estava mais confiante por não ter sido encontrada na noite anterior. Ela passara o dia calada, conseguia sentir o calor que Sirius emanava, e saber que não podia fazer nada (tipo agarrá-lo quando ele saía do banheiro com aquele cheiro de banho), era muito triste.
Mesmo tendo uma vontade enorme de descer as escadas e se trancar na fria biblioteca, ela não o fez, pois quando adormeceu, depois de três horas pensando nos pais, Sirius continuou acordado, sentado na cama, fitando a janela.
Era nessas horas em que ele parava de brincar e fitava o nada, que Hermione sabia que ele era humano, que entenderia todos os seus problemas, por mais que ela mesma se recusasse a entendê-los. E isso era ainda mais atraente nele do que qualquer outra coisa.
No dia seguinte, Sirius avisou que Harry e Cia. iriam embora, então eles poderiam respirar com mais calma. Hermione sorriu, invejando a rápida saída que o ‘cachorro’ daria até a estação, enquanto ela continuaria ali. Para se livrar desse pensamento, ocupou-se continuando a cuidar do amuleto e da poção.
Já era noite novamente e o dia havia passado sem que ela sequer notasse. Hoje ela iria descer. Para ir novamente até a biblioteca, bastava esperar uma ocasião propícia; e assim que ela aconteceu, a mulher desceu, nas pontas dos pés, tendo o maior cuidado de não fazer qualquer barulho que pudesse acordar alguma pessoa da casa. Hermione bem sabia que o horário de dormir daquela casa era extremamente maluco, mas não deu importância.
Não chegara a dar quarenta minutos que lia um livro qualquer de Edgar Alan Poe quando passos na escada vieram até ela, e Hermione não se mexeu, pois aprendera a reconhecer quem vinha. Irremediavelmente, era Sirius.
Ele entrou, fez que não se importava da presença da mulher e abriu um livro aleatório, sentando em seguida em uma poltrona. Não foi capaz de manter a farsa por mais de cinco minutos.
Todos os seus movimentos estavam sendo cuidadosamente observados pela morena. Ele fechou o livro violentamente, levantou-se, e com súbita impaciência, postou-se na frente de Hermione. Como ele inclinara-se sobre a poltrona, os rostos dos dois ficaram tão pertos que mesmo que ele tivesse sussurrado – e não falado como falou, seria possível ouvi-lo.
- Qual é o seu problema comigo?
- Não tem nada a ver com você, tem a ver comigo.
- Então qual é o seu problema com você mesma?
Hermione poderia até tentar mentir, mas ele saberia. Ela sabia que ele saberia. Então, fez a primeira coisa que lhe ocorreu estando ele tão próximo como estava: beijou-o.
N/A: Ok, desculpa a demora. Mesmo. Eu estava em época de provas (na verdade ainda estou) e parece que além da gente não ter tempo toda a criatividade desaparece... Mas, afinal, estou postando agora..
Espero que tenham gostado. Dúvidas, sugestões, críticas..só entrar em contato.
MUUUUUUITO obrigado a quem comentou:
Beca Black
Carla Ligia Ferreira
JuH FeLtoN
Mione03
Kisses,
B.Black^^
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