dia 15/09/917
Meu nome quer dizer grande felicidade. Pelo menos é o que mamãe diz que ele quer dizer. É engraçado afinal uma coisa querer dizer que quer dizer outra. Eu já li em algum lugar que Rowena quer dizer "aquela que tem cabelos brancos", mas eles são castanhos e isso eu posso jurar para quem está lendo. Hoje completei doze anos. Além do belíssimo nome que me foi dado anos atrás ganhei também outra coisa, que me foi dada hoje, em meu onomástico. Onomástico é uma palavra estranha e idiota vinda de alguma língua absurda que significa aniversário, que por sua vez significa o dia que você nasceu. Outra vez uma palavra significando outra que significa uma expressão. Esse caderno me foi dado hoje, pois completo doze anos. Mamãe me deu esse caderno para que eu pudesse treinar a minha escrita. Ninguém obviamente pode saber que tenho ele, uma vez que sou uma garota e não tenho direito ao conhecimento, porém mamãe insiste que assim como ela, devo aprender sobre a natureza e os poderes restritos de cada animal, pedra, planeta, e claro: jurar aos demais que tenho dentro de mim a mais completa ignorância e não sei escrever.
Obviamente isso sendo uma mentira ela se torna mais complicada ainda, porque quando mamãe me ensinou a escrita, automaticamente ela me ensinou a mentir que não sei escrever, ou seja, um dia eu posso mentir contra a minha mãe e tudo o que ela me ensinou pode se voltar contra ela. Não que eu queira esconder algo dela, mas já poderia, afinal aprendi a dádiva da escrita e da mentira. Eu preciso de mais alguma coisa?
Enfim, concluo que com esse caderno, mamãe me deu asas, sabe? Assim como quando me ensinou a escrever e a mentir. E eu poderia realmente fazer os dois juntos, mas prefiro nesse caderno só falar a verdade da minha vida. Meu ensaio curto sobre a mentira veio só para provar que eu poderia sim, dizer fatos não condizentes com a realidade, mas estando lúcida de que só eu lerei isso normalmente, pois ninguém pode saber que eu escrevo, então para que eu deveria mentir para mim mesma?
Chega de baboseira, e razões e pontos de vista, eu deveria agora descrever um pouco da minha vida, acredito.
Meu nome quer dizer grande felicidade porque meus pais sinceramente a tiveram quando eu nasci. As normas cristãs dizem que não se deve ficar feliz quando o único filho que nasce, ainda mais depois de muitas tentatiavas, é uma "femina", palavra aqui que quer dizer menina. Mas meu pai não segue normas, muito menos as cristãs. Quando eu nasci, soube que a própria Rainha Maeve atravessou o lago para a celebração da grande festa e parabenizar minha mãe, além de aconselhá-la sobre meu futuro dizendo que eu deveria aprender sobre tudo. Ela o fez, e eu astutamente absorvi todas as informações que podia, principalmente fuçando em livros e cadernos velhos e diários, coisa que pode não ser boa, pois esse por exemplo tem uma maldição que diz que caso a pessoa que leia não seja eu mesma ou nobre o bastante para fazê-lo, urticárias crescerão em suas genitálias e elas explodirão apitando um minueto em ré maior com flores primaveris e diabretes, e olha que eu não minto aqui.
Agora melhor que eu durma, boa noite meu caro diário.
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