Capítulo Único



Hermione estava colocando a chave na porta de seu apartamento depois de um dia cansativo de trabalho no ministério. Ela estava, definitivamente, precisando de um banho e de uma noite de sono. Toda aquela confusão com o ministro trouxa já estava cansando...

Ela entrou em casa, deixou as coisas no sofá e correu para o banheiro. Encheu a banheira com água quente e alguns sais; se despiu e entrou na água - que queimou de leve quanto tocou sua pele. Ela mal tinha deitado a cabeça na borda da banheira para relaxar quando começou a pensar, novamente, no trabalho:

“Bem que o Harry tinha me dito pra não tentar esse tipo de aproximação com os trouxas... (...)

Ah, se aquele ministro não fosse tão cabeça-dura, a magia poderia ser de grande ajuda, pelo menos ala hospitalar... (...)

Não posso acreditar que desperdicei um dia inteiro correndo atrás de um ministro que nem me deu ouvidos... Como será que eu posso abordá-lo da próxima vez?”


Quando ela sentiu a água esfriar – havia ficado muito tempo pensando em trabalho – levantou, e ligou o chuveiro convencional, para que caísse um pouco de água em sua nuca. Queria relaxar. Precisava relaxar. Eram poucos os momentos em que conseguia isso: tirar todos os pensamentos sobre os problemas que o ministério estava enfrentando da cabeça e descansar era praticamente impossível para Hermione Granger. Assim que saiu do chuveiro puxou uma toalha que estava próxima do Box e começou a secar o rosto; assim como encostou-a na face, retirou-a e a encarou: era uma toalha cor de tijolo, extremamente felpuda. Continuou a observá-la por alguns instantes: não a havia reconhecido de imediato, mas agora sabia que toalha era aquela: não a havia reconhecido pelo toque ou pela cor; a havia reconhecido pelo cheiro. Aproximou-a do rosto uma segunda vez e sentiu novamente o cheiro de Ron Weasley.

_MARIE! – ela chamava, enquanto descia as escadas com um robe florido. – MARIE!

_Senhora, a senhora estava chamando? – disse uma pequena elfa que trajava um uniforme colorido e limpo.

_Sim, estava! Marie, você não tinha que ter tirado todas as coisas do Ronald dessa casa?

_Sim senhora, Marie tirou tudo do senhor, levou no quarto do senhor e colocou na mala como o senhor pediu...

_Então porque eu acabei de encontrar uma toalha dele no meu banheiro? Marie, eu vou pedir só mais uma vez: tire todas as coisas do Ronald daqui e não confunda as dele com as minhas! Se precisar perguntar, pergunte, mas não deixe nada nas vistas!

_Sim senhora, Marie vai tirar as coisas do senhor das vistas, eu vou levar tudo para o quartinho em que o senhor morava, Marie foi uma elfa má, mas vai fazer tudo direitinho agora, sim senhora...

_Marie... – ela disse, sentando-se na escada e colocando a cabeça entre as mãos – Você é uma elfa livre, me desculpe por falar assim com você...

_Senhora, a senhora não tem que se preocupar como fala com Marie, Marie entende que a senhora fica brava, Marie sabe...

_Não, Marie, eu não tenho o direito de falar assim com você. Peço desculpas. – ela sorria fraco para Marie. – É que eu tenho estado muito nervosa com o meu trabalho, e agora que Ronald vai partir eu vou ter que trabalhar mais ainda...

_A senhora gosta do senhor Ronald, senhora? – Marie perguntava com os olhos arregalados, um tom extremamente feliz em sua voz.

_De onde tirou isso? Marie, por favor! Claro que eu não gosto do Ronald! Ele apenas dividia esse apartamento comigo, e as contas... Eu... Eu não gostava dele, por favor, não invente coisas! Ele é meu amigo desde que eu tinha onze anos! Eu quero dizer que ele vai fazer falta porque não vou ter mais com quem dividir as contas e também... As... As preocupações, sabe? Por favor, gostar dele? – ela ria sem graça enquanto levantava – Não! Claro que não! Eu... Eu estou indo me trocar para dormir... Marie, por favor, não confunda mais as coisas do Ronald com as minhas... Ele está de mudança e com certeza vai querer todas as coisas dele na casa nova e... E é bom que elas estejam na mala dele! – ela sorriu novamente e subiu as escadas.

Ao chegar no quarto a primeira coisa que Hermione fez foi trancar a porta. Sentou-se em uma confortável poltrona roxa que ficava sob uma luminária, que era onde gostava de ler antes de dormir. Colocou os pés sob um pufe, jogou a cabeça pra trás e fechou os olhos. A elfa estava certa, ela gostava de Ronald. Claro que ela gostava dele. Mas... E ele?

Ele com certeza não compartilhava do sentimento da garota. Dividiam aquele apartamento a mais de três anos e ele nunca havia demonstrado nada além da amizade de sempre; a mesma da escola. Ataques de ciúmes, mas nenhum sentimento além desse. Brigavam constantemente e só. Ele a olhava de forma esguia todas as vezes que ela saia com alguém, mas nunca, absolutamente nunca, comentava nada; só fechava a cara e não falava com ela por uma semana, mas... Isso não era amor, era? Era ciúmes como o que ele sentia por Gina! Ciúmes de irmão... Claro que era isso. Uma dor no peito da garota se acentuou. Ela abriu os olhos e encarou o espelho. Estava péssima. Olheiras por culpa do trabalho, os cabelos desgrenhados, e aquele robe horrível completava um visual de dar medo. Estava péssima e não tinha a mínima vontade de se arrumar. Levantou-se e deitou na cama. Estava aconchegante, e o edredom extremamente quente com que se cobriu fez com que ela se sentisse extremamente relaxada. Fechou os olhos e deixou que os pensamentos fossem sumindo, deixou que o sono tomasse conta...




Ela estava em uma praia deserta, andando pela areia. Era tudo muito bonito, o sol brilhava e não havia uma nuvem sequer no céu. Entrou na água devagar, tentando se acostumar com o frio que estava sentindo. Voltou para a areia e colocou todas as coisas que estavam em sua mão lá, voltando para o mar e entrando em um mergulho só. Quando emergiu percebeu que não se encontrava mais onde estava antes. A praia extremamente bonita e deserta havia desaparecido e agora ela estava sob uma montanha extremamente gelada. A neve caía e salpicava a pele desnuda da garota. Ela havia começado a tremer de frio e reparou que apesar de todo o cenário ter mudado, as roupas que vestia ainda eram as mesmas. Observou ao redor e viu um grande vale abaixo de si, um vale extremamente profundo e gelado. A imensidão branca daquele vale a estava aturdindo, uma força extrema a estava fazendo encará-lo sem piscar. Por um momento ela se distraiu e então tudo aconteceu: um garoto ruivo apareceu correndo, passou por ela e se jogou na imensidão alva. Ela ficou atônita por alguns momentos; não soube o que fazer, mas sabia com certeza quem estava pulando para a morte. Os gritos que estavam presos em sua garganta começaram a sair, e ela chamava por Ron. Chorava compulsivamente. Os olhos se mantinham fechados, apesar de as lágrimas caírem através deles. Então, antes que pudesse atingir qualquer coisa, qualquer superfície dura ao fundo do vale, ela ouviu uma voz a chamando.

_Hermione...

Um toque quente em sua pele e o vale gelado parecia se dissipar rapidamente. Ela continuava querendo voltar e encantar o fundo do vale para que Ron não se machucasse, ele não podia morrer... Se debatia contra um calor que se espalhava em todo o corpo. A praia poderia ter voltado sem que ela tivesse reparado. Uma calma se apossou dela quando, mais uma vez, aquela voz a chamou:

_Hermione... Hermione!

Ela sentiu um peso sob o corpo, um toque macio, um cheiro que ela não conseguia esquecer...


Abriu os olhos de repente, e reparou que estava na própria cama, suada e com o rosto molhado por lágrimas. Ron a encarava com uma expressão extremamente assustada, a chamava e a sacudia, segurando-a pelos dois braços. Assim que o encarou, ela o puxou e apertou-o fortemente nos braços finos. Ela começou a chorar novamente, apoiando a cabeça no peito do garoto, os braços dele a envolvendo. Ele parecia não ter coragem de soltá-la, e ela não queria que ele fizesse isso. Ron parecia ter um efeito duplo sobre ela: ao mesmo tempo em que a acalmava, a fazia querer chorar mais. Ele levou uma mão aos cabelos dela, tirando-os do rosto e tentando olhá-la nos olhos:

_Mione... Mione, o que aconteceu? – ele perguntou, a voz preocupada. – Calma, calma... – ele dizia enquanto a garota soluçava mais em seu peito. – Mione, fala comigo, por favor...

Ela não conseguia falar. As forças que tinha não conseguiam impedir o choro de vir a tona e o restante estava empregado no abraço que ela dava no garoto. Ela precisava sentir que ele estava vivo, precisava saber que aquilo que ela tocava era real... Abraçou-o mais forte, e ficou ali durante muitos minutos, chorando. Acalmou-se aos poucos, a respiração voltando ao normal lentamente, os soluços irrompendo pelos lábios ainda de vez em quando. Ela soltou-se dos braços dele, e viu que a blusa dele estava extremamente molhada pelas lágrimas dela. Disse tremulamente:

_D-Desculpe...

_Você não tem que se desculpar de nada, Mione... Deite-se aqui. – ele ajeitou os travesseiros e a coberta que estavam sob ela e a deitou novamente na cama. Agora que ela observara a janela lá fora, vira que era manhã.

_Que... Que horas são? – perguntou, os olhos fixos nos dele enquanto ele a cobria.

_Onze. – ele sorriu. – Mas é sábado e você devia dormir um pouco mais. Deve ter tido um sonho péssimo.

_Eu... Foi. – ela não conseguia sorrir. – Péssimo. – completou.

_Então descanse mais. Não se preocupe comigo, só vim buscar algumas coisas que sobraram e já vou embora. – ele sorriu e virou-se para a porta

_Ron! – ela chamou; ele voltou-se para ela, encarando-a, curioso. – Você... Pode... – ela olhou para o chão e mordeu o lábio inferior. – Ficar?

_Ficar? – ele repetiu, confuso. – Para o almoço?

_Não... – ela não conseguiu conter o riso. – Ficar... Aqui.

_Aqui?

_É... – ela baixou os olhos, envergonhada. – Não, esquece. Isso foi infantil e...

_Você está com medo de voltar a sonhar? – ele riu de canto quando ela balançou a cabeça afirmativamente, os olhos pregados no pé da cama. – Tudo bem... – ele disse sorrindo - Eu fico até você dormir.

Ele foi até a cama, tirou os sapatos e sentou, apoiando as costas na cabeceira. Ela chegou mais perto dele, mas não muito, e lançou um braço em volta da cintura dele. Ele acariciou os cabelos dela com uma mão e com a outra o braço que o envolvia. Ela fechou os olhos, mas não voltou a dormir. Não conseguia; o toque de Ron, a pele dele encostando-se à dela, a respiração compassada dele sendo escutada por ela fizeram com que ela se sentisse extremamente bem, mas sem vontade nenhuma de dormir.

Os minutos iam passando lentamente, até que a garota percebeu que Ron havia adormecido. A mão que antes acariciava os cabelos dela havia caído e o aperto nos braços dela havia afrouxado. Ela o encarou por severos segundos e respirou fundo: como ele podia, ao mesmo tempo, estar tão perto e tão longe? Ela se soltou lentamente do abraço dele e chegou bem perto de seu rosto, acariciando-o de leve. Ele era lindo. Ela correu a mão por toda a face e chegou aos lábios. Tocou-os de leve e, exatamente nesse momento, o garoto suspirou. Ela se assustou, mas não se afastou. O que aconteceria se, exatamente naquele momento, o garoto acordasse? Ela chegou mais perto dele, os olhos encarando seu semblante calmo. Ele ressonou de leve e se virou; ela sorriu. Chegou mais perto do rosto dele e beijou-o levemente na bochecha. Levantou-se e se virou em direção à porta, parando de sopetão quando ouviu uma voz:

_Se aproveitando dos adormecidos é?

Ela respirou tão fundo que se sentiu um pouco tonta. Ele havia realmente acordado. Recuperou a coragem, mudou a expressão e se virou para o garoto com um sorriso de canto nos lábios, dizendo:

_Eu? Ah, Ronald, faça-me o favor né? – e riu.

_Sabe, eu sou muito bom em fingir estar dormindo. – ele também ria.

_E eu sou muito boa com as travesseiradas, Weasley! – ela pulou por cima dele e pegou um travesseiro que estava na cama, jogando-o no garoto com vontade. – Foi um beijo de agradecimento por você ter me deixado mais tranquila depois daquele pesadelo horrível.

Ele se sentou de frente para ela e a encarou firmemente antes de perguntar:

_Você vai me contar o que estava sonhando, afinal?

_Ah, Ron… Não. Já passou, foi só um sonho ruim…

_Mas você estava chorando tanto…

_É que… Eu… Acho que estava muito preocupada com o trabalho e também… - ela hesitou.

_E também…?

_Não, nada. – ela desviou o olhar do dele.

_Tem mais alguma coisa, Mione… Não adianta mentir pra mim.

_Ah… Estou… Preocupada com… A casa. É, é isso. A casa: eu ficar aqui morando sozinha e tudo… Sabe, estava acostumada a você, acho… - ela disse encarando o chão e sorrindo, sabendo que ele a encarava.

O garoto não respondeu, o que fez a garota levantar a cabeça e observá-lo. Ele olhava para a poltrona no canto do quarto, os labios pressionando-se em uma linha fina.

_O que… - ela gaguejou. – O que foi, Ron?

_Não… Nada. – ele disse, voltando a encará-la. – Acho que vou pegar minhas coisas pra… Ir.

_Ah. – ela mordeu o lábio inferior. – E como está a casa?

_Legal. É… Diferente… Morar sozinho e tudo.

_É, eu também to achando – ela riu uma risada sem graça. – Meio… Esquisito.

Eles se mantiveram um tempo em silêncio. Hermione levantou-se e olhou a rua pela janela. Encostou-se no parapeito da janela e suspirou. Ron levantou-se da cama e ia em direção à porta, as mãos nos bolsos.

_Erm… - ela começou antes que ele saísse. – Ron?

_Sim? – ele disse se virando mais uma vez.

_Eu posso te… Perguntar uma coisa?

_Se não for onde guardo minha chave do Gringotes… - ele sorriu - Claro que sim!

_Bobo. – ela riu. – Não, não é isso… Eu queria saber por que… Erm… Por que você decidiu comprar uma casa só pra você?

_Eu… Eu prefiro não dizer.

Ela se espantou. Por que ele não diria algo tão simples assim pra ela?

_Puxa, quanta consideração. – ela ficou subitamente irritada com aquela resposta. – É realmente gratificante saber que você confia tanto assim em mim.

_Mione, não é isso.

_Ah, eu sei que não. Você só “não me diria” isso e onde guarda sua chave no Gringotes não é? Então você realmente tem muita consideração por mim! Acha que eu faria o que com a sua chave, te roubaria? – ela riu roucamente. – Provavelmente. – desdenhou.

_Mione, foi uma piada! – ele disse, incrédulo. – Você sabe que foi uma piada!

_É, eu sei, mas como seu bom gosto sempre foi duvidoso, tive que confirmar.

_Eu gosto da opinião que você tem sobre mim.

_Que bom, assim eu fico com a consciência tranquila. – ela ironizou enquanto saía do parapeito da janela, ia até a estante pegar um livro e sentava-se em sua poltrona de leitura.

O garoto ficou parado, encarando-a bobamente. Abriu várias vezes a boca, mas parecia que as palavras não saíam. Respirou fundo, passou a mão pelos cabelos e encarou-a. Ela fingiu não ver o desconforto do garoto e ignorou a dor que se acentuava em seu peito.

_Pra que você quer saber? – ele perguntou após alguns momentos no mais absoluto silêncio.

_Porque diferentemente de você, eu ainda me preocupo, por mais idiota que isso possa parecer.

_Eu não te acho idiota por isso.

_Não é você que acha, sou eu. – ela completou friamente.

_Hermione, eu realmente queria saber porque você está me tratando assim!

_Pois essa curiosidade vai acabar com o seu sono, Ronald. Agora se você puder sair… Eu quero terminar de ler esse livro.

_Eu não vou sair. – ele se aproximou da poltrona onde ela estava sentada. – Eu vou ficar aqui até você falar direito comigo.

_Então espero que a cama seja suficientemente confortável para você não se cansar. – ela disse em tom de quem finaliza o assunto.

_Acho que ela vai ser. – e dizendo isso, deitou-se na cama.

Hermione sentiu-se extremamente desconfortável e irritada com a atitude daquele ruivo petulante, mas não disse nada. Continuou lendo o livro que estava em suas mãos sem sequer olhar para ele na cama. Em determinado momento, a garota já não conseguia conciliar as palavras e nem formar frases; estava há alguns minutos tentando compreender a mesma frase. Os olhos sempre acabavam desobedecendo o que o cérebro mandava e espiavam o ruivo, que estava deitado na cama e olhava o teto.

_Ronald, você pode fazer o favor de sair?

_Eu já disse qual minha condição para ir embora.

_Eu não quero falar com você! Eu posso ter essa opção?

_Não, não pode Hermione! Porque há meia hora você estava me tratando bem! Eu estou cansado de você me tratar bem em um momento e no seguinte me dar patadas, eu estou cansado! Eu quero saber porque você faz isso, eu quero saber porque você sempre faz isso!

_Eu prefiro não falar sobre isso!

_E por que você não quer falar sobre isso?

_Porque... Porque não! Eu não preciso falar de tudo com você!

_Então você não pode exigir que eu fale de tudo com você!

_Ótimo, eu não quero mais saber porque você vai se mudar! Dane-se você! Eu quero que você vá pra onde quiser, com quem quiser e pouco me importa, ok? Quero que você se lixe, eu não quero mais saber, só quero que você me deixe em paz, só quero que você saia, que você me esqueça!

_EU NÃO CONSIGO! – ele gritou.

Ela o encarou, atônita. Não sabia o que dizer e nem o que pensar... Ele não conseguia o que?

_Como é? – perguntou.

_É exatamente o que você ouviu! Desde o momento que eu decidi ir embora dessa casa eu me arrependo, ok? Eu não consigo simplesmente partir! Eu achei que seria bom eu me mudar, mas eu tenho medo de... Eu... Eu não consigo sair, eu não quero mais sair dessa casa...

_E porque você não quer mais sair dessa casa, Ronald?

_Porque eu te amo e não quero me afastar de você, Hermione Granger! – ele gritou.

_Você... Você o que?

_Eu nada... – ele disse, baixando a cabeça. – Eu estou indo embora. – ele se levantou e foi até a porta; esticou a mão e pegou a maçaneta, pronto para sair sem encará-la.

_Eu também. – ela disse.

Ele se virou, espantado. Encarou a menina com uma expressão de surpresa ao constatar que os olhos dela estavam vermelhos de lágrimas, e que, no entanto, ela sorria.

_O que você disse?

_Que eu também, Ron.

Ela foi de encontro ao garoto enquanto ele parecia buscar palavras para dizer algo: mais uma vez sua boca se abria e fechava repetidamente. Ela chegou perto dele sorrindo e chorando, mais uma vez aquela sensação de dualidade no peito que apenas ele conseguia causar nela. Ele tocou o rosto dela e abriu a boca mais uma vez. Ela o calou com um beijo. Assim que os lábios se tocaram ela começou a chorar mais. Apertou-o forte e ele fez o mesmo. Beijavam-se tão intensa e febrilmente que ela precisava segurá-lo firmemente, ou então provavelmente cairia no chão tamanho era o bambear de suas pernas. Soltaram-se após algum tempo e encararam-se, ainda sem conseguir dizer nenhuma palavra. Hermione encaixou-se entre os braços dele, aninhando-se naquele abraço que sentia ser o único que realmente a completava. Ele foi quem conseguiu dizer primeiro:

_Por que você não disse antes?

_Porque eu não disse o que? – ela sussurrou, ainda abraçada a ele.

_O que você sentia.

_Eu preferia não dizer... Pelo medo que eu tinha de te perder.

Ele puxou o rosto da garota até que os olhos dela se encontrassem com os seus, mas se manteve em silêncio. O medo dela era o mesmo que ele sentira por anos, e ele sabia como aquilo era ruim. Abraçou-a mais forte e a garota retribuiu. Ficaram abraçados em silêncio por algum tempo, as lágrimas ainda correndo, os sentimentos ainda um pouco confusos, mas uma certeza os dois tinham: aquelas palavras não ditas apenas haviam fortalecido algo, algo que agora não precisava mais ser escondido e que não se perderia novamente, nunca mais.

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